San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 33
É Feio Ouvir A Conversa Atrás da Porta + Júlio, Sua Besta




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— Eu já falei, vó. Ela é minha amiga.

Lili me olhou, fazendo bico de assovio, sem som.

Meu rosto esquentou.

— Você acha que eu não vi como vocês dançavam? Todo mundo viu. E estavam comentando como vocês ficam bonitos juntos.

— Amigos não podem dançar? Eu já dancei assim com a Lili. — Sua voz estava meio nervosa, mas ainda baixa.

— Não disse isso. — Ela parecia se divertir, mas tentava controlar o tom de voz. — Bom, tudo bem. Vocês são apenas amigos, mas você gosta dela.

Aquilo não foi uma pergunta.

James não respondeu, e sua vó deu risada. — E está esperando o quê?

— Eu sei o que ela sente. — Sua voz ficou bem mais baixa, e Lili quase grudou na porta para ouvir melhor.

Tudo bem, eu já sabia. Mas ouvir é outra coisa. Saber disso não me fazia sentir menos carinho por ele, até pelo contrário. Mas esse tipo de carinho que eu sentia estava direcionado a outra pessoa. Não que fosse impossível sentir isso por James, mas... Não tinha como largar o que eu sentia pelo Yan.

— Lili. — sussurrei. — Chega! — A puxei.

— Ainda não acabou.

Paramos perto da escada. — Nem devíamos ficar ouvindo.

— Eu queria ouvir porque ele nunca me falou claramente que gostava de você. — Fez uma careta. — É, nem precisaria. Eu até achei que ele tinha largado mão.

Passei as mãos no cabelo. — É, e o que eu vou fazer com isso? Só me faz me sentir pior.

— Mas a culpa não é sua. Não foi como se você tivesse colocado um feitiço nele.

— Ajuda muito...

Ouvimos uma porta se abrindo. Congelamos.

Carmen estava saindo do quarto de James. Nos olhou. — O que estão fazendo, garotas?

Estávamos longe o bastante para ela não desconfiar de que estávamos ouvindo algo.

— Esperando vocês acabarem a conversa, não queríamos atrapalhar... Lucia tinha dito que vocês estavam juntos. — Lili acrescentou, já que deu a impressão que estávamos ouvindo mesmo.

James apareceu na porta.

— Ah sim, obrigada por isso. — Sorriu. — Bom, boa noite para vocês.

— Boa noite — desejamos juntas.

Ela desceu. Andamos até James.

— Vocês trouxeram roupa? — Ele perguntou.

— É... — Lili me olhou, como se tivesse lembrado de algo importante. — Eu sabia que tínhamos esquecido algo.

Minha bolsa ficou em cima da cama dela, como eu esqueci?

Ele riu. — Venham aqui. Vamos ver o que pode servir.

Entramos em seu quarto. Me sentei na beira da cama, e Lili deitou.

James vasculhou seu guarda roupa bem arrumado. — Servir realmente não vai ter nada. Acho que as roupas do Lucas podem servir...— Deu risada.

— Não precisa servir. — Eu disse. — Se ficar confortável já está bom. É só pra dormir.

— Quem disse que vamos dormir agora? — Ele perguntou, nos olhando como se fossemos doidas.

Lili o olhou, desconfiada. — E o que você está planejando?

— Que tal vermos um filme?

***

Depois de pegar duas camisetas de James e dois shorts de Lucas, James nos deixou em seu quarto sozinhas. Nos trocamos, tirei a maquiagem no banheiro ao lado do seu quarto, e descemos.

Ele e Júlio estavam na sala de TV, escolhendo um DVD. Ambos já estavam com outras roupas.

— Vamos ver o quê? — perguntei.

— Fizemos uma seleção. — James disse. — Vocês duas escolhem.

Olhamos os quatro DVDs no chão, e não reconheci nenhum deles.

— Por mim tanto faz. — Lili falou, olhando as capas, e apontou para a terceira capa.

James guardou o restante dos DVDs e colocou o CD no aparelho.

Lili pegou minha mão, me arrastando para o sofá. Sentou no canto, no encontro dos dois lados do sofá, e me puxou para sentar do seu lado esquerdo. Ela esticou as pernas, para que ninguém pensasse em sentar na sua frente.

Ela não parecia exatamente animada. Só parecia querer ficar quieta e ver o filme.

Júlio sentou na outra extremidade, deixando o assento entre mim e ele vazio.

James apagou a luz da sala e pegou dois controles em cima do rack. Sentou-se do meu lado e deu início ao filme.

— Tem medo de filme de terror? — cochichou para mim.

— Não. Geralmente dou risada.

— Somos dois.

— Você não viu esse não, né? — Júlio perguntou a ele.

— Não. Esse é um dos novos que meu pai comprou.

— Ah, tá. — Júlio falou como se James tivesse desmentido algo errado que fez.

