Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 89
LXXXIX




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25/06/2019

Feliz aniversário nessa caminha de "Vazios", galera. Essa fic me trouxe muitas amizades e muita felicidade, mesmo sem ser planejada no começo (o que explica a quantidade de voltas e mais voltas, capítulo atrás do outro). Muito obrigada por tudo ♥

* * *

A Feiticeira Escarlate não podia exatamente dizer que não estava acostumada com aquele período estranho que se seguia depois de uma missão e depois de uma batalha, mas algo parecia um tanto fora do lugar. Nos episódios anteriores, ou ela tinha desmaiado por exaustão ou golpe; ou então tudo se desenrolava em um destino trágico, como a morte de seu irmão e aquela terrível ocasião que foi enganada por Mística. Naquele instante, porém, ela estava bem desperta e ciente de que a única baixa em Genosha foi Zola.

Oh, e Paladino também. Natasha narrou o que acontecera morro acima, enquanto o resto dos Vingadores enfrentava os Sentinelas. A equipe de Wakanda foi discreta em retirar o corpo de lá, enquanto outros funcionários armaram postos de atendimento médico para os jornalistas e mutantes na ilha. Em boatos anteriores, 

Agora, ela estava sentada ao lado da maca onde seu pai repousava, numa barraca grande. Ainda havia um enfermeiro lá, ajeitando o soro que já entrava nas veias do mutante. Ele havia relutado em receber ajuda, principalmente em alguém administrar agulhas e substâncias em seu corpo, e Wanda não poderia culpá-lo. Também já sofrera demais em laboratórios para gostar de todo aquele ambiente esterilizado, mas conseguiu convencê-lo. Tinha que admitir que foi mais fácil do que pensava e nem precisou usar seus poderes escarlates: Bastou erguer as duas sobrancelhas naquela sua expressão doce e preocupada que Erik logo cedeu. 

Pietro também não resistia ao apelo de sua cara pidonha e a situação a fez pensar o quanto os dois, pai e filho, eram parecidos.

O enfermeiro injetou um líquido arroxeado na bolsa do soro, uma última instrução dada pela médica principal da equipe. Era uma versão diluída e modificada da erva-coração, que já nem existia mais, mas que era o suficiente para recuperar as funções vitais de um corpo envenenado ou algo semelhante. Poderia, portanto, restaurar mais rapidamente os poderes e a saúde dos mutantes atingidos na ilha. Depois de finalizar os processos e checar tudo, o enfermeiro lhes deu um aceno e saiu da barraca de atendimento para prosseguir com os próximos pacientes.

Houve um instante de silêncio e Wanda não soube como quebrá-lo. Ou se até mesmo deveria dizer alguma coisa. Existia tanto a se conversar e a se escutar. Antes que pudesse falar algo, Erik Lensherr perguntou, com sua voz rouca e dolorida:

— Você não deveria estar entre seus amigos?

— Oh. Não. — Pensou um pouco e o encarou. — Eles são bem melhores do que eu nessa parte diplomática, acho. Steve, Natasha e os X-Men estão auxiliando os jornalistas e concedendo algumas declarações para aqueles que ainda estão com condições de pegar qualquer coisa pra uma matéria. Silver chegou a dizer que Genosha não vai ser responsabilizada por nada disso, o que já é bom. De qualquer forma, estão esclarecendo o que houve hoje.

— Os “X-Men”... — Ele repetiu com um tanto de dissabor nos lábios. — Alunos de Charles, certo?

Wanda assentiu e continuou a falar. Talvez não devesse ir a fundo nos sentimentos conflitantes que Erik guardava sobre Charles e sua filosofia. Sobre sua amizade, sobre seu ressentimento pela atitude um tanto passiva do professor Xavier. Por muitos anos, segundo os próprios X-Men, eles seguiram com ações furtivas, secretas, na causa mutante. Isso já não fazia mais sentido no mundo de paranóia e ódio ao gene X. Por conta dessa razão decidiram se expor abertamente à imprensa. Para mostrar que existiam e que lutavam. E para mostrar que nenhum mutante estava só.

— Sam e James estão ajudando os feridos agora, junto com a equipe de Shuri. Uma conhecida levou um tiro. — Não sabia se ele tinha consciência de quem Yelena Belova era ou de seu papel em levar na câmara criogênica de Magneto até Genosha anos atrás, então preferiu também não mencionar detalhes. — Emma, Psylocke e Raven estão aqui perto com os enfermeiros wakandanos. Recebem tratamento igual a você. — Deu de ombros. — Então acho que estou onde eu deveria estar.

