Ginny olhou para a janela, apertando-se em seu casaco.

Ela empurrou para seus cabelos seus óculos escuros, sorrindo para a mulher que deixou a xícara o grande copo de café em sua mesa. A atendente a fitou profundamente por alguns segundos, parecendo revisar uma série de revistas e programas em sua mente, reconhecendo Ginny. Ela deu-lhe um sorriso enorme e saiu, quase voando de volta para a bancada. A Potter tomou seu café, olhando ao redor, avaliando o local: Pensou seriamente em virar critica gastronômica. Olhou para a porta que se abriu com o tintilar, anunciando Charles.

— Essa é a primeira vez que chega cedo. — disse Ginevra, assistindo seu irmão sentar-se na mesa, despenteado e com sua barba absurdamente grande e ruiva. Ele fez seu pedido para a mesma atendente que reconhecera Ginny.

— Porra, como está frio! — disse Charlie, encolhendo-se em seu moletom. — Por que não nos reunimos na mamãe? Teremos que ir lá de qualquer jeito.

— Você fala isso todos os anos e todos os anos respondemos a mesma coisa. — Ginevra tomou mais um pouco de café, colocando seus óculos escuros em formado de gatinho, ainda olhando a janela. — Estranho Percy se atrasar, ele nunca se atrasa.

— Ah, será que pode me trazer um brownie também? — pediu Charles assim que a mulher voltou com o café. — Por que Percy tem que vir? Vamos fazer uma votação e excluí-lo dessas reuniões.

Ginny riu, sentindo-se mais feliz quando viu Ron e Bill aparecerem juntos. Eles acenaram com um sorriso, indo para o balcão fazer os pedidos. Charlie bocejou escandalosamente, parecendo extremamente cansado e sonolento. Fazia um dia ameno do lado de fora e Ginevra queria saber que horas o aniversariante chegaria.

Ron sentou-se ao lado de Ginny, conferindo o relógio. Seu irmão Bill a abraçou fortemente, a enchendo de beijos ao sentar-se na cadeira entre Charles e Ginny.

— Essa cafeteria é menor que a do ano passado. — comentou Ron, olhando ao redor. — Quando vai chegar o ano em que poderemos repetir as cafeterias?

— Por que não ficamos em casa e tomamos café lá? — resmungou Charles. — Não faz sentido, nós temos café em casa, por que pagamos para tomar o que temos em casa?

— Você não gostou dessa cafeteria? — indagou Ginny, olhando as rugas de Ron. Ele deu de ombros, visivelmente não abalado pelo local. Virou-se para Bill, com seu cabelo quase grisalho. — E você?

— É bonito, mas muito jovem... Sei lá, a do ano passado era melhor.

— A do ano passado tinha cheiro de gente velha! — exclamou Ginny, observando a atendente servir Ron e Bill.

— Tinha livros de graça. — observou Bill, ela queria elogiar seu sobretudo, mas ficou irritada.

— E tinha sofás, não essas cadeiras... Esse lugar é tão pretencioso. — Charles semicerrou seus olhos para uma garota oriental de mechas verdes. — É para adolescentes.

Charles e Ron retorceram seus rostos da conhecida forma “desprezo os adolescentes e ninguém irá me impedir”.

— Me desculpem por tentar nos manter jovens! — disse Ginny, gesticulando. — Precisamos nos atualizar sempre.

A porta abriu-se novamente e era Percy daquela vez. Charles virou-se na cadeira, rindo da cara impassível de tédio que o irmão conseguia ter. Ele sentou-se ao lado de Ron, como se tivesse sido levado até ali sob ameaça.

— Por que você demorou? — perguntou Ginny.

— Eu não queria vir. — disse ele, simples. Olhou para o balcão e a atendente foi até eles, parecendo cansada de tanta ida e volta. Charles analisou a garota provavelmente trinta anos mais nova que ele de forma pervertida, levando um chute de Ginny. A mulher ruiva gostara da atendente, ela tinha um sotaque diferente, provavelmente de algum lugar da África e Ginny nunca vira um cabelo afro tão bonito em toda sua vida.

— Olha, cafeterias são lugares para pessoas intelectuais. — disse Ginevra, tirando seus óculos e dando mais um gole no café. Bill deu um riso de escárnio para a irmã, tomando seu cappuccino.

