Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 79
Citrinitas


Notas iniciais do capítulo

21/02/2019
Boa tarde, gente! Voltei com um novo capítulo ♥ Minha tendinite tem atacado bastante, então não escrevi com a frequencia que eu queria - e isso vocês devem ter percebido pelo tamanho dos capítulos, que estão menores do que o de costume. De qualquer modo, eu agradeço muito os acompanhamentos e faço um convite a conversarem comigo pelos comentários. O que a Shal pode melhorar?
Muito obrigada a todos que leem, vocês são muito importantes para essa fic!



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 C i t r i n i t a s

 

O amarelo foi uma surpresa para Wanda. Não subestimava a cor e até mesmo apreciava sua alegria, porém não era algo que escolhia vestir com facilidade - embora agora tenha sido um requisito temporário de sua mestra Agatha desde o dia que purificou o frasco e seus pensamentos. Dissera que a etapa de maturação de ideias e a prática do que é correto, onde o equilíbrio do branco começava a se tingir por algo mais do que apenas conhecimento, mais que até mesmo intuição. Era uma voz que se traduzia em todo o seu corpo e ela podia sentir tal luz, que estranhamente vinha de si. Viu que cada vez menos perguntava as coisas para sua mestra, mesmo quando as janelas da loja se tingiam de um novo cenário indicando que precisava atender um cliente sozinha. Não hesitava mais em feitiços, em desafios, nem mesmo na interpretação em métodos divinatórios. E também agora tinha tais etapas da Alquimia repassadas ao seu grimório, o que lhe deu meios para traçar paralelos com seu próprio desenvolvimento.

Ela sabia quem ela era, ou melhor, a pessoa que se tornava - ainda que não houvessem palavras exatas e não houvesse nem mesmo a necessidade de concreta definição. Talvez fosse, enfim, esse o espaço que permitia tudo florescer.

Tinha que admitir que ficou melhor do que imaginava com a blusa de tom mostarda e achou que era sinal auspicioso para aquela manhã, pois havia tirado O Julgamento no tarot, combinado com O Sol. A primeira carta simbolizava consequências e novos ciclos, mas a Feiticeira sentiu um tom mais positivo do que quando tirou A Torre, ainda mais porque O Sol lhe dava todo o brilho dourado de sucesso e proteção. Aquele era bom dia para qualquer que fosse sua tarefa, um dia ideal para enfrentar o labirinto. Agatha concordava. Estava já na fase amarela, agora necessitava de um marco para finalizá-la.

E por isso ela estava do lado de fora da casa, fazendo um belo alongamento antes de entrar no bosque. Ebony deitou-se ali perto, curioso. Depois se aproximou para mexer na bolsa que ela trouxera consigo, a mesma mochila surrada que lhe acompanhara em suas viagens.

— Você parece uma margarida. — Ele lhe disse. — Ou então uma abelha, tipo uma dessas do jardim.

— Lamento em quebrar seu momento de estilista, gatinho. — Wanda tirou um objeto da mochila com suas duas mãos, pegando-o com delicadeza. Era a tiara de metal feita por Erik Lensherr, seu pai, e ela encarou tal presente por um tempo antes de vesti-lo. — Não sei se o vermelho combina muito com o amarelo.

— Não me preocuparia muito com isso. — Agatha veio da varanda, seus braços cruzados. — Voltará a usar a cor rubra em breve.

— Isso é bom. — Ela deu um sorriso tímido à mestra. — Sinto falta.

Houve um instante de silêncio, ouviu somente vento carregando as folhas e flores. Ventava muito naquele dia ensolarado e abelhas zuniam ocasionalmente entre a vegetação, assim como Ebony havia dito. A Feiticeira gostava delas, assim como das libélulas, principalmente as azuis que brincavam nos campos de Sokovia. 

— Wanda. — A bruxa a chamou. — Não será a mesma coisa do outro dia. Nunca. Não posso lhe dizer o que vai encontrar no labirinto agora, mas você terá que usar seus conhecimentos e sua intuição para sair dele. Não terá nenhum problema se tiver que voltar.

— Vou voltar, mas dessa vez trarei o artefato comigo. Não estou esperando que não doa, eu só… Bem, você sabe.

