Sunset escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
We'll steal love songs tonight


Notas iniciais do capítulo

EU NÃO SABIA QUE ESSA CATEGORIA JÁ EXISTIA ;A; mas tô bem feliz em ver que existe, tirando pela vergonha que eu passei indo requisitar ela no suporte e.e
A história é essa: eu fiquei entediada e pedi à minha irmã para me dar um shipp e um prompt ou uma música. Ela me deu a música "Sunset", do Avalanche City, e o casal Emma Carstairs e Cristina Rosales. Então, cá estou eu com esse shipp meio impopular e não canon, mas que eu shippo (tenho pelo menos 3 shipps diferentes com cada personagem dessa série). Tentei me ater à música, e foi um ótimo exercício pra sair do bloqueio.
O título do capítulo pode ser traduzido como "nós roubaremos músicas de amor essa noite", e foi retirado da música.
Espero que gostem!



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The sunset sets too soon in this town

We're pushing statues to the ground

I know you are the reckless kind

The crashing is the sweetest sound

 

O sol se põe muito cedo nessa cidade

Nós estamos empurrando estátuas para o chão

Eu sei que você é do tipo imprudente

A quebra é o som mais doce

      Avalanche City - Sunset

Cristina não esperara que alguém fosse encontrá-la no telhado, e, entretanto, ali estava Emma, apertando o casaco contra o corpo enquanto se sentava ao seu lado com as pernas penduradas no ar.

— Pelo Anjo, está frio - resmungou ela. Cristina percebeu que os cabelos de Emma estavam molhados e abriu um sorriso tolerante.

— Nem tanto - disse. Emma olhou para longe, para o sol que começava a se pôr.

— Bem, pelo menos a vista é bonita. Dá pra entender por que você gosta de ficar aqui.

Cristina não disse a ela que Mark Blackthorn acabara de ir embora, depois de uma longa conversa sobre relacionamentos de fadas. Ao invés disso, ela ergueu o pulso, de modo que Emma pudesse ver o relógio que usava.

— Lá no México, já está escuro a essa hora - contou. - Ainda não me acostumei com isso.

Emma fez uma careta exagerada, fazendo Cristina rir.

— Então vocês têm dias excepcionalmente curtos - disse. Em seguida, sorriu, desfazendo a careta. - Eu gostaria de ver isso um dia. Esse pôr do sol precoce.

Ela era linda. Cristina percebera isso assim que a vira pela primeira vez, mas até ali, a constatação nunca a havia atingido com tanta força. Ela pensou em Emma, aquela criatura feroz e brilhante, se misturando com sua antiga vida no México, com as roseiras de sua mãe e as brincadeiras de Jaime... E os beijos de Diego. Ela não queria pensar nisso.

— Você poderia passar seu ano de intercâmbio lá- sugeriu. Emma a olhou de esguelha antes de tornar a fitar o horizonte com ar ausente.

— Não sei, Tina. Isso precisaria de muito planejamento.

E eu teria que me separar de Julian. Cristina sentiu o estômago revirar.

— É - concordou, em um suspiro.

Elas passaram algum tempo em silêncio, observando o azul do céu escurecer e ser manchado de outras cores lentamente. Cristina estava perfeitamente ciente da mão de Emma a centímetros da sua, de seus ombros quase se encostando, das mechas loiras que o vento soprava para trás e ocasionalmente batiam em seu rosto. Ela passou os braços ao redor dos joelhos, encolhendo-se para se afastar da borda do telhado e das ideias absurdas que perpassaram sua mente. De repente, ouviu a si mesma dizendo:

— Me surpreende que você não goste de ficar aqui.

Emma olhou para ela, curiosa.

— Por quê?

Cristina pensou na sensação do vento cortando sua pele, nas pernas de Emma penduradas sobre a borda do telhado como se não fosse nada e na forma como ela sorria, franca e ferozmente, como se estivesse desafiando o mundo. E se perguntou se era isso que Mark via quando olhava para Kieran, essa liberdade descuidada.

