San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 16
Depois, a Diversão




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Segui Yan para as estantes. Ele começou a contar o que sabia sobre a história do café, que o dono queria abrir uma livraria, mas que era difícil lucrar vendendo só livros, ainda mais no comecinho, e que sua esposa teve a ideia de abrir junto uma cafeteria. Inicialmente seriam dois lugares, um ao lado do outro, mas quando eles estavam procurando pelos locais para alugar, encontraram esse galpão, que era uma antiga fábrica de tecidos, e se apaixonaram. Investiram um bom dinheiro e reformaram tudo. No fim, a junção dos dois deu muito certo.

Enquanto olhava as prateleiras, reparei que havia uma garota conversando com Gabriel, sentada no pufe ao lado dele. Yan reparou quase no mesmo instante que eu, e pelo jeito, estava tentando reconhecer ela.

— Ela é da escola? — perguntei, o olhando.

— Acho que não... Não me lembro dela... — E, de repente, deu risada.

— Que foi? — Ri, mesmo sem entender o motivo.

— Isso quase sempre acontece. Já aconteceu várias vezes do Gabriel estar separado da gente e uma menina puxar papo com ele, e no final ele sempre consegue mais um número de telefone pra coleção.

— E ele liga pra essas meninas?

— Não. Só quando a menina é “interessante”. — Fez sinal de aspas com os dedos.

— E isso não acontece com você?

— Isso o quê?

— Alguma menina puxar papo. — Impossível acontecer com o Gabriel e não acontecer com você.

Yan corou e desviou o olhar para a estante, indo pegar um livro. — Às vezes... Mas eu só agradeço e recuso dando alguma desculpa.

— Por quê? Elas não são interessantes? — Eu realmente estava sendo curiosa.

— Não exatamente... Eu não sou de fazer isso, não é meu estilo... — Abriu um livro e começou a folheá-lo. — Eu não consigo me interessar por alguém assim, à primeira vista. Preciso... conhecer. — Olhou para frente e guardou o livro. — Vamos? A menina já foi embora.

Achei curiosa a reação dele, mas apenas o segui em direção a Gabriel.

— Vamos embora agora que você ganhou outro número? — Yan brincou.

Gabriel olhou para cima e abriu um sorriso travesso. — Vamos. — Levantou e colocou o livro de volta no lugar.

Fomos para a fila do caixa. Peguei minha carteira e reparei que Yan encarou minhas mãos.

— Você trouxe dinheiro? — Ele perguntou, apontando para a minha carteira.

— Sim.

— Ah... — Passou a mão pelo cabelo. — Eu queria pagar pra você.

— Não, imagina. Não precisa — neguei automaticamente, balançando a cabeça, envergonhada.

— Tem certeza? Eu que falei pra vir aqui...

— Tenho, tenho sim... Obrigada. — Encarei o chão, suspirando baixinho.

Chegou nossa vez, pagamos e fomos para a rua, parando na calçada. O movimento do centro estava maior, com mais gente circulando para todos os lados.

— E agora, pra onde vamos? — Gabriel perguntou.

— Preciso passar numa perfumaria — Yan respondeu, olhando ao redor. — Ah, o Mateus mandou mensagem reclamando que eu não chamei ele. Depois você fala o que ele fez, tá?

Gabriel riu, puxando os cabelos para trás. Eu podia jurar que vi algumas cabeças femininas virando na nossa direção. — Tá, falo sim. Ele vai vir?

— Disse que sim, e isso já faz um tempo. Falei pra me ligar quando chegar... Agora lembrei onde fica a perfumaria, vamos.

Atravessamos duas quadras e entramos em uma perfumaria de esquina. Yan pegou uma cestinha e começou a procurar o que precisava. Pegou desodorante, sabonete e shampoo, o que me fez ficar surpresa e indignada, porque o cabelo dele era mil vezes mais brilhoso que o meu, e com certeza ele nunca tinha passado nem um condicionador, muito menos feito uma hidratação. Era muita injustiça.