O filme começou. A TV ficou escura por um tempo, e senti James se mexendo do meu lado. Lili se ajeitou também, deitando o corpo um pouco e encostando a cabeça no meu ombro.

Não havia luz nenhuma. Não entrava quase nada da luz da lua. E então, a TV se iluminou e as cenas começaram.

Quando eu assistia filmes, ficava concentrada neles. Quase nada conseguia tirar minha atenção deles, por isso, sempre me assustava com facilidade, com qualquer movimento brusco do personagem, ou mesmo a própria cena de susto, e sempre ria da minha própria “fraqueza”.

E por causa disso, algo me dizia que os três do meu lado riam de mim, e não do filme.

Eu realmente não tinha percebido quando James tinha colocado o braço no encosto atrás de mim.

Senti Lili se assustando com algo, se movimentando bruscamente, e James começou a rir.

— Idiota. — Ela disse, rindo.

Só depois me liguei que ele tinha mexido no cabelo dela, e a assustou, de propósito.

Ela voltou a se encostar em mim e segurou minha mão.

— Está com medo, é? — Brinquei.

— Claro que não.

Mas parece que está.

Os sustos começaram a ficar mais frequentes, e todas as vezes, James pulava comigo, dando um leve aperto no meu ombro.

O suspense estava de matar, quando James pousou a mão no topo da minha cabeça, e eu só senti quando começou a fazer cafuné.

Ele se mexeu de novo, e daquela vez me desconcentrou. Eu o olhei, prestes a dizer para ele ficar quieto. James me olhou, parecendo um pouco alerta — ou assustado — não dava para saber. Abriu a boca para falar algo.

— AAH! — Lili berrou, me empurrando, levantando, tropeçando nas minhas pernas e correndo para o outro lado da sala.

Com o susto — e porque ela me empurrou —, fui para trás, encostando em James, que me segurou.

Olhamos ao mesmo tempo para Lili. Júlio já estava de pé perto dela. Ela estava com os olhos arregalados, olhando para a janela com uma mão no peito e outra na testa.

— O filme está tão bom assim? — James perguntou como se estivesse por fora.

Lili apontou para a parede do sofá, sem olhar.

Viramos a cabeça ao mesmo tempo para a direita. Na parede, havia algo escuro, um pouco maior que uma moeda de um real.

James pausou o filme e acendeu a luz.

Olhei de novo, e agora dava para ver o que era. Um besouro azul escuro.

Lili choramingou e saiu da sala. — Tira essa coisa daí, James — pediu da sala de jantar, quando a luz de lá foi acesa.

James revirou os olhos, e foi até o sofá, se ajoelhando nele e pegando o besouro com cuidado.

Me encolhi no meu lugar. Eu não era tão medrosa quando Lili, mas também tinha medo de insetos no geral. Eu só conseguia ignora-los se fossem menores que uma pérola.

Andando até a varanda, James sumiu de vista.

Júlio não tinha se mexido do lugar. Estava olhando para onde Lili estava. — Pronto, já foi.

Estranhamente, ele não estava rindo. Essa era uma reação que eu esperava dele. Mas estava sério. Talvez estivesse acostumado a vê-la correndo de insetos.

James voltou e fechou as portas da varanda, e a olhou. — Já deixei ele lá fora. Pode respirar.

Não houve barulho.

James segurou o riso e voltou ao meu lado. — Ela tem pânico de besouros.

— Pânico é pouco. — Lili falou da outra sala. Sua voz ainda falhava. — Que foi? Tá esperando o quê?

Olhei. Ela havia falado com Júlio.

— Estou vendo se você não vai desmaiar. — Júlio respondeu em um tom grosso, imitando o tom dela. Ele voltou ao seu lugar, soltando um suspiro irritado quando sentou.

Esperamos, em um silêncio meio tenso, até Lili voltar.

Pouco depois, vimos a luz sendo desligada, e ela voltou, parando na minha frente, fazendo sinal para eu ir para o lado.

Me movi, e ela sentou no meu lugar.

Vi James a encarando, como se não acreditasse no que ela tinha feito.

— Sinto muito, mas eu é que não fico perto da parede de novo.

Os olhos de James passaram de mim para a TV, e deu continuidade ao filme.

Lili abraçou as pernas, e encostou no encosto. Dessa vez, eu encostei no ombro dela, e um tempo depois senti algo em meu cabelo. Olhei, e era James de novo. Deixei ele mexendo em meu cabelo e voltei a atenção ao filme.

Senti ela se encostando em mim pouco depois. Meus olhos começaram a ficar pesados, mas lutei contra o sono. Já Lili não resistiu. A senti respirar tranquilamente, mais pesado.

O filme acabou com o desfecho de que a história não acabara ali. Os créditos começaram, e James e Júlio se espreguiçaram.

— Isso eu nunca tinha visto. — James apontou para Lili enquanto desligava a TV.