— Combina com você-  respondeu. Não podia começar a agir estranho agora, não enquanto não soubesse como Emma interpretaria isso.

— De certa forma, acho que combina mesmo - Emma riu, parecendo satisfeita. - Na verdade, eu costumava subir aqui, quando era mais nova. Até que, um dia, trouxe um dos vasos greco-romanos dos pais de Jules comigo e o joguei bem ali - Ela indicou um ponto da praia com o dedo. Cristina riu. - Foi o fim das minhas visitas ao telhado. Mark reivindicou o lugar só para ele.

— Eu sempre soube que você era imprudente -  disse Cristina, balançando a cabeça. - Mas nunca achei que chegaria ao ponto de destruir a propriedade alheia.

— Eu tinha oito anos - protestou Emma. - E era um vaso horrendo. Todos estamos bem melhores sem ele.

— Minha mãe me mataria se eu fizesse alguma coisa assim. Seus pais e os Blackthorn deviam ser bem pacientes para lidar com você.

— Ei! Julian não era nenhum santo, também - Emma cutucou as costelas da amiga. - Aposto que você e aquele seu amigo também apontavam bastante.

Assim que fechou a boca, ela pareceu se arrepender de tê-la aberto. Cristina forçou um sorriso; pensar em Jaime ainda doía, mas ela sabia que Emma não falara por mal.

— Os meninos aprontavam - concordou. - Eu, não. Sempre fui a santinha do grupo.

Emma assentiu, séria, então abriu um sorriso que fez Cristina imaginar quantas vezes Julian precisara impedi-la de fazer uma besteira.

— Aposto que era mesmo.

Ela se pôs de pé e caminhou até o canto do telhado, onde uma pilha de telhas havia sido abandonada depois da reforma do Instituto. Quando retornou, segurava duas em cada mão, equilibrando-as cuidadosamente. Emma ofereceu as telhas da mão direita a Cristina, que apenas a fitou, desconfiada.

— O que eu deveria fazer com isso?

Emma revirou os olhos e depositou as telhas com cuidado ao lado da amiga.

— Vamos lá, Tina, você é uma garota inteligente - Ela gesticulou para a borda do telhado. - Pode ir primeiro.

Cristina sacudiu a cabeça, incrédula.

Com um suspiro, Emma apanhou uma das telhas e, em um gesto elegante, atirou-a lá embaixo. A areia diminuiu o impacto, mas a altura e a força do lançamento fizeram com que a telha se estilhaçasse ao atingir o solo. O barulho chegou estranhamente alto aos ouvidos das duas meninas no telhado, e com certeza fora perfeitamente audível no térreo. Cristina torceu para que nenhum dos Blackthorn ouvisse e decidisse investigar a origem do ruído.

Emma se virou e sorriu, resplandecente. Atrás dela, o céu estava vermelho e cor-de-rosa, e as primeiras estrelas começavam a surgir. Cristina sabia que, a partir daquele momento, o sol iria se pôr em questão de segundos, e as duas voltariam aos seus quartos e possíveis namorados. Por um instante, teve vontade de pintar aquela imagem, Emma recortada contra o crepúsculo, uma cena efêmera. A ideia a fez se sentir estranha; imaginou que Julian era o único que tinha direito a pensamentos assim.

— O som é a melhor parte - disse Emma, em tom satisfeito. Ela pegou outra telha e a estendeu na direção de Cristina. - Agora você.

Dessa vez, Cristina aceitou a oferta. Ela podia sentir o olhar de Emma sobre si enquanto caminhava para a beira do telhado, erguia a telha acima da cabeça e respirava fundo. Antes de arremessar, ela se perguntou o que Diego acharia daquilo, daquela Cristina que fazia coisas estúpidas sem motivo só porque uma menina especialmente bonita havia sugerido. Então, ela fechou os olhos e deixou a telha cair.

