Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 02

Ela pegou um papelzinho do bolso apertado da calça e entregou para Peter. Então o sorriso radiante tornou-se algo entre piedoso e benevolente:

— Jessica Jones e Wade Wilson. Boa sorte.

Peter Parker soube, com toda a certeza do mundo, que aquilo ia acabar ruim...

—--

“Não precisa fotografar os dois...”, a voz melodiosa de Mary Jane ecoava na mente de Peter. “Se conseguir uma boa foto de um deles já está ótimo. Depois disso eu direciono a reportagem.”

Tal decisão facilitava e muito a vida do garoto. Ele imaginou que seria mais simples conseguir uma foto da Jones, já que meninas eram menos complicadas. Com essa moda de selfie ela podia gostar de posar, quem sabe?

Como não conhecia nenhum dos dois, e o colégio era enorme, precisava traçar um plano de ação. Um que juntasse o útil ao agradável: começaria pelo refeitório, lugar onde todos os alunos passavam pela hora do almoço. E onde poderia, finalmente comer!

Passou apenas pela área dos armários, para limpar a lente da câmera fotográfica antes de ir ao refeitório.

Mal entrou e foi bombardeado pelo zumzumzum de vozes animadas. Era como se invadisse uma grande colméia humana, da qual não fazia parte do jeito que deveria.

Enquanto pegava algo pra comer, ia analisando todas as mesas: reconheceu o grupo dos populares, cheio de estrelas do time de basquete. Viu a mesa dos góticos, dos baderneiros, da elite, dos nerds, ou melhor, Avengers. Visão que o fez lembrar que precisava entregar o formulário de inscrição para Tony Stark.

Por fim, acabou sentando-se em uma mesa com três pessoas que desconhecia, de anos diferentes. Claramente os excluídos de algumas salas que não conversavam entre si, pois não tinham nada em comum, além do fato de serem judiados e afastados do convívio pelos colegas.

Enquanto comia, Peter observava as outras pessoas. Não reconheceu ninguém que se encaixasse no estereotipo de “aluno problema”, muito menos um rosto novo que se destacasse entre os demais. Como a hora do almoço passava depressa, resolveu comer mais rápido e circular entre as dependências da escola “caçando” o alvo. Também daria uma olhada nas redes sociais para descobrir alguma informação. Mary Jane descartara a possibilidade de usar imagens do Facebook ou similar. A repórter queria em “ambiente apropriado”, ou seja, dentro do colégio. Para que o impacto fosse maior...

Antes que terminasse qualquer uma de suas intenções, Peter se deu conta de que o refeitório ia aquietando gradativamente, até que um silêncio incomodo e anormal acabasse com as conversar paralelas.

Ele ergueu a cabeça e olhou em volta, tentando entender o que acontecera. E a resposta à sua dúvida caminhava pelo corredor do meio do refeitório, indiferente a toda atenção que atraia. Uma garota impressionante, mais alta do que a média feminina norte-americana, de cabelo longo e negro e pele pálida, metida em uma jaqueta de couro preto e coturnos que já tinham visto dias bem melhores.

Não precisou de uma segunda olhada para Peter entender que aquela só podia ser a tal Jessica Jones, que até era bonita; mas com uma aura tão sinistra ao seu redor que acabava tornando-se assustadora.

A medida que ela avançava até o balcão, as conversas voltaram com força total, deixando claro que Jones virou o assunto em todas as rodinhas de alunos. Ou quase todas, já que a mesa em que Peter estava continuou em silêncio.

Jessica pegou apenas uma fruta e saiu do refeitório.

Peter esperou o tempo de terminar de beber o próprio suco antes de ir atrás dela. E esses meros instantes foram o suficiente para que seu alvo sumisse das vistas. Ela não estava em lugar algum do pátio externo. E Peter não fazia idéia de para que lado ela poderia ter seguido.