Júlio ligou a luz.

— O quê?

 — Ela dormir depois de dar um chilique por causa de um besouro. Geralmente fica parecendo igual um zumbi, olhando ao redor e no chão, parecendo doida.

— Vai ver ela se sente bem comigo do lado. Sabe que eu vou proteger. — A cutuquei e ela acordou.

— Quê? Acabou? — perguntou, sonolenta.

— Sim, e perdeu o final. — James disse desligando o DVD.

Ela deu de ombros. — Posso ir dormir agora? — Levantou.

Eu e Júlio levantamos na mesma hora. Ele parecia estar meio bravo, ou só cansado.

— Minha mãe arrumou o quarto de hóspedes pra vocês. O do lado do banheiro.

— Ótimo. — Pegou minha mão e começou a andar.

Eles nos seguiram escada acima. Júlio foi direto para o quarto de James, e ele nos levou até o quarto que ficaríamos. Mostrou onde tinham mais cobertas caso sentíssemos frio, e saiu, desejando boa noite.

A cama também era de casal — parecida com a de James — e havia um pequeno guarda roupa na frente da cama. As paredes eram de um salmão claro, combinando com a colcha da cama que também era salmão, mas mais escuro. Na parede da porta havia uma cômoda baixa de quatro gavetas e um abajur em cima.

Escovamos os dentes, apagamos a luz, acendemos o abajur e deitamos, antes de Lili se certificar duas vezes se a janela acima de nossas cabeças estava bem fechada.

— Você está bem? — perguntei. Estávamos deitadas uma de frente para a outra.

— Sim. Já passou a tremedeira — respondeu de olhos fechados.

— Quero dizer sobre o Júlio.

Ela me olhou. — Estou bem, também.

— Certeza?

— Bru, não é a primeira vez que acontece. Estou bem, até porque você está aqui. — Ela segurou minha mão entre os travesseiros. — Com certeza seria pior se eu estivesse sozinha. Então não se preocupe. — Sorriu, fechando os olhos. — E obrigada.

Apertei sua mão e também fechei os olhos — Por nada.

***

— Não é coisa da minha cabeça, não é? — Júlio perguntou, já deitado na cama de James.

— O quê? — James perguntou, sentado na ponta da cama mexendo no celular.

— A Lili. Você viu?

— Como ela estava te tratando? Sim, eu vi.

— Qual o problema dela? Parece que tem problema na cabeça. Uma hora estávamos dançando bem melosos, e na outra ela estava me ignorando. Não entendo ela.

— Você sabe que ela te ignora quando você faz algo que ela não gosta.

— Mas o que eu fiz? Não fiz absolutamente nada! — Seu tom de voz aumentou.

— Fala baixo. — James tacou o travesseiro na cara do amigo. — Quer que ela escute?

— Se fizer ela parar de graça, eu quero.

— Ela é meio difícil. Te ignora por pouca coisa, você sabe. Talvez você tenha feito algo e nem percebeu... E ela estava meio estranha. Acha que me engana, mas eu conheço a criatura.

— Estranha...?

— Ela e a Bru sumiram um tempo, e quando apareceram, as duas estavam com cara de enterro, apesar de tentar disfarçar, eu percebi. Tem certeza que você não fez nada? Tenta lembrar.

— Caramba... — Fechou os olhos, tentando se lembrar de algo. — Eu juro que não fiz nada... Aconteceu uma coisa, mas... Não tem como ser isso.

— Que coisa?

— Lembra... — Abriu os olhos. — Lembra quando você tinha vindo me ver depois que dançou com a Bru? E eu fui no banheiro?

— Sim. O que que tem?

— Sua prima Flávia veio atrás de mim.

— O que ela fez? — James perguntou, desconfiado.

— Ela agarrou meu braço na varanda, e me puxou para dentro, e foi para a escada. Até achei engraçado, mas perdeu a graça quando ela disse que vinha aqui só pra tentar me ver, e ai ela agarrou no meu pescoço pra me beijar.

— E você deixou?

— Claro que não — disse se sentindo ofendido. — Eu falei que não podia e fui pro banheiro. Eu devia ter te ouvido aquela vez.

— Falta de aviso não foi. Eu disse que ela era insistente, mas você quis ficar com ela... Mas... por que você não quis dessa vez?

— Eu... Sei lá, eu não quis. Não estava afim.

— Só isso? — pressionou.

— Sim. Por que mais seria? — perguntou, meio na defensiva.

James revirou os olhos. — Tudo bem. Enfim. Por isso a Flávia estava com cara de bunda quando se despediu de mim. Ainda bem que você me fez esse favor, assim ela para de vir aqui.

Júlio riu. — De nada.

— Mas, voltando ao assunto. Acho que amanhã a Lili volta ao normal. Ela e o sono são amigos, é só dormir que quase tudo se resolve.

— Espero que sim.


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