 Ele escolhia os produtos pelo cheiro. Pegava um, cheirava, me dava para cheirar, perguntando se era bom ou ruim, e se eu falasse que era bom, ele concordava e colocava na cesta.

Gabriel também ficou zanzando, comentando comigo sobre alguns produtos femininos e falando que também logo precisaria comprar shampoo. Ele era outro que se lavasse o cabelo com sabonete, ia ficar ótimo.

Após quase meia hora, fomos para o caixa e Yan pagou suas compras. Assim que saímos, o celular dele começou a tocar, sendo atendido no quarto toque.

— Oi... Estamos na frente da perfumaria... — Ele olhou para cima, para a fachada da loja. — Nova Flor... É lilás e branco... Roxo, Mateus... Duas quadras depois da cafeteria. Tá, espero. Tchau. — Desligou rindo e colocou o aparelho no bolso. — Ele chegou.

— Finalmente — reclamou Gabriel, juntando as mãos como se agradecesse aos céus. — Mais um pouco e eu desistia de esperar.

— Pelo menos pra andar ele é rápido.

Dois minutos depois, vimos ele se aproximando. Yan acenou para que ele nos visse.

— Ufa! — suspirou, chegando perto. — Cheguei. Não me matem.

— E nem vem culpar a gente porque a gente foi no seu quarto te chamar, você que não quis acordar — acusou Gabriel, apontando o dedo quase na cara de Mateus.

Ele levantou as mãos. — Calma, cara, nem falei nada.

— Exato, e é bom nem falar.

Mateus riu. — Tá, tá. Oi, Bru.

— Oi. — Sorri, achando graça da “briga”.

— Então, qual o plano?

Gabriel deu de ombros. — Não sei o que o guia aqui pretendia fazer.

Os três trocaram olhares. Pareciam até que estavam conversando mentalmente.

— Bom, podemos andar um pouco e mostrar a rua pra Bru. Eu falei que ia mostrar o centro e ainda não mostrei nada. O que você acha? — perguntou a mim.

— Legal, vamos andar por aí.

Os três concordaram e começamos a caminhar. A cada lugar diferente, um deles apontava e comentava algo. Passamos em lojinhas de tranqueiras, uma loja de roupa porque o Mateus se interessou por uma calça jeans da vitrine, mas não comprou porque estava caro demais, também entramos em uma loja de doces e artigos de festa, compramos umas balas e alguns chocolates, e depois paramos em uma praça bonitinha para descansar na sombra de uma árvore. O dia já estava superquente com o sol à pino.

— Então... — Gabriel se pronunciou depois de dois minutos. — Será que agora posso colocar o meu itinerário? — Yan suspirou, fingindo estar decepcionado, e concordou. — Bru, simbora pro Playland, finalmente!

Comecei a rir com o pulo que ele deu para ficar de pé. Levantamos e seguimos o caminho, atravessando a rua e seguindo reto até chegar na próxima esquina, onde ficava o shopping.

Os meninos ficaram conversando sobre várias coisas até chegar no último andar, enquanto eu fiquei apenas ouvindo e dando risada. Já na escada rolante do último andar, chegamos ao lugar mais legal que eu já vi.

Era um salão colorido, cheio jogos, brinquedos e muito barulhento. Vários fliperamas, jogos de guerras e corridas com carros e motos, mas o que me chamou a atenção foi uma tela quase em frente à entrada, que ficava alta em uma plataforma de dança para duas pessoas chamado “King of Dance”.

Gabriel virou para nós, enfiando a mão nos bolsos e procurando por algo desesperadamente. — Quem vai fazer vaquinha?

— Você e o Mateus gastam demais nisso, por que vocês dois não fazem um cartão juntos? A gente faz outro. — Yan mal terminou de falar e os dois saíram correndo. Ele riu. — Vamos lá fazer o cartão.

Seguimos eles e paramos na fila do caixa.

— Como funciona esse cartão? — indaguei, um pouco confusa, já que da última vez em que eu fui em “fliperama”, precisava comprar fichas de moedinhas de ferro.

