Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 74
LXXIV


Notas iniciais do capítulo

24/01/2019
Pode parecer que não, mas venho escrevendo bastante no decorrer desse mês. Apenas quis chegar até uma determinada parte para ir postando com mais frequência! De qualquer modo, peço desculpas pela demora, pela preocupação, e agradeço muito as mensagens por wpp hahah Vocês são uns amores! Fica aqui também um agradecimento especial pelos comentários da Bia, da Cat, Nath, srawinterwitch (que betou o rascunho desse capítulo!), Switchblade e da Maldini. Se esqueci alguém, favor venha me dar um tapão por MP hhahaha

PS: Também tenho perfil no AminoMarvel. É só procurar a Shalashaska!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697672/chapter/74

O combate seguiu-se num ritmo acelerado, mas não era porque Wanda estava ganhando.

Já havia cortes finos de estilhaços em seu rosto e ela tinha certeza que alguns pontos em seu corpo ficariam roxos no dia seguinte. A questão é que o Sentinela era esperto e se desmontava em um momento para então montar-se sozinho no instante seguinte, evitando danos maiores à sua carapaça. Wanda era obrigada a desviar, se jogar no chão e quase rolar para se manter viva - e estas eram tarefas ruins a se fazer vestindo uma saia, ainda mais com estilhaços no piso.

A única parte que se mantinha no robô - mesmo quando se desmontava - era seu tórax, uma peça com um círculo brilhante e amarelo e que soltava rajadas. Lembrava a luz vinda do único olho dos trípodes de Zola, em Zurique. Wanda também notou que havia algo mais na tática ambígua da máquina, pois não parecia exatamente desejar matá-los. É claro que seus ataques eram implacáveis, doloridos, mas não chegavam a ser letais. Talvez quisesse cansá-los. Ela sabia que, independente do objetivo do estranho Sentinela, não acabaria bem para eles. De acordo com Steve, já existiam muitas pessoas desaparecidas e ela não queria ser mais uma. Se fosse um robô projetado realmente por Zola, seu destino poderia ser um ainda pior.

Pela rapidez em que tudo se desenrolava, ela se encontrou sem tempo para uma estratégia melhor, para feitiços mais potentes. A vez que tentou transformar um dos braços dele numa torradeira quase lhe custou a perna, pois outra parte do robô - um braço - se desconectou da base central e a arrastou pelo tornozelo contra o bebedouro. Tacar fogo no local era insensato. A ideia era esmaga-lo, mas não estava dando muito certo.

Portanto, tudo o que ela fazia naquele exato instante era erguer um escudo vermelho para se proteger e para evitar que a máquina avançasse sobre eles. Isso permitiu que Bucky se afastasse para resgatar a garota ao mesmo tempo em que Remy lhe dava cobertura.

O soldado estava se saindo bem, apesar de não ter muitos recursos ou poderes. Ebony conseguiu apenas uma pistola para ele, alegando que não era especialista em armas de fogo - como seu colega Âmbar - e sim em transfiguração. O punhal que James Barnes sempre levava consigo se transformou uma glock simples e efetiva, porém com apenas um cartucho de munição. Ele atirou no centro do tórax da máquina ao se deslocar para o fundo da estação, arranhando de raspão o vidro da fonte de luz amarela. Wanda começou a sentir suor escorrer pela testa para manter o robô fixo na mesma posição. Naquele estado, ela não foi capaz de perceber onde estava o gato.

Bucky evitou que um pedaço do teto esmagasse a mulher encolhida próxima à máquinas de refrigerante. Com o impacto que absorveu no braço metálico,  reverteu tal energia quando o teto desmoronou parcialmente - o que arrancou um grito da desconhecida. A estação em que estavam era pequena e dava sinais de que não aguentaria o combate por mais tempo, sem falar que a saída pelas escadarias à direita havia sido bloqueada quase em sua totalidade - e sobrara somente uma pequena abertura que permitia a passagem de uma pessoa. O robô, por sua vez, não dava sinais que iria parar tão cedo. A Feiticeira sentiu que era hora de tentar algo diferente.

A cor escarlate nas mãos de Wanda Maximoff se intensificou, seus olhos iluminaram-se de forma contínua. Fez um gesto de garras com seus dedos e fincou a energia rubra no tórax do robô. Os joelhos dela tremiam pela força que conjurava e pela lembrança do dia em que tirou o coração de Ultron de seu corpo. Ouviu metal ranger e o vidro trincar. A carapaça dele estava cedendo. E então, quando Remy LeBeau lançou o restante de suas cartas explosivas em direção ao Sentinela, dois braços da máquina se soltaram com um estalo.

— Remy! — Os olhos da Feiticeira se arregalaram ao ver o mutante ser arremessado contra a parede, um dos braços do robô segurando-o forte pela garganta. As cartas que Gambit jogara se foram sem rumo pela estação do metrô. Wanda observou um às de espadas pairar ritmo desacelerado no ar e, em antecipação, ela ergueu a mão direita para proteger seus amigos com magia. Pequenas explosões levantaram pó, cinzas e fogo logo em seguida.

Quando a poeira baixou, ela foi apenas capaz de ver o braço esquerdo do Sentinela agarrar seu pulso, pressionando a pulseira de contas contra sua pele. Bucky gritou seu nome e, em algum lugar atrás de si, Remy grunhia.

Wanda soltou um gemido e tentou se libertar, amaldiçoando-se por ter enfraquecido a própria guarda quando a explosão ocorreu. Tola, tinha se distraído! Seu trauma com uma bomba aos dez anos de idade não deveria ter posto James e a desconhecida em perigo. Ela era uma Vingadora agora, uma menina crescida. Suas íris e escleras faiscaram rubras, sua mão oposta invocou magia para se livrar do aperto. Não havia tempo para pensar em como a tecnologia do braço mecânico era tão forte ou como suas peças iam e vinham do corpo sem danos.

Então notou que Remy tinha parado de fazer qualquer som.

Enquanto se debatia, Wanda virou seu torso para ver seu amigo no chão, o pescoço marcado e vermelho. Completamente desacordado. A Feiticeira chamou seu nome sem receber uma única resposta e a mulher desconhecida repetia seus gritos em vão. Bucky a segurava para que não se colocasse em perigo e logo Wanda não teve como conferir o que acontecia com ela, pois o braço que sufocara Gambit se retirou do pescoço dele e voou até a Feiticeira, agarrando seu membro livre. Foi imobilizada pela direita e pela esquerda. Em conjunto, as mãos mecânicas que tanto apertavam sua carne fizeram um esforço ainda maior e a levaram ao chão - Wanda caiu de joelhos em frente ao Sentinela.

Estava rendida, seus gestos e magia limitados. O robô sem braços aproximou-se com passos calmos até Wanda, a luz amarela de seu tórax mudando para vermelho sangue. Ele não disse nada, apenas a encarou com seu rosto sem expressão, sua constituição física artificial e sem aura. Não havia ódio, nem compaixão naquela criatura; havia um objetivo a ser cumprido e algo dizia a ela que estava prestes a concluí-lo. O estranho, porém, era ter a sensação que robô apreciava o suspense do momento, a lentidão com que se movia agora que Remy estava desacordado e Wanda submissa. Um desgraçado sádico.

Houve um clique, um som metálico, e um compartimento dentro dele se abriu com uma luz esverdeada. Suor escorreu das têmporas da Feiticeira Escarlate, suas pupilas estavam dilatadas. As balas da glock de Bucky sequer fizeram efeito e, pelo o que ela se recordava, havia pouca munição. Os disparos feitos agora só serviram para atrasá-lo.

Tentou mover as mãos e atacar com energia escarlate, o que foi inútil. Os braços mecânicos a apertaram contra os azulejos do piso mais ainda, arrancando um grunhido de si e despertando de novo a atenção do Sentinela. Era difícil raciocinar com dor e com medo, mas… Ela se recordou da abertura entre os escombros, a saída pelas escadarias do metrô.

James! Sai daqui! A abertura! — Sua frase saiu inacabada, uma súplica.

— Não sem você!

— Por favor! — Ela quase chorou, encarando diretamente o tronco da máquina, cada vez mais perto. — Vá!

— Wanda! — O miado esganiçado de Ebony também pôde ser ouvido à distância.

Naquele compartimento no peito do robô, a feiticeira viu um brilho de algo que, apesar não ser vivo, possuía uma aura podre. Não queria que Bucky se aproximasse, desejava somente que ele fosse embora independente do que ocorresse à ela. Poderia morrer, poderia sofrer algo pior. Não fazia ideia do que exatamente o Sentinela faria e a incerteza mexia com sua imaginação. O que não suportaria era saber que aquele dia maravilhoso e de completa, insana e absoluta felicidade tinha sido arrancado dela pela morte de James Barnes. Ela não conseguiria aguentar se algo acontecesse com ele.

O Soldado, no entanto, deu um passo para a frente. Seu torso cobria a desconhecida para protegê-la e seu braço metálico estava erguido para frente, numa posição inteira defensiva. Ele não iria cair se lutar, mas a questão é que Wanda não queria que ele caísse. Queria que vivesse a vida segura e alegre que ele merecia, que pudesse visitar Coney Island quando quisesse. O robô tinha outra programação em seus circuitos internos. Virou-se para Bucky, a luz vermelha do círculo em seu tórax inumano se tornando mais intensa. Estava carregando um tiro.

— Por favor, James!

Não houve resposta. O laser foi disparado.

 A cor vermelha e o grito de Wanda tomaram conta de todo o ambiente. Entretanto, nada atingiu Bucky ou a mutante atrás dele. Névoa escarlate tocava o ar com sua textura característica e seu brilho místico, mesmo que os gestos da Feiticeira estivessem selados devido aos braços mecânicos no piso frio.

Em telepatia e leitura de auras, ela mal precisava das mãos; mas com energia, defesa e ataque a situação era diferente: seus dedos precisavam se agitar, seus movimentos eram variados e necessitavam de espaço. Por conta disso foi trancafiada pelo governo com uma camisa de força e foi por isso que o robô havia lhe prendido logo pelos pulsos.

À despeito disso, a magia respondeu aos comandos silenciosos dela. O rajada lançada pelo peito do Sentinela foi absorvida pela muralha rubra e em seguida essa mesma energia invocada por Wanda se moveu para jogar o inimigo na direção oposta. Houve o barulho mastigado do impacto do robô contra a lataria do metrô, e então silêncio.

Em poucos segundos, sobraram apenas eles no saguão do metrô. Vivos.

Wanda arfou, seus ombros tremendo. Testou mover-se com cautela e notou que as mãos mecânicas não lhe seguravam mais, de modo que ela pôde levar os próprios dedos ao rosto e limpar o filete de sangue que escorrera de seu nariz. Tentou se levantar de maneira falha, trôpega; ouviu a voz de Bucky chamar seu nome.

— Não, James. — Agora ela estava de pé da melhor forma que podia. — Vá ver Remy. Ele precisa de mais ajuda do que eu.

— Mas…

A Feiticeira se apoiou numa das colunas da Estação, recuperando o fôlego. Apesar da preocupação estampada no rosto dele, Wanda pôde ver que o soldado obedeceu seu pedido e conferia o estado do mutante francês ao chão. Em troca, ela caminhou com cuidado até onde estava a mutante desconhecida e lhe ofereceu um sorriso fraco.

— Você está ferida?

— Não.

Havia dúvida na voz miúda dela, que até poderia ter soado mais convincente se ela não tivesse se encolhido de novo no piso, segurando seu próprio tronco com o casaco verde e suas luvas amarelas. Não parecia ser mais velha que Wanda, pois seu rosto era jovem e sem marcas mesmo com a expressão tensa em sua testa. Não passava da casa dos vinte anos. O único detalhe diferente de seu aspecto físico eram suas mechas brancas na franja, em contraste com o cabelo castanho. Já em seu aspecto astral, Wanda enxergava um aura difusa, volúvel. Talvez fosse sua mente confusa. E a mutante encarava o ponto em que Bucky e Gambit estavam.

— Oh, que bom. — Wanda suspirou aliviada. — Remy está levantando. Deve ter apenas desmaiado.

— Ele podia ter morrido.

— Ele é... é acostumado ao perigo. — Respondeu, sem querer que a outra se sentisse culpada, embora fosse algo notável Remy LeBeau se meter em problemas com Sentinelas. Não tinha sido ele que alertou-os sobre segurança e drones? Deixou isso de lado. Sairiam assim que Bucky se aproximasse com Gambit, e então aí sim fariam perguntas. No momento queria apenas que a mulher continuasse falando. Era uma tática de manter a consciência dela, assim como para descobrir algo importante. — Você ia com ele para Genosha?

Uma pausa.

— Sim. Eu… Eu estava fugindo. Você sabe. Experiências.

O estômago de Wanda deu uma volta inteira e ela teve que fazer força para sua voz não soar muito alarmada.

— Experiências? Onde? Fizeram algo com você?

— Em… Argh. Eu não… Não consigo me lembrar muito bem.

Ela levou a mão aos cabelos e soltou um novo arquejo. Talvez não fosse hora. A Feiticeira agachou-se com cautela e apoiou a mão em seu ombro, a fim de tranquilizá-la. Depois poderia ajudar com as memórias. Sua aproximação, porém, foi impedida por uma exclamação da outra mutante:

— Não me toque! Não me toque, por favor!

Wanda recuou, mostrando as palmas das mãos. Recomeçou muito lentamente:

— Qual é seu nome?

— Anna. Anna Marie.

— Anna Marie, eu me chamo Wanda.

— Eu sei. Você é uma Vingadora.

Um novo e fraco sorriso. Antes que pudesse falar qualquer coisa, um novo som metálico despertou a adrenalina da Feiticeira. Vinha de uma direção às suas costas, do vagão. Do que diabos aquele Sentinela era feito para ter resistido? Bucky já se aproximava carregando Gambit em um dos ombros, e também parou para escutar o barulho. Eles cruzaram o olhar.

— Precisamos partir. Agora.

Houve um tremor. Wanda desequilibrou-se e apoiou parte do seu peso no que estivesse mais próximo, e isso foi Anna Marie. Sua mão encostou na clavícula nua dela, seu dedão relou em seu pescoço pálido. E a Feiticeira nunca sentiu tamanha dor ao encostar na pele de outra pessoa. Perguntaria o que Anna tinha feito com ela, se sua boca estivesse em condições de falar. Sentiu os joelhos baterem no chão de novo, a realidade ao seu redor se dissolveu. Teve a certeza de estava morrendo.

— Wanda! — Bucky deixou Gambit de pé e correu ao seu encontro, em meio aos arquejos desencontrados das duas. Quando afinal a mutante tirou a mão da Feiticeira sobre si, ela voltou a respirar.

— Eu disse para não encostar em mim! — Havia desespero no sotaque sulista da jovem. — Eu disse, não é minha culpa! Me perdoa...

— O que…? O que você fez? — O soldado ergueu o rosto de Wanda delicadamente, observando veias roxas saltadas em sua pele. Os olhos verdes dela jaziam sem foco, seu corpo estava mole. Ela mal ouvia a conversa entre eles.

— O poder da Anna é absorver poderes. — Gambit disse. — E é por isso que estão atrás dela.

— É permanente?

— Não. — Anna Marie engoliu seco. — Dura só alguns minutos quando o toque é rápido. Mas é… Doloroso. Me perdoa.

— Alguma chance de você conseguir usar os poderes da Wanda? Se teletransportar?

— Eu… — Luz carmesim faiscou das mãos enluvadas dela, não por muito tempo. — Eu nem sabia que ela podia fazer isso.

James soltou um suspiro.

Desgraça.

Wanda sacudiu a cabeça levemente na tentativa de encaixar os pensamentos dentro do cérebro. Escutava melhor agora, embora uma parte vermelha de si estivesse opaca, fraca. Bucky xingava, querendo arranjar formas de salvar a todos ali dentro; havia o som do robô se aproximando de novo. Um disparo veio do fundo, do inimigo, e James soltou um grunhido, atingido de raspão na altura do bíceps direito - feito de carne e ossos como qualquer humano.

Em sua débil consciência, ela entendia que o perigo não tinha passado e agora mal tinha forças para defendê-los. A visão de auras, manipulação de mentes ou chacras não lhe adiantariam agora e a sua energia escarlate era menos do que um frágil pulsar, o fogo de uma pequena vela. O peso do mundo estava em seus ombros. Ela pôs as mãos sobre seu colo, sentindo a textura da saia e sentindo um objeto no bolso. Tirou a moeda de Ouroboros dali, passando a ponta do dedo por seu entalhe.

Quando o caos a chamava, Wanda respondia. Naquela noite, tinha visto o contrário acontecer e magia atender sua súplica. Era mais um daqueles momentos, então? Em que tinha que fazer uma escolha que mudaria o curso de seu destino. Ouviu a exclamação de Anna Marie com medo, Gambit ao seu lado, ambos de pé. Conhecia aquela sensação de impotência, de desejar moldar a realidade e fazer com que tudo fosse mais leve e divino. Colocou a moeda de novo no bolso. Apesar de já ter conseguido se teletransportar sem a moeda, antes de ir para Zurique, na ocasião tivera ajuda de Agatha. Nas vezes em que usou aquele feitiço depois, voltou a utilizar a moeda. Não, Wanda não usaria mais artifícios externos para magia. Seria apenas ela.

Deveria ter ido até a loja de Agatha, não para atender as expectativas de outras pessoas e sim para se tornar alguém capaz de evoluir. Se tornar sábia, experiente e ser alguém que tinha dons de proteger quem amava. Enfrentar antigos demônios e mistérios.

Ela, no entanto, não iria se arrepender por decisões passadas, mas não iria mais depender da generosidade da sorte ou de momentos de crise. Tomaria o destino em suas mãos.

— Wanda. — Bucky segurou seu queixo, ajoelhado até altura de seu rosto. — Vá com os dois pela abertura. Vou atrasá-lo o quanto puder, mas… Eu quero que corra. Pode fazer isso?

Ela segurou o pulso dele.

— James. Eu vou voltar.

— O quê?

Wanda poderia ser aprisionada, silenciada e ferida até que achasse que não tinha mais saída, mas aquilo não era verdade. Nunca foi. Ela nunca estava realmente sem poder, jamais estivera abandonara sua própria força. Poderia tornar-se ainda mais, ser tudo o que poderia ser. Infinita.

— Eu te amo. — Ela disse ao segurar a mão de James Barnes e conjurar a cor escarlate.

Em poucos segundos, estavam a apenas uma quadra de distância do apartamento que dividiam. O rosto confuso de Bucky levou um instante a mais para perceber onde se encontrava, o que ocorrera. Tinha sido teletransportado por ela. Tinha também ouvido que ela o amava. As duas coisas o deixavam ao mesmo tempo seguro e aterrorizado. Ela levantou-se, desenlaçando seu toque com James Barnes. Deu um passo para trás.

— Wanda, não!

Mas ela já tinha partido novamente.

Quando a jovem voltou a estação de metrô, viu Gambit se defender com moedas que escaparam da máquina de refrigerantes, lançando-as igual lançava suas cartas incandescentes; Já Anna penava para usar o pouco das habilidades que absorveu da Feiticeira. Wanda precisava tocar ambos ao mesmo tempo, era o jeito mais rápido e seguro de salvar os dois, no entanto tal ato era difícil com o robô atacando-os.

— Pensei que tinha abandonado a gente!

Ela não teve fôlego para responder a frase um tanto malcriada de Anna, pois sua preocupação era a luz esverdeada que mais uma vez voltou a brilhar do compartimento no tórax do Sentinela. Com um zunido, tal objeto foi disparado e atingiu Wanda no ombro direito. De início, ela não sentiu nada diferente, só aflição por ter algo semelhante a uma seringa fincado em sua carne. Remy soltou inúmeros xingamentos em francês. Ela apenas agarrou-o pelo braço e puxou Anna Marie pelo pulso, o que doeu mais do que achou que doeria. Antes que o Sentinela pudesse desferir mais um golpe ou disparo sobre o trio, um vulto enorme avançou sobre a máquina com um grunhido selvagem.

Ebony?

— Aquele gato? Ele não poderia ter feito isso antes? — Gambit exclamou, sua voz ainda arranhada pelo aperto no pescoço.

Wanda soltou um arquejo de dor. Seu ombro começou a arder. Sem tempo para pensar em algo diferente ou raciocinar sobre o gato ter se transformado numa imensa fera, a Feiticeira fechou as pálpebras e levou os dois até o cenário de uma foto que viu mais cedo naquele mesmo dia, mais especificamente na primeira página de um jornal: a fachada da mansão de Charles Xavier.

— O que? Onde estamos?

Anna Marie segurou a própria cabeça, enquanto Wanda arfava.

— O Instituto para mutantes. — Remy reconheceu o local e logo luzes começaram a se acender das janelas. Já tinham percebido que alguém entrou no local, pois o trio surgiu com uma luz vermelha do lado de dentro dos muros. — Chérie, por que aqui?

— Eles vão ajudar vocês dois. Vão ficar seguros. E eu não faço a mínima ideia de como Genosha é para levá-los para lá.

— Oh. — Anna de repente pareceu muito alarmada. — Mas eu precisava ir pra lá, para… Avisar-

— Para o que? — O francês a cortou, já muito cansado. — Você precisava de um lugar seguro e agora está em um. Pense depois em como chegar em Genosha.

A Feiticeira ignorou a questão e tirou a seringa do ombro e observou com cuidado. Esperava algo mais visceral, mas até agora só se sentia enjoada. Sonolenta. Colocou o objeto no bolso esquerdo. Remy lhe disse palavras delicadas sobre tomar cuidado e também ajudou a mutante vestida de verde se manter firme sobre a grama da entrada.

— Digam que eu os trouxe aqui e falem sobre o ataque em Bucareste. Parece ser de Zola. Ororo vai ouvir, Xavier também.

— Mas… Você não vem com a gente? — Anna se preocupou. — Está ferida. Essa injeção… Se for o que estou pensando, é algo que usam em laboratórios. Coloca qualquer mutante pra dormir.

— James está me esperando em Bucareste. E tenho outras coisas pra resolver.

— É perigoso.

— Eu sei.

O que quer que exatamente tivesse na seringa agora começava a surtir efeito. Ela sentiu suas pernas fraquejarem, sua visão nublar-se. Não podia arriscar ficar ali e deixar Bucky sozinho. Talvez ele voltasse até o metrô e aquilo era terrível não só por causa do Sentinela. Existia a possibilidade de haver drones ou Mata-Capas à essa altura. Tinha que voltar, sem falar que estava preocupada com o gato.

— Eu não entendo. — Anna disse. — Você me tocou. Absorvi seus poderes, mas… conseguiu nos teletransportar.

— Magia não está nos genes, não são dons que podem ser arrancados. Eu acho. É a única explicação que sou capaz de pensar agora e… Céus, eu não consigo pensar em quase nada.

Chérie

— Cuide-se, Remy. E cuide dela.

— Isso faz parte de seu feitiço?

— Não. — Ela ficou feliz por ele se lembrar da maldição falsa que jogou nele. — Estou pedindo para um amigo. E acho que posso confiar na sua palavra, não?

Ele olhou para o chão.

— Acredito que sim…

— Anna. Foi bom te conhecer.

— Lamento pelo… Hm, toque.

Ela tentou rir e falhou, depois se teletransportou de novo. Estava mais distante do apartamento, mas dessa vez não restava-lhe muito fôlego para usar magia e chegar até a porta do lugar. Recordou-se de um feitiço que há tanto não invocava, algo dado por Agatha: Vegvisir, uma runa nórdica de proteção e orientação durante viagens. Wanda sussurrou tal nome e luz veio de seu antebraço, fazendo o símbolo girar para a direção correta.

Só esperava que ninguém na rua - agora no raiar do dia - reparasse na jovem de rosto abatido, ferido e de corpo bambo. Quem sabe pensassem que Wanda estava bêbada e que caira de um longo lance de escadas. De qualquer modo, ironicamente tinha que contar com a sorte para não ser abordada pela polícia, que já deveria estar alerta depois de toda a confusão no metrô.

— Wanda… — De repente ouviu seu nome ser chamado de forma muito fraca. Um miado baixo, sofrido. E enxergou um pobre gato preto se aproximar mancando pela calçada, pêlo faltando em certas partes de seu corpo. Seu coração se partiu ao ver Ebony ferido, seu rosto felpudo marcado e triste. Não passava de um bichano comum, embora tivesse saído das sombras de latas de lixo de um beco. — Wanda, eu tentei

— Oh, meu gatinho.

A Feiticeira tentou se agachar com cuidado, mas no fim não manteve o equilíbrio. Veio ao chão, a runa de luz se desfez para sempre. Sentou-se da maneira que podia e juntou o gato com os braços, levando-o a seu peito. O queixo dele se aninhou em seu ombro esquerdo, que não estava ferido, a garganta do felino soltou um ronrom engasgado.

— Eu vou cuidar de você, viu? Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Mas ela não tinha certeza. Seus olhos pesavam e ela mal sentia seu ombro atingido. Enquanto ele era apenas um gato, agora ela era apenas uma jovem. Ela piscou, não havia mais nada. Piscou de novo, e o rosto de Bucky estava a sua frente. Não entendeu o que disse, embora soubesse que ele estava tenso, transtornado. Com a mão fraca, ela tirou a seringa do bolso da saia e mostrou para o soldado.

— Não sei… Não sei o que tem nisso. — Ofereceu seu melhor sorriso. — Mas eu voltei, huh?

Foi a última coisa que ela se lembra de ter dito, mas tinha certeza de que ouvira algo mais ser surrado em seu ouvido.

Eu também te amo.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Cena de luta mais ou menos inspirada por IW - talvez porque novamente se desenrole numa estação de metrô.

*Ação é uma dificuldade minha. Por favor, se ficou confuso ou se pode ser melhorado, mandem sugestões ♥ Críticas construtivas são bem-vindas!

*Anna Marie é a nossa linda Vampira dos X-Men e a roupa verde dela faz referência ao seu visual clássico!

*Ebony não vai deixar ninguém mexer com a bruxa boboca favorita dele!

*E aí? Cês querem que eu poste mais quando? Hahah já tem coisa pronta!

*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska