Capítulo 07

O humor de Peter Parker não era dos melhores naquela manhã. E piorou quando ele viu o ônibus da escola se aproximando do ponto, pois sabia quem encontraria ali dentro. E foi batata: sentado no mesmo lugar do dia anterior, seu novo pior pesadelo. Wade Wilson.

— Ei! — foi dizendo, parado na frente do banco em que o rapaz permanecia, enquanto o ônibus se punha em movimento — Não acredito no que você fez!

— Baby boy, bom dia!! — Wade soou muito feliz ao vê-lo ali em pé. Usava o costumeiro moletom com capuz — Gostou do presente?

— Presente?! Você me mandou uma foto do seu pin... — a esse ponto Peter foi iluminado por uma dose cavalar de bom senso e deu-se conta de que todos no ônibus prestavam muita atenção naquela interação — Pin... gente!

E sentou-se ao lado de Wade, todo encolhido, secretamente desejando desaparecer.

— Pingente? Que ofensivo, Petey! Meu pinto é muito maior do que um pingente — o outro não se preocupou em ser discreto, terminando de jogar a merda no ventilador — Ah... entendi. Você quer andar com meu pau pendurado no pescoço... sinto muito, baby boy. Prefiro que use minha katana em outro lugar.

— Cale a boca, Wade! — fez menção de se levantar, mas foi abraçado pela cintura e mantido no mesmo lugar — Me solta!

— Fica!! A gente sentiu sua falta!

Peter ainda forcejou um pouco, mas quanto mais esperneava, mais atenção chamava. Acabou aquietando-se no banco e se deixando afofar. Respirou fundo, sentindo que aspirava para dentro de si todas as más vibrações do mundo.

— Nunca mais faça esse tipo de coisa, cara! — o pobre garoto ainda estava inconformado por ter recebido uma foto em panorâmica das partes íntimas do Wade! Demoraria uma eternidade para apagar a imagem mental.

Pra piorar, podia ouvir os cochichos que se espalhavam pelo ônibus. Mesmo não compreendendo o que era dito, sabia bem de que se tratava o assunto...

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Separar-se de Wade foi outro transtorno. Ele queria porque queria entrar na sala de Peter e assistir aula com o “baby boy”. Só com muito custo, ameaças, drama e a promessa de almoçarem juntos que Wade aceitou ir se juntar aos próprios colegas do terceiro ano.

O resto da manhã foi tão normal quanto poderia ser, dadas as circunstâncias. Peter viu logo que as fofocas se espalharam feito fogo em palha seca. Já que os outros alunos o olhavam como se fosse um alienígena, principalmente nos corredores durante a troca de salas. Não era mais um nerd anônimo no meio da multidão. Era o thug life que falava alto com o aluno-problema e trocava fotos indecentes com o referido. É, as fofocas aumentavam tanto que Peter não duvidava que no fim do período estivessem cochichando que ele e Wade Wilson eram as estrelas pornô de algum filme clandestino. Perfeito. Deu boas vindas ao fim de sua vida social escolar. Ou melhor, ao fim de sua já quase inexistente vida social escolar.

A dado momento, inclusive, ao trocar os livros no armário, encontrou uma folha de papel rabiscada com os dizeres “Peter Prefere Pintos” e um desenho tosco para ilustrar.

Ele queria saber o cachorro de qual entidade superior havia chutado pra receber tal destino. Dramático? Um pouco. Mas quem poderia culpá-lo?

Pela hora do almoço estava menos nervoso com tanta coisa desagradável. Sabia que ficaria na boca do povo por um tempo, o jornal do colégio já estava em circulação e o tom misterioso dado a matéria de Mary Jane fomentava a curiosidade geral. Sobre Jessica Jones, sobre Wade Wilson. E sobre Peter Parker, claro; mesmo que ele não aparecesse no texto em momento algum.

Ignorando os olhares que recebia das mesas no refeitório e fazendo-se heroicamente surdo ao grito de “Não tem pinto no menu” e as risadas que se seguiram, Peter pegou algo para comer e ia procurar o lugar mais afastado e solitário de todos para se sentar, de preferência um que ficasse banhado pelas trevas e no silêncio do vácuo, para que pudesse se asfixiar sem oxigênio enquanto o mundo se tornava um lugar pior, quando sentiu seus ombros serem abraçados e seu corpo puxado de encontro a outro.