— Eu sei. Será maior que isso.

O gato deu um pulo, concordando:

— É, infinita!

— Você é uma boa feiticeira, Wanda. — Agatha sorriu. — E uma excelente pessoa.

Ela engoliu seco.

— Obrigada.

— E eu, o que sou, Agatha?

— Você é um pobre gato chocólatra.

Riram, mas Wanda aproveitou para pegar o felino no colo e quase acessá-lo de tanto carinho. Soltou-o depois de muita reclamação.

— Você é mais que um gato, Ebony.

Boba. — Mostrou-lhe a língua, uma expressão mais tola que sua ofensa leve. — Agora vá lá e retorne logo.

— Depois disso… Irá caminhar para a cor escarlate novo. Estará pronta pra algumas visitas na Travessia da Bruxa, depois Wundagore. Talvez lá seja um novo marco. O fim. E um novo começo.

— É. — Sorriu. — Acredito que sim. Nunca termina, huh?

— Não, nunca. Solve et coagula ad infinitum.

Ela ofereceu um aceno e adentrou o bosque.

 *

De fato, estava diferente da última vez. As armadilhas eram outras, assim como as criaturas que se escondiam nas sombras. De qualquer modo, Wanda continuava a caminhar entre os corredores de árvores e as luzes que desciam das copas, sentindo nas próprias entranhas o rumo que deveria seguir. Às vezes, perambular pela mente das pessoas também era como andar num labirinto e Wanda costumava se considerar uma andarilha experiente, cautelosa. Até que veio a mente torturada de James Barnes. Era difícil, o labirinto não sairia dali jamais. E frequentemente a fazia lembrar que não se tratava de retornar ao ponto inicial, mas sim encontrar caminhos seguros. Seguir adiante.

A tiara que envolvia seu rosto também lhe ajudava a pensar, a focar seus feitiços de proteção e outros de ataque. Abria portais em becos sem saída para enxergar o outro lado, depois voltava. Seus olhos faiscavam, sua pele estava toda arrepiada ao sentir o vento soprar. Quanto mais perto ficava, as árvores gradativamente ficavam para trás, cedendo espaço para muros de cristais cinzentos e nevoeiro. Um verdadeiro jogo de espelhos e fumaça.

Chegou ao centro do labirinto, no seu objetivo. O local era construído com pedras brancas e seus breves degraus em círculo conduziam a um pedestal onde estava o pequeno baú, ou melhor, onde deveria estar o baú que pegara antes. Agora, no lugar dele havia um…

— Um ovo?

Wanda aproximou-se, observando-o bem antes de tocá-lo. Sua casca era brilhante feito opalina e refletia bem a luz do sol, lembrava até um ovo de uma espécie de animal descrita nos livros de Agatha. A Feiticeira deu de ombros e pegou o item com verdadeira delicadeza. Ovos eram frágeis e aquele não parecia ser diferente. O problema é que os desafios pareciam ainda maiores no retorno e ela não queria correr o risco de quebrá-lo. Com certeza, mísseis seriam uma complicação e tanta. Pegou o corredor esquerdo, depois andou quinze metros reto.

Não demorou muito para que o labirinto reagisse, talvez até mais rápido que na vez anterior. Wanda não teve que andar metros e metros para que sua provação viesse ao seu encontro, só não esperava que se aproximasse de um jeito muito mais suave do que bombas caindo do céu. De um jeito, no entanto, mais vil. Escutou a risada de Pietro. Teve a certeza de ouvir a voz de seus pais, independente de não serem ao certo seus pais de verdade. Django e Marya Maximoff, que lhe amaram tanto. Pareciam até que conversavam como faziam na cozinha, ela ainda uma menina. Wanda engoliu seco, segurando o ovo e sentindo-se pequena. Tentou ignorar, mas ela podia praticamente ver as silhuetas de todos eles ao fundo daquela direção coberta de névoa. Chamando-a. Para onde quer que olhasse no caminho de volta, enxergava suas figuras convidando-a para se juntar a eles.

E ela desejava realizar tal pedido.

