Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 84
LXXXIV


Notas iniciais do capítulo

01/05/2019
Oie! Galera, assisti Ultimato. Bem, eu não estou exatamente satisfeita com o filme - mas não vou transformar essas notas iniciais em uma crítica hahah - e para aqueles que se perguntam se eu ainda vou fazer minha versão Shalashaskiana de Guerra Infinita e Ultimato, a resposta é sim. Algumas pessoas seguem em frente, mas nós não hahah
Enfim, aqui sai mais um capítulo de Vazios e espero que gostem. Amo vocês mil milhões.
PS: Todas as partes desse capítulo (e do próximo) se passam praticamente ao mesmo tempo. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697672/chapter/84

Bucky Barnes mal fazia barulho ao andar pelo piso do convés, seu corpo curvado e um rifle ocupando suas duas mãos. A missão era furtiva, de modo que todas as ações do soldado eram focadas em manter o silêncio ou... Neutralizar quem o quebrasse. Naquele instante, porém, sua vontade era justamente de eliminar seus colegas de equipe, Anna Marie e Remy LeBeau. Talvez eliminar não fosse a palavra certa, já que sua arma estava equipada com munição não-letal. De qualquer modo, desejava apenas mais silêncio da parte deles. O vento e o mar não encobriam todos os barulhos que faziam, por exemplo quando xingavam um ao outro por escorregarem.

Bucky admitia que tinha padrões elevados por conta de seu próprio desempenho, o de Natasha e Belova e, na verdade, os dois mutantes até podiam ser espertos, mas não conseguiam manter os passos leves ou a respiração mais controlada. Se não fosse pela ação de Ororo Munroe, que trouxera uma névoa cinza e espessa ao mar com seus poderes, eles não teriam nem conseguido descer da aeronave para a embarcação sem serem vistos.

Ele fez sinal para que os dois parassem, suas costas coladas na lateral de um container vermelho e coberto por uma grande lona bege. Por ser um navio cargueiro, existiam pilhas de contêineres vermelhos, azuis, cinzas… A maioria fixada por grossos cabos, para que as ondas não os engolissem, e todos enfileirados a fim de manter a organização no navio. Bucky notou que não existiam muitos contêineres, no entanto. Menos do que a capacidade daquele navio, pois o trio conseguia andar com facilidade da proa para os fundos, em direção ao passadiço - onde o capitão do navio comandava. Evitavam pegar as laterais, seja a bombordo ou estibordo, já que o resto da tripulação transitava por aquelas áreas, passarelas e escadarias. Andar pelo meio, apesar de arriscado, era uma boa opção, pois seria difícil enxergá-los com aquela névoa e entre a carga. Bucky sentiu que seria melhor que algum deles tivesse servido na Marinha ao invés do Exército, para que pudessem entender melhor da estrutura do navio e se locomover com mais destreza. Nem mesmo Sam poderia ajudar, já que viera da Aeronáutica.

Ele olhou para a tela da braçadeira em seu antebraço direito. Foi um equipamento providenciado por Wakanda, que servia de comunicação entre os grupos e Outer Heaven. Steve, Scott e Rooskaya tinham braçadeiras iguais, enquanto o restante dispunha de modelos menores. Shuri também incluiu o que pôde de informações sobre a missão ali, como a planta básica do modelo dos três navios em questão: 300 metros de comprimento, 48 metros de largura. Treze andares, somando passadiço, porão, dormitórios e maquinário. Bucky sabia que dariam conta de um navio, mas existiam ainda mais dois para neutralizar e Shuri não teve como prever qual deles abrigava as peças dos Sentinelas ou as injeções de cura temporária do gene X.

Era um alívio saber que o grupo de Scott Summers tinha poder o suficiente para derrubar as embarcações restantes, por mais que Bucky não tivesse localizado o terceiro ao descer da aeronave. Talvez fosse apenas névoa demais e por isso não tivesse enxergado.

O rangido do raspar do metal dos contêineres no convés úmido retornou a atenção do soldado ao momento presente, seus olhos apertados para manter o foco ao seu redor. A possibilidade de haver um Sentinela ali dentro arrepiava sua pele e, pior do que isso, era ouvir os gritos distantes da tripulação, falando em seus transceptores de mão. Ventava muito, mas ele fez o possível para distinguir o que falavam através do som do mar quebrando no casco do navio. Remy franziu os cenhos, também se concentrando nas palavras proferidas por um punhado de homens.

— Estão falando francês. — Sussurrou.

— Sim. — O soldado concordou, ainda observando. — E não parecem contentes com a neblina. Estão chamando os outros para entrar. É a última troca de turno antes de atracar no porto de Genosha. A previsão é de no máximo meia hora.

— Então não temos muito tempo para agir.

Bucky não respondeu a afirmação de Anna Marie, embora concordasse. Estava intrigado, pensativo enquanto aspirava o cheiro salgado do mar próximo. Cada detalhe pesava. O linguajar da tripulação não indicava que fossem criminosos, não estavam nervosos para atracar e descarregar a mercadoria. Pareciam cansados e um tanto curiosos por viajarem em direção à ilha de mutantes. No entanto, não passou despercebido à ele que havia um espaço entre os contêineres que simplesmente estava livre. Se seu julgamento fosse correto, Bucky poderia dizer que… Que era uma escotilha, uma abertura selada no piso do convés, um espaço para algo grande sair do porão, e aquilo tudo não inspirava muita confiança.

