Astronaut: ReFlying escrita por Kaline Bogard


Capítulo 31
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo :D

Boa leitura



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Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 29

Peter não conseguiu se concentrar para fazer o trabalho do professor Murdock, nem o da senhorita Monroe.  Por menos que quisesse admitir, estava preocupado com Wade e aquele rapaz estranho que surgiu na escola atrás dele. Deveria ter seguido Wade, usando seus dons detetivescos? Não, era apenas um estudante do Senior, que não tinha proximidade com o perigo, tal qual seu exótico amigo, que até cumprira pena por um crime não premeditado no passado.

Peter Parker era apenas um garoto comum, vivendo sua vidinha comum.

E extremamente preocupado...

Não recebeu nenhuma visita indesejada, ou seja, Wade não veio se pendurar na janela a noite. E o mais preocupante: não respondeu seu SMS com a chuva vergonhosa de emoticons e gifs animados com algum tipo de pornografia.

Ao invés de pesquisar sobre a matéria, ele mergulhou em fóruns e grupos de discussão sobre esquizofrenia. Descobriu coisas que sequer imaginava sobre o assunto, sobre a base na qual Wade construíra seu próprio mundo. Descobertas que o fizeram mudar de pensamento a respeito de preconceitos que tinha e que ainda margeavam a forma de olhar para o rapaz.

A preocupação apenas aumentou ao entrar no ônibus na manhã seguinte e não o encontrar no lugar de sempre, pronto para receber Peter com os abraços e agarrões de sempre.  A viagem foi solitária e silenciosa como costumava ser antes de Wade entrar em sua vida.  Teve a leve desconfiança de ouvir algo a respeito de “Peter” e “pintos” na mesma frase, mas estava avoado demais para por sentido na brincadeira maldosa.

E avoado ficou por toda a manhã, sem fazer nada além de olhar pela janela para o pátio da escola, confuso com o que sentia. Era normal se preocupar com um amigo, não? E o que podia fazer para ajudá-lo? Não sabia onde Wade morava, nem muita coisa mais a respeito da vida dele. Um grande mistério.

Talvez perguntar para Jessica Jones? Ou seria uma péssima ideia?

Na hora do almoço encontrou-se com Natasha, Tarika, Niat e Clinton.  Eles logo perceberam que algo estava errado.

— O que foi, Peter? Pode desembuchar com a gente — Tarika foi logo falando.

— É o Wade.  Eu não o vejo desde ontem depois do colégio, ele não tá respondendo os SMS, nem apareceu hoje de manhã.

Os outros se entreolharam sem entender.

— Tudo isso é saudade? — Clint provocou.

— Sau... Não!! — Peter respondeu mais do que depressa — É que ontem um cara muito suspeito veio atrás do Wade e eles foram embora juntos. Tava com jeito de encrenca.

Não revelou mais do que isso. A história dos mercenários e todo o passado pertencia apenas a Wade.  Ele era o único que podia decidir quando contar e a quem contar.

— Um cara suspeito? — Niat soou pensativa — O jornal do colégio falou algo sobre isso no blog, algo sobre homens estranhos rondando por aí. Até tem uma insinuação sobre estarem associados aos alunos problema, mas nem levei a sério.

Peter não tinha visto o blog. Alias, não tinha visto nada naquela manhã.  Puxou o celular e procurou pela tal noticia. Era uma chamadinha pequena e discreta, mas que deixava muito no ar.  Já sacou que Mary Jane lhe pediria fotos sobre aquilo para algo mais bombástico na versão semanal impressa.

— Isso tem a ver com Wade — Natasha era a mais perspicaz para a idade.

Peter preferiu não responder.

—--

Depois do almoço, foi direto para o laboratório de ciências.  Encontrou Bruce e Tony reunidos com outros garotos do terceiro ano que conhecia apenas de vista.  Eles discutiam sentados em circulo no chão, com uma infinidade de peças eletrônicas no meio da roda.

— Ei, Filhote — Tony chamou — Vamos nos juntar com o clube de Eletromecanica e fazer o protótipo de um robô de guerra. O projeto mais elaborado fica pra feira de ciências. É melhor do que nada.

Aquilo fez Peter sorrir. Tinham deixado a tarefa pro ultimo segundo. Seria como Bruce previra: algo barulhento e cheio de luzes ao melhor estilo Stark. Sentou-se ao lado dos companheiros e tratou de ajudar. Conhecia um pouco do assunto, afinal, eu tipo de nerd seria se não investigasse a montagem de dispositivos nas horas vagas?