Deu até mesmo um passo para frente, mas logo parou. O peso do ovo era tão pouco nas suas mãos, embora sentisse seus ombros tremendo. Ela encarou o labirinto pavimentado de reflexos e cores refratadas, ilusões que cobriam todo o caminho de volta. Na superfície de um desses muros de cristais, pôde ver sua própria imagem. Wanda levou um breve susto, achando que enxergava algo mais, mas era apenas ela mesma. Mal reconheceu a si própria, vendo depois que estava num corredor com diversas saídas para direções diferentes, cada um com cristais refletindo infinitamente o seu corpo assustado. Chegou perto de um deles, tocando a superfície lisa e dura da pedra. A Wanda que repetiu seus movimentos na imagem tinha olheiras fundas, a aura inteira fulgurante de ódio e vingança seca, esgotada. Podia até sentir o calor que vinha de seu coração e divagou como não se queimava, até perceber que sim. Aquela Wanda sentia o calor. Ardia.

A Feiticeira afastou-se, observando as variações dos reflexos sucessivos. Nenhum deles era uma cópia exata do que ela era agora. Talvez do que tinha sido. De quem voltaria a ser se fizesse aquele caminho. Lembrava-se bem da dor e não era mais essa pessoa. Deu mais um passo para trás. Não iria retornar, iria para a frente mesmo sem saber exatamente o que encontraria a seguir. Ela já tinha sepultado os mortos e o que precisava morrer, levava as lembranças em seu coração. Agora precisava lidar com os vivos e com ela mesma.

Doeu dar as costas para a voz falsa do seu irmão, de sua mãe e de seu pai, no entanto foi o que fez. O vento conduziu-a para fora do labirinto, soprando a névoa e as folhas do chão que surgiram quando o bosque reapareceu. Wanda protegia o ovo com as duas mãos, sentindo de novo o calor do sol que surgia de novo entre as copas das árvores. Os corredores se desfizeram, o mato não formava mais paredes ou muros de espinhos, tampouco era algo composto de pedras ou névoa.

Em seu último passo, estava de volta para o jardim a frente da casa de Agatha Harkness e, desta vez, não chorava.

*

Os três se sentaram na sala para discutir um pouco mais do que a Feiticeira viu no labirinto, pois tal coisa era um mistério até mesmo para sua mestra. Traçaram paralelos com as cartas de tarot enquanto comiam doces e tomavam chá, o ovo apoiado na mesa de centro e enquanto o sol a tarde adquiria tons alaranjados. Falaram sobre afinal irem para Wundagore, sobre a cor vermelha e a tiara que Wanda usava, que também estava ali na mesa. Até que ela enfim tocou no assunto do ovo.

— E esse item? Da primeira vez que fui, era um baú pequeno, cabia na palma da minha mão.

— Oh. — Agatha exclamou um tanto distraída, tirando o açúcar dos doces das pontas dos dedos. Esticou-se para pegá-lo. — Delicado, não?

— O que significa?

— Você sabe o que um ovo significa.

Wanda pensou um pouco sobre isso, já Ebony optou por debochar do assunto:

— Café da manhã?

A bruxa mestra jogou uma almofada do lado do bichano com seus poderes telepáticos, em tom de falsa ameaça. No fundo, ria igual o bichano do outro lado.

— Vida em potencial?

— Sim, menina. E outros significados. Mas, apesar de todas as coisas que não sei do labirinto e como ele se apresentou para você, sei bem de uma coisa: deixei um objeto para a senhorita recuperar. E não era um ovo, nem um baú.

— E o que era então?

Os olhos dela se arregalaram ao ver a bruxa pegar o ovo e quebrá-lo contra a superfície de madeira da mesa. Wanda levantou-se por instinto, chocada.

— Agatha!

— Eu sei o que estou fazendo. Olhe só:

O ovo se desfez em fragmentos de sua casca brilhante em sua mão esquerda, mas não havia gosma de sua clara, nem da gema. Dali, Agatha tirou uma chave diminuta e elegante e a ergueu ao nível dos olhos da aprendiz, que voltou a se sentar. Wanda estava embasbacada.

— Era isso o que eu queria te dar quando estivesse pronta.

— Uma chave? Uma chave para abrir o que?

— Ora, essa! — Ela riu. — A porta da frente.

Silêncio.

