San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 27
Momento Fofo




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Segui a parede do refeitório, e logo vi a porta de vidro da enfermaria. Não havia ninguém na sala de espera. A porta da direita estava fechada, mas a da frente estava aberta. Parei ali na frente, me deparando com Yan sentado no meio da primeira maca, segurando um pano embolado e ensanguentado no colo, com o braço machucado esticado para o lado com algumas trilhas de sangue.

Ele me percebeu ali parada. — Bruna? Como sabia que eu tava aqui?

Meu rosto ferveu, talvez pelo fato dele não ter nada cobrindo seu tórax, só talvez. — Mateus e Gabriel me falaram... — Me aproximei timidamente, tentando manter o olhar em seu rosto, encostando na ponta da maca. — O que aconteceu?

— Além de acordar atrasado, acordei com isso aqui sangrando. Eu devo ter dormido em cima do braço, sei lá.

— Tá doendo?

— Um pouco. — Olhou para o braço com uma leve expressão de dor. — Caramba, se a dona Célia continuar demorando assim vou perder todo meu sangue.

— Eu te faço uma doação se precisar... — soltei sem pensar, e só depois de alguns segundos é que meu rosto reagiu ao que eu tinha falado.

Yan me olhou e sorriu de um jeito divertido, e antes que respondesse algo, a enfermeira entrou na sala, segurando uma bandeja de aço com algumas coisas em cima.

— Desculpe a demora... — E ela me notou ali, mas não fez nenhum comentário. Começou a rasgar alguns pacotes de gaze e vestiu luvas descartáveis. Pegou um frasco de um liquido incolor e jogou no braço de Yan, passando as gazes em seguida para limpar.

Yan fez algumas caretas que me fizeram ficar tensa.

Queria poder confortá-lo de alguma forma, mas não sabia como.

Ele estendeu a mão direita em minha direção, e com o coração acelerado, entendi o que ele queria. Me aproximei, longe o bastante para não atrapalhar a enfermeira, e peguei sua mão, a segurando em cima do colchão. Claro que minhas bochechas reagiram, mas tentei ignorar.

— Ele vai ter que ir pra aula? — perguntei a enfermeira.

— Se ele não quiser, não — respondeu gentilmente, concentrada no que estava fazendo.

— Não posso perder aula. Eu sou destro, não tem motivos pra não ir — comentou ele, apertando mais minha mão quando a enfermeira voltou a limpar o ferimento maior.

A mão dele suava um pouco na minha. Devia estar doendo bastante.

Depois de algum tempo, ela terminou de limpar todo o sangue, passar um tipo de remédio e começou a enfaixar o braço.

— Melhor você ir — Yan disse baixinho. — Ou vai se atrasar pra primeira aula.

— Tem certeza?

— Tenho. — Sorriu. — A pior parte já passou.

— Tudo bem... — Dei uma leve apertada em sua mão e nos soltamos. Andei até a porta e olhei para trás. Ele ainda me olhava e deu um pequeno sorriso de agradecimento.

Retribui, saindo logo em seguida. Corri para o refeitório, já esvaziando. Lili estava na mesa, conversando com Mateus e Gabriel. Quando me aproximei, Gabriel levantou.

— Como ele tá?

— Tá bem. A enfermeira tava enfaixando o braço dele quando saí. — Peguei minha mochila da cadeira e a coloquei nas costas.

— Ainda bem. Ele falou se vai pra aula?

— Ele disse que vai.

Ele olhou para Mateus. — Vamos lá ajudar ele.

— Vamos. — Mateus também levantou. — Até mais, meninas.

Acenamos e eles correram para o jardim.

— O que aconteceu aqui? — Sorri para Lili, curiosa.

Ela levantou rindo. — Nada. Eles vieram perguntar se você tinha ido ver o Yan. Eles tinham acabado de vir, na verdade. Acho que aproveitaram que eu tava sozinha.

— E por que você tá sozinha?

— Pedi pros meninos irem na frente, ou alguém poderia roubar nossos lugares.

— Ah, então vamos pra sala.

