San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 23
Treino




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Saímos da sala dez, de biologia, para irmos para a segunda aula, na sala dois, de matemática. Os alunos ainda estavam saindo, então encostamos na parede para dar passagem.

Viktor saiu, conversando com um colega, e assim que nos viu, falou algo para ele e veio até nós. Parou na frente de Lili, procurando algo no bolso da calça, até que achou o que procurava e entregou a ela um pedaço de papel dobrado.

— Que isso? — perguntou ela, confusa.

Ele sorriu e saiu andando. — Abre e descobre.

Nos olhamos e rimos. Entramos na sala assim que o último menino saiu e corremos para a carteira do fundo, na parede das janelas. Lili abriu o papel. Havia um pequeno texto escrito à mão.

“São coisas que me lembram você; travesseiro, fotografias, um sofá macio... Eu não sabia que doía tanto ser passageiro na vida de alguém que eu amo, não imaginava que, quando as pessoas se vão, deixam um pouco de si em tudo o que já tocaram, inclusive em mim.”

— Que fofo... — comentei.

— É. — Ela deu uma risadinha. — Fazia tempo que não recebia um desse.

— Já recebeu outros?

— Sim. Ele escrevia alguns versos assim e me dava um, quase toda semana.

— Então ele tá querendo te reconquistar.

— Isso é óbvio. Nem precisava disso. — Dobrou o papel e colocou no meio do caderno. — Ele deve achar que se fizer as coisas que fazia antes vai me fazer querer voltar.

— Você acha? — baixei o tom de voz quando notei que os meninos estavam se aproximando.

— Certeza. — Sorriu para mim. Dava para ver que ela tinha ficado feliz com aquilo.

James e Júlio sentaram na mesa da frente.

Após todas as aulas teóricas, chegou a minha preferida, educação física. Fomos para o vestiário e nos trocamos. Para começar, a professora nos fez fazer alongamentos e dar cinco voltas na quadra como aquecimento. A maioria dos meninos foram jogar futebol na segunda quadra. Algumas meninas foram para lá, para assistir, e o restante, contando comigo, James, Júlio e Lili ficaram na primeira quadra para jogar vôlei.

Tiramos os times, e eu e Júlio ficamos contra o time de Lili e James.

Não querendo me gabar, mas eu era boa em vôlei. E Júlio também era. Não foi tão difícil assim, e graças ao nosso time, ganhamos os três sets.

O sinal bateu e todos começaram a ir para o vestiário correndo, mortos de fome.

— Bruna! — A professora gritou, me chamando. Fui até ela torcendo para que o assunto fosse rápido. — Você não gostaria de entrar na equipe de vôlei?

— Como assim?

— Cada sala tem uma equipe por causa do campeonato escolar.

— Eu nem sabia que tinha campeo...

— Pois, é. Nós temos! — afirmou, orgulhosa, me interrompendo. — Todas as salas que estão interessadas em competir fazem uma equipe. Nós teremos um campeonato onde as salas vão se enfrentar e a equipe vencedora vai representar a escola no campeonato regional! Não é incrível?!

— Uau... — Fiquei sem reação, não entendendo exatamente o que ela queria.

— E aí? — indagou, animada. — O que acha? Você é muito boa. Quer participar?

— Ah... Eu vou pensar.

— Certo. Pensa com carinho! E me avisa logo, o mais rápido que conseguir. Quanto antes começarmos os treinos, mais chances vocês terão de ganhar. E por favor, fala com o Júlio pra mim, já perdi ele de vista.

— Claro, vou falar.

Corri para o vestiário e me troquei. Lili estava me esperando perto do portão da quadra.

— O que ela queria?

— Ela perguntou se eu não quero participar da equipe de vôlei pro campeonato — expliquei, ainda surpresa com o convite.

— Campeonato? Não sabia que tinha.

— Pois é. E ela pediu pra falar com o Júlio, porque ele também é bom.

Suas sobrancelhas se levantaram. — Isso é... Caramba! Vocês competindo, imagina que legal! — exclamou, animada.

— Eu não sei se vou participar...