— Você usa como se fosse um cartão de débito. É só passar no negocinho do brinquedo que ele desconta o valor.

— E eu posso colocar o valor que eu quiser?

— Sim, mas tem um valor mínimo. Deve ser quinze reais, eu acho.

Enquanto esperava, admirei o ambiente que exalava felicidade, principalmente das crianças que corriam de um lado para o outro, indo de jogo em jogo. Eu já estava me sentindo uma, cheia de animação.

Peguei vinte reais de minha carteira quando chegou nossa vez, e Yan falou com a atendente. Ele também colocou vinte reais e ganhamos um bônus de dez.

— Onde você quer ir primeiro? — perguntou, procurando pelo brinquedo perfeito.

Era muito difícil escolher. Um pouco afastado de nós, vi Gabriel e Mateus um fliperama com armas. Apontei para eles e Yan entendeu. Fomos até eles.

— Esse parece legal.

— Tem outro ali, quer ir naquele? — Ele indicou o aparelho logo ao lado, era do mesmo jogo.

— Sim!

Yan passou o cartão na maquininha e o jogo iniciou. Pegamos nossas armas e começamos a atirar nos carinhas que apareciam.

— Nossa, você é boa nisso — acusou ele, tentando matar mais inimigos que eu.

— Eu costumo jogar com meu pai jogos desse tipo. — Dei cinco headshots seguidos e, de canto de olho, vi ele me lançar um olhar estreito.

Na fase final do jogo, nossos personagens ficaram um de frente para o outro. Teríamos que nos matar. E que o melhor vencesse.

Are you ready? — A voz do jogo perguntou, dando os segundos para que a gente se escondesse em algum canto do campo.

— Siiiimmm! — dissemos ao mesmo tempo, começando a metralhar tudo o que tinha pela frente. O barulho que saía das caixas de som deixava tudo ainda melhor.

Foi tiro para tudo quanto é lado, mas em dois minutos, Yan morreu.

— Venci! — Deixei uma mão na cintura e ergui a arma de plástico acima do ombro, fazendo a pose da vitória. Ele riu.

— Tá, você é a rainha da guerra — brincou e fez uma reverência. — Você é muito boa.

— Não conte com isso — Gabriel falou atrás de nós, em uma pose de supervilão. — Quero ver ganhar de mim.

Levantei o rosto, o enfrentando, tentando manter uma expressão séria. — Manda vê.

Yan começou a rir e deu seu lugar a ele.

— Quem perder paga o próximo jogo. — Gabriel passou o cartão na máquina e o jogo reiniciou.

— Beleza.

Começamos as primeiras fases praticamente iguais. Na última foi acirrado, nós dois ficamos com pouco sangue em pouco tempo. Por uma pequena distração, quando olhei para Yan quando ele comentou algo com Mateus, acabei levando um tiro na testa.

— É — Gabriel falou, guardando a arma no suporte —, acho que foi sorte, hein.

— Não foi não! Tava praticamente empatado — resmunguei, também deixando a arma lá.

— Mas eu ganhei no final, isso que conta! — Começou a rir teatralmente, colocando a mão no peito.

— Droga. — Abaixei a cabeça, fazendo drama.

— Tudo bem, tudo bem. É só um jogo. Não precisa pagar o próximo.

— Eu não ia pagar mesmo. — Dei de ombros.

— Óia que caloteira! — Fingiu estar ofendido, olhando para Yan como se ele pudesse fazer alguma coisa.

Todos nós acabamos rindo da palhaçada.

Acho que ficamos umas duas horas jogando, indo de um lado para o outro. Em alguns jogos, ganhávamos fichas de papel que poderíamos trocar por prêmios, ou trocar por mais créditos no cartão. E como nossos créditos estavam no fim, Gabriel e Mateus decidiram ir no King of Dance.

Observamos os dois dançando, fazendo palhaçada, pisando nas setas com mais força que o necessário e esticando os braços pra todos os lados. Eles pareciam estar se divertindo demais.