No momento em que saímos do refeitório, o sinal bateu, então corremos para a primeira aula. Entramos na sala e fomos para o fundo, onde os meninos tinham guardados nossos lugares na mesa da frente deles com suas mochilas. Nos sentamos respirando rápido.

— Ele tá bem? — James perguntou.

Me virei. — Sim, mas pelo jeito sangrou bastante.

— Onde é o machucado?

— No braço esquerdo. Pegou quase essa parte toda. — Indiquei no meu próprio braço.

— E como ele conseguiu se machucar desse jeito?

— Ele disse que foi num jogo de basquete. Caiu no chão e arrastou o braço por causa da velocidade.

Júlio fez uma careta. — Nossa.

— É, tava feio.

A professora de biologia entrou, e eu me virei para frente. As duas primeiras aulas passaram rápido. Na terceira, de matemática, a professora Ingrid passou suas contas, como de costume.

— Hoje quero fazer algo diferente — anunciou ela assim que terminou de passar tudo na lousa. — Tentem terminar tudo no máximo dez minutos antes do sinal bater.

— Por quê? — Uma das meninas na frente da sala perguntou.

— Não vou falar agora, mas vocês não vão me dar os cadernos pra eu vistar hoje. Agora vai, façam a lição.

Ninguém entendeu, mas começaram a fazer.

Tentei terminar o mais rápido possível, mas minha mente sempre saía de foco pensando se Yan estava melhor, se tinha mesmo ido pra aula ou se estava sentindo dor... Porém, apesar da falta de concentração, consegui terminar faltando vinte minutos para o fim da aula, e Lili terminou pouco depois de mim. Ficamos jogando o jogo da velha enquanto esperávamos.

Faltando dez minutos, a professora levantou. — Terminaram? Agora vocês irão trocar de caderno com o colega de trás. Por exemplo, a Lívia... — Apontou para uma menina sentada na primeira carteira da minha fileira. — Vai trocar de caderno com o Eric. — Apontou para o menino atrás dela. — E ele dará o caderno dele pra ela. Entenderam? Quero que corrijam a lição do colega, deem nota e deixem alguma observação. Rápido!

Com conversas e risos, houve o barulho dos cadernos sendo trocados. Peguei o meu, me virando para trás, e fiz a troca com James, que já estava à postos.

— Seja boazinha — Júlio pediu ao trocar de caderno com Lili.

— Vou pensar no seu caso. — Lili riu.

Comecei a olhar as contas de James. Ele tinha uma letra pequena e bonita.

Conforme corrigia, desenhava uma pequena flecha ao lado de cada conta, as marcando como certas. Quando terminei, deixei um dez no início da folha, e escrevi uma observação.

 

“Parabéns, Senhor James. Já pode dar aulas.”

 

Dei uma olhadinha para o que Lili estava escrevendo, já que ela estava rindo. Havia um sete e meio na folha.

 

“Tá bom, mas precisa melhorar. Ligue para o número 806 para solicitar aulas de reforço escolar. Fazemos preços especiais.”

 

Ela riu mais ainda quando terminou, e Júlio resmungou, já prevendo que ela não seria boazinha.

— Acabaram? — A professora perguntou. — Podem devolver os cadernos.

Troquei de caderno com James.

Havia um oito na minha folha e uma observação abaixo.

 

“O quê? Você errou duas questões? Acho que terei que lhe dar aulas se quiser passar de ano com um dez no boletim.”

 

Olhei para as contas que ele tinha colocado um “x” ao lado. Foram erros bobos de sinal que me fizeram errar.

Estava com a cabeça em outro lugar. Conhecido como enfermaria.

Olhei para o lado e vi que no caderno da Lili havia um dez.

 

“Bem que eu queria que tivesse algo errado, mas não tem, como sempre.”

 

— Ei! — Júlio reclamou quando terminou de ler.

— O quê? — Lili se virou, ainda rindo. — Eu te ofereci aulas com preços especiais.

— E eu ainda quis ser fofinho com você. — Negou com a cabeça, arrependido.

— Isso era pra ser fofo? — Lili me lançou uma piscadela.

Júlio suspirou, fingindo estar irritado. — Não faço mais.

Dei risada e me virei para James. — Vai me dar aulas por preços especiais também?