Precisavam verificar o que havia embaixo da escotilha e extrair informações do passadiço sem que a tripulação notasse - ou então sem que tivessem como emitir um alerta. Uma sombra do passado dizia a Barnes que seria mais rápido executar os homens. Não necessitaria de auxílio de um malandro de rua e uma completa inexperiente para completar a missão. Suspirou.

Não era mais o Soldado Invernal, sem moral e sem misericórdia. Seus amigos o fizeram lembrar. Wanda também. Ele era Bucky Barnes. James. Ele fechou os olhos por um segundo, sentindo falta de uma presença escarlate. Quando abriu as pálpebras, tinha já uma ideia na boca.

— Seremos mais rápidos se nos dividirmos. Vou no passadiço verificar o painel de controle. — Bucky mostrou o ponto no mapa na tela da braçadeira, um recurso que os comunicadores de Remy e Anna também possuíam. — Se esse navio tem mais algo a esconder, descobrimos lá.

— Certo, mon ami, e o que faremos enquanto isso? Jogamos baralho?

Ele ergueu uma sobrancelha para Remy LeBeau.

— Preciso de uma distração pra conseguir entrar no passadiço. E preciso que algum de nós veja o porão do navio.

— Eu não quero ser a distração! — Anna Marie completou, sua voz urgente. Ela era corajosa, mas ainda não tinha o mesmo treino que o restante dos X-Men. Bucky estava prestes a tranquiliza-la quando Remy o interrompeu:

— E por acaso você tem como ser uma distração? Só possui poderes se sugar de outra pessoa!

— Isso não é exatamente verdade.

— A palavra-chave aqui é “exatamente”. Deixe isso para profissionais, chérie. — Ele alcançou os bolsos do sobretudo marrom que insistia vestir, tirando um baralho de cartas dali. Bucky se lembrou de como ele tinha sido detestável em Bucareste, embora suas suas habilidades fossem convenientes agora. — Posso ser útil para te dar alguns minutos de folga, Barnes. Só não abuse.

— E… — Anna ajeitou a mecha branca de cabelo, tirando de frente do rosto. — E eu vou no porão, então.

— Leve isso com você.

Dizendo isso, Bucky lhe entregou uma pistola que estava guardada em um coldre na cintura. Estava carregada também com munição não-letal e Anna ficou surpresa com o peso. Quando a colocou nos dedos porém, parecia saber como usá-la.

— Posso fazer uma pessoa desmaiar sem armas. — Ela afirmou, um tanto ofendida. Bucky apenas rebateu com uma pergunta:

— Consegue fazer isso à distância? — Anna negou, o que apenas reforçou o argumento de Barnes. Ele suspirou, tirando de si uma faixa feito um cinto, onde três objetos jaziam anexados: Três explosivos de ativação remota. Ajudou Anna Marie a colocar em sua própria cintura, o desconforto da jovem aparente por praticamente três granadas tão próximos da pele. — Certo. Não deixem que atirem em você, principalmente na cintura. Não caia. Não ative uma delas sem ter a certeza que quer ativar. Só ative se encontrar as peças de Sentinelas ou a cura. Nos avise pelo comunicador antes. E saia correndo o mais rápido que puder.

Ela engoliu seco, assentindo enquanto pegava o detonador nas mãos. Era um dispositivo pequeno, do tamanho de um isqueiro. Bastava apertar o botão para mandar tudo para os ares. Anna Marie o colocou no bolso. Não era agradável colocar tanta responsabilidade e tanto poder de fogo nas mãos da mutante, mas ela não seria um alvo principal. Com Remy distraindo a tripulação e ele no passadiço, os dois seriam foco de retaliações. Ele assentiu para Gambit e para a jovem.

— Vamos concluir isso.

— Nenhum beijo de boa sorte? — Remy gracejou, mas ninguém respondeu. Ainda assim, ele riu. Alternando o olhar entre Anna e Bucky, continuou: — Preciso admitir algo, para caso eu morra nessa missão.

Bucky inspirou fundo. Anna Marie revirou os olhos.

Chérie, eu não sou francês de verdade. E mon ami… Dê um beijo em Wanda por mim.

— Quê? — A jovem mutante exclamou, mas ele já se afastava com o brilho neon de seus escleras e um riso debochado no rosto, suas mãos embaralhando as cartas. — Eu não acredito que ele disse isso na minha frente. Quero dizer, na sua frente. — Se corrigiu depressa. — Porque você e Wanda…

O soldado só balançou a cabeça. Aquilo não o surpreendia.

— Eu não acredito que ele não é francês.

Apenas escutaram suas palavras:

Au revoir!

E então, a névoa engoliu o trapaceiro.

* * *

Scott se certificou que Jean Grey estava bem antes de começar a vasculhar a informações na cabine do navio cargueiro. Ele a ajudou a sentar-se na cadeira do imenso cômodo, apoiando-a de maneira delicada enquanto ela jazia de olhos abertos e focados no nada, um fino filete de sangue escorrendo de seu nariz. Ainda bem que estava por perto e, se dependesse da vontade dele, sempre estaria. Jean mal precisava dizer “Scottt, me ajuda” para que ele reconhecesse seu tom dolorido e viesse logo ao seu encontro.

O mutante soltou um xingamento, procurou um algum tecido que pudesse estancar o sangramento. Achou um guardanapo junto a um lanche acima da mesa, que o capitão provavelmente comeria antes que os X-Men invadissem seu navio. Ele colocou o guardanapo abaixo da narina dela e disse palavras amenas, preocupado. Sempre acontecia algo assim quando ela usava seus poderes telepáticos por tempo demais, em pessoas demais ou numa distância muito grande - e era justamente isso que ocorria naquele exato instante.

O grupo de mutantes e Vingadores se dividiu em três times, assim como discutiram na base voadora Outer Heaven, e nomearam cada time com nomes de cidades: Scott, Ororo, Jean e Logan eram o time Westchester, pois o Instituto Xavier ficava neste condado; Sam, Steve e Natasha pegaram Washington, por terem se encontrado na capital anos atrás e Barnes, Gambit e Vampira tomaram o nome de Bucareste pela mesma razão. Belova, a espiã loira, optou por Moscou. Shuri perguntou através dos sistemas de comunicação se todos aqueles nomes eram realmente necessários, mas por fim escolheu ser chamada por Birnin Zana, o nome da capital de Wakanda.

Westchester e Bucareste foram aos navios, Washington e Moscou à Genosha. Birnin Zana permaneceria observando os noticiários sobre Genosha, atenderia quando solicitada.

Através dos poderes de Tempestade, eles desceram da aeronave ocultos pela névoa, enquanto Jean alcançava a mente da tripulação para que todos permanecessem quietos.  Isso permitiu que eles logo chegassem ao passadiço, para tentar extrair mais alguma informação adicional sobre quem transportava as peças dos Sentinelas para Genosha e onde tais peças se encontravam. A tripulação inteira estava desligada, inclusive… Havia pelo menos meia dúzia de pessoas naquele mesmo recinto.

Ororo contornou uma mulher uniformizada de branco no chão e se aproximou da janela de vidro para encarar o céu. A iluminação do dia estava opaca devido a densidade da névoa que ela mesmo provocara, de modo que era impossível ter uma visão precisa, mas Scott podia notar que ainda assim a mulher procurava algo no horizonte.

— Eu não vi o terceiro navio. — Ela disse, sua afirmação sugerindo hipóteses terríveis. Um relâmpago cortou as nuvens, tingindo-as de azul. Sua luz, porém, não iluminou nenhuma silhueta no oceano.

— Eu sei, eu sei. — Respondeu, rangendo os dentes. Avançou no cômodo, afastando a cadeira de outro tripulante. Ficou de frente para uma das telas no painel, buscando formas de descobrir onde estava o terceiro navio. Não entendia ao certo os sistemas de barco, embora tivesse vaga noção de como funcionava. — Vou buscar no radar.

Já estavam ali há alguns minutos, quem sabe vinte. Scott mantinha a noção de tempo muito fresca em sua cabeça, preocupado com cada segundo que escorria de seus dedos e os colocava mais perto de Genosha. Ele não sabia estacionar um navio daquele porte ou ancorá-lo no oceano e não era de sua intenção explodi-lo, apenas danificar a carga e partir antes que atracassem… Se a tripulação permanecesse desacordada por mais tempo, poderiam causar um acidente no porto.

Ele soltou um bafejo irritado, ainda procurando algo relevante à missão nos arquivos do painel de controle ou no restante do escritório. Não encontrara nada pertinente, nada que mm montasse uma bela denúncia à generosa - e suspeita - oferta de paz ao novo país. É claro que Scott não desejava que a população mutante de Genosha de fato sofresse um atentado, mas era no mínimo frustrante se deparar somente com uma lista de cargas absolutamente normais. Aquele cargueiro transportava materiais de construção como estruturas de madeira, azulejos e vidro… E também trazia grãos, produtos alimentícios básicos, água potável. Não fazia sentido. Aquela lista era falsa, um mero documento para sair do porto de origem? Não saberia dizer, mas estava aliviado por ter mandado Logan aos porões, pois sua parte na missão de resumia a conferir de maneira breve o conteúdo do navio, enquanto o resto se ocupava com o passadiço.

Ororo mantinha a névoa sobre o mar, Jean Grey manipulava a mente dos tripulantes num sono ameno. Scott fazia sua parte em investigar, embora sem muito sucesso. Agora lia uma planilha com os registros dos últimos contatos entre os navios, buscando algo mais palpável. Esperava que Logan tivesse mais sorte.

— Ciclope. — Logo alguém o chamou no comunicador. Sua voz rouca era inconfundível, de tom debochado mesmo numa missão tensa como aquela. Pouparia sua implicância com a postura dele, indo direto para o ponto mais importante:

— Logan. O que encontrou?

Charutos.

Uma pausa. Scott massageou as próprias têmporas, fazendo um esforço evidente para não explodir com o colega no comunicador - e nem para explodir nada a sua frente. Seus dedos indicador e médio estavam muito próximos do botão que acionava o visor de seus óculos especiais e a vontade era de disparar um laser para detonar o cargueiro inteiro.

Enquanto inspirava fundo, tentando se espelhar nos esforços diários da namorada para ser uma pessoa melhor e mais compassiva, ele ainda pôde ouvir o som de um isqueiro do outro lado da linha, e em seguida uma baforada. Logan estava fumando.

Inspirou fundo novamente. Expirou. De pé e encurvado para ler a tela do painel, Scott tentou se focar na planilha ainda aberta a sua frente. Sabia que Logan tinha se afeiçoado à garota estrangeira, Anna Marie, e sabia que lhe incomodava saber que a jovem estava acompanhada de Remy LeBeau naquele instante. Era engraçado como ele tinha desenvolvido o instinto paterno em relação a uma desconhecida, chamando-a de guria como quem dizia filha. Ele também fazia isso para Kitty Pride, o que o levava questionar o quanto Logan gostava de adotar jovens sem rumo. Scott, portanto, entendia que o colega queria se distrair da possibilidade da afilhada estar de caso com aquele pilantra, mas irritava-se do o comportamento dele.

Leu os registros com data do dia atual, pulando para o histórico ao longo da tarde. Os contatos mais recentes eram com o navio mais próximo, onde Barnes estava. Onde estavam os registros do contato com o terceiro navio?

— Essa missão é séria, — Disse, entre uma súplica e um grito enfurecido, passando a página da tela para os arquivos de horas atrás. Esperava as informações carregarem enquanto debatia do Logan. — Você tem noção de quanto...

— Eu também estou falando sério. Não existe nada aqui. — O outro o cortou. — Desci uns… Três andares. Nada no porão. Só soja à granel. Não tem máquina nenhuma aqui dentro. Nenhuma peça sequer, ou cura. E achei bem interessante ter uns cinco ou seis caixotes de charuto aqui embaixo. Não sabia que refugiados precisavam disso.

Desgraça!

Ciclope deu um soco no painel, dor consumindo seu punho. Não era pior do que o repentino latejar em seu crânio. Sua respiração tornou-se pesada e ele mal notou a superfície levemente amassada do painel sob sua mão. Ororo se aproximou, seu rosto irritado.

— Scott!

Não respondeu. Nem a dor por ter esmurrado o painel, nem Tempestade lhe chamando a atenção fariam diferença do que tinha acabado de ler. O último contato do terceiro navio foi registrado no meio da tarde, informando que tinha atracado. O relatório indicava o horário e o material que transportava, assim como as pessoas envolvidas. Nada daquilo lhe trazia paz.

Jean Grey levantou seu torso, enxugando o sangue que se acumulara no espaço abaixo do nariz. Seu olhar era preocupado, mesmo que estivesse ainda um tanto desorientada por se desconectar tão subitamente de várias mentes ao mesmo tempo. Ao encarar o rosto de Scott, porém, ela sabia de prontidão que havia algo errado.

— O que? — A voz de Logan voltou no comunicador. — Achei que fosse algo bom. Quer dizer que não tem nenhum tal de Zola-suíço atrás de mutantes, huh? Só navios com grãos e charutos. Falta o whisky.

— Não, Logan. Não é isso. O terceiro navio atracou há três horas.

Silêncio.

— Três horas? — Ororo arriscou perguntar, sua voz incerta como uma garoa e os olhos faiscantes. — Bem, não existe nada de errado se for um cargueiro igual a esse, correto?

— Se fosse igual a esse, não. Mas não é. — Scott engoliu seco. — O navio transportou as equipes da mídia e todo o equipamento tecnológico necessário para transmissão, incluindo uma torre de sinal. Instalaram coisas há três horas, mais coisas do que consegui ler. São quatro páginas só de parafernálias… E não sei se declaram robôs assassinos na alfândega.

O entendimento foi geral. A tecnologia já desembarcara em Genosha… E muito provavelmente, Zola e os Sentinelas também, enquanto dois terços do time estavam ainda na costa da ilha, navegando há meia hora do porto. Logan resumiu o pensamento de todos em uma única sentença:

— Merda. — Ouviu-se pelo comunicador Logan cuspir o charuto no chão, seus pés apagando a brasa com pisadas urgentes. Em seguida, os passos contra o chão metálico não deixavam negar que ele subia correndo as escadarias para o convés. — Merda, merda, merda.

— Precisamos ir pra ilha agora. Vou entrar em contato com o resto. — Scott disse, aproximando sua boca do comunicador. Antes de falar qualquer coisa, porém, encarou o vidro da cabine e viu uma explosão colorir a névoa lá fora, onde estava o navio vizinho. Logo em seguida, teve um vislumbre da cor verde e ficou ainda mais confuso. — Mas o que…?

O mutante engoliu seco, trocou um olhar preocupado com Ororo e Jean.

— Westchester para Bucareste. Westchester para Washington. Barnes ou Rogers, atendam essa droga!

* * *

O rosto de Yelena Belova era desprovido de emoção ao andar pelo Porto de Genosha, entre jornalistas que ali aguardavam a chegada de Erik Lensherr, o famoso Magneto. Tinha chegado há dez minutos, sobrevoando a nave na costa, em meio à névoa. Seu coração, no entanto, palpitava dentro de sua caixa torácica, seus nervos a agitavam para correr e terminar logo a missão. Independente de suas vontades ou reações, a mulher tinha sido bem treinada e lá estava a espiã, seus trajes discretos entre a multidão que tanto se movimentava e tanto fofocava. Estava com um sobretudo cinzento, mãos nos bolsos e o pendrive queimando a ponta de seus dedos de tanta ansiedade. Os sons ao seu redor eram indistintos, a alfinetavam mais do que ficar nas pontas de uma sapatilha de ballet. Em sua cabeça, assim como antes de qualquer missão intensa, os acordes de uma música orquestrada começaram em um tom leve. Tchaikovsky, sempre Tchaikovsky. Pas de Deux, dessa vez. Seus pés tinham a lembrança dos exercícios, quase como se contassem a sequência:

E um, e dois, e três.

Um, dois, três

Um, dois, três.

Pare.

De novo.

Ela estava na cena, no palco. Seus movimentos perfeitos, sem que uma única alma percebesse o quanto era teatral. Andou por um grupo de jornalistas, pegou um boné que exibia o símbolo da parte técnica da produção, vestiu-o e continuou andando. Seus olhos repousaram mais uma vez nas equipes de filmagem que acertavam os dispositivos de som, ajustavam as câmeras e não paravam de falar. Yelena não os culpava, na verdade. Eram as primeiras pessoas convidadas a pisar em Genosha, uma ilha antes deserta, hoje habitada por mutantes de todos os cantos do mundo. Ela se lembrava do lugar de beleza natural notável quando trouxe a câmara criogênica de Lensherr anos atrás, uma praia agradável e vegetação nativa, porém infectada por um laboratório abandonado. E agora… Bem, agora o lugar estava diferente.

O porto era grande, embora deserto. Chamavam de Porto Norte, o que a fez considerar a possibilidade alarmante de existirem outros portos na ilha, mas ela tinha outras questões urgentes para tratar, como encontrar logo a torre de comunicação armada para a mídia. Mesmo sem tempo para admirar a construção da primeira cidade logo a frente, há um punhado de metros para frente do porto e onde os jornalistas transitavam para filmar o melhor ângulo do Mestre do Magnetismo, Yelena mal acreditava no ritmo do crescimento da cidade. Por enquanto, existiam mais vigas do que casas ou prédios, mas praticamente os ossos das construções já estavam instalados. Tudo era feito de metal e tudo indicava que existiam mais maravilhas adiante, mas eles não poderiam admirar. Ouvira dizer que era material encontrado no mar, embora não tivesse certeza. Ouvira dizer também que chamaram aquela cidade de Idílio e Yelena sabia que o nome cabia bem. Em realidade, havia parte dela que desejava ficar para ouvir o discurso daquele homem. Ela também queria lhe contar que… Que havia tentado salvar Lorna Darne. Duvidava que ele a escutasse, porém. Era mais fácil ter metal atravessado em sua garganta do que Magneto ouvir suas desculpas.

O que a preocupava era o ritmo da preparação da mídia. Pareciam já dar os toques finais em telas de monitoramento de som e imagem, enquanto Yelena esperava que demorassem mais um pouco, ao menos até os navios chegarem. Ou eram rápidos ou estavam ali há tempos. A última alternativa não era boa, mas ela não tinha como erguer o punho e se comunicar de forma discreta com Rogers no meio de tanta gente.

E também havia outro detalhe: Suas emissárias estavam ali na frente, paradas e observando os humanos. Faziam uma barreira, por assim dizer, entre o que eles, os ordinários e comuns, podiam ver e o resto da cidade. Mística, Frost e Psylocke, todas vestidas de branco, em roupas de corte reto e tecido reforçado. A primeira permanecia em sua aparência original azul e escamosa, quieta e um tanto arrogante. Não, arrogante não era a palavra certa. Orgulhosa, assim como os panfletos e pichações que Yelena viu na Europa. Mutante e com orgulho. Frost exibia sua versão diamante, refratando a luz do pouco sol que chegava na ilha. Por conta da névoa invocada por Tempestade, a figura da mulher era ainda mais etérea, enquanto Psylocke tinha o ar mais hostil das três. A área ao redor de seus olhos se iluminava com a cor roxa, numa forma de borboleta, enquanto suas mãos também cintilavam nesse tom.

Por um segundo, Psylocke pareceu virar o rosto em sua direção. Seus olhos semicerrados, a testa franzida. Ela tinha poderes telepáticos, não? Se ao menos ela pudesse enxergar tudo o que Belova sabia, tudo o que Rogers, Romanova e os outros queriam fazer, ajudar… Mas ela tinha também a habilidade de conjurar espadas psionicas e talvez não fosse uma boa ideia fugir de seu papel. Yelena aumentou o volume do Pas de Deux em repetição em sua cabeça, inundando seus pensamentos de notas musicais enquanto aproximava-se do resto da equipe técnica de uma das emissoras, que mexiam nos cabos naquele instante. Perguntou coisas fúteis, mal ouviu a resposta. A mutante então desviou o rosto, desinteressada. Foi nesse momento que ela respirou mais aliviada, ainda que não pudesse vacilar. Esperava que o time Washington chegasse logo, e que Westchester e Bucareste destruíssem logo a carga.

— Oi. — Belova armou um sorriso fácil na boca, se dirigindo à uma mulher de pele olivácea e com um grande crachá no peito. Auxiliar da equipe de som, nome legível. Ela estava ajoelhada no piso de concreto um tanto desgastado, verificando as entradas de cabos com atenção, e a encarou apenas de esguelha. Havia um homem perto dela, que soltava comentários sobre o andamento das instalações. — Leila, certo?

— Sim. Charlie está me chamando ainda? Diga pra esperar.

— Ou melhor, diga para o desgraçado que não se prepara uma filmagem num lugar que mal tem energia em dois minutos. — O homem disse, um sotaque britânico quase estereotipado. Tinha meia idade e o rosto marcado pelo costume de torcer a face em expressões severas. — Afinal, o que ele quer?

Ela não fazia ideia de quem Charlie era, mas pelo tom irritado dos dois, Belova poderia usar isso ao seu favor. Relembrando das instruções dadas por Shuri, a espiã forjou uma expressão desorientada e doce:

— Ah, não… É que ele me pediu pra ir no painel central pra fazer alguns ajustes, mas… Eu não sei, ainda estou um pouco perdida. Sei fazer o meu trabalho, só que…

— É, eu sei como Charlie é. Você é novata, huh?

Belova confirmou, assentindo com um gesto tímido. Tinha a sorte de parecer mim pouco mais jovem do que de fato era, mesmo que estivesse estressada, exausta. Ainda assim, era tão fácil enganar as pessoas. Um rosto bonito, um pouco de teatro. Leila parou o que estava fazendo e ficou de pé, limpando as mãos na calças.

— Isso explica você ter esquecido o crachá.

— Oh, sim. Na verdade, eu vim de última hora. A pessoa em meu lugar ficou doente e eu era a última disponível pra vir. Acabei esquecendo o crachá em algum lugar.

O homem se virou para a Leila, visivelmente aborrecido.

— E desde quando um de nós liga pra crachá? É mera formalidade, funciona só quando precisamos de credenciais e quando nosso chefe enche o saco. E aqui… Bem, todos sabem quem somos. Crachás só vão servir para reconhecer nossos corpos se um desses mutantes decidir atacar.

— Eu estou quase pedindo pra um deles vir te meter a mão, Phil. Bem, novata… É muita sorte sua parar aqui. Vai ser a reportagem da década, então é melhor não vacilar. O que você precisa fazer no painel principal? Pensei que todo mundo tinha terminado lá há três horas.

Belova engoliu seco.

— Três horas?

— É, é. O tempo voa quando você se diverte. — O homem replicou com sarcasmo, abrindo uma garrafa d’água. Tomou um longo gole e aspirou ar depois, como se tivesse bebido algo alcoólico. Belova olhou o líquido incolor da garrafa de plástico com desconfiança. — Todo o equipamento despejado aqui, mais o que ficou nas docas da face oeste do porto, depois daquele morro maldito. Depois quero ser um dos primeiros a subir a bordo do navio quando voltar pra pegar a gente e levar pra Mumbai. Odiei meu lugar na cabine.

Ela manteve as mãos no bolso do sobretudo, ciente de que estava trêmula. O navio já tinha atracado, foi um deles que trouxe a mídia e o equipamento. O resto estava em alguma doca que ela não conhecia, e esse resto poderia ser algo perigoso. Sentinelas. A Máquina de Almas. Precisava falar com Natalia e com Rogers, mas a obrigação de se manter no papel a impeliu a soltar um riso falso.

— É, foi terrível. Fico um pouco enjoada no mar.

— Espero que você tenha que fazer só alguns ajustes, garota. É uma longa caminhada até aquele morro e eu tive que fazer uma dúzia de vezes por causa daquele maldito Charlie, pra ele ainda assim pedir pra você conferir. É muita canalhice.

— É. — Ela acompanhou a direção do olhar de Phil. O morro era ao oeste e, assim como Shuri mencionou, havia uma torre com antenas escondida entre as elevações do terreno e a vegetação coberta por névoa. — Acho que ele só quer me manter ocupada.

— Antes isso do que trazer café. — Leila cruzou os braços. — Nem mesmo Charlie tem a insanidade de ser tão baixo de fazer uma funcionária de secretária pessoal dele.

Yelena assentiu mais uma, encarando o chão e soltando um suspiro curto. Tal gesto poderia ser interpretado como mero cansaço ou desânimo, enquanto a verdade era ainda mais terrível. Aproveitando o disfarce de novata, ela lhes ofereceu um último olhar nervoso, prestes a sair o mais rápido que suas pernas conseguiam.

— Bem, eu vou indo.

— Se apresse. — Leila disse. — A estrela chega em minutos.

Ela sabia. E se Magneto estivesse lá e a Máquina fosse ativada… Tudo o que tinha tentado fazer por anos desmoronaria na frente de seus olhos. Yelena acenou, deu as costas à Leila e Phil, para caminhar a passos largos, e então correr. Ao menos Rogers, Natalia e Wilson chegariam em breve e talvez aquilo lhe desse mais esperanças.

 

Com gotas de suor nas têmporas e o sobretudo desalinhado pela corrida morro acima, Yelena parou um instante para olhar para trás. Assim como tinha visto antes, a névoa e as folhas das plantas encobriam a visão de quem tentava enxergar aquele ponto, de modo que a espiã se sentiu segura para se livrar do boné e do longo casaco. Estava com uma roupa justa e reforçada por baixo, não o suficiente para ser a prova de balas, mas quente o bastante para sentir mais do que os vinte graus Celsius do ambiente. Era incomum uma ilha abaixo do Equador com tal temperatura, de modo que ela suspeitava que houvesse algum mutante que mantinha o clima local agradável. Ou era devido aos poderes extensos de Tempestade ao invocar o espesso nevoeiro.

Ela seguiu a trilha de grossos cabos, desceu o morro do outro lado para chegar na face oeste do Porto, nas docas que Phil mencionou. De fato, não existia mais ninguém ali e subir aquele terreno íngreme foi uma tarefa penosa. Agora assistia a cena mórbida de um ambiente deserto com máquinas, a torre de comunicação e inúmeros contêineres azuis ao fundo. Não era um bom sinal.

Ela não olhou para trás, mesmo quando seus ouvidos captaram o som de uma aeronave chegando a distância. Natalia, Steve e Samuel. Tinham chegado, então, e a aparição dos três seria pública conforme o combinado. Isso significava que tinha que agir logo.

Se aproximou rápido. Todos os cabos do pátio, onde todos os jornalistas aguardavam Magneto com seus aparatos de filmagem, terminavam num imenso painel ligado à torre de comunicação. Encarou o tal painel de controle, buscando onde inserir o pendrive dado por Shuri. Tinha que inserir e ativar. Checou mais uma vez a superfície coberta por botões e fissuras, encontrou a entrada necessária do painel e esperou o sistema reconhecer o dispositivo após espetá-lo. Uma onda de alívio atravessou seu corpo ao ver que já estava em 40% de leitura, bastava confirmar a ativação depois de 100%.Colocou o braçadeira perto da boca, abrindo o canal de áudio para o time de Natalia e para Wakanda. Tinha que avisar que as peças de Sentinelas provavelmente já estavam na ilha, dentro daqueles contêineres, mas que estava prestes a terminar sua parte.

— Moscou para Washington. Moscou para Birnin Zana. Estou na parte final da -

A sua própria voz calou-se num grunhido engasgado ao mesmo tempo que seu corpo atingia o chão. Seus olhos arregalaram-se, alternando o olhar entre a braçadeira danificada e o sangue que vertia de seu ombro. Tomou um tiro, um tiro grosso que raspou seu comunicador e lhe fez um rombo na carne. Não tinha escutado nem o disparo. Talvez estivesse distraída demais, talvez fosse um silenciador.

Rangeu os dentes, sem nem conseguir xingar ao certo. Tentou pôr a boca perto do comunicador, quase sem sucesso.

— Moscou para Washington! Fui baleada, atirador não identificado! Moscou para…— Outro grunhido de dor, mas só o que escutava em resposta era o som de estática. Sua mente girou sem rumo. — Natalia, por favor, mande ajude!

Nada, nem uma única sílaba veio da outra linha. O comunicador havia sido danificado. Ela pressionava a ferida com a outra mão, tentou se levantar para ver a porcentagem na tela. 72%. E foi nesse movimento para checar a tela do painel que ela viu a figura de um homem se aproximando a passos lentos, um rifle apoiado de maneira folgada em seu ombro. A dor mal a permitia processar a identidade de seu algoz, mas à medida que ele ficava mais perto, Yelena pôde ver que não era um estranho. Viu aquele rosto na televisão, ao assistir notícias sobre Zurique e os Mata-Capas. Viu aquele rosto que tentou matá-la semanas atrás.

O Paladino. E ele trajava os símbolos da ONU em um antebraço, o dos Mata-Capas no outro.

— Ora, ora. Eu vim aqui por outros motivos, mas é bom matar dois coelhos numa cajadada só. E você bem parece um coelho assustado com esses olhos arregalados, não? — Ele riu, colocando a ponta do cano na lateral de sua cabeça, encarando-a. — Mas nós dois sabemos que você não é nenhum coelho indefeso. Lembro que te deram um nome, um não tão famoso quanto o da sua irmã de criação. Como era, mesmo? Viúva Branca? Cisne Branco?

— Eu sei que você quer me matar, eu só não entendo a razão porque ajudou Zola. Ajudou a roubar e transportar carga da Sable. — Sacudiu a cabeça. Tinha dito a Natalia e a James Barnes que o menor dos problemas era o ladrão de Sable. Sua desconfiança não foi tão longe para achar que aquele mercenário continuaria a prestar serviços para o cientista suíço e que num futuro muito próximo, estaria de cara com ele.— E sei que precisa me eliminar porque eu não aceitei o trabalho. Mas o que mais veio fazer aqui, se não sabia que eu vinha?

— O que você acha que eu sou, pra te contar tudo? Algum tipo de amador? Tá achando que isso aqui é ficção e eu vou ficar falando até essa droga dar 100% e você ativar essa merda qualquer? — Ele riu. — Olha, no começo eu não acreditava nesse papo de Zola, Máquina de Almas, etc. Mas sabe… Ele paga muito bem. E sinceramente? É legal aceitar um serviço interessante.

Yelena achou que ele falava demais para quem havia debochado de sua tentativa de fazê-lo discursar, mas não questionou muito o ocorrido. Contorceu seu corpo de modo que inclinasse mais para cima por um breve segundo, o suficiente para enxergar a tela. O processo estava completo, 100%. A direção de suas íris, porém, a traiu e Paladino notou suas intenções. A russa tentou chutá-lo, imobilizá-lo, mas tudo o que recebeu em troca foi um forte pontapé nas costelas. Ela perdeu o ar por cinco longos segundos. Depois que conseguiu respirar de volta, Paladino pressionou seu ombro atingido pelo tiro com a sola de sua bota.

— Pare com isso, coração. Sabe, dói ter que eliminar garotas bonitas como você. Mas é divertido te ver tentar salvar a própria pele.

— Quanto ele te pagou? — Ela conseguiu cuspir as palavras em meio ao sangue. — Quanto?

— Mais do que eu conseguiria gastar em três vidas inteiras. E é bem simples, na verdade. Não vim aqui por sua causa, docinho. Você só estava no lugar errado na hora errada. Arnim Zola vai fazer uma limpeza nessa ilha, mas ele vai começar por Erik Lensherr. Não se preocupe, vai doer só uma picadinha de nada. E o meu trabalho aqui é só apertar um botão.

A cura.

Ela tossiu de novo, quase engasgando. A cura. Primeiro seria a cura. Desejou que o resto da equipe tivesse encontrado o depósito das injeções, onde quer que o estivesse, para que as destruíssem antes que Paladino pudesse ativá-las.

— Menina esperta. O navio que carrega as seringas está perto, e é bem engenhoso. Parece até uma artilharia e vai pegar os alvos primários desse país pobre e sem futuro. Então, vamos acabar logo com isso?

Yelena tentou lutar contra o aperto, no entanto suas forças não superaram a mais um golpe de seu oponente. Ela permaneceu ali, sangrando e assistindo, enquanto Paladino tirava o pendrive de Shuri e o jogava no chão. O homem assoviava uma música qualquer enquanto digitava uma sequência na tela, e com um ritmo alegre, ele teclou enter.

— A ilha, depois o mundo. — Ele concluiu. — Eu na verdade não me importo. Tenho três vidas de grana pra gastar depois desse trabalho.

— Pessoas vão morrer. Inocentes.

— E você não matava gente? Por favor, menos. Eu vim aqui apertar um botão. Isso não é matar. — Paladino a encarou. — Matar é algo que farei em breve.

Ela olhou para cima, para os flashes de luz verde que cruzaram os céus. Não eram nítidos devido a distância e devido ao nevoeiro, mas lá estava a prova de que ela tinha falhado. Quanto tempo para ouvir os gritos? Quanto tempo até os Sentinelas despertarem? O ferimento esfriava e lhe dava mais dores. Manter os olhos abertos era difícil, embora não pudesse deixar de observar a terrível cor esmeralda na névoa.

— Eu não queria você assistisse. Sabe, nem eu sou tão sádico. Adeus, Cisne Branco.

O cano do rifle estava em seu rosto e Yelena não fechou os olhos. Sempre achou que assistiria a mão da morte pegá-la com as pálpebras bem abertas. Seria uma bala grossa a atravessar seu crânio, seu cérebro, para calar para sempre os seus fantasmas e Tchaikovsky em sua cabeça. Pensou na sua vida miserável, pensou em James Barnes e pensou em Natalia. Em um segundo, veio o som abafado e absoluto do disparo.

E então, silêncio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska!

* Yelena chama a Natasha de "Natalia" porque esse é tecnicamente o nome dela, embora a nossa espiã ruiva tenha mudado ao longo dos anos.

*Pesquisar funcionamento de navios cargueiros é meio chato, pra falar a verdade. Eles são interessantes, mas buscar as informações sobre eles é bem infrutífero e pouco visual pra me ajudar numa descrição legal. Parte do que vemos aqui foi pesquisado, parte foi inventado. O que encontrei foi em links do youtube, wikipedia e... Minha avó. Ela trabalhou num porto e sabe das coisas. Bom, ao menos até os anos 80 hahah

*Quando querem que eu poste o próximo?