Acabou concentrando-se naquilo e esquecendo a preocupação com Wade. Só interrompeu o que fazia na hora da aula opcional com o professor McCoy.  Aula que não perdia por nada do mundo.

Ou por quase nada...

Despediu-se de Tony, Bruce e dos terceiranistas, saindo depressa para não chegar atrasado.  Atravessava uma das áreas do gramado para mudar de prédio quando viu Wade Wilson deitado debaixo de uma das árvores como se não tivesse nada melhor pra fazer.

Foi impossível não desviar o caminho, esquecido de qualquer aula.

— Ei! — falou chamando a atenção do outro — Wade!!

O referido ergueu um pouco o capuz que escondia-lhe os olhos e mirou Peter.  Acabou sorrindo e abrindo os braços.

— Baby boy! Veio oferecer sua virgindade?! Até que enfim... a gente já tava cansado de esperar!  Minha porra tá virando pó dentro do saco. Vai ficar difícil pra você engolir depois.

A gracinha queimou noventa por cento de toda a preocupação de Peter.  Ele deu um chutinho ofendido no pé de Wade, antes de sentar-se ao lado dele e soltar a mochila no chão.

— Onde você estava?

— Por aí? Por quê? Preocupado?

— Idiota!

— Relaxa, Petey.  Não tem nada que a gente não resolva.

— Claro, claro. Tira a mão daí — o garoto segurou na pelinha da mão de Wade que apalpava a sua coxa, bem perto da virilha, e puxou pra longe — Quem era aquele cara?

— O passado, baby boy — ele respondeu com os olhos marejados assoprando a mão dolorida — Ele volta pra cobrar o preço, sabia?

Peter sabia. Já ouvira Jessica Jones falar algo parecido, alguns dias atrás.  Dias? Pareciam anos. De alguma maneira a percepção de tempo funcionava diferente ao lado de Wade.  O conhecia a vida toda? Claro que não! Menos de um mês.  Contudo, a sensação... era de muito tempo mais. Wade era espaçoso, invasivo, impossível de ignorar. Marcante.

— Ei, baby boy? Você que manja das manjações... por que é tão difícil fazer o certo? E como a gente tem certeza que tá fazendo o certo “certo” ao invés de foder mais o barraco?

A pergunta desconcertou Peter Parker. Então Wade também se preocupava com esse tipo de coisa? Obviamente, ou não estaria ali naquele colégio lutando por uma segunda chance.  Mas quem era ele e o que conhecia da vida para aconselhar alguém como Wade?

Apesar de tudo, tinha que dar uma resposta, não? Observou Wade que cruzara as mãos atrás da nuca e mirava de volta com interesse.

— Acho que fazer o errado é tão difícil quanto fazer o certo. Porque quando faz o errado, você sabe que um dia terá que acertar as contas, pode ser mais fácil agora. Mas um dia não dá pra fugir mais.  E... olha, Wade, eu não acho que a vida tenha alguma garantia, você pode fazer tudo certo e ainda assim demolir o barraco. Mas... uma coisa eu prometo: um caminho te leva pra mais perto da Ellie.  E o outro te leva pra longe dela.  É entre eles que você precisa escolher.

— Caralho, Petey. Diz isso de novo em uma voz sexy? A gente ficou ligadão ali embaixo.

— Wade!

O rapaz ergueu-se e sentou-se, ficando de frente para Peter, com uma postura corporal que o deixou em alerta.

— Você já desafiou Deus?

— O quê? — Peter Parker não compreendeu a pergunta inesperada.

— Você acredita em Deus?

— Wade...

— Tenho certeza que o Wade de outra dimensão acredita.  Tem um Wade que até traçou a deusa da morte... ah, não. Esse é o Wade dos quadrinhos, não de fanfics. Mas... deve ter em fanfics também, vai saber. Eita, perdi a porra do foco.  A questão é: eu vivo desafiando Deus, nem tem graça mais.  Hoje, vou desafiar outro tipo de deus. Hoje eu desafio a autora.

— Você desafi...?

A questão nunca chegou a ser formulada.  Movendo-se daquele jeito gatuno e imprevisível, Wade passou mão pela nuca de Peter e o puxou para perto.  Tudo aconteceu tão rápido que quando Peter deu por si, os lábios de Wade já estavam sobre os seus.  A língua dele já dominava a sua.


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Notas finais do capítulo

Minhas segundas-feiras vão voltar ao tédio de sempre.

Que triste :'D