— Agatha, eu…

— Nunca esteve presa aqui, querida. Mas… Eu queria oficializar isso. Sua permissão de entrada e saída, quando bem entender. Será sempre bem-vinda.

Ela sentiu lágrimas alcançarem a beirada de seus olhos. Saiu da poltrona em que estava e correu para a velha, abraçando forte seu corpo magro que cheirava sempre a lavanda.

— Obrigada, Agatha. — Murmurou, sua voz abafada pelo tecido roxo da roupa. — Por tudo.

— Menina. Veja, não há necessidade disso. Pense nos conceitos que aprendeu aqui, principalmente de poções. Fui mera catalisadora do que já estava em evolução.

Wanda enxugou as lágrimas e apoiou-se no estofado.

— Você permitiu que eu fosse quem sou. Meio teimosa e um tanto impulsiva, mas… Você me ajudou.

— Não sou a primeira pessoa a fazer isso.

A bruxa disse, o que fez a jovem sokoviana lembrar-se imediatamente de seus amigos, de seu amante. Ela riu consigo, e talvez Agatha estivesse certa. Não foi algo que aconteceu nos limites daquela casa, apenas no momento em que estivera ali. Wanda estava num processo há muito tempo. E conseguia afinal seguir de forma mais clara, nítida, para frente.

— E pense comigo… — Ela continuou. — Eu permiti que você fosse quem deseja ser, ou foi você mesma?

A Feiticeira sabia a resposta. Sacudiu a cabeça de leve, perguntando outra coisa:

— E qual é a parte da bruxaria em que aprendo essa retórica impactante?

— Ah, isso sim é um segredo.

As duas riram. Agatha, antes de entregar o presente para sua aprendiz, invocou uma fina corrente e fez a chave virar um belo e discreto colar. Por fim, auxiliou-a colocar no pescoço.

— Temos mais alguns trabalhos, minha cara. Preparação para Wundagore. Então não suma, se possível.

— É claro que não. Estamos tão perto.

— Eu sei. E isso pode ser assustador. — Uma pausa. — Vá descansar. Tem muito o que pensar depois de hoje e assumo que esteja cansada.

— Eu estou. Mas estou mais ansiosa para… Acabar com os mistérios.

— Durma, querida. Quem sabe não tem um sonho interessante sobre isso?

Antes de subir as escadarias para seu quarto, Wanda pegou as cascas do ovo que recuperara no labirinto. Pretendia dormir e se possível ter algum sonho premonitório sobre seu futuro, mas antes tinha outros planos para pôr em prática antes do sol se pôr.

E ela ia de novo atravessar o lago.

*

— Você sempre está fazendo algo interessante, Wanda.

O gato disse, sentado ao seu lado dentro do círculo mágico. Estavam ao ar livre, no gramado plano que se encontrava atravessando o lago. O fim do dia era sereno assim como todos os anteriores, apenas a brisa batia mais forte e a Feiticeira sorria ao escutar os distantes uivos do vento. Ela ajoelhou-se no chão com cautela, seus olhos brilhando.

— Agatha falou que as coisas que enterramos costumam brotar. Então estou cuidando para o que cresça aqui seja bom. E que cresça bem.

— Parece algo sábio.

Wanda soltou um suspiro. Era estranho ouvir um elogio sobre sua sabedoria, até mesmo quase desconfortável… Mas queria se acostumar com isso. Ser sábia. Sem se alongar em tais pensamentos, ela pegou as cascas do ovo que recolheu do labirinto e salpicou-as acima do local onde enterrara suas lágrimas. Os fragmentos pareciam reluzir o sol do ocaso como escamas, e ela soube então que seria uma forma potente de adubo. Já tinha lido o suficiente sobre plantas na biblioteca, pois isso fazia parte de sua estudos, e como nutri-las. Cascas de ovos eram excelentes, cascas de ovos mágicos mais ainda.

— Para sair do labirinto, eu… Eu tive que deixar para trás quem eu era. Apesar de ser um caminho familiar, sabia que iria me trazer dor. — Engoliu seco. — Não sou mais a mesma pessoa e por isso segui adiante.

— E o ovo?

