Era um dia ensolarado e quente, de um sábado qualquer. Nico descansava em um banco à sombra das enormes árvores do Central Park, aguardando Will, que estava vindo do Acampamento para um piquenique. Seu namorado havia sido tão fofo ao convidá-lo, que Nico simplesmente não conseguira dizer não, apesar daquele não ser o seu tipo de encontro romântico favorito, tão público…
O lugar estava movimentado, pessoas passavam a todo instante de um lado para o outro de bicicleta, patins, conversando ou correndo. No extenso gramado logo à sua frente, Nico observava crianças brincando, famílias fazendo piqueniques, amigos jogando conversa fora e tudo que se pode esperar de um típico fim de semana nova-iorquino. Mas uma situação em especial lhe chamou atenção: uma garotinha, que devia ter uns 9 anos, e um menininho um pouco mais novo que ela, provavelmente seu irmão. Os dois estavam sentados na beirada do gramado, um de frente para o outro, de pernas cruzadas, e jogavam um jogo que Nico não via há anos... Mitomagia.
Os irmãos lhe lembravam muito a ele e Bianca, antes de... tudo.
Nico lembrou de como sua irmã sempre dizia detestar aquele jogo, mas mesmo assim sabia de cor o poder de ataque de todos os deuses e monstros, lembrou também das madrugadas na Westover Hall, quando ele não conseguia dormir e incomodava-a para jogar uma partida, e enfim, recordou-se de seu último presente, um presente que ela mesma não pudera lhe dar. A estatueta de Hades. A única que Nico não tinha, e que acabou custando a vida de Bianca.
Aquilo tudo parecia tão recente... mas já haviam se passado doze anos desde sua morte, e quase dez desde ela decidira renascer. Apesar do tempo, Nico sempre carregava consigo o último presente de Bianca, como um amuleto, para que pudesse se lembrar dela todos os dias.
Nico sentiu o metal frio da estatueta em seu bolso e a pegou. Percorreu com os dedos, e um nó na garganta, cada detalhe da armadura da minirrepresentação de seu pai.
E então voltou a olhar para as crianças, elas agora discutiam, Nico não conseguia entender o que falavam, mas aparentemente um deles não havia achado justa a jogada do outro, pois gesticulavam toda hora para as cartas e estatuetas. Os pais, que deveriam ser aquele casal sentado em cadeiras de praia próximo às crianças não pareciam se importar, ou já estavam acostumados. Por fim, a menina cruzou os braços brava e virou as costas para o garotinho, que lhe mostrou a língua e fez careta.
Nico não pode deixar de sorrir, melancólico. Ele não se lembra de ter feito algum movimento brusco que pudesse chamar atenção, ou se foi pelo simples fato de estar encarando a criança, mas o menino olhou para ele. Seu olhar travesso escaneou Nico e parou sobre a estatueta em suas mãos. Ele arregalou os olhos, levantou-se e andou cauteloso até Nico, espiando os pais algumas vezes, que não pareciam notar o filho se afastando.