— Se quiser, sim, mas posso ser melhor que a Lili e fazer de graça.

— Ah, é? Olha aí, Lili, vai perder clientela. — Comecei a guardar meu material.

— Qual é, James? Vai roubar meus clientes na cara dura mesmo?

— Precisa ser mais ligeira, Lili — brincou ele, dando risada.

 

Ao entrarmos no refeitório no almoço, fiz a mesma coisa de mais cedo sem nem reparar. Procurei por Yan, e dessa vez o encontrei junto de Gabriel e Mateus.

Pegamos a comida e nos sentamos algumas mesas distantes de onde Yan estava, e ainda assim eu conseguia vê-lo perfeitamente dali. Ele estava com a regata do uniforme de ginástica, mostrando o braço enfaixado, desde perto do ombro até metade do braço.

Como ele ficava bonito de regata... Nunca tinha visto ele vestindo ela.

Enquanto fazia minha análise, ele virou o rosto em minha direção rapidamente, voltando no mesmo instante. Não deu tempo de eu me virar, completamente envergonhada por ser pega no flagra, e ele olhou de novo, e dessa vez acenou.

Acenei, e para disfarçar, fiz um sinal para seu braço, e depois um sinal de “joia” com o dedão, perguntando como ele estava se sentindo. Yan fez um “mais ou menos” com a mão direita.

Dei um pequeno sorriso e me virei de volta, ainda sentindo os efeitos da vergonha.

Após comer, Lili e eu subimos. Deixei minha mochila no meu quarto e fui para o dela. Nos sentamos em sua cama.

— Como foi lá na enfermaria?

Expliquei como Yan estava quando cheguei, e o que ele tinha feito quando a enfermeira foi limpar seu machucado.

Lili colocou as mãos na boca, chocada. — E você segurou a mão dele?

— Claro... Ele precisava. Aquilo parecia que estava doendo bastante.

— Ai, Bru! Isso deve ter sido tão fofo... Tirando a parte que ele estava sentindo dor, claro.

— Sim... — Coloquei a mão no rosto, lembrando, até que percebi um cheiro diferente.

— Que foi?

Cheirei a palma da minha mão. — Lili...! — falei, completamente surpresa, lembrando daquele aroma. Estendi a mão para ela, que também sentiu.

 — É o perfume dele?

— Sim... — Suspirei, feliz da vida por conseguir sentir aquele perfume de novo. — É tão bom.

Ela riu. — Agora não vai querer tomar banho pro cheiro não sair.

— Até parece, né.

— Mudando de assunto... — Ela se ajeitou na cama. — Sexta, dia quatro, é aniversário do James. Não esquece de dar parabéns pra ele.

— Ah! Claro. Vamos fazer alguma coisa?

— Alguma coisa?

— É, uma festa surpresa, sei lá.

— Eu até pensei, mas não tem como fazer uma festa aqui.

— Não precisa ser uma festa. Podemos comprar cupcakes, muffins, sei lá. E compramos velinhas pra ele assoprar.

— É uma boa ideia! Mas como vamos sair daqui sem ele desconfiar...?

Não consegui pensar em nada, entretanto, logo ela abriu a boca de novo.

— Já sei! Vamos dar os parabéns pra ele, normalmente. Mas assim que a gente ver ele, você finge que não tá se sentindo muito bem, assim ele não tem como desconfiar depois... Aí vamos subir depois do almoço, e... o Júlio vai convencer ele a subir. E aí, minha amiga, corremos pra fora da escola.

— Mas por que eu tenho que fingir que tô mal?

— Por que você é uma boa atriz, ou não teria conseguido o papel principal no teatro.

Revirei os olhos e soltar o ar pela boca. — Tá bom.

— Vou falar com o Júlio quando vocês forem pro ensaio e combinamos tudo.

— Mas aonde vamos comprar as coisas?

— Tem um mercadinho aqui perto e uma padaria. Nós três fazemos uma vaquinha e no dia vemos o que vai dar pra comprar.

— Beleza.

— Não tem como não dar certo! — Lili abriu um sorrisão, completamente animada com a ideia.

Batemos nossas mãos no alto.


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