— Baby boy!! Saudades, saudades, saudades!! — Wade disse em um tom de voz tão sincero, que quase diminuiu o incomodo de Peter. Até a próxima frase vir — Tamos varados de fome!! Eu queria comer você, mas já que não posso ainda, fico com o grude da escola mesmo.

Os alunos sentados mais próximos gargalharam, fazendo Peter desejar que um buraco abrisse aos seus pés ou um portal surgisse sobre sua cabeça. Nada disso aconteceu, ele apenas foi arrastado por Wade até a mesa onde os Avengers estavam acomodados, sem sequer esperar convite.

— Olá, Parker. Olá, Pirado — Tony foi cumprimentando os dois.

— Olá, Pinto Pequeno — Wade respondeu atrevido, para indignação do outro e diversão dos demais.

— Não tenho pinto pequeno! — Tony soou ofendido.

— E eu não sou pirado. Não... pera. Esquece — ele acenou com a mão, indiferente. Todos riram. Bem, todos menos Peter.

Na mesa também estavam Clint, Natasha e um rapaz moreno do segundo ano que Peter reconheceu como Loki Laufeyson, torcendo o nariz para os dois recém-chegados.

— Esse é o Loki — Clint apresentou com a boca cheia de maçã — Não se assustem com a cara de dor de barriga, é a única que ele tem.

— Então você é o Peter Parker que se inscreveu pro clube de ciências? — Loki o examinou com atenção quase ofensiva. Talvez tentasse medir se era realmente inteligente ou tão bobo quanto parecia.

— E ele gosta de pintos — Clint falou com a voz esganiçada, antes de rir. Peter trincou os dentes, pelo visto todo mundo estava sabendo mesmo do ocorrido. Maravilha (insira aqui tom de ironia).

— Ei, não viaja — Wade fez o de sempre: abraçou Peter pelos ombros e o trouxe de encontro ao peito — O baby boy não gosta de pintos. Ele gosta só de um: a espada afiada de Wade Wilson! AKA meu pau, só pra deixar bem claro pra quem não entendeu.

— Wade!! — Peter segurou o braço de Wade com as duas mãos e tentou afastá-lo de si, inutilmente. O rapaz era forte! — Não gosto do seu órgão genital e nem de nenhum outro órgão genital masculino.

A indignação de Peter somada ao vermelhão que cobriu seu rosto até as orelhas fez os demais rirem da cena. Até Loki sorriu.

— Vocês são um casal bonitinho — Natasha gracejou antes de sugar um pouco de suco de soja pelo canudinho.

— Não somos um casal! — a voz de Peter revelava o horror de imaginar isso se espalhando pelo colégio.

— Ainda — Wade se meteu — Por enquanto somos amigos com benefícios que trocam nudes na madrugada.

— Pouco me importa que troquem fotos ou fluidos na madrugada — Tony cansou-se de ficar de fora do palco — Parker, hoje a tarde Bruce e eu reservamos o Laboratório 02 para terminar de decidir o tema do trabalho interdisciplinar. Não se atrase.

Peter demorou alguns instantes para entender o que acabara de ouvir. Parou de debater-se nos braços de Wade.

— Eu entrei pro clube de ciências? — perguntou, incerto.

Tony ergueu as sobrancelhas:

— Claro. Não foi por isso que entregou o requerimento de inscrição?

— Sim, mas... e o teste?

— Teste? — Tony pareceu confuso por um segundo — Ah, você levou ao pé da letra. O teste não era pra entrar pro clube, era apenas pra saber se você é legal.

— E é. — Clint abandonou o resto da maçã sobre a bandeja e roubou a de Peter — Vocês dois são.

Peter ficou tão feliz que deu a impressão de que ia começar a brilhar. Não apenas entrara pro clube de ciências, mas os Avengers achavam que ele era legal! Todos os seus sonhos ameaçavam se tornar realidade!

Respirou fundo para recuperar-se da surpresa e acabou engasgando. Natasha levou a mão ao rosto e Clint cuspiu o pedaço de maçã sobre a mesa. Tony e Loki se entreolharam, horrorizados.

— Que porra de cheiro é esse? — Loki tapou o nariz.

— Jogaram um gato morto no refeitório?! — a voz de Stark soou uma oitava mais aguda.

— Desculpa, gente — Wade deu tapinhas com a mão livre sobre a barriga — Comi tacos demais ontem a noite.

— WADE!!

E dessa vez o grito de indignação não foi somente de Peter Parker.