Lili me lançou um olhar descrente. — Como assim?! Você tá doida? Por que não?

Andamos para o jardim junto dos últimos alunos da nossa sala.

— Eu falei que ia pensar...

— Ai, Bruna! Você e essa mania de pensar! Por que não aceitou logo? Você é uma ótima jogadora!

— Calma, Lili. Vou falar com o Júlio primeiro. Não quero ficar sozinha.

— Ai, Deus! — reclamou, impaciente.

Encontramos os meninos um pouco mais à frente e corremos para alcançá-los.

— Júlio, a professora chamou a gente pra fazer parte da equipe de vôlei da sala, pro campeonato.

— QUÊ?! Sério?! — Ele arregalou os olhos, completamente eufórico.

— Sim. Ela falou pra gente ver logo, pra começar os treinos o quanto antes.

— Só se for agora! Vamos lá falar com ela. — Começou a andar, me puxando pelo braço.

— Calma, menino. Eu falei que ia pensar.

— Pensar no quê?

— Eu preciso mesmo pensar. Tem os ensaios do teatro, esqueceram? E se eu não der conta? — inventei na hora.

— É só você avisar os dias que tem ensaio — Lili disse. — Você dá conta sim. No máximo vai ter que dormir um pouco mais cedo pra recarregar as energias.

— É! — Júlio concordou. — Vai, Bru. Vai ser divertido.

Ai, Deus. — Tudo bem. Eu vou.

— Isso! Vou lá avisar a professora! — E ele saiu correndo de volta para a quadra.

— Quero ver vocês ganhando de todo mundo. — James bagunçou meu cabelo, tentando me incentivar.

Sorri, meio nervosa. Ele e Lili riram da minha cara. Não custava nada eles me deixarem pensar no assunto. Não é simples você chegar e participar de um campeonato na frente da escola toda, sem falar da possibilidade do nosso time perder...

Júlio voltou alguns segundos depois. — Somos parte da equipe, Bru! E hoje já vai ter treino, as duas da tarde. — Levantou a mão na minha direção.

Fiz um esforço para não acabar com a animação dele e batemos nossas mãos no alto.

 

Depois de guardar as mochilas, fomos almoçar.

— Quando fui lá, a professora tava falando com mais alguns da sala — Júlio começou, prestes a dar uma garfada. — Acho que eles aceitaram, então seremos em dez pessoas. Pelo que entendi, a professora conversou com a diretora, pra deixar que a escola participasse do campeonato regional, e esse ano ela resolveu deixar. Teremos esse campeonato e vamos enfrentar outras escolas lá. Isso se a gente ganhar, claro.

— Imagina só vocês ganhando! — James disse, animado. — Vão representar nossa escola!

Meu estômago se agitou. Eu jogando na frente de todas as escolas da região com mais de quinhentos alunos cada... Isso não cheira bem.

— Nós vamos ganhar! — Júlio gritou, levantando os braços, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam por perto.

Imagina esse menino no regional... Já vi que vou passar vergonha.

Não tinha como não rir da situação. Rir de nervoso.

Após comer, subimos. Fiz um pouco de lição, e quando faltava cinco para as duas, coloquei meu outro uniforme de ginástica e desci. Encontrei Júlio e fomos para a quadra.

Cada sala tinha duas horas de treino, fora as aulas de Educação Física. Então se quiséssemos treinar mais ainda, teríamos que ver com a professora se havia algum horário vago. Teríamos os fins de semana, mas duvido que alguém ia querer ficar na escola só para treinar.

Algumas pessoas da nossa sala já estavam lá, preparados e animados.

Começamos com o aquecimento e algumas atividades relacionadas aos fundamentos do jogo, como por exemplo, duas fileiras de pessoas, uma de frente para a outra, e a bola é passada em zigue-zague por levantamento até o fim da fila. Sempre tinha alguém que jogava a bola alto demais ou deixava escapar, o que fazia todos rirem. Depois, a professora separou os times aleatoriamente. Fiquei contra Júlio.

Isso vai ser divertido.

