San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 40
Se Olhar Matasse...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698681/chapter/40

Decidi acordar mais tarde no sábado, e deixei o café da manhã passar. Acordei depois das dez e dei uma geral no quarto. Me troquei e fiz algumas lições até a hora do almoço.

Desci e fui para o refeitório. Fiquei na fila de duas pessoas e peguei minha comida.

Quando sai da fila, vi Micaela sentada sozinha em uma mesa próxima da parede. Ela estava com uma bandeja de comida e um tabuleiro de xadrez na mesa.

Ela olhou para frente e me viu, e acenou para que eu fosse até ela.

— Oi, Bruna! — cumprimentou quando fiquei na frente da mesa. — Senta aí.

— Oi, Micaela. — Coloquei a bandeja na mesa e sentei.

— Pode me chamar de Mica se quiser.

— Tá bom... Você está bem? — Comecei a comer.

— Sim, e você? Anda treinando seu xadrez? Não esqueci da nossa partida.

— Na verdade nem joguei mais. Não tive tempo. — Sorri, me desculpando.

— Ah, que pena. — Deu uma garfada na comida, e moveu uma peça do tabuleiro.

— Você está gostando da escola? — perguntei para descontrair.

— Sim, sim. É algo que eu nunca tinha visto. — Sorriu, animada.

— Já fez algum amigo?

Ela me olhou, pensando. — Amigo? Não. Converso com algumas pessoas da sala, mas nada muito... — Parou, procurando a palavra. Comeu de novo e moveu uma peça do lado oposto do tabuleiro — Não acho tão simples arranjar amigos... Você demorou para arranjar amigos aqui?

— Não. — Lembrei quando caí, e conheci James. — Foi bem rápido, até, mas não fui eu que me aproximei.

— Então como foi? — Me olhou de novo.

— No primeiro dia que cheguei, tropecei em uma raiz de árvore no jardim e caí. Um menino viu e me ajudou, e insistiu para me levar na enfermaria para limpar os machucados — expliquei, meio nostálgica. — É o James, meu amigo.

— E a sua amiga ruiva?

— A Lili já era amiga do James. Ele nos apresentou e ficamos amigas.

— Legal. — Voltou a olhar para o jogo. — Nunca tive muitos amigos.

— Por quê?

— Não sei. Nunca fui boa em puxar assunto. — Deu um leve sorriso. — Como você pode ver, meu negócio é com jogos... E livros.

Ela falava de um jeito calmo, um pouco tímido. Mas ela parecia ser solitária. Das poucas vezes que eu a vi por aí, estava sempre sozinha, mas dava a impressão que ela ficava bem assim.

Mica moveu outra peça, e parou, observando o jogo, parecendo concentrada — ou nervosa. Ficou assim uns vinte segundos e empurrou o tabuleiro com um suspiro, parecendo chateada.

— Eu gostei de você. — Ela disse, comendo. — Foi a primeira pessoa que me ajudou. E também aquela vez na biblioteca, com seu amigo... — Parou, lembrando de algo. — Ele te falou que jogamos outra vez?

— Sim, ele contou. Vocês não conseguiram terminar a partida, né?

— Não. Não deu tempo — comentou pensativa.

Ela realmente era meio estranha. Dependendo de como ela falava, a fazia ficar meio sombria.

— Mas um dia a gente termina. — Sorriu, voltando a comer.

Mas quando ela sorria, ficava fofinha.

Escutei a cadeira do meu lado sendo puxada, e quando olhei para o lado, vi Yan sentando.

— Oi. — Ele sorriu.

— Oi. — Nós duas falamos ao mesmo tempo.

Ele estava de mochila. — Vai embora? — perguntei.

— Vou. — Virou, ficando de frente para mim, de lado na cadeira. — Vou pra casa do Gabriel. Só queria falar tchau. Amanhã estou de volta.

Não creio nisso... — Ah, tudo bem. Se divirta. — Sorri.

Yan sorriu e eu dei uma última olhada em sua covinha. — Se cuida aí. — Ele disse, levantando e dando um beijo em minha testa.

— Pode deixar. — Sorri, me sentindo envergonhada.

— Tchau. — Acenou para Mica, mas antes que virasse, parou olhando para o tabuleiro.

Olhou as peças, pegou uma preta e a moveu, e então se foi, sorrindo.

Olhei para Mica, e ela olhava impressionada para o tabuleiro. Até o girou, para ver os dois lados, os analisando.

Ela sorriu, divertida. — Gostei dele também. — E voltou a comer.

Conversamos mais um pouco, e terminei de comer. Falei que tinha lições para fazer e subi. Do refeitório ao quarto fiquei negando que Yan tinha ido embora.