Seu arremesso não foi tão longo nem tão elegante quanto o de Emma, mas a telha ainda quebrou com o impacto. Ela estava certa, percebeu Cristina: havia algo satisfatório a respeito do som.

— Aê! – Emma ergueu a mão para trocar um high-five com Cristina, que correspondeu ao gesto com atraso e de forma desajeitada. – Você quer jogar a outra?

Cristina negou com a cabeça, ausente. Ela sabia que já passara tempo demais encarando Emma; rapidamente, desviou o olhar para a praia lá embaixo.

— Não podemos deixar os cacos lá – disse, detestando a preocupação lamuriosa em sua voz. – As crianças podem se machucar quando forem brincar.

Emma se aproximou, espiando por cima do ombro da amiga.

— Não dá pra juntar todos os pedaços, Tina.

Ela estava tão perto que Cristina podia sentir sua respiração. Ela engoliu em seco.

— Devíamos juntar pelo menos os maiores, então.

Quando ela se virou, tinha total intenção de passar por Emma e ir direto para a porta que dava acesso ao Instituto. Ao ver a expressão no rosto da outra, porém, Cristina não conseguiu se mover.

Emma estava séria. Não da forma que Cristina era séria, com rigidez, mas séria de uma forma que a fez pensar em Julian, Julian fitando Emma enquanto ela brincava com Tavvy, desviando o olhar quando ela mencionava Cameron Ashdown, olhando de esguelha sempre que ela falava sobre beijos. Inconscientemente, Cristina levou a mão ao medalhão que carregava no pescoço, voltando o olhar para baixo. Era uma expressão que ela sabia estar para sempre destinada a Julian; sabia isso desde antes de conhecê-lo, pela simples forma como Emma falava o nome dele.

Então, Emma começou a falar.

— Tina – Ela pronunciou o nome da maneira que pronunciava Jules, mas cuidadosamente, como se temesse assustá-la. – Tina, olhe para mim.

Cristina olhou. No segundo seguinte, os lábios de Emma estavam contra os seus, e fora ela mesma quem tomara a iniciativa.

Seu primeiro instinto foi soltar o medalhão, procurando um apoio melhor para manter-se de pé ao sentir suas pernas fraquejarem. Teve vontade de entrelaçar as mãos nos cabelos da outra, mas sua coragem foi o suficiente apenas para entrelaçar os dedos das duas.

Depois das noites que passara em claro pensando no sorriso de Emma, Cristina tinha consciência de que aquilo deveria confundi-la, quem sabe até irritá-la, porque sabia que estava roubando um beijo que deveria ser de Julian, mas ela não conseguia pensar nisso. De fato, não conseguia pensar em nada; o som de seus batimentos cardíacos descompassados abafava os pensamentos, e, surpreendentemente, ela tinha a impressão de que o coração de Emma também havia acelerado.

Já havia anoitecido quando elas se separaram; os olhos de Emma pareciam refletir as estrelas. As duas passaram um instante em silêncio, sem saber como reagir, então Emma deu uma risadinha, ainda segurando a mão de Cristina.

— Bem, isso é embaraçoso.

Quando ela processou as palavras – ela sempre voltava a pensar em espanhol em momentos como esse -, o estômago de Cristina despencou. Então, a impressão de que Emma correspondera ao beijo não passara disso: uma impressão. Tentando disfarçar o próprio constrangimento, ela desatou a falar:

ꜟDiscúlpeme! Yo no pensé bién, no era mi intención... – Demorou alguns segundos para que ela percebesse que estava falando espanhol. Corando furiosamente, Cristina concluiu: - Desculpe. Eu não quis...ser inconveniente?

Ela não tinha certeza de que estava usando a expressão certa – ainda estava um pouco confusa –, mas Emma não pareceu se incomodar. Ela apenas riu.