Olhou as horas no celular e decidiu que valia a pena rodar por ali a esmo, ainda tinha algum tempo antes do segundo período de aulas e das aulas opcionais. Por isso investigou a área do gramado e do ginásio. Refletiu sobre rondar o banheiro feminino e rapidamente desistiu de fazê-lo. Já apanhava sem fazer nada, não estava nas metas do ano ganhar fama de pervertido por ficar na porta de um toalete com a máquina fotográfica.

Sem opção voltou para a classe, levando a câmera consigo.

O segundo período se arrastou com lentidão quase sobrenatural. Peter ficava cada vez mais ansioso em completar aquela tarefa e isso alterava sua percepção de tempo.

Aproveitou para terminar um exercício rapidamente, assim podendo usar o celular e tentar descobrir algo sobre Jones ou mesmo o tal Wilson, contudo não encontrou nada, fato que o fez lembrar-se de que ambos estavam associados a S.H.I.E.L.D., ou seja, aquela instituição poderia ter apagado tudo sobre eles? Era de conhecimento mundial que possuíam as garras nos mais variados campos do saber humano, inclusive cientifico. Principalmente militar.

Acabou balançando a cabeça e espantando as teorias da conspiração. O mais certo era que, talvez, os dois alunos-problema não fossem tão problemáticos a ponto de virar hashtag no Twitter.

O fim da aula trouxe consigo o fim do tormento de Peter. Assim que o sinal soou, ele ergueu-se da carteira e foi um dos primeiros a deixar a sala. Alcançou o armário pra guardar o material, mas antes que o abrisse, alguém o empurrou contra a porta fazendo-o bater o rosto no aço.

— Presta atenção por onde anda, Parker! — Flash debochou, fazendo os amigos rirem, antes de o seleto grupo seguir pelo corredor.

Peter ajeitou os óculos, não evitando uma careta ao tocar no nariz dolorido. Ignorou a provocação, resignando-se a abaixar para recolher os livros que caíram de sua mão. Os outros alunos não interferiram, alguns penalizados com a cena. Outros felizes por não serem a vítima.

Com um pouco de raiva, Peter pegou um requerimento impresso, que estava sobre a pilha de cadernos, por fim enfiou os livros no armário. Não era covarde, mas também não era burro ou suicida. Revidar Flash, principalmente quando ele estava cercado pelos amiguinhos, equivalia-se a pedir uma surra de parar no hospital. Era isso que o loiro encrenqueiro queria, por isso provocava.

Ambos estavam no primeiro ano do Senior, apenas em turmas diferentes. Seria uma longa caminhada até a formatura para entrar naquela guerra de forma leviana.

Bateu a porta do armário e afastou-se dali. Ia para o espaço dos laboratórios, entregar a inscrição do clube de ciências. Somente depois disso tentaria encontrar Jessica Jones e tirar a bendita foto para o jornal.

O fluxo de alunos já diminuíra bastante, todos indo para as aulas opcionais. Peter contava que os novos alunos estivessem em fase de adaptação, provavelmente ainda sem fechar a grade curricular do ano letivo, teria boas brechas de encontrá-los por aí. Iria cabular o resto da tarde, ainda que não gostasse de fugir das aulas. Mas não perderia créditos, afinal de contas.

Quis o destino, o acaso, a sorte (quem sabe falta dela) ou qualquer outra justificativa para o que aconteceu em seguida; que os planos de Peter Parker mudassem novamente. Mal chegara ao final do corredor e uma figura cortou seu caminho. Um rapaz alto, meio escondido pelo moletom com capuz.

Em segundos o reconheceu como o mesmo cara que sentara no seu lugar rotineiro no ônibus. E aí veio o golpe da realidade, oportunamente chamado nos velhos tempos de “cair a ficha”. Aquele desconhecido só podia ser Wade Wilson!

Tomando uma súbita decisão, resolveu aproveitar a oportunidade e começou a segui-lo.