— Com certeza... Em 1940, porque agora é realmente um point de adolescentes pretenciosos. — eles encolheram-se na mesa quando Bill aproximou-se, chamando a todos com a mão. — Olhem só aquele grupinho. — sussurrou.

Eles não disfarçaram a virarem-se agressivamente para um grupo não muito longe deles, de garotos com chapéus pokie pie e meninas de calças apertadas. Charles maneou a cabeça negativamente, parecendo um velho desleixado com seu moletom sujo de brownie.

— Ok, talvez nossa época tenha passado, mas o mundo precisa de nós. — disse ela.

— Que horas George vai chegar? — resmungou Ronald, enrolando seu cachecol pela cabeça como uma mulher mulçumana. — Estou com frio e quero voltar para casa.

— Aliás, como vai sua esposa, Ronald? — sorriu Charles, cruzando as pernas. Ron semicerrou os olhos para Charlie, fazendo a mesa rir. Charles sempre dava em cima de Hermione, como brincadeira, mas ele realmente tinha se encantado por ela quando a viu pela primeira vez.

— Vai se foder.

— Ronald! — repreendeu Percy. — Morgana, eu fui castigado por ter que passar por isso!

— É Merlin, não Morgana, Morgana é...

— Cala a boca. — cortou Percy, olhando para Charles, sério, recebendo seu café. — E venha para a época em que todos nós estamos. Você se aposentou, pode abandonar seu visual de homem das cavernas.

A mesa gargalhou e Ron engasgou-se com o café, rindo da cara de Charlie assim como todos na mesa. O homem uniu as sobrancelhas, pegando sua barba com carinho.

— Eu não pareço um homem das cavernas... — murmurou ele, ofendido. — Barbas ainda estão na moda.

— Você chama isso de barba? Parece que você acabou de sair de um buraco onde morou por trinta anos. — debochou Bill, levando um peteleco na cabeça. — Charles!

— Fodam-se vocês. — o homem levantou-se e foi até o balcão, sentando-se na cadeira de frente para a atendente negra, provavelmente flertando com ela. Ginny começou a preocupar-se com George.

— Será que ele finalmente ficou emocional com tudo isso? — indagou ela, roendo a unha. Percy tomou mais um gole de seu café.

— Ele provavelmente está fazendo o que todos nós deveríamos estar fazendo. — ele tomou mais um gole tranquilamente. — Dormindo.

— Lá está nosso rapaz! — animou-se Bill, olhando para a porta. George acenou sorridente, quase correndo para a mesa. Ele estava embrulhado em um casaco verde quando abraçou seus irmãos, enchendo Ginny de beijos.

— Esse lugar é o máximo! — sorriu ele, admirando o local. — Eu amei! Você é a melhor, Ginny!

— Feliz aniversário, meu amor! — sorriu a mulher, o enchendo de beijos. Os aniversários de George eram datas em que todos fingiam que Fred estava viajando há muito tempo. Morte não era algo citado, mas todos pensavam apenas naquilo nos intermináveis minutos em que ficavam seja lá qual cafeteria escolheram para aquele ano. Charles voltou para a mesa com um café para o irmão, ao abraçando. Ele exibiu uma folha com números.

— Você não tem o negócio que os trouxas precisam para ligar. — disse Percy, ainda olhando o irmão como se ele fosse uma pessoa muito ignorante.

— Eu dou um jeito, há um jeito para tudo nesta vida, Percy, menos para a sua personalidade insuportável. — sorriu Charlie.

— Ahhh, nada melhor em que acordar cedo para um café e ouvir uma boa e velha briga familiar. — brincou George, tomando seu café. — Irmãos, hoje eu faço quarenta e sete anos.

Ele pegou seu café, assim como todos os irmãos.

— Fred e eu. — disse rapidamente, e todos brindaram, tomando um gole, mudando de assunto em seguida. Os risos deles preencheram a cafeteria e Ron aos poucos deixou de sentir tanto frio e Percy finalmente amaciou seu rosto duro, provocando Charles de quando em quando. Se esqueciam o quanto amavam aquele momento íntimo, apenas deles, onde compartilhavam um café para Fred e memórias, planejando e discutindo o futuro brilhante, falando sobre seus filhos e trabalhos, compartilhando tristezas e risadas.

George tomou mais um gole de seu café, rindo da brincadeira de Bill com Charles. Ainda tinha a terrível sensação de havia algo faltando, mas sentia-se melhor. Ainda estava em processo...

Era lento e desgastante, mas ele sentia-se melhor.