Que merda. Justo quando achei que poderíamos conversar...

Continuei lendo o livro e o levei comigo na hora do café. Quando voltei, liguei para casa e contei as coisas, inclusive sobre o passeio. Minha mãe já estava falando do feriado de abril e em como estava ansiosa para me ver.

Depois de desligar, continuei o livro até o jantar, e só o acabei de ler depois que voltei para o quarto. Fiz mais algumas lições e fui dormir.

***

Acordei pensando em quando Yan iria voltar. Será que vai voltar cedo como sempre? Provavelmente.

Já me sentia ansiosa.

Enquanto colocava meus livros em ordem na prateleira, vi o “nosso” livro. O peguei, olhando a capa e li a sinopse.

Acho que está na hora de ler, não é?

Terminei de arrumar, peguei o livro e sentei na varanda.

Estava um tempo meio gelado, mas tinha sol. Pra mim, era o tempo perfeito.

Comecei a ler e esqueci tudo ao meu redor.

Parei para olhar para o lado quando meu estomago roncou.

Eita, o almoço.

Deixei o livro aberto no chão e entrei, parando na cama para olhar o relógio da escrivaninha.

Eram duas horas.

Mas que diabo aconteceu?

Olhei ao redor, como se tivesse perdido algum momento. Meu estômago roncou de novo.

Lembrei da sacola do passeio. Ainda tinha uma barra de cereal e um achocolatado.

O casaco do Yan estava pendurado na cadeira. Peguei a sacola que estava pendurada no porta-casaco do lado do guarda roupa, atrás da porta. Peguei a sacola, e o casaco, e o deixei na cama.

Me sentei do seu lado e abri a embalagem da barra de cereal. A comi e bebi o chocolate.

Vai ter que aguentar até as quatro.

Deitei para trás, abraçando o casaco, e lembrei de como ficamos depois do episódio do banheiro. Lili e suas ideias.

Agora que estava lendo aquele livro, também conseguia nos imaginar na história.

Por falar nisso, será que ele já chegou?

Voltei a varanda e me sentei, olhando para a frente, para a varanda dele. A porta parecia fechada.

Continuei a ler até a hora do café. Entrei, procurando alguma folha solta que servisse de marca página, achei uma e a coloquei no livro.

Desci, e fiquei olhando ao redor — vai que ele está aqui — e fui pegar meu café.

Enquanto comia, olhei para a entrada e vi Lili entrando, com Viktor em seu encosto. Pareciam estar discutindo.

Ela parou de andar, olhando ao redor e me viu. Andou até mim e quando chegou, me assustei.

Lili estava com cara de cansada e com a ponta do nariz vermelha. Assim que ela se sentou ao meu lado, deu um espirro, cobrindo a boca com a mão.

— Saúde.

— Obrigada — agradeceu com a voz anasalada.

— Como você ficou assim? — Nesse momento Viktor sentou na cadeira da frente.

— Não sei, acordei ruim ontem.

— Só pode ser por causa da friagem de sexta... Você devia ter ficado em casa.

— Eu falei isso, mas quem disse que ela me escuta? — Viktor falou irritado.

— Já falei pra você me deixar em paz. Eu estou bem.

— Claro, está ótima. E eu não vou te deixar em paz. Falei pro seu pai que ficaria de olho em você.

Lili resmungou, revirando os olhos, e deu outro espirro.

Viktor procurou algo no bolso da calça. Tirou um pacote pequeno e estendeu para ela.

Com uma mão, Lili começou a pegar um lenço, e com a outra começou a tirar o casaco.

— Ei. — Ele segurou a mão dela que segurava o lenço. — Não é pra tirar a blusa.

— Eu estou com calor. — Ela retrucou.

— Não me faça colar isso em você. — Ele levantou, se inclinando sobre a mesa e puxou a blusa dela de volta.

Nesse momento, vi Júlio entrando no refeitório e olhando direto para nossa direção.

Lili revirou os olhos de novo. — Tá, tá. — Se esquivou dele.

E eu comendo, vendo o espetáculo.

— Só vai tirar quando estiver no seu quarto. — Voltou a se sentar.

— Tá bom, doutor. — Assoou o nariz.

Viktor a olhava irritado, mas dava para ver que estava preocupado.

Júlio veio até nós e sentou-se do lado de Lili, a olhando. — O que aconteceu?

Viktor o olhou, e depois me olhou com uma cara de “ele sempre faz pergunta idiota assim?”.

— Não está vendo minha cara de quem está morrendo? — Ela espirrou de novo.

— Toma. — Viktor estendeu de novo o pacote de lenço.

Júlio o olhou com uma cara indecifrável. Talvez ódio, talvez “o que esse cara está fazendo aqui?”.

Lili pegou outro lenço e assou o nariz de novo.

— Você não vai comer? — Viktor perguntou.

— Não sei, não estou com fome. — Se encostou na cadeira.

— Você ouviu o que sua mãe me disse, não é?

A cara do Júlio continuava a mesma, mas ora olhava para Viktor, ora para Lili. — Quer que eu te pegue um chá? — perguntou baixo.

Ela suspirou. — ... Pode ser — respondeu sem o olhar.

Ele deixou a mochila na cadeira e saiu.

— Não vai comer nada? Tem certeza? — Viktor pressionou.

— Eu já comi em casa — disse impaciente.

Júlio voltou com uma xícara e alguns saquinhos de açúcar e os colocou na frente dela. — Pedi para ela colocar alguns pedaços de limão.

Lili segurou a xícara e mexeu o chá com o saquinho que estava mergulhado nele. — Obrigada.

Viktor olhou para Júlio fazendo quase a mesma cara que Júlio estava fazendo antes. Olhou para mim. — Faz ela comer alguma coisa, Bruna. Ela comeu pouco no almoço. — O tom dele parecia levemente provocador.

— Ah, então você ficou de olho no meu prato? — perguntou abrindo os saquinhos de açúcar e os colocando no chá.

— Seus pais também ficaram. Por isso sua mãe me disse pra te fazer comer aqui. — Ele olhava para Júlio algumas vezes, bem rápido.

Júlio pegou o último olhar dele, e ele se encararam por alguns segundos.

— Eu não sou criança, quando estiver com fome vou comer.

— Ok, ok. — A olhou. — Vou passar meu turno para ela então. — Apontou para mim. — Já fiquei bastante tempo de olho em você. — Levantou. — Fica de olho nela. — Me falou.

— Vou ficar.

Viktor saiu. A mandíbula do Júlio estava travada.

Baixei o rosto, segurando o riso.

— Você tomou algum remédio? — Ele perguntou.

— Tomei. — Deu um gole do chá, fazendo o cheiro de gengibre subir. — Como sabia que eu tomo chá de gengibre com limão?

Ele ainda estava sério, parecendo irritado. — Não é a primeira vez que te vejo tomar isso quando fica doente.

Lili o olhou, pensando. — Hm... — Deu um sorrisinho e voltou a tomar o chá.

Acho que esses três poderiam entrar no teatro. É muito drama.

Acabei de comer e esperei Lili terminar. Júlio não comeu nada e nos separamos depois de sair do refeitório.

— Só faltou o Viktor falar que vive lá em casa. — Lili falou. — Para esfregar mais ainda na cara do Júlio.

— Você viu eles se encarando?

— Não. Tentei não olhar ou ir dar risada.

Ri. — Está sendo disputada, hein.

— Pff. Imagina. Viktor até pode estar querendo me disputar, mas Júlio... Só me surpreendi por ele ter lembrado do chá com limão.

— Por quê?

— Porque faz muito tempo desde a última vez que fiquei doente. E foi nessa vez que falei do chá. Do jeito que ele é cabeça oca não achei que ele fosse lembrar.

Subimos e ficamos no quarto dela. Lili deixou a mochila na mesa e sentou na cama, se cobrindo. — E aí, descobriu onde Yan mora?

— Não... Ontem ele se despediu de mim. Disse que ia pro Gabriel.

— Aff! Justo agora!

— Pois é. Também fiquei com raiva. Ele sempre volta cedo, mas não chegou ainda. Quero muito falar com ele!

Ela sorriu. — Imagino.

— O Viktor ficou em cima na sua casa?

— Ai, demais. Isso porque fiz de tudo pra ficar perto de um dos meus pais. Ele ficou doido ontem depois do almoço, quando apareceu lá. Eu estava com um pouco de febre, e ele cismou que eu tinha que medir minha temperatura toda hora.

— Mas ele parecia mesmo preocupado com você.

— Eu sei. — Suspirou. — Mas ele é exagerado. Não vou morrer por causa de uma gripe.

— Tem certeza que está bem?

— Estou sim. Eu sou difícil de ficar doente, mas quando fico saro rápido.

— Menos mal, então.

Peguei alguns materiais e levei para o quarto dela e fizemos o restante das lições juntas.

No jantar, nem sinal de Yan. A escola inteira tinha chego, menos ele. E Gabriel também, claro.

Fiquei preocupada e quis ir dormir cedo. A chance de vê-lo no café era mais alta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.