Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 17

Educação Física era a pior aula na opinião de Peter Parker. Na sua escala de sofrimento, encaixava no nível “Tortura Medieval Feita Por Carrascos Expert”. E o treinador Heimdall era o pior tipo de sádico dos esportes. Ele se posicionava no canto do ginásio e ditava as ordens, observando os alunos cumpri-las sem reclamar (em voz alta).

Naquele trimestre trabalhavam ginástica olímpica. Praticar nos aparelhos, como dito no parágrafo acima: tortura medieval.

Eram nesses momentos que Peter queria ser como o Flash. Não o idiota que vivia pegando no seu pé, mas o The Flash ficcional da DC, o cara que era um nerd bom em ciências no dia a dia, que vestia um uniforme e saia para combater o crime com seus poderes sobrenaturais.

Peter Parker queria tanto ser um super-herói...

Mas a vida não era um conto de fadas, ele não tinha mais capacidade de ser algum tipo de herói do que a média populacional. Na verdade, sua capacidade não permitia nem terminar a série de exercícios sem sentir-se exausto.

Para os casos perdidos como ele, o treinador tinha um presentinho de fim de aula: cinquenta voltas ao redor da quadra, para compensar a falta de empenho. E lá estava Peter e mais três fracassados, ou melhor, alunos intelectuais, rodando pelo ginásio para cumprir a meta.

A única diferença, claro, é que Peter era o único com torcida organizada, já que Wade estava na porta do ginásio, fazendo uma versão beat-box personalizada de “Eye of the Tiger”, com ocasionais “Dá seu show, baby boy”, apenas para incentivá-lo. Seria engraçado, muito. Se a torcida fosse direcionada a outra pessoa. E, por alguma razão inimaginável, o treinador não expulsara o terceiranista da quadra.

De uma forma bem bizarra a ação de Wade serviu mesmo para incentivar Peter, porque a vontade de acabar com o vexame foi tanta que lhe deu forças para terminar o percurso todo, coisa que dificilmente acontecia.

— Mandou bem Petey!! — o rapaz atreveu-se a entrar na quadra quando o treinador liberou os poucos retardatários que ainda restavam ali.

— Você não tem aula?!

— Fomos dispensados para uma sessão com a Conselheira da Escola.

— Ah... aconteceu alguma coisa? — não pôde deixar de se preocupar. Afinal, Wade sofria de esquizofrenia.

— Nada, baby boy. As vozes cismaram de conversar em francês e eu não entendo porra nenhuma. Isso me deixa muito puto.

— F-francês?!

Wade fez um gesto de pouco caso com a mão.

— Uma vez elas ficaram uma semana falando em mandarim. Quer aprender como se diz “me fode” em Chinês?

— Não. Não mesmo. O que veio fazer aqui?

— Torcer por você, claro! — e deu um passo para tentar abraçar Peter, mas o garoto previu o movimento e escapou.

— Nem pense nisso! Tô melado de suor!

— Hehehe, nossa vontade é te melar de outra coisa.

Peter bufou e não se deu ao trabalho de responder. Foi até a arquibancada pegar a mochila e dali rumou para o vestiário, com Wade Wilson colado em seus calcanhares.

Como sempre, ao chegar no espaço dos chuveiros, encontrou os boxes todos vazios, com exceção de um onde o chuveiro estava aberto, com certeza outro nerd retardatário. A maioria dos alunos terminava a aula e passava por ali rapidamente. Somente os mais lentos para executar os exercícios restavam depois.

O garotou pegou o sabonete e a toalha no pequeno armário individual e rumou para um dos boxes. Para sua irritação (mas não completa surpresa, convenhamos), logo viu que Wade pretendia entrar com ele debaixo do chuveiro! Numa impressionante demonstração de agilidade, Peter bateu a porta e impediu que ele conseguisse realizar a intenção. Wade teve que ser ainda mais veloz para evitar que a porta lhe acertasse o nariz.

— Que perigo, baby boy!!

Peter sentia-se tão irritado que sequer respondeu. Concentrou-se em tomar o banho rápido, porque ainda precisava encontrar-se com Tony e Bruce na sala do clube de ciências, para dar um rumo ao bendito projeto interdisciplinar.

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Quando Peter e Wade chegaram ao laboratório, encontraram Tony e Bruce no cenário mais familiar possível: discutindo.

— ... porque a concentração de carbono e macronutrientes está fora dos padrões, Robert. Não estamos falando de Molibdênio ou Boro! Isso não entra na sua cabeça dura?

— Aí que está o desafio, Anthony. Adubação Foliar!!

— Ah, claro. Palmas pro senhor gênio, só que não.

— O-olá — Peter limpou a garganta e chamou a atenção dos garotos.

— Filhote e o Miolo Mole! Meus gêmeos siameses preferidos — Tony cumprimentou — Que bom que chegou, estou cansado de ser a pessoa de bom senso dentro dessa sala. Não se sinta incluído na última afirmação, Wade.

Parker sorriu e Bruce girou os olhos. Wade inclinou-se um pouco pra frente e deu uma cafungada no cabelo de Peter. Era a ducentésima vez que fazia aquilo do vestiário até ali, porque, obviamente, o cheiro de baby boy e sabonete era delicioso. Ou melhor, délicieux.

— Olá, Peter. Olá Wade — Bruce foi mais comedido na saudação.

— Então não chegaram a um consenso... — Peter colocou a mochila sobre uma bancada vazia e sentou-se em um dos banquinhos.

— Os fertilizantes...

— Pare, Banner. Se falar essa palavra outra vez, não respondo por mim.

— Fertilizante tipo bosta? — Wade perguntou, sentando-se ao lado de Peter. Ia dar outra cheirada no cabelo castanho, mas o garoto espalmou a mão sobre o rosto dele e o afastou.

— Não! Não estou falando de esterco — a voz de Banner veio desanimada — Tony quer colocar propulsores no Max Steel! Isso não vai tirar uma boa nota.

Peter riu.

— Por isso não apresentaram nada no ano passado? Não chegaram a um acordo? — Bruce e Tony se entreolharam, o garoto explicou: — Eu fiz o Junior em outro colégio no ano passado, mas vim aqui durante a feira de ciências para ver os projetos.

Escondeu que fora especificamente para ver o que o jovem gênio Stark inventara. A feira de ciências era um acontecimento importante. Ficara decepcionado ao visitar a escola e não encontrar seu ídolo entre os expositores.

— Não. Não foi por isso — Tony respondeu sem humor em sua voz — Ano passado eu tive um problema de saúde e o Bruce... sofreu umas complicações...

— Fiquei de suspensão — Bruce tirou os óculos e os limpou na barra da blusa — Porque briguei com uns alunos do terceiro ano. Eles deram uma surra no Tony que o mandou para o hospital.

O queixo de Peter despencou e quase alcançou o chão. Nunca ia passar pela sua cabeça que Bruce Banner, aquele nerd franzino, fosse capaz de entrar em uma briga contra alunos mais velhos.

— Foi assim que nasceu o nome do nosso grupo e o nosso lema, jovem Parker. Avengers se protegem e, se for preciso, se vingam. Porque é o que amigos fazem. E vocês são do grupo agora. Entendem isso? Que podem contar com a gente? E que nós podemos contar com você e com Wade?

Peter gostou de ouvir aquilo, de saber que fazia parte de algo especial e que podia retribuir à altura. Mas e Wade? Será que ele também compreendia? Virou-se no banco para sondar a expressão de Wade, todavia o fez justamente quando o outro inclinava-se para cheirar os seus cabelos, os olhos semicerrados pelo prazer de sentir o aroma que instigava seus instintos. Mesmo sombreados pelo capuz, Peter notou o tom muito claro daquelas íris.

E os lábios se esbarraram...