A professora disse para não nos preocuparmos com o número de sets. Poderíamos fazer quantas rodadas precisássemos.

Nossa equipe era realmente boa. As rodadas acabavam bem apertadas. Não sei quantas rodadas fizemos, mas foram muitas. Estávamos suando igual porco na brasa. O cabelo castanho de Júlio estava preto de tão molhado.

Era engraçado como ele ficava diferente jogando. Concentrado e sério. Se ele ficasse assim na aula, teria notas tão boas quantos as da Lili.

— Vamo, pessoal! — A professora berrou, quase parecendo um sargento. — Alguém tem que ganhar, só tem mais cinco minutos.

Aparentemente todos recuperaram suas forças ao ouvir aquilo. Foi como colocar madeira em uma fogueira, e depois jogar gasolina. Ninguém queria perder. Todos atacavam e defendiam com todas as forças que tinham como se suas vidas dependessem disso.

Acho que eles estavam mais agressivos do que o necessário... Vocês têm que fazer isso quando estiverem jogando contra outras equipes, não com a sua própria.

A professora apitou, parando o jogo, fazendo os alunos mais próximos colocarem as mãos nas orelhas. O time do Júlio ganhou por dois pontos de diferença.

Metade das pessoas dali se jogaram no chão, inclusive eu.

Aaah, que geladinho.

— Tá cansada já? — Júlio chegou perto. Seu rosto estava completamente vermelho e o suor escorrendo nas têmporas.

— Já?! Você tá brincando né?

— Lógico, eu tô morrendo. — Passou a mão no cabelo, suspirando. — Mas preciso muito comer e recarregar as energias.

Dei risada, percebendo que eu também estava com fome — Vamos comer, então. — Levantei com dificuldade, resmungando igual uma idosa, com dor nas pernas.

Saímos de lá, andando com dificuldade.

Eu até iria direto para o refeitório, mas não quero que o Yan me veja nesse estado. Eu sei que uma hora ele vai ver, mas vou guardar para o campeonato.

— Vou chamar a Lili — avisei assim que passamos pela entrada do dormitório. Júlio afirmou.

Subi o mais rápido que minhas pernas deixaram. Tomei uma ducha rápida e coloquei meu uniforme. Passei um pouco de perfume e fui chamar Lili.

Descemos enquanto eu comentava sobre o treino.

— Uau! — Ela disse, impressionada. — Será que eu posso assistir o próximo?

— Ah, acho que sim. Tinham algumas pessoas da sala assistindo.

— Uhu!

— Vai ficar torcendo pro Júlio, né? — brinquei, provocando.

Ela fez um biquinho. — Vou torcer pra vocês dois.

— Acho bom. — Ri e dei um tapinha na cabeça ruiva dela.

Encontramos os meninos na entrada do refeitório e seguimos para a fila.

— Você nem se trocou — acusei Júlio, fazendo uma careta de nojo.

— Pra quê? Passei desodorante. Já tá bom.

Lili fez a mesma expressão que eu, só que mais acentuada ainda.

— Lili... — Júlio cantarolou, indo em direção dela com as mãos abertas.

— Não se atreva! — Ela se afastou, se escondendo atrás de mim. — Saaaai!

Júlio gargalhou e se afastou antes que levasse um tapa.

...

— Sextaaa! — Júlio se espreguiçou na mesa do refeitório, no almoço. — Vou embora depois daqui.

— Por quê? — Lili perguntou, terminando de comer.

— Vou ter que ir no aniversário de uma tia. Fui obrigado. Aquela mulher deve estar com uns cento e cinquenta anos.

— Que exagero — James falou, rindo.

— É, mas deve ser por aí. Vai estar a família toda lá. Vai ser um tédio total. — Revirou os olhos. — Vou ter que encher a cara. Talvez veja alguma graça se estiver bêbado.

— Ai seu pai te dá um coro.

— ... É. Droga.

— Seu pai não gosta de bebidas? — Lili indagou.

— Não, ele bebe, só não gosta de excessos.

— Então ele tá certo.

— Eu sei, tô brincando.

Depois do almoço, subimos e ajudei Lili a arrumar suas coisas. Ela me chamou para ir na casa dela de novo, mas recusei. Eu não gostava de abusar da hospitalidade das pessoas.

 Depois de um tempo, ela foi embora.

Tentei terminar minhas outras lições, mas não conseguia me concentrar. O ensaio de hoje vai ser a primeira vez que vou “ficar” com o Yan na frente de todo mundo. Na frente do James... Apesar que ele não parece igual antes... Aliás, será que ainda liga pra isso? Agora que está “quase” com a Erica?

 

Encontrei Erica, por falar no diabo, no corredor, e descemos juntas. James estava esperando, e fomos para o refeitório. Assim que entrei, como de costume, observei o lugar, e meu olhar foi diretamente para uma mesa quase no meio do refeitório, ocupada por Yan e Mateus, comendo sozinhos.

Ali, lembrei quando vi Yan pela primeira vez. Parecia que fazia tanto tempo...

Pegamos nossos lanches, e James foi na frente. Yan acenou para nós quando nos viu, e acabamos indo parar na mesa deles. Comemos e conversamos, e depois fomos juntos para o auditório, inclusive Mateus, que queria assistir o ensaio pois estava curioso.

Respirei fundo quando fomos ao palco. Não posso comparar o nível de nervosismo que eu sentia agora com o nível de quando começou. Com certeza eu estava mais acostumada, mas não conseguia deixar de sentir aquele frio na barriga, ainda mais sabendo que eu teria cenas com o Yan.

Porém, quando acabou, notei que não foi tão difícil assim. Por desencargo de consciência, às vezes dava uma espiada para James, e ele estava sempre normal, se divertindo. Seria melhor se eu parasse de me preocupar com isso de uma vez. Não fazia mais sentido algum.

No final, todos bateram palmas e descemos do palco.

Yan desceu logo atrás de mim. — Você vai ir pra casa da Lili de novo?

— Não, vou ficar aqui — respondi, dando uma olhada para ele.

— Ah, é? — Ele pareceu desapontado. — Só porque eu não vou ficar.

— Sério?

— Sim... Vou pra casa do Mateus. Se eu tivesse perguntado antes... Vai ficar sozinha.

— Não tem problema. Não é tão ruim assim. — Tentei dar de ombros, adorando o fato de ele ter ficado incomodado e se preocupado comigo. — Tenho bastante lição, então tudo bem.

Fomos para fora e paramos na frente do auditório.

— Então a gente se vê segunda... — disse ele, meio jururu.

— Arrã.

Yan se abaixou, e deu um beijo na minha maçã do rosto, perto do olho. — Até.

Perto daquele jeito, senti cheiro de bala de morango. — Até...

Mateus passou perto, quase perguntando com o olhar se ele queria mesmo ir, e sem falar mais nada, Yan acenou para mim e os dois seguiram para fora.

Depois da janta, o resto da escola foi embora, me deixando com o silêncio maravilhoso de um dormitório vazio. Ou quase vazio, mas bem quieto. Fiquei no meu quarto, sentada na cama, e lembrei do que Viktor tinha escrito para Lili. Era tão bonitinho. Eu bem que queria saber escrever coisas assim, mas nunca fui boa com isso.

Talvez se eu tentasse escrever alguma coisa...

Peguei algumas folhas soltas e uma caneta. Voltei para a cama e comecei a escrever algumas coisas apoiada em um dos livros. A maioria não fazia sentido nenhum. Por mais que eu tentasse colocar meus sentimentos em palavras, nada soava bem, nem sequer rimava.

Escrevi um parágrafo e algumas frases, também sem sentido algum, e não fiquei contente com nada. Eu não servia para a vida de poetisa, não mesmo.

A única coisa que eu sabia escrever era o nome do Yan. Yan em todas as linhas. Yan maiúsculo, Yan minúsculo, em letra de mão, em letra de forma, com corações, sublinhado...

Não adianta, eu não nasci com o dom de escrever coisas bonitinhas.

Deixei as folhas dobradas dentro do caderno e fui tomar banho. Depois, desabei na cama, completamente exausta.


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