O jantar foi até que animado. Ficamos falando sobre a reação das pessoas no ensaio. Até Júlio queria ter visto aquilo.

Por incrível que pareça, não fiquei com vergonha de falar sobre aquilo. Até que tinha sido engraçado, e afinal, eu não tinha achado estranho como achava antes.

Mas eu estava com uma sensação estranha no fundo do estômago.

***

O dia seguinte passou tão rápido que eu nem acreditei. Talvez o treino de vôlei tenha exigido muito da minha força física e mental.

As aulas de quarta também passaram rápido e logo estávamos indo ensaiar.

Era engraçado como eu me sentia mais... A vontade? Não sei exatamente qual palavra usar. Mas eu me sentia mais confiante. Acho que o beijo era mesmo uma barreira que eu precisava derrubar.

Lili veio junto de novo, e quando entramos no auditório, vi que Yan já estava lá, mas dessa vez acompanhado de Mateus e Gabriel.

Os três nos olharam, e Mateus e Gabriel deram o aceno exagerado deles enquanto descíamos.

Lili resolveu ir se sentar com eles, e ficamos esperando na primeira fileira, junto com outras pessoas.

Logo a Eduarda chegou e fomos para o palco.

Hoje faríamos a cena da festa do casamento.

Enquanto fazia cara de “estou triste mas preciso fingir que estou feliz” e de braços dados com James, cumprimentava todos que iam entrando na festa.

Depois que o último casal encontrou, suspirei olhando para o chão.

James colocou a mão em minha cintura e me puxou quase de forma bruta para fora da festa.

Para dar efeito, enquanto dávamos alguns passos para a direita, todos os convidados andavam para a esquerda.

Gregório fez Jasmim entrar em uma sala e fechou a porta.

— Você precisa melhorar suas feições. — James disse calmamente. — Ou irão achar que está infeliz.

O olhei seriamente. — E quem disse que estou feliz?

Fechando a cara, James deu passos pesados em minha direção e segurou meu rosto com uma mão, apertando minhas bochechas. Travei a mandíbula para não fazer bico.

— Acho melhor você se comportar... ou sofrerá as consequências mais tarde.

Jasmim arregala os olhos, temendo aquelas palavras.

Fiz cara de assustada.

— É isso mesmo, Jasmim. — Sorriu maliciosamente. — Quanto melhor você se comportar, mais gentil eu serei. Então, para o seu próprio bem, sugiro que pareça feliz. — Me soltou e andou de volta para a porta, ajeitando seu smoking.

Jasmim segurava o choro, sentindo o pavor crescer dentro dela. Estava tão preocupada com o casamento que esquecera o que viria depois dele.

Respirei pela boca, fingindo controlar minhas feições e o segui.

James me parou, me olhando. — Sorria — ordenou.

O olhei com raiva e sorri discretamente.

Ele sorriu. — Muito bem.

Me mexi para a frente, afim de sair, mas ele me segurou pelo braço. Me olhou como se esperasse algo.

Suspirei e me aproximei, encostando meus lábios levemente nos dele.

Mas como antes, James me puxou contra ele, beijando-me mais forte.

Pouco depois, ele me soltou e “abriu” a porta, fazendo um gesto para eu ir na frente.

Passei por ele e voltamos a festa.

Fizemos a cena mais uma vez e Eduarda disse para James mostrar mais a brutalidade de Gregório, me segurando de forma mais rude, mas sem me machucar.

E ele conseguiu, e minhas bochechas e braços ficaram meio doloridos na hora.

A próxima cena era dos parentes de Jasmim, então descemos e nos sentamos nas primeiras cadeiras.

— Me desculpa. — James sussurrou, me olhando. Levantou as mãos e massageou minhas bochechas. — Exagerei, né?

Dei risada. — Relaxa, você fez certo.

— É, mas acho que usei mais força que o necessário. Me dá seu braço aí.

Virei o corpo, ficando de frente para ele e estiquei o braço esquerdo. James começou a massagear onde havia apertado.

— James, isso não foi nada... Eu ainda vou apanhar muito de você.

Ele meio que deu um berro, gargalhando e imediatamente tapou a boca, arregalando os olhos e olhando para o palco. Todos o olharam.

— Desculpa.

Alguns riram, outros olharam feio, mas continuaram a cena.

— Exagerado. — Dei risada.

— Não fala assim ou eu vou me sentir um monstro.

— Você interpreta um monstro, é diferente.

— Mas eu te machuco, não é tão diferente assim.

— Eu aguento, tá me chamando de fraca?

Deu de ombros. — É mais fraca que eu.

— Até parece!

— Tá, então cai pra porrada. — Levantou as mãos em punho.

Tive que tapar a boca para não rir alto.

Dei uma “chave de braço” na cabeça dele, o puxando pra baixo e comecei a dar socos de leve em seu cabelo.

James ria baixo, e conseguiu se esquivar, segurando minhas mãos. — Isso não vale.

— Claro que vale. — Sorri.

— Você vai ver só lá fora.

— Ui, que medo.

Ele balançou a cabeça, rindo.

Olhei para o lado, e vi onde Lili estava. Os quatro estavam olhando em nossa direção, mas Yan e Gabriel desviaram o olhar na hora. Mateus olhou para outro lugar, parecendo segurar o riso, e Lili estava debruçada na cadeira da frente, sorrindo.

A encarei sem entender, e James olhou para trás, para ela.

Lili fez sinal de “joia” com as duas mãos, e vi Yan a olhar como se achasse estranho o que ela estava fazendo.

James me olhou. — O que ela tá fazendo?

Me virei para frente. — Eu sei lá.

Eduarda parou e disse que podíamos sair.

— Bru — James me olhou. O olhei. — Corre.

— Quê?

Ele sorriu, parecendo ter feito um plano maligno.

Arregalei os olhos e rapidamente levantei e subi. James correu atrás de mim.

Abri a porta, desesperada e corri para fora.

Eu me sentia uma criança.

James me alcançou não muito longe e me segurou.

Dei um gritinho e só senti ele indo para frente e me levantando, me colocando no ombro.

— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?! — gritei enquanto ria.

— Você me desafiou. — Riu enquanto girava para frente. — Agora vamos lutar na frente da escola toda.

Levantei a cabeça e vi Lili correndo em nossa direção. E atrás dela estava Yan e os meninos.

— O que diabo vocês estão fazendo? — Lili perguntou rindo quando chegou perto.

James virou, me deixando de “bunda” para Lili. — Ela disse que era mais fraca que eu, então vamos lutar.

— Lutar? Ah, tá bom — disse irônica.

Senti um ventinho e logo depois mãos encostando nas minhas coxas, perto da bunda.

— EI!

— Sou eu! — Lili disse rápido. — Sua saia levantou.

— Ops. — James me colocou no chão. — Mals, esqueci disso.

— Estou de shorts. — Me virei para eles, alisando a saia.

— O que deu em vocês?

James e eu nos olhamos e demos de ombros.

Lili falou algo mas não ouvi, estava olhando para frente, onde os garotos estavam conversando e andando para o lado do dormitório deles.

— Ouviu?

— O quê? — Olhei para ela.

— Vamos subir.

— Ah. Tá.

Lili quase correu me puxando. Subimos e fomos para o meu quarto. Ela me segurou pelos ombros e me empurrou para me sentar na cama.

Ela sentou no meio e eu me ajeitei, encostando na cabeceira.

— Você tá tentando fazer cena para deixar alguém com ciúmes? — A olhei sem entender. — Por que acho que tá funcionando.

— Como assim?

— Ah não, Bru. Você não percebeu?

— Percebeu o quê?

— ... — Me olhou, parecendo não acreditar. — Bom, do jeito que você é... Enfim, ainda bem que eu me sentei com aqueles meninos.

— Por quê?

— Digamos que eu ouvi e vi muitas coisas sugestivas. — Sorriu, maliciosa.

— Fala logo, mulher!

— Alguém ficou incomodado com sua cena com James... O Yan estava meio tenso. Na hora que vocês se beijaram ele pareceu desconfortável.

— Como você sabe?

— Porque ele ficava se mexendo na poltrona... Aí ouvi o Gabriel rindo e cochichando “ aguenta aí, cara”. — Riu. — Aí depois da ceninha fofa de vocês fora do palco, o Mateus virou pra mim e perguntou se vocês estavam juntos... E o Yan ficou me olhando, querendo saber. Bom, os três ficaram me olhando.

— E o que você disse?

— Hm... — Olhou para cima, parecendo que tinha aprontado. — Eu disse que não, mas que vocês estavam bem próximos.

— Por que você disse isso? Assim o Yan...

— Sim. — Me cortou. —Eu falei pra provocar mesmo.

— Lili! Você tá doida?

— Para de ser besta. Eu dei um empurrão. E além disso, eu deixei a informação no ar... falei que vocês não estavam juntos.

— Mas disse que estávamos bem próximos. O que ele vai pensar?

— Não importa. Veremos como elevai reagir. Tenho certeza que se ele sente algo por você não vai conseguir ficar quieto. Igual quando viu você e o James se beijando por causa do Viktor.

— Será? — perguntei, apreensiva.

— Sim. Certeza. Ele estava visivelmente incomodado.

— Ali, Lili... Mas o que será que ele vai falar?

— Não dá pra saber exatamente... Talvez ele diga que ficou incomodado de novo. — Sorriu, com tom de brincadeira.

Fiz cara de dúvida. — Ele parecia meio bravo quando o vi lá no jardim, depois que você saiu atrás de nós.

— Talvez ele estivesse mesmo.

— Lili, se ele estiver bravo comigo...

— Não, ele não tem motivo pra ficar bravo com você.

— Ai, Lili...

E se ele estiver bravo comigo? E se parar de falar comigo? Deus, o que eu faço? Tudo ficaria estranho entre nós... e mais ainda o teatro...