Eu quero ir nisso, por mais vergonhoso que seja...

Mateus e Gabriel conseguiram chegar no terceiro nível, que era quase impossível, e eles perderam bem rápido. Assim que eles desceram da plataforma, eu subi, toda animada, e olhei para trás. Yan não tinha se mexido, de braços cruzados. Os meninos riram.

— Você não quer? — indaguei, ficando com vergonha por estar ali sozinha e por receber alguns olhares de quem passava perto.

Yan ficou vermelho e olhou ao redor, completamente envergonhado, o que me deixou surpresa e caidinha por aquela reação fofa.

— Ele morre de vergonha, o que não faz o menor sentido já que ele fica de boa em cima do palco — Gabriel falou, dando uma cotovelada no amigo, de leve. — Eu danço com você, Bru.

— Eu vou. — Yan subiu rapidinho, antes que Gabriel se mexesse, e parou no quadrado ao lado do meu. Os meninos se olharam, segurando o riso.

Apesar da timidez repentina, Yan parecia seguro, e passou o cartão na máquina.

Como ele fica fofo tímido, meu Deus, eu vou morrer!

Ele me olhou e acenou para a televisão, me dando a chance de escolher a música. Escolhi uma e a coloquei para tocar.

— Vai Yan! — Mateus gritou. — Solta sua franga!

Escutei Gabriel gargalhar antes da música começar. Nos víamos na televisão, pela câmera, o que deixava tudo mais vergonhoso ainda, mas Yan tentou, e acho que até começou a relaxar e aproveitar mais, porque ria sem parar, igual a mim. Nossos passos eram desengonçados e mesmo no nível mais baixo conseguíamos errar.

Nossa pontuação foi péssima, mas foi divertido.

Quando me virei, querendo ver a reação dos meninos, vi que Mateus estava com o celular na mão, vendo alguma coisa na tela, e o guardou antes que Yan virasse.

— Vamos comer? — Mateus perguntou. — Tô morrendo de fome.

Colocamos o resto das fichas no cartão, já que era pouco demais para trocar por um prêmio, e descemos para a praça de alimentação. Compramos nossos lanches em um fastfood, e procuramos uma mesa vazia. Por sorte achamos uma bem no centro da praça. Por ser sábado, o lugar estava praticamente lotado.

Gabriel terminou o lanche e começou a comer outro, foi então que eu reparei que ele tinha comprado um combo mais outro lanche e mais uma batata grande.

— Você tá com tanta fome assim? — Dei risada, impressionada em como tudo aquilo cabia no estômago dele.

— Arrã. — Ele enfiou algumas batatas na boca.

— Mas você tomou café, nem faz tanto tempo assim.

— Ah, claro que faz tempo, o café digeriu uma hora depois que comi.

Uau, ele é igualzinho o Júlio. Ou pior.

Yan deu risada da minha reação. — É que você não viu na escola. Ele sempre pega coisa a mais no café pra comer entre as aulas.

— Xiu. Não estraga meus esquemas. Acontece que eu tô em fase de crescimento. — Gabriel gesticulou para o próprio corpo, como se ele já não fosse grande o suficiente. — E o que vamos fazer depois daqui?

Eles se olharam. Acho que ninguém tinha mais ideias.

— Hm... — Mateus murmurou, fazendo uma carinha de quem ia aprontar. — Eu tenho outra coisa pra fazer.

— Vai fazer o quê? — Yan perguntou com o copo a caminho da boca, com um tom julgador.

— Sair com uma menina...

— Canalha — Gabriel acusou, o interrompendo. — Por isso ficou enrolando, né?

Ele deu de ombros com um ar de inocente.

— Tudo bem — Gabriel empinou o nariz. — Eu te perdoo. Vai levar ela onde?

— Cinema.

— Uuuuuuh — Eles zombaram, maliciosos.

— Ah, me deixa. — Mateus revirou os olhos, abrindo um sorrisinho em seguida.


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