— Inconveniente? Tina, pelo amor de Raziel – Emma ergueu suas mãos entrelaçadas, como se as estivesse mostrando a Cristina. – Eu não chamaria isso de inconveniente.

— Eu... Não sei se é a palavra certa – admitiu Cristina, quase sem voz. Ela fez menção de soltar as mãos, mas não chegou a fazê-lo; ao invés de ajudá-la, Emma passou o braço livre por sua cintura e a puxou mais para perto.

— Não – disse ela, ainda com um sorriso. – Não é a palavra certa.

O segundo beijo foi mais curto, mas Cristina conseguiu aproveitá-lo melhor, agora que estava certa de não ter estragado a amizade das duas. Quando elas se afastaram, Emma disse:

— Vem, vamos recolher os cacos – Por um momento, Cristina ficou confusa, sem lembrar da conversa anterior, e ela estalou os dedos em frente ao rosto da amiga. – Os cacos das telhas? Para as crianças não se machucarem?

— Ah – Cristina assentiu, fingindo que não estava ficando vermelha de novo. – Sim, claro. Os cacos.

Emma riu, puxando-a pela mão em direção à saída.

— Você é uma figura, Tina.

No fim das contas, elas recolheram muitos poucos pedaços de telha; acabaram rolando na areia ao invés disso, brincando como duas crianças e se beijando como se fossem adultas. Cristina perguntou a Emma se ela já havia feito aquilo com Julian. Emma respondeu que não importava, e, estranhamente, Cristina acreditou nela.

Por fim, as duas concluíram que já estava tarde demais para o barulho que estavam fazendo, e concordaram em voltar ao Instituto. Elas caminharam devagar, de mãos dadas, fazendo o trajeto mais comprido até a entrada.

— Eu realmente não vi isso chegando – confessou Emma. Havia areia em seu cabelo e pequenos arranhões em seus braços, mas ela não parecia se importar. – Não que isso seja ruim – Ela se apressou em acrescentar ao ver o olhar preocupado de Cristina. – Porque não é. É incrível.

Cristina sorriu. Na verdade, sua preocupação tinha mais a ver com os arranhões na pele de Emma do que com a declaração da outra.

— Não é inconveniente?

Emma lhe deu um empurrão leve com o ombro.

— Ah, pare com isso.

Elas trocaram outro beijo demorado antes de se separarem em direção a seus respectivos quartos. Emma prometeu que iria até o quarto de Cristina no dia seguinte, e lhe disse para sonhar com ela.

Cristina não sonhou, mas demorou a dormir; flashes do que acontecera giravam em sua mente como um caleidoscópio particularmente agradável. Ela dedicou alguns minutos a se preocupar com o que diria a Diego, e com o que Diego diria a ela, e com que nome deveria dar a si mesma agora. Talvez Mark pudesse ajudá-la com isso. Era bom lembrar como os Blackthorn tratavam Mark e Helen; tranquilizava-a saber que Emma, fosse lá como decidisse se definir, teria uma família que a apoiava. De fato, Cristina passara a gostar cada vez mais dos Blackthorn.

Essas preocupações, porém, duraram pouco. Ao adormecer, restara a Cristina apenas o pensamento de que, acontecesse o que acontecesse, ela realmente gostaria de ter mais pores-do-sol como aquele.


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Notas finais do capítulo

Vocês não têm ideia de como eu fiquei decepcionada ao descobrir que o sol se põe mais cedo no México do que em Los Angeles (apesar de que na Cidade do México é quase a mesa hora). Fontes: horadomundo.com
O espanhol saiu do Google Tradutor mesmo, porque, depois de um ano e meio de aulas de espanhol, eu não sei nada.
Sim, o plural de pôr-do-sol é pores-do-sol mesmo. Eu pesquisei. Sim, é bizarro.
Eu dei uma revisada básica, mas, se tiver algum erro, favor avisar nos comentários que eu corrijo na hora.
Bem, é isso. Espero que tenham gostado :)



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