Erik repousou sua atenção com mais carinho sobre ela, de modo que Wanda quase pôde enxergar o começo de um sorriso em seu rosto tão amargo. Ele pareceu grato, talvez esperançoso. Sua filha estava onde deveria, ao lado dele. Era o que Wanda tinha afirmado, certo? Mas em segundos sua expressão amena se foi e Erik desviou o olhar.

— Eu deveria ter protegido as três. A ilha. E você. Não o contrário.

— Não foi sua culpa sua. —  Ela segurou sua mão. — Ei, olhe pra mim. Não foi sua culpa. E todos precisam de ajuda… Sabe, se não fosse a ajuda dos meus amigos nesse último ano, eu não sei onde estaria. Shuri, Steve, Sam, Natasha, Agatha… 

— E aquele homem.

— É. E aquele homem. James Barnes. — Balançou a cabeça com um sorriso fraco. Existiam tantos outros nomes que a ajudaram naquela jornada, embora não fosse esse o ponto onde queria chegar na conversa. Era estranho dar um discurso motivacional onde ela era a pessoa que motivava a outra. Parecia uma versão com final feliz do mesmo diálogo que teve com Steve, depois de Lagos, então sabia que, acima de tudo, Erik sentia culpa. Deu suspiro e continuou: — O que quero dizer, Erik, é que você não precisa carregar tudo sozinho. Mesmo que Zola tenha se aproveitado disso, você tentou fazer a coisa certa ao abrir os portos de Genosha.

Ele não pareceu totalmente convencido.

— Eu disse à essas pessoas que nunca mais iriam sofrer por serem mutantes.

— E você ofereceu a elas uma chance. Estava preocupado com o bem estar delas. 

— É isso o que vê em mim? Bondade?

Ela deu de ombros, sem responder a questão. 

— Não vou dizer que tudo isso foi necessário, mas… O mundo viu Genosha e os horrores que os mutantes passam. E o mundo viu também que existem pessoas dispostas a protegê-las. Depois do que houve aqui, sinto que as coisas vão mudar para melhor. Seja pela ajuda de Wakanda, do Instituto Xavier ou até mesmo por Symkaria.

— Symkaria? O que Symkaria tem a ver com isso? Silver Sable pode até ter dado a tal declaração pra imprensa, mas está do lado da ONU e do lado oposto de Genosha.

— Não mais. Ela ajudou a conter a Inteligência Artificial de Zola de se espalhar. — Repetiu o que Natasha explicou para ela antes. Depois, pressionando um pouco mais a mão dele com a sua, disse: — Nós não falhamos, Erik. Vai ficar tudo bem.

Então ela viu de novo aquela expressão, aquele brilho entre a ira e tristeza. Um pouco de gratidão, um vislumbre de esperança e tanto, tanto medo. Erik Lensherr tentou se abrir em ocasiões anteriores, tentou a paz que Charles Xavier dizia, mas tantas tragédias se seguiram que não havia como não sentir dor e ressentimento. Ela viu a si mesma naquela expressão e sabia que era o momento em que deveria ser o mais delicada em suas palavras.

Ele, no entanto, seguiu com outros assuntos.

— Me fale mais de James Barnes. O que sei é que ele matou JFK e foi responsável pela minha prisão.

Wanda riu por ele voltar justamente para tal ponto, o namorado de sua filha. O interessante era que o tom usado por Erik, pois apesar de suas palavras, não era áspero. Parecia até mesmo conformado com as estranhezas e voltas daquela história.

— Ele foi controlado pela HYDRA com lavagem cerebral, o que explica todo esse… episódio. É amigo do Steve. — Completou, sabendo que a fama do Capitão América garantiria alguns pontos extras à Bucky. — Ficou numa câmara criogênica. 

— Como se conheceram?

— No ano passado tentaram incriminá-lo de algo que ele não fez. De verdade. Daí, Steve nos chamou pra ajudar, acabamos em Wakanda… — Wanda encurtou a história, evitando a parte de sua prisão de propósito. — Ele optou por ficar em criostase até se recuperar e um dia eu escutei alguns pensamentos dele. Lembranças. No começo, pareceu um acidente, mas… Eu também não impedi. Acho que sou responsável por isso, no final.

— Mas ele também não impediu, certo?

Ela assentiu com a cabeça, um sorriso miúdo em seus lábios. De fato. Nenhum dos dois tinha impedido nada.

— Depois que ele acordou, simplesmente aconteceu. De forma bem lenta, na verdade, mas aconteceu. 