— Bom, o ovo… Acho que o ovo poderia representar isso. Se a tal fase amarela que Agatha disse é sobre à prática do correto, sobre amadurecimento… Por que não o que nutrir também o que plantei? Não é como se eu estivesse cultivando minhas lágrimas, não é isso… Embora eu também não saiba o que vai germinar aqui. Nem o que vai acontecer comigo.

— Um feitiço experimental?

— É, pode se dizer que sim.

— Hum. — O gato assentiu, piscando seus olhos para os últimos raios de sol. — Sinto que, o que quer que cresça, irá desabrochar junto com você, Wanda. E que isso não vai demorar.

— É. Eu espero que não.

Wanda cruzou suas pernas no solo, encarando o ponto na terra e o sol que se deitava no horizonte. Seus cabelos balançavam com a brisa, suas idéias iam e voltavam com o vento. Ela fechou os olhos e assim ficou até que a noite trouxesse as estrelas, até que pudesse ver a constelação de Órion.

Antes de dormir naquela noite, já em seu quarto, Wanda pegou seus pequenos tesouros. Abriu o livro roxo, seu grimório, na página onde guardava o ramalhete de flores secas que Bucky havia lhe dado. Lia também o livro que ganhou de aniversário, Chapeuzinho Vermelho. Naquela versão, assim como ele havia dito, o Lobo não era mau. Era apenas um animal tão perdido quanto a menina naquele imenso bosque, perseguido por caçadores. Ela passou as pontas dos dedos delicadamente pela ilustração do canídeo de pelo cinzento, bem como apreciou a capa vermelha da menina. O conto era sobre amizade, sobre entendimento. Wanda o compreendeu bem, com lágrimas no rosto. Pensava no azul e na escuridão com saudades. Na história, o lobo chorou quando a menina chegou na casa da avó e depois todos eles riram quando foram seguir viagem.

A Feiticeira Escarlate tinha esperanças que seu destino fosse tão doce quanto aquele livro infantil.

*

 O dia na loja passava devagar. Agatha atendeu um homem indeciso sobre poções e que precisava urgentemente rever que tipo de feitiço afinal queria, enquanto Wanda teve que lançar mão de sua leitura de mentes para ajudar uma idosa que pensava ter perdido um amuleto de família.

Estava no bolso esquerdo dela.

Mas, apesar da lentidão do expediente, foi ao mesmo tempo uma tarde proveitosa para a Feiticeira Escarlate voltar a ler auras e praticar também a leitura de objetos, vendo flashes de sua história. O amuleto da cliente, portanto, foi uma ótima oportunidade para treinar e descobrir coisas curiosas.

Como por exemplo o fato que aquela pulseira de pedras verdes era simplesmente uma proteção para a horta da casa dela. Ao tocá-lo, Wanda viu que a bijuteria não era exatamente antiga, mas que vinha de uma certa rixa que a idosa tinha com uma vizinha. Desde que fizera aquela pulseira e o abençoara com uma oração, os cachorros dela não vinham mais bagunçar a sua horta de repolhos. Wanda recomendou docemente que ela prestasse mais atenção onde punha a pulseira quando fosse trocar de roupa.

Enfim chegava perto do fim da tarde e Agatha conferia o restante das mercadorias nas prateleiras enquanto Wanda permanecia no balcão, estudando. A bruxa planejava ir para Wundagore mais para frente, disse que meditava um jeito mais inteligente de ir até lá - e se possível numa lua favorável. A feiticeira concordava, embora acreditasse também que a montanha feria todos os conhecimentos que tinham. Ninguém sabia exatamente o que acontecia na Montanha Wundagore.

Naquele instante, ela continuava a repassar os conceitos de alquimia para seu próprio grimório, anotando as fases e as correspondências mágicas de todo o conceito que a bruxa vinha trabalhando até então, de Nigredo à Rubedo. A mestra dissera que queria terminar a última fase com Wanda antes que ela anotasse tudo, pois não desejava que a sua prática fosse manchada pela teoria do que teria que acontecer em cada etapa. Na realidade, a feiticeira não se incomodou. Se estava logo indo para a fase vermelha, seria melhor então que se preparasse para o que viria no futuro. Algo dizia a ela que o marco de sua última fase seria, na verdade, em Wundagore.

