Astronaut: ReFlying

Kaline Bogard

Capítulo 12

Peter abriu os olhos e quase se arrependeu de fazê-lo. Assim que a luz do dia o alcançou, a cabeça latejou e doeu, como se todos os fogos de artifício do Super Bowl explodissem dentro de seu crânio. Reuniu coragem para repetir o ato, esperando dar de cara com a parede de seu quarto, mas não foi bem o que encontrou.

Estreitou os olhos tentando entender onde estava quando, mesmo com a visão ruim, compreendeu que encarava um tórax masculino. Provavelmente da mesma pessoa que o envolvia com os dois braços em um aperto quase inescapável.

Quase.

O susto da descoberta fez Peter saltar do colchão inflável parecendo ter levado um choque. Quase grudou no teto, como se fosse uma aranha.

— Bom dia, jovem Parker — a voz bem humorada de Tony Stark atraiu-lhe a atenção. O playboy, junto com Bruce, Thor, Loki, Tarika e Niat observavam a cena com atenção, as meninas sentadas no sofá duplo, os meninos em pé ao lado do móvel. Tarika, inclusive, segurava o celular como se filmasse tudo — Acabei de ganhar a aposta!

— Nada disso, Tony! — Bruce protestou — A aposta era que o Peter ia surtar quando acordasse!

— E ele surtou! Pulou mais que um grilo!!

— Isso foi um “susto”, não um “surto” — Niat decretou levantando-se do sofá e indo pegar os óculos de Peter, que estavam sobre a mesinha de centro — Aqui, estão bem limpos.

— O-obrigado — o garoto ainda se sentia confuso e não compreendeu a última parte da afirmação. Colocar os óculos e enxergar melhor ajudava a se acalmar. Apesar da dor de cabeça, conseguiu entender bem o que acontecia, principalmente a parte de ter dormido no mesmo colchão que Wade — B-bom dia.

— Muito frio aí? — Tarika perguntou, sacana.

Peter franziu as sobrancelhas. Naquele instante se dava conta de que vestia o moletom de Wade, enquanto o rapaz praticamente roncava no colchão inflável, de regata e calça jeans.

— O que aconteceu?! — Peter puxou a barra da blusa tentando esticá-la. A peça grande e larga lhe chegava ao meio das coxas, por sorte cobrindo a boxer que sentia ainda usar. Só não o cobria da vergonha que tingiu seu rosto de vermelho.

— Sinto muito, Parker — Tony soou pesaroso — Não conseguimos evitar o estupro...

— QUÊ?! — sua voz saiu um tantinho esganiçada.

— É zueira! — Niat meneou a cabeça em repreensão — Piada sem graça, Stark.

— Foi mal, Loira — mas o playboy não parecia sentir de verdade.

— Não acredito que caiu nessa — Loki girou os olhos.

— Você só se vomitou todo — Tarika sorriu — Wade te deu um banho...

— QUÊ?! — lá estava a voz suspeita de novo.

— É mentira, Peter — Bruce tomou o lado da não-zoeira — Menos a parte do... hum... você passar mal. Mas quem te deu banho foi o Tony e eu.

— Você é o nosso novato, temos que cuidar bem — Stark falou jovial, com um ar responsável que não enganou ninguém — É quase como se eu fosse o seu Papai e o Bruce a sua Mamãe.

— Anthony! — Banner resmungou — Você seria a ultima opção para pai do meu filho.

A brincadeira descontraiu o ambiente e fez todos rirem. Peter Parker relaxou um tanto depois disso.

— Vem comigo, modelo de cuecas — Tarika levantou-se do sofá — Nossos dois cientistas malucos lavaram suas roupas ontem, já estão limpinhas. E não se sinta mal ou constrangido! Tem coisas piores...

Apontou para o sofá de três lugares, onde Natasha e Clint ainda dormiam.

— Onde será que Barton arrumou essa calcinha? — Loki perguntou de cenho franzido, que se tornou uma careta — Parece que está usada.

— Aposto que nem ele sabe — a voz trovejante de Thor fez os dois pombinhos se remexerem, mas Wade continuou dormindo feito uma pedra.

— Vem comigo, Peter — Tarika repetiu, cedendo à expressão perdida do menino — Não precisa ficar preocupado, claro que nunca faríamos nada de mau com alguém. Nem deixaríamos que fizessem, só estamos te zoando.

Peter apenas balançou a cabeça. Sabia disso lá no fundo, mas não negava que as brincadeiras tinham sido um tanto sem graça, some a isso a dor de cabeça e leve náusea e o resultado era um péssimo humor. Em silêncio, acompanhou a dona da casa até o andar de cima, mais especificamente até o banheiro.

— A gente bateu e secou na máquina. Ficou meio amarrotado, mas pelo menos tá limpinho. Você gorfou bonito, sujou até os óculos... Depois que se ajeitar vem pra cozinha, todo mundo acordou podre de ressaca, estamos na base do café amargo pra aguentar — a garota ia afastar-se, todavia pareceu lembrar-se de algo — Ah, a Tasha avisou sua tia ontem a noite. Bem depois que você apagou a primeira vez.

— Primeira?! — Peter arregalou os olhos.

— Vish... amnésia alcoólica? Aposto que foi seu primeiro porre. Bem vindo ao grupo! — e Tarika saiu do banheiro, deixando Peter a vontade com as roupas limpas que estavam penduradas em um dos ganchinhos de parede.

Parker respirou fundo e fechou a porta. Observou a própria expressão amarrotada refletindo no espelho do armário sobre a pia. Seria aquela a sua “cara da ressaca”? A próxima coisa que notou foi o moletom de Wade. O outro jovem era um tanto mais alto e forte, a peça de roupa que já vestia Wade com folga parecia enorme em Peter. Mas isso nem era o que dominava sua mente.

A grande questão, a pergunta de um milhão de dólares... como diabos acabara vestindo aquilo? De repente era melhor nem saber.

—--

Já devidamente arrumado, mas ainda com dor de cabeça; Peter desceu e deparou-se com Natasha e Clinton que despertavam. Wade parecia uma pedra sobre o colchão. Achou melhor acordá-lo.

— Ei... Bela Adormecida... Wade — balançou-lhe o ombro de leve, conseguindo fazê-lo abrir os olhos. Estendeu o moletom dobrado — Isso é seu.

Wade sentou-se devagar, ainda com uma expressão muito sonolenta na face de pele marcada. Ao invés de pegar o moletom, passou o braço pelo pescoço de Peter e o puxou de encontro ao próprio peito.

— WADE!!

— Bom dia, baby boy. Tá se sentindo melhor? Ontem você tava um bagaço — então passou o rosto pelo cabelo de Peter, aspirando o ar com um chiado — A gente adora o seu cheiro, Petey. Dá vontade de comer!

— Devagar aí, campeões. Tem uma dama no recinto — Clinton provocou com a voz rouca de quem acaba de acordar.

— Disse o cara com uma calcinha na cabeça. A gente te acha hilário — Wade soou um tanto ofegante, meio que lutando contra Peter, que queria fugir do seu abraço.

Clint franziu as sobrancelhas. Diante do olhar neutro de Natasha, levou a mão a cabeça e descobriu que era verdade.

— Caralho! Como isso veio parar aqui? — então se virou para a ruiva. E numa voz que nem parecia a dele, indagou: — Isso é seu, amor?

— Não — diante da resposta, o garoto soltou a peça no chão.

— Tasha, luz da minha vida, eu juro que não faço a menor ideia do porquê tem uma calcinha na minha cabeça!! — Clint uniu as palmas das mãos a frente do rosto e ganhou apenas um girar de olhos por parte da namorada.

Peter, que parara de se debater, acompanhava a interação com diversão. A bebida era um péssimo combustível que trazia resultados surpreendentes. A risadinha de Wade o trouxe de volta a vida real.

— Ei, você não tem que tomar algum remédio? — perguntou preocupado, enquanto era liberado do abraço, para que Wade pudesse pegar o moletom e vesti-lo novamente.

— Ah, é. Tá na nossa mochila.

— Mochila? — Peter inclinou a cabeça pro lado, tentando lembrar se Wade viera com uma mochila na noite anterior.

— A gente jogou na cerca viva, lugar mais seguro em uma festa — explicação veio rápida.

Peter Parker entreabriu os lábios, todavia desistiu de perguntar qual a lógica na afirmação que ouvira. Afinal, haveria sentido na lógica de Wade?

— Acabou a folga, Natasha, Cabeça de Tanga, Poucas Trancas e Filhote, venham com o terceiranista mais inteligente do colégio tomar café forte e amargo, e mastigar algumas aspirinas — Tony desfilou pela sala, roubando os holofotes — É hora de limpar a bagunça.