Foi a vez de Erik assentir, muito pensativo. Wanda optou por não ler seus devaneios naquele instante, porém. Ele se ajeitou na maca, soltando um murmúrio devido a dor no corpo, e voltou ao diálogo, talvez na pergunta que mais lhe importava:

— Ele é bom com você? Te trata bem?

A Feiticeira Escarlate poderia secar todas as palavras de sua garganta para narrar o quanto James Barnes era um homem gentil. Nunca impediu suas jornadas tão esquisitas, nunca a culpou por partir. Em realidade, Wanda sabia o quanto era doloroso para ele a assistir suas partidas, mas era necessário para que a Feiticeira pudesse entender a si mesma - ao menos nesses últimos meses. E ele compreendia. Cada reencontro era um deleite e Wanda o amava tanto. Poderia dizer tudo isso e muitas outras coisas, como seu coração agora bater calmo na presença de James, mas se limitou a responder de maneira breve:

— Sim. Ele me trata bem.

Ele sorveu a afirmação devagar, encarando o nada. Wanda imaginava que era difícil se descobrir com uma filha ainda viva, mas essa filha já criada e com uma vida tão diferente do que qualquer pai gostaria para seus filhos. Nada daquela história era fácil. Então, como se ele compartilhasse de seus poderes telepáticos, Erik levantou os olhos e questionou:

— Então… Sabe a verdade? A verdade inteira, sobre… Mim e você. E Pietro.

Wanda não achou que o nome de seu irmão seria dito de forma tão triste por outra boca que não fosse a sua, mas antes que ela respondesse, seu pai prosseguiu:

— Eu soube por alguns arquivos. Aqueles que peguei na base em Sokovia, na primeira vez que nos encontramos. Lembra-se?

— Sim.

— E depois… Em Zurique, eu declarei que você era minha filha. Você sabe de algo mais?

— Ainda faltam alguns detalhes, mas… Eu sei sobre Magda.

Ele arqueou uma sobrancelha. 

— Sua mãe. — Corrigiu. — O que houve com ela?

— Ela… — Usar a palavra “fugiu” era muito pesado em tal momento. Escolheu outro verbo. — Ela foi para a Montanha Wundagore enquanto estava grávida de mim e Pietro. Aquele lugar é…. Estranho. O tempo corre de forma diferente lá. Algo a fez sair depois do parto e foi nesse instante que uma outra rom tentou ajudar, mas… 

— Mas?

Wanda limpou a garganta.

— Mas só eu e Pietro escapamos, Magda não. O ano era 1994. O irmão dessa rom nos adotou, Django Maximoff, e fomos criados por ele e Marya. Nem sabíamos que éramos adotados, na verdade.— Recordou-se das palavras de Natalya. Chthon, a entidade que matou sua mãe biológica.. — Minha tia, digo, a rom que tentou salvar Magda, voltou para a lá e não retornou. Existe algo lá, em Wundagore. Algo terrível. Eu vou descobrir tudo o que houve lá. E vou pôr um fim nisso. 

Ele estava cansado. Ferido. Torturado. Não apenas fisicamente, mas o soro roxo wakandano em suas veias não seria capaz de curar todas suas cicatrizes. Wanda considerou que era melhor deixá-lo descansar, pois os dois tinham muito o que digerir. Levaria tempo. Iria poupá-lo de detalhes sobre seus planos de retornar àquele lugar e resgatar Natalya. Apenas apertou com carinho a mão dele e se levantou, prestes a murmurar palavras doces e partir. Antes disso, Erik a segurou com delicadeza. Encarou-a fundo, sorvendo os detalhes do rosto dela. Se antes Wanda não queria vasculhar seus pensamentos, agora era impossível. Seus devaneios eram altos e magnéticos, carinhosos e sofridos. Ele não dizia nada, mas Wanda só podia escutar o quanto ela era parecida com sua mãe biológica. Os cabelos, a curva do queixo, os olhos. Deus, os olhos! Enxergou vislumbres de Magda, sua expressão silenciosa na memória de Erik Lensherr, numa vida antiga e que poderia ter sido feliz.

Não soube o que dizer.

— Sempre terá um lugar aqui para você. Ao meu lado, um lar pra voltar. — Falou, sua voz tão pesada quanto podia. E então, uma expressão dúbia surgiu em sua face. — E se um dia, aquele homem fizer algo à você

— Erik…

Pai.

Novamente ele corrigiu, mas havia um brilho de novo em seus olhos. Ele falava sério ao ameaçar James Barnes e falava sério em pedir que Wanda o chamasse de pai. Ainda assim, havia mais leveza em seu olhar. Ela sorriu, notando a semelhança entre seu coração passional e o dele.

— Eu tenho certas coisas pra acabar. — Wanda respondeu sem jeito, tentando justificar sua nova partida.  — Você tem uma nação pra cuidar.

— E tenho uma filha no mundo. Volte.

Ela sorriu.

— Eu vou voltar. Estou sempre no lugar certo, não?

Antes que pudesse responder, uma pessoa entrou na barraca e pigarreou a fim de chamar atenção de ambos. Wanda se virou e viu Bucky de pé, seu braço metálico ainda avariado ao lado do corpo, mas o braço direito trazia um item interessante: O capacete rubro de Magneto.

— Eu não queria interromper. — Deu mais um passo para frente. — Mas… Acho que isso é seu. Senhor.

Wanda sorriu ao ver um traço de nervosismo no soldado quando ele logo completou a frase com um pronome de tratamento respeitoso. A face de Erik, por sua vez, retornou aquele estado vazio e ao mesmo imponente. Fez um gesto para que Bucky se aproximasse e lhe trouxesse o capacete, no entanto, assim que ele estava perto o suficiente, Magneto ergueu o braço e atraiu o item para si através de seus poderes. Foi súbito e impactante, o que deixou o soldado desconcertado. 

— Minhas habilidades estão voltando… — O mutante disse, sua voz num tom dúbio. Encarou bem o capacete em suas mãos, depois retornou seus olhos à Bucky. — Mas é bom ver que consegue ter cuidado.

— Eu não poderia deixar de ter cuidado com algo tão precioso.

A Feiticeira franziu os cenhos. Sentiu que havia outra conversa acontecendo ali e isso não foi a parte mais estranha. Ela só pôde inclinar o rosto em dúvida e surpresa quando viu Magneto simplesmente sorrir.

— Uma resposta inteligente. Você é um homem esperto, James Barnes. Para seu bem, apenas não seja esperto demais. — A pausa que se seguiu foi constrangedora, embora parecesse afetar somente ela e o soldado. — Wanda, traga-o quando vier me visitar. Acho que teremos conversas agradáveis.

Estava prestes a questionar o que diabos estavam falando quando Bucky ficou desconfortável o suficiente para mudar de assunto sem cerimônias:

— Wanda, eu também vim dizer que tem uma mulher lá fora procurando por você. É uma senhora com roupas engraçadas.

— Agatha?

— Acredito que sim. Ela parecia saber muito sobre mim e… Ebony está com ela.

— Oh.

Virou-se mais uma vez para seu pai, desta vez seu coração apertando-se ao ver a expressão saudosa em sua face. Ele assentiu e respirou fundo, o capacete apoiado em seu abdômen.

— Vá. — Depois abriu um pequeno sorriso e lhe afirmou algo semelhante ao que falara na primeira vez que se encontraram. — Algo me diz que sempre vai saber onde me encontrar.

Deveria abraçá-lo? Exceto o instante em que o salvou, Wanda não estava preparada ainda para isso ou para chamá-lo prontamente de pai. Quem sabe um dia estivesse, porém. Desejava, na verdade. Ela apenas lhe ofereceu um tímido aceno.

— Até mais, Erik. 

— Até mais, filha.

Acompanhada por Bucky, Wanda deixou a barraca médica como se um pedacinho rubro e passional de seu coração ainda estivesse lá dentro.

 

Bucky e Wanda cruzaram caminho com pelo menos uma dúzia de enfermeiros wakandanos ao atravessarem barracas entre os destroços para, enfim, chegarem na parte mais limpa e aberta que restou do porto de Genosha. Os dois andaram de mãos dadas - ela, é claro, segurara sua mão boa— e durante o percurso, a Feiticeira captava sentimentos inquietos na aura escura e acolhedora do soldado. Saudades, alívio, e um pouco de receio, pois se Agatha Harkness estava lá, provavelmente significava que logo Wanda partiria novamente. Essa última parte era verdade.

Não admitiria agora. Não adiantaria outro adeus, não quando era tão bom apenas andar ao lado dele. No entanto, ele mal sabia que logo tudo acabaria. Depois de Wundagore, Wanda estaria afinal livre de seu passado e estava mais do que na hora de cultivar um futuro ameno. Ela esperava incluir Bucky nesses planos, se assim ele aceitar.

Então estavam lá. Natasha segurava Ebony no colo, murmurando como ele parecia familiar e que talvez fosse amigo de Liho, enquanto Steve conversava com a anciã assim feito um pai conversando com a professora favorita da filha; já aura amarela-dourada de Sam brilhava em outro lugar, perto dos X-Men e da princesa de Wakanda, lá do outro lado. Mesmo que fosse estranho ver sua mestra com o restante de seus amigos, a Feiticeira na verdade estava mais surpresa por notar que o gato preto não tinha falado nada até o momento.

— Wanda, querida… — Agatha desviou sua atenção do Capitão América e aproximou-se dela, segurando seu ombro com ternura. —  Devo dizer que fiquei preocupada contigo. Mas agora...Vejo que não há razão para isso. Estou orgulhosa.

A mestra se referia ao fato de que Wanda tinha sido capaz de enfrentar Zola, de superar seus próprios medos e não se deixar levar pela ira. A Feiticeira agradeceu.

— Você me deu forças pra isso. Todos vocês.

— Steve me contou como você apareceu aqui e eu não acredito que perdi essa cena dramática com direito a magia e essa roupa toda.

Wanda riu. Natasha impressionada? Aquilo sim era interessante. 

— Nat, eu nem esperava vir pra cá. — Lançou um breve e carinhoso olhar para James. — Acho que só fui chamada e… Vim.

A bruxa assentiu, suas vestes púrpuras ondulando com o vento. As rugas de seu rosto expressavam contentamento e seriedade quando perguntou algo que fez o corpo James Barnes tensionar ao seu lado.

— Ainda temos uma última tarefa. Voltará comigo e com Ebony agora?

Discretamente, Wanda apertou a mão do soldado com um pouco mais de força, justamente para lhe passar um pouco mais de segurança. Ele lhe lançou um olhar de esguelha e, naquele meio segundo em que seus olhos se encontraram, Wanda quis transbordar tudo aquilo que não dizia. 

— Não, não agora. — Respondeu. — Me esperem na Loja. 

— Muito bem, querida. Antes de partir, no entanto… Não acha que podemos resolver um pouco as coisas aqui? 

Steve franziu a testa quando a senhora fez um gesto expansivo, indicando os destroços de concreto e as peças estouradas de robôs pelo chão. Destruição pintava o cenário inteiro, mas a bruxa preferia ordem e amava uma boa faxina. Wanda, por sua vez, adoraria restaurar coisas, ao invés de detoná-las - assim como aplicou magia no apartamento em Bucareste. E, talvez, como fez a si mesma e à James.

— Oh. Você leu minha mente.

Soltou delicadamente a mão de Barnes e deu um passo a frente. Com um aceno breve, ela se afastou de Bucky e de seus amigos para se juntar à bruxa. Com a tiara ainda no rosto e seu belo traje vermelho, seus olhos tingiram-se da cor escarlate quando mais uma vez envolveu-se de magia para alcançar o ar. Natasha encarava atentamente lá de baixo, acompanhada por Steve, enquanto Bucky esboçava aquele seu sorriso tímido irresistível.

E então ela se lembrou de uma conversa que os dois tiveram em Sokovia, enquanto Wanda chorava à frente da cratera e ruínas de Novi Grad. Na ocasião, gritara que não sabia consertar nada, apenas destruir. Sua cidade natal era uma cidade fantasma, ela uma assombração. Mas suas orações foram atendidas e a primavera veio.

E as coisas poderiam florescer de novo.

Ao contrário dos jatos de luz carmesim que soltava em ataques, ela agora apenas pairava a metros do chão como se não pesasse mais que uma pluma. Agatha, embebida em névoa espessa, era uma nuvem lilás ao seu lado. Em sintonia, bruxa e feiticeira combinaram suas habilidades mágicas para mover os destroços do ambiente para sua forma original e imaculada. Wanda sentiu seus dedos inquietos mais uma vez, ansiosos para pôr em prática  seus truques, tanto que não demorou para gesticular e exalar magia. Cada pedra, cada mínimo pedaço de concreto e pó, rapidamente retornou ao seu estado perfeito, intacto. Se fez luz vermelha e nevoeiro púrpura na ilha, as duas cores transformando-se num bálsamo para reedificar o porto. Quando afinal todo o encanto encerrou seu trabalho, Agatha parou um instante para encarar bem sua aprendiz.

Wanda cintilava em vermelho morno, como deveria ser. Seu semblante era calmo, aceso e vivo. Com um aceno, Agatha se despediu em silêncio da Feiticeira e desapareceu em névoa lilás. Levou junto o gato preto, que pulou do colo de Natasha no exato segundo em que a idosa partiu, desaparecendo com o vento. 

 


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