Afinal, já vestia tonalidades cada vez mais perto da cor escarlate. Naquele dia, usava uma blusa rosa com uma frase inspiradora, talvez de humor um pouco adolescente:

Strong as Hell

Wanda esticou-se na cadeira, querendo ter desenhado mais com Steve, pois assim teria mais habilidade em ilustrar seu próprio grimório. Ao menos podia se orgulhar de sua letra, que era média e delicada.  

— Agatha… — Ela chamou de forma distraída, rabiscando no canto da folha. — Quando isso acabar, quando eu… Eu tiver o marco da última fase, Rubedo. É o fim? Ou é como você sempre diz? Solve et coagula ad infinitum?

Ora… Nosso evolução é sempre uma espiral, digamos assim. — Ela girou o dedo indicador, virando-se para a aprendiz no balcão. — Não para, mas não quer dizer que você vai recomeçar do mesmo ponto. Basta que siga um ritmo ascendente.

— Hm…

Wanda voltou seus olhos para o papel, a mão esquerda brincando com o pingente de chave em seu pescoço enquanto a mão direita rabiscava seu próprio nome. Ela em seguida desenhou um coração gordo, até que um certo gato preto pulou em cima de seu grimório e a impediu de terminar o rabisco.

— Ebony… Eu já troquei sua água. O que quer agora?

— Eu trago boas novas, bruxa boba. Melhor que entregas do corvo-correio.

— E o que seria, gatinho?

— Notícias de James Barnes.

— O… o que?

Um frio na barriga assolou-a por inteiro. Ebony não tinha falado nada dele durante todos esses dias. Por que falaria agora? Teria acontecido algo?

— Acalme-se. Só preciso dizer que ele virá a Bucareste e… Bem, ele sente sua falta assim como você sente a dele.

— Como sabe disso?

O gato riu.

— Como sei? Wanda, seus suspiros são bem frequentes e bem claros, na minha humilde opinião felina. E olhe só esse grimório! — Ele bateu na folha com a ponta da cauda. — Você já escreveu “Wanda+James” uma dúzia de vezes com corações ao redor só nessa página!

Ela fechou o grimório com um estrondo.

— Conte como sabe que ele sente minha falta, seu tonto. E também como sabe que irá para Bucareste.

— Oh. Bom, eu ando por muitos lugares, vejo muitas coisas… — Disse, ainda sem explicar muita coisa. — De vez em quando eu topo com o soldado lendo o livro que deu a ele. Está no final, já. E me atrevo dizer que tem gostado do enredo.

— Ele está bem?

— Sim, sim. — O coração dela se derreteu com a resposta. — Ele foi para Outer Heaven e tem feito parte das missões de Steve Rogers. Vai encontrar um informante em Bucareste e deve aparecer lá em poucas horas.

Ela engoliu seco, cruzou um olhar com Agatha. A mestra, por sua vez, apenas balançou a cabeça com um sorriso.

— Vá, menina. Eu já não disse que é livre pra ir e voltar?

Wanda fechou o grimório e saiu do balcão com rapidez, dizendo à Agatha o quanto ela era incrível.


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Notas finais do capítulo

* Citrinitas = a terceira fase da Alquimia. Ela não é citada por Jung, mas outros consideram uma etapa importante para o desenvolvimento pessoal. Apesar de características como "envelhecimento", tornar o alvo de Albedo em amarelo de Citrinitas, enxofre e etc, essa fase também é marcada por maturação de ideias e a prática do que é entendido na fase anterior. Apesar de curta e considerada intermediária, é a preparação para a seguinte: Rubedo. É o despertar, a transformação de metal em ouro. Na jornada pessoal de Wanda, é confirmação de seguir em frente, pensar nela de forma mais saudável e também considerar os outros. Outra correspondência de Citrinitas é o elemento ar, citado bastante no labirinto.

*WANDA USOU A TIARA DE NOVO! Me perdoem, mas amooo essa tiara.

*Corre, Feiticeira. Vá encontrar o nosso boy magia favorito.

*Esqueci de dizer, mas eu resgatei um gato preto adolescente perto de onde trabalho. É claro que eu queria chamá-lo de Ebony, mas houve muita discussão aqui em casa, então ficou Salém. Agora só falta um Bucky Barnes em minha vida.

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska