San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 39
Vergonha Alheia + Casaco




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Yan ficava tão bem com a gente... Digo, parecia que ele “pertencia” ao grupo, sabe? Ele conversava como se estivesse falando com Mateus e Gabriel. Eu gosto disso. É legal que ele e meus amigos se deem bem.

Depois de comer — eu só deixei uma barrinha de cereal e o achocolatado na sacola, de resto comi — fomos em busca do autor do livro do teatro.

Lili e James nos levaram até lá. Lemos e relemos a ficha do autor e a linha do tempo.

Nesse passeio, pude perceber melhor o jeito do Yan. Ele sempre achava graças das coisas, mesmo quando não tinha graça. Ele achava um jeito de tornar a coisa engraçada. E isso, de certa forma, era encantador.

Vimos mais coisas na sessão internacional, e Lili e eu fomos ao banheiro. James e Yan ficaram próximo a uma estátua de mármore, a alguns metros do banheiro.

Entramos em cabines lado a lado. Havia uma ou outra mulher. Depois que terminei, sai e fui em direção a pia. Nesse momento entrou um grupo de três garotas, rindo e conversando.

— Você teria coragem? — Uma delas perguntou, a de cabelo curto e escuro.

— Claro. Você viu, não viu? — A loira respondeu, parando na frente da pia, colocando sua bolsa em cima dela e a abrindo.

A última, de cabelo castanho, entrou em uma cabine. — Então vai lá e fala. Eu quero o de cabelo castanho! — falou lá de dentro.

— Ainda bem, porque eu amei o de cabelo preto. — A loira disse procurando algo na bolsa.

Gelei. Elas estavam falando dos dois?

— Eu estou na dúvida. — A de cabelo escuro falou ao lado da loira. — O de cabelo preto é um pouco mais alto, mas você reparou a cor dos olhos do outro? O tom de verde?!

— Eu vi! — A garota da cabine disse animada, dando uma risadinha.

Enquanto lavava minhas mãos, Lili saiu da cabine e automaticamente trocamos olhares pelo espelho, segurando o riso.

— Sim, eu também vi, mas o outro... — A loira suspirou, retocando eu batom rosa. — Ele é maravilhoso. Aquele uniforme o deixa mais lindo ainda. E aqueles cachos bagunçados?

— Ainda prefiro o outro. — A garota da cabine saiu e lavou as mãos. — Ele tem mais cor, é meio bronzeado, sei lá.

— Imagina se essa aí visse o Viktor. — Lili sussurrou no meu ouvido. — Ia desmaiar. — Riu.

Dei risada, tentando abafá-la.

— Mas você vai mesmo? — A de cabelo castanho perguntou. — E se eles tiverem namorada?

— Eles não usam aliança. — A loira falou passando pó na cara. — Não custa puxar assunto. Eu não sei de qual escola eles são.

— E nem vão saber. — Lili disse baixo, me puxando para fora. — Vamos acabar com a graça delas. — Sorriu.

Assim que saímos, bati o olho em Yan ao longe.

Sim, ele é lindo, seus cachos bagunçados são lindos, ele fica extremamente bem no uniforme... E é impossível não se apaixonar por tudo aquilo. Isso além do jeito fofo dele.

Não que James ficasse para trás. Ele também é bonito, seus olhos se destacavam mais por causa do tom do cabelo. E ele era pouca coisa mais baixo que Yan, mas ainda era alto.

Eles poderiam facilmente serem modelos e estarem posando para uma revista ali mesmo.

Os dois estavam com as mãos no bolso, conversando, mas Yan tinha tirado seu casaco.

Assim que chegamos perto, Lili agarrou o braço de James. — Finge que é meu namorado.

— Por quê? — Estranhou.

— Só finge. — Yan olhou para mim, tentando entender alguma coisa. — Vocês também, rápido — disse para nós dois.

Ele piscou e estendeu o braço, se aproximando, e o colocou ao redor da minha cintura, rindo. — O que estamos fazendo exatamente?

Tentei ignorar meu rosto esquentando.

Lili ficou na ponta dos pés para olhar na direção do banheiro. — Olhem discretamente para lá.

Os dois olharam, mas eu continuei olhando para Lili. Ela tentava segurar o riso. Mas pouco segundos depois ela caiu na gargalhada.

Acabei rindo junto e olhei para trás. As três garotas estavam andando na direção contrária a nós.

— Ainda não entendi, para de rir e explica. — James falou, sendo puxado por uma Lili se mijando de rir.

— É que... — Ela enxugou as lágrimas. — Aquelas meninas estavam falando de vocês lá no banheiro.

— Falando o quê? — Yan perguntou.

— Em como vocês eram bonitinhos, e ai o de cabelo preto é lindo, ai mas você viu os olhos daquele outro...? — Fez uma voz fina e riu. — Elas estavam querendo vir puxar assunto.

— Orra e por que você não deixou? — James perguntou parecendo ofendido.

Lili fechou a cara e o olhou. — Como é? — Pegou o rosto dele com uma mão e o apertou, o fazendo fazer um bico.

— Tô brincando! — Colocou a mão na cara dela e a empurrou de leve.

Yan deu risada. — Mas por que você quis fazer isso? Só queria tirar uma com elas?

— Sim. — Soltou James. — A cara que elas fizeram foi incrível. Uma mistura de vergonha, vergonha e mais vergonha.

— Mas o que elas falaram de mim? — James a provocou.

— Ah não, sai daqui. Livramos os dois de rostinhos falsos com quilos de maquiagem. — O puxou. — Vamos continuar o passeio.

— Temos que continuar grudados assim?

— Claro, temos que ensinar aquelas meninas a serem discretas, né, Bru? — Me olhou.

Dei de ombros, rindo. — Se você está dizendo.

— Isso foi engraçado. — Yan disse tirando o braço da minha cintura. Antes que eu reclamasse mentalmente, ele me “deu” o braço. Passei meu braço por dentro do seu, e ficamos igual como Lili estava com James.

Continuamos a andar assim, de braços dados.

Se eu fiquei feliz? Imagina.

Conforme andávamos, sentia o tempo esfriando. Tentava me concentrar no meu braço direito, que estava aquecido pelo braço do Yan. Até tentei ficar mais encolhida sem grudar nele.

Lili também estava grudada em James, mas de um jeito mais exagerado.

Quando percebi, estava começando a bater os dentes de leve.

De repente, Yan parou, tirando o braço do meu — quase chorei — mas vi que ele abriu seu casaco e o segurou para mim.

Nos olhamos e antes que as bochechas corassem, virei de costas e coloquei os braços dentro da blusa. Quase chorei de emoção. Yan ajeitou o casaco nos meus ombros quando virei de volta.

— Obrigada... — Puxei meu cabelo para fora.

— Por nada. — Sorriu.

Achei que agora que eu estava com seu casaco, não ficaríamos mais de braços dados.

Engano meu.

Enquanto alcançávamos os dois, ele segurou minha mão e puxou meu braço para debaixo do seu de volta. — Caramba, como suas mãos estão geladas. — Ele se espantou.

— É normal — expliquei meio envergonhada.

Yan segurou minha mão direita entre as suas, e ficou esfregando as costas da minha mão, tentando esquentá-la.

As mãos dele eram duas vezes maiores que as minhas. E claro, eram bem quentes.

Quando parei de focar naquilo, vi que Lili estava puxando o casaco de James. — Vai James!

— E eu fico com frio?!

— Você está de calça e camisa comprida!

— Ninguém mandou você vir pelada — zombou dela. Lili fez cara de choro. — ... Tá, tá! — Tirou o casaco e jogou nela.

— Brigada! — Ela falou com o casaco na cara, e logo o vestiu, e voltou a agarrar o braço de James.

Continuamos a andar, enquanto sentia o perfume de Yan vindo da roupa a cada respiração.

— Está esquentando? — Yan perguntou.

Claro que está. — Sim.

— Vamos trocar de lado... — Ele foi para meu lado esquerdo e segurou minha mão da mesma forma. — Assim fica por igual.

Deixei a mão quente dentro do bolso.

Mais ou menos as três e pouco, decidimos que já iriamos para o ponto de encontro. Fomos para o hall de entrada. Lili e James e sentaram em um dos vários bancos espalhados, e antes que eu pensasse em sentar, Yan deu um leve aperto na minha mão.

— Meus amigos estão ali. — Apontou para o outro lado do hall. — Quer ir lá rapidinho?

— Claro. Já venho — avisei os dois.

Andamos até o casal.

— Achei vocês, finalmente. — Yan disse ao ficar de frente a eles.

— Você sai andando e nem avisa! — A garota disse.

— Foi mal, me distraí.

Os dois olharam para mim e em seguida para nossas mãos, que ainda estavam juntas.

— AH! Vocês começaram a namorar?! — O garoto perguntou animado.

Pisquei, ficando vermelha. — N...

— Ela está com frio. — Yan disse rápido.

— Caramba, hein? — A garota deu um empurrão no ombro do garoto, e olhou para mim, dando um sorriso de desculpas. — Eu sou Lívia, ele é Eduardo. — Esticou a mão.

Tirei a mão do bolso e apertei a sua. — Bruna.

Ela se espantou. — Uau, você está com frio mesmo.

— Desculpe. — Enfiei a mão gelada de volta no bolso.

Conversamos um pouco enquanto os outros alunos chegavam. Deixei Yan e voltei para James e Lili.

As professoras apareceram e logo fomos para fora. Estava ventando e chuviscando.

Me encolhi no casaco enquanto a professora Aline fazia a chamada na área coberta da entrada. O ônibus chegou e corremos para entrar. Pegamos os mesmos lugares de antes.

— Parabéns, Lili, olha o frio — reclamei grudando nela.

— Sua tonta, deveria me agradecer. — Agarrou meu braço.

— Por que eu ia agradecer por passar frio?

— Porque... — Ela abaixou o tom de voz. — Você ficou grudada no carinha ali atrás e ainda está com o casaco dele. — Me olhou, esperando eu me render.

— ... É, obrigada então — sussurrei, rindo.

Ela sorriu e encostou sua cabeça na minha. Me aconcheguei no estofado e encostei nela.

Minhas pernas estão moles. Andamos demais.

Fechei os olhos, cobrindo parte do rosto com a gola do casaco e me deixei apagar.

Acordei quando senti o ônibus freando. As pessoas começaram a levantar e ir para o corredor.

Estou tão cansada que não consigo me mexer.

Yan apareceu, e encostou na poltrona da frente. — Vão ficar aí? — Sorriu.

— Seria engraçado deixar a Lili aí. — James ficou ao lado de Yan.

— Não inventa — falei meio grogue. Cutuquei Lili e ela pulou. — Acorda, chegamos.

— Ai, que susto!

James riu. — Vamos logo. — Passou na frente e saiu de vista.

Yan sorriu e estendeu a mão para mim. A peguei, e enquanto ele me puxava, eu puxava Lili.

— Se preparem. — Yan disse andando na nossa frente. — Esfriou mais.

— Ai, caramba. — Lili reclamou atrás de mim.

Assim que saímos do ônibus, o ar gelado bateu e grudou em mim.

— Aaaaí. — Lili tremeu.

Andamos rápido para o prédio, passando os dois e indo para o refeitório. Lá estava mais quente e cheirando a café e chocolate quente.

Meu estômago roncou.

Ainda tinha bastante gente lá, mas grande parte já estavam com as mochilas para voltar para casa.

— Vamos comer? — perguntei a Lili.

— Ah, por favor. Esse cheiro está me matando.

— Eu vou subir, primeiro. — Yan falou.

Ah, que pena. Comecei a tirar o casaco.

— Não, fica com ele. — Puxou a roupa de volta para meus ombros. — Depois você me devolve.

— Tá bom...

Ele sorriu e foi para fora.

Suspirei, Lili riu, e fomos para a fila da cantina.

Claro que eu peguei chocolate quente. Ele ajudou a esquentar tudo. Eu estava tomando algo quente, me sentindo aquecida — depois daquele frio todo — e ainda estava com o casaco do Yan... Como me mentir melhor?

Acho que vou ficar melhor depois de saber onde ele mora.

— Foi um plano muito bom, pode dizer. — Lili falou.

— Plano? Você planejou isso tudo? — Apontei para a roupa de Yan.

— É claro. Foi tudo friamente calculado. — Empinou o nariz.

Dei risada. — Tá bom, então.

Depois de comer, subimos rápido para o dormitório. Ajudei Lili com a mochila, e falei o motivo de eu querer ficar na escola ao invés de ir para a casa dela.

— Ah! Então ele mora em Mogi? — perguntou surpresa.

— Deu a entender que sim, porque ele disse “meu pai voltou para Mogi, mas bem longe da minha mãe”.

— Ele mora com um dos dois, então ele mora lá mesmo. — Sorriu. — Boa sorte na sua descoberta. Agora preciso juntar ânimo e coragem para enfrentar Viktor na minha casa.

— Você não falou com ele essa semana, né?

— Não. O vi algumas vezes de longe, mas não falei. Se ele vai falar comigo em casa, já não sei.

— Bom, boa sorte pra você também.

— Obrigada — agradeceu sorrindo, num tom meio animado e meio nervoso.

Pouco depois, ela foi embora e eu fui para meu quarto.

Hoje não teria ensaio. Peguei o livro da peça.

Sentei na cama, afofando o travesseiro e me encostando na cabeceira. Comecei a ler tudo de novo, ainda vestindo a blusa do Yan.

Dessa vez, eu já conseguia imaginar a gente perfeitamente naquela história.


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