Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 72
LXXII


Notas iniciais do capítulo

25/12/2018
Ahá, estou cumprindo minha promessa de lançar um capítulo de Natal! Uma certa pessoa de vermelho quer deixar esse presente para vocês, queridos leitores! ~ Mas essa pessoa não é o bom velhinho Papai Noel, é o Magneto. Imaginei agora ele com um trenó HAHAHA Enfim,
Tenham um excelente Natal. Desejo felicidades, muita paz, muita cumplicidade em família e muito tudo de bom. É incrível passar mais uma data comemorativa com todos vocês. Conheci pessoas maravilhosas por causa dessa fic e são vocês os meus verdadeiros presentes de Natal. Muito obrigada por fazerem parte disso!



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Enquanto o bolo assava, James seguiu as instruções de Ebony para preparar coquetéis que soltavam fumaça sem gelo seco e, embora o gato jurasse pelas próprias orelhas que não se tratavam de poções, o soldado teve lá suas dúvidas. Não era nada forte ou puro como vodka, mas era saboroso e o suficiente para três pessoas. Wanda escolheu músicas de fundo para tocar - músicas que Bucky reconheceu como sendo dos anos 80, preferência de Pietro - e ela se enchia de doces e raspava um pouco da massa do bolo que sobrara na vasilha com uma colher, sujando o rosto. Eles contaram piadas uns para os outros, Remy por vezes incorporava o estereótipo de chef francês e dava dicas de furtos igual um profissional lecionava culinária num programa de televisão. Gambit, ao contrário do que James pensava, de fato cumpriu sua palavra e preparou uma sobremesa decente - um red velvet, admitindo que teve ajuda do gato para invocar os ingredientes necessários.

Já era escuro quando afinal puseram o bolo na bancada. Haviam consumido metade da bebida jogando cartas com o baralho de Remy, que curiosamente fez uma boa dupla com Bucky para vencer Ebony e Wanda. Bucky ainda não confiava nele, é claro que não, pois viu de primeira mão as jogadas duvidosas dele e suas cartas marcadas que confundiam até mesmo a telepata. De qualquer maneira, foi bom perceber também que suas trapaças - ao menos naquele momento - era inócuas.

A música agora era só um som muito distante, os balões começaram a estourar sozinhos e era o fim da festa.

— Droga, — Bucky revirou as gavetas. — Não tem fósforo. Nem isqueiro.

— Eu poderia acender.

Remy deu um passo à frente, mas a memória dele explodindo cartas e chaves fez o soldado erguer a mão num gesto de “pare”.

— Não, não. Não confio nesses seus poderes. Vai detonar o apartamento.

Wanda estava de frente para o bolo e sacudiu o rosto brevemente. Sem um único movimento seu, as velas do bolo de repente acenderam-se sozinhas. Ela não quis vinte e três velas para assoprar, pois não era só ela que fazia aniversário naquele dia. James entendeu o que a Feiticeira quis dizer com aquilo, mas não tinha o dobro de velas guardadas nos armários para completar com a idade que Pietro faria nesta mesma data. A solução foi colocar duas velas, uma para ela e uma para ele. Ele só não soube exatamente o porquê ela tinha escolhido a vela vermelha e a outra azul, ou melhor, entendia apenas vagamente.

Eles cantaram “Parabéns” de forma desajeitada, acanhada. James Barnes amava aniversários e comemorações num geral quando era mais novo, no entanto sabia que aquela experiência era agridoce para Wanda. Um ano a mais para ela, um ano mais distante que seu irmão. Sorria e derramava lágrimas silenciosas, somente a luz das duas velas banhando seu rosto.

— Faça um pedido, Wanda! — O gato miou.

Ela segurou seus cabelos para inclinar-se pra frente e assoprou o fogo. Se fez escuridão de novo.

* * *

Bucky comia sua própria fatia de bolo muito a contragosto, sem confessar que o maldito francês era um bom confeiteiro. Deu mais uma garfada com raiva e pôs mais um naco na boca, quase fechando os olhos. Bufou com raiva e mastigou com mais força do que seria necessário, sentado no sofá. Wanda, ao seu lado, havia dito que comera demais para uma só noite e Remy tentava convencê-la a pegar mais um pedaço. Ela, no entanto, parecia estar com sono  demais para cair na conversa dele. Ninguém além de e Bucky parecia notar que Ebony comia o resto no prato da Feiticeira.

Foi neste instante que ouviu-se um toque distante e insistente. Um toque quase como de telefone. Nenhum deles se moveu.

— Meu celular tá aqui. — Remy mostrou. — Vocês não vão atender?

Wanda deu de ombros.

— Eu não tenho celular.

Ah.

Os olhos de James Barnes se arregalaram e ele logo despejou seu prato na mesa de centro com pressa, correndo para o quarto ao fundo. Seu chapeuzinho de festa caiu no meio do caminho. Revirou suas coisas e encontrou o que tanto apitava: Era o comunicador tocando, a chamada vinda de uma das únicas pessoas que saberia para quem estava ligando: Steve Rogers. Ele não sabia se ele e o resto do grupo estavam em perigo, se a ligação significava mais alguma coisa ou se era algo de rotina. Não, não poderia ser algo rotineiro, pois Steve não tinha ligado até então.

Ele destravou o mecanismo e apenas esperou, sem dizer nada - nem mesmo alô.

Hey. Eu sei que você está aí, seu ladrão de bacon. Passa pra Wanda, que o tio dela quer falar com ela.”

— Sam. — Era a única pessoa que se referia à como tio dela. — Você não é o tio -

Apenas passa pra ela, cara.”

— Como você…? — Ele segurou as próprias têmporas. — Você nem sabe se eu encontrei a Wanda ou não.

Cara. Você não voltou. É meio óbvio que você a encontrou, não é mesmo?”

Houve uma pausa.

— Espera um pouco que eu vou passar pra ela.

Wanda ficou feliz de falar com Sam Wilson e ele pôde ouvir também a voz rouca de Natasha. Todos eles lhe davam parabéns e desejavam centenas de felicitações diferentes, sem questionar seu paradeiro ou o porquê tinha partido. Ela ria, agradecia e perguntava sobre cada um deles. Bucky notou que Gambit acompanhava a conversa de leve, sem muito interesse, e aproveitava o instante para checar seu próprio celular.

E então Bucky viu, ainda mastigando o final do bolo em seu prato, imagens da festa no apartamento na tela.

— Ei, ei. — Terminou de comer e mais uma apoiou seu prato na mesa. — Você tirou fotos daqui?

— Não é o que se faz num aniversário, mon ami?

— Delete isso. Você sabe o que pode acontecer se vazar.

— Olha, nenhum ladrão bom como eu é burro o suficiente pra ter uma rede social. E você sabe disso.

— Você não é burro. É arrogante e oportunista, mas por alguma razão a Wanda confia em você. E é só por isso que ainda estou sendo gentil. Vou pedir de novo: delete.

— Humf. A Wanda literalmente lançou um feitiço em mim e, sendo sincero, pouco me importa sua opinião. Mas você vai querer mesmo deletar uma foto dessas?

A expressão de Bucky quebrou-se um pouco, pois a imagem era de Wanda sorrindo em frente ao bolo de aniversário. Ela segurava as próprias mãos sem saber o que fazer com elas - batia palmas ou não? - suas sobrancelhas erguiam-se quase como em surpresa. Um retrato fiel da Feiticeira Escarlate em um momento ameno.

— Foi o que pensei. — Ele inspirou. — Pode ficar com o celular. Ia trocar de qualquer jeito. Quero só o chip.

— Você diz roubar.

Gambit apenas se levantou, buscando o seu sobretudo e largando o aparelho com o Soldado. Wanda lançou a ele um olhar de dúvida, porém continuou conversando no comunicador - e agora parecia falar com Steve. Não iria parar de conversar tão cedo.

— Eu não tenho uma bruxa do meu lado para melhorar as coisas. E se depender de você, nunca terei.

— É bom saber que estamos na mesma página.

Gambit riu.

— É, mas... não vacila muito.

Talvez por um pingo de educação que lhe restava em relação a Remy LeBeau, Bucky se levantou do sofá e abriu a porta para que seu desafeto pudesse sair. O francês deu um aceno breve para Wanda, depois juntou seu baralho e deu um passo a fora. De repente pareceu muito sério, tirou um maço de cigarro do bolso do sobretudo e colocou um na boca, ainda sem acendê-lo.

— Escute, soldado. Sobre o que eu disse antes… Sobre aqui não ser um lugar seguro. É verdade. Você e seus amigos até arrumaram um belo show na Suíça, mas eles ainda caçam mutantes. E a garota é uma de nós. Mutante.

Bucky pesou as palavras do mercenário, que teria inúmeros motivos para querer levar vantagem. Algo dizia a ele, no entanto, que não mentia. Quem sabe fosse seu olhar muito fixo no nada, suas mãos calmas ao dar um único estalo - acendendo a ponta do cigarro barato.

— O que você ouviu?

Boatos. Serviço Sentinela está mais discreto e tem gente que diz que está bem mais efetivo, não deixa testemunhas.

— Então como você sabe?

—  Pessoas desaparecendo, mon ami. Ninguém confirmou se viram robôs mesmo ou… Não sei, outra coisa. Espero que sejam robôs, ao menos isso sabemos como lidar. Em teoria.

— Você vai embora, assumo. Para um lugar seguro.

— Ainda não. Sou o barqueiro nesse submundo e tenho uma última travessia pra fazer, aí sim chegarei ao meu destino. Genosha. — Ao ver a expressão de Bucky ao ouvir nome do lugar, Remy riu e soltou uma baforada do fumo contra o ar frio da noite. — É, a viagem é perigosa e o destino incerto, mas é uma alternativa melhor para alguns de nós. Às vezes não existe um Instituto Xavier por perto pra ver as coisas terríveis que acontecem, às vezes os Vingadores estão em ação. E o discurso do fulano foi bem convincente para a maioria dos mutantes. Sabe? Nunca mais.

— Sei, sei. Vi em primeira mão. Hora ou outra vejo alguns panfletos e pichações na rua. Só não sabia que tinha tanta gente assim indo pra lá.

— É, eu também não faço ideia se cabem muitas pessoas lá dentro da ilha. Sei que o que chega de lá são notícias meio estranhas. A capital está praticamente pronta e é feita quase inteira de metal. Magneto é quase um deus e descansou no sétimo dia. É o que ouço por aí. — Deu uma longa tragada. — Depois da construção bizarra e um tal palácio de ferro, não tive mais notícias. Você acha que ele vai… Querer Wanda ao lado dele?

— Não agora e certamente não por obrigação. Quem sabe no futuro.

Silêncio. Remy deu mais uma tragada e o vento uivou sobre eles.

— Você está fudido.

— Depois da Segunda Guerra, você meio que começa a administrar o sofrimento.

— Boa sorte, soldado. Tenho mais alguns trabalhos que não envolvem confeitaria. A gente se esbarra de novo, se um gato preto não invocar um de nós primeiro.

— Daí jogamos baralho.

— Você joga. — Remy riu. — Eu venço.

Bucky Barnes fechou a porta na cara do mutante, tendo ainda que usar seu corpo para dar um empurrão na superfície e enfim sela-la. Ouviu o riso breve do trapaceiro se afastando, mas no fundo pensava no que ele tinha dito. Virou-se para Wanda, ainda caminhando pelo pequeno apartamento enquanto conversava. Ela parou em frente ao sofá e se ajoelhou no tapete, a fim de agradar o gato que agora dormia. Riu baixinho e disse para o comunicador:

— Tá, eu vou tomar cuidado. Uhum. Ok. Sem fondue, o que quer que isso signifique. Eu vou passar pra ele. Eu amo vocês. James?

— Sim? — Teve que fazer força para não completar a frase com “boneca”, pois não sabia que daria para ouvir do outro lado da linha.

— Steve quer falar com você.

A conversa não foi longa. Steve contou que estavam ainda em Outer Heaven, mencionou que desarticularam um esquema de tráfico de armas Chitauri e resumiu que a situação era calma na medida do possível, coisa que o preocupava. A ONU tinha suspendido o programa Sentinela, embora não os Mata-Capas e Vingadores Secretos esperavam mais problemas ou ação dos governos envolvidos. No entanto, surgiram apenas uma série de investigações que durariam meses, anos. Agora tinham que prestar atenção em Genosha e a movimentação de mutantes e material que seguiam em direção aquele novo país, ainda não reconhecido por nenhum outro.

“Algumas pessoas desapareceram. Digo, mutantes. Não sabemos foi por violência, se foi…Outra coisa.”

Bucky lembrou-se da conversa de minutos atrás.

— Existem boatos. Você acha que pode ser o Serviço Sentinela ou… Zola?

Wanda levantou o queixo, preocupada. Houve um suspiro do outro lado da linha.

Eu não sei, Buck. O diretor do Instituto Xavier está preocupado, mas desde Zurique as coisas ficaram mais complicadas. Tem muita mídia em cima e mal sobra tempo para investigar. Shuri, por outro lado, tem nos oferecido um auxílio que jamais terei como retribuir. Ela traçou os lugares em que os mutantes sumiram. Vou mandar para seu comunicador.”

Certo. Nos mantenham atualizados. Avisaremos se descobrirmos algo. — Pensou em Remy novamente. — Talvez exista uma fonte aqui que possa nos dar pistas.

“Fiquem fora dessas rotas e fora de vista. Por favor, se mantenham seguros. Precisamos de cautela até termos certeza com o que estamos lidando.”

Entendido. E digo o mesmo.

Silêncio.

É bom saber que estão bem.”

— Nós enfrentamos criaturas das sombras e um mutante trapaceiro que quase nos denunciou. Explodimos uns drones. Mas, fora isso… está tudo bem. — Bucky encostou-se de lado na bancada, olhando os pratos sujos na pia e os copos. — É bom estar bem.

James Barnes teve a impressão de ouvir um riso silencioso do outro lado, algo discreto. Depois outra voz, uma mulher. Natasha.

Continuem assim.”

— Combinado. Até mais.

Ele desligou o sinal e então voltou a realidade onde existia somente ele, Wanda e um gato preto dentro do apartamento. Parecia um mundo completamente diferente e ele se flagrou pensando em como não tinha se deixado levar pelo horror nas últimas semanas. O sangue e a morte ainda existiam, mas estavam restritas às suas lembranças - e não no seu dia-a-dia. Algo em sua coração se endureceu ao notar que as sombras sempre estariam à espreita, embora fosse dessa forma que tinha vivido até então: No limiar entre uma nova vida e a violência por qual sobrevivera. Soltou um suspiro resignado.

— Foi legal da parte deles ligarem. — Wanda mencionou, sua voz fraca.

— É. Foi sim.

— James, você se arrepende? —  Ela disse de repente, e parecia ter dificuldade de colocar as coisas em palavras.— Digo, você poderia estar com eles… E não precisa ficar comigo, se não quiser.

Boneca. Eu vim porque quis.

Deu de ombros e aproximou-se dela, sentando-se no tapete também. Os olhos dela estavam fixos nos seus, seus lábios tremiam. Estava nervosa, talvez com medo dos desaparecimentos. Ou ainda mais fundo, poderia estar nervosa por ter levado Bucky até ali - e por isso questionava arrependimento da parte dele. E ele sabia o quanto Wanda se preocupava em ser culpada pelas coisas darem errado.

De qualquer modo, ele não se arrependia e ela não merecia ter essa ideia na cabeça, nem mesmo todo o assunto de mutantes, Zola e desaparecimentos e perseguição. Não agora, não em seu aniversário - quando já remoía a morte de seu gêmeo, seus pais e toda a sua árvore genealógica confusa e decomposta. Não era sábio tratar a questão como se não fosse nada, mas não podia deixar isso criar raízes. Como fazer isso, ele não compreendia ao certo e desejava que conseguisse ser tão gentil quanto ela ao tocar suas memórias.

No fim, repetiu palavras de momentos anteriores.

— Você não é uma pedra, eu não sou um limão. Nós somos uma bagunça e… Estamos bem. Igual eu disse a Steve. E é bom estar bem, não é?

Ela sorriu, mais calma.

— E você me deve um milkshake.

— Por favor, Wanda. Você me fez comprar seu presente sem que eu soubesse de nada. Isso é golpe baixo.

Ela se levantou rápido e pegou as sacolas que tinha deixado perto da porta, logo voltando para o tapete em que estavam sentados.

— Hora de abrir, huh? Primeiro você, James.

Não adiantaria discutir. Os dois estavam de frente um ao outro, sentados no tapete enquanto o gato preto dormia. Wanda lhe deu a embalagem, seu rosto apreensivo e olhos quase faiscando. De fato, Bucky sentia também uma pontada de ansiedade. Fazia anos que não ganhava um presente e ele não sabia ao certo o que poderia receber ou o que combinava com ele. O rapaz antes da Segunda Guerra gostaria de algo divertido, talvez algo sobre ciência. A pessoa que ele se tornou depois disso era diferente, violenta. Agora ele já não entendia mais.

Começou a abrir o papel grosso e pardo de maneira teatral, lenta, um sorriso brotando de seus lábios conforme enxergava a impaciência de Wanda crescer.

Até que enfim abriu.

A capa inteira variava nos tons branco e preto, as cores do inverno, e no fundo existia uma silhueta escura, embora um tanto oculta por galhos cinzentos. Era um lobo.

Sua ansiedade cedeu lugar ao fascínio e calma.

“O Uivo no Breu”... — Ele leu o título em voz alta, sua atenção fixa na capa. — Você já leu?

— Infelizmente não, mas… Li a sinopse. — Deu de ombros. — Tudo nele me fez lembrar de você.

Lançou um olhar à ela que não precisou de palavras para soar como uma pergunta, coisa que ela entendeu perfeitamente. Wanda, porém, hesitou em lhe responder rápido e parecia treinar as sílabas na boca.

— É sobre um personagem que ouve um uivo na noite e vai atrás. Ele pensa que aprende coisas sobre o lobo, mas na verdade aprende mais sobre si mesmo. — Wanda deu de ombros, desviou o rosto. — E isso também acontece com o lobo. Parece meio bobo agora. Eu… Eu entendo se quiser trocar na livraria.

— Não, não quero trocar. — Ele passou os dedos nas bordas do livro, pensando. Ela não tinha dito que o enredo do livro era o que ocorrera entre os dois, no entanto a afirmação estava implícita ali, simultaneamente tão sincera e difícil de se confessar com palavras inteiras. Sua resposta então se referiu ao livro e aos dois — Eu quero saber o final.

— Eu também. — Silêncio. — Minha vez.

A Feiticeira escondeu um bocejo com a mão, encostou-se no sofá. Puxou devagar a embalagem de seu presente para si, abrindo-o rápido. Bucky prendeu a respiração por alguns segundos, pois a escolha do livro parecia mais pesada agora. Ele só não esperava que ela fosse arregalar os olhos e começar a lacrimejar.

— Wanda, eu…

Ela sorriu e fez um gesto no ar, como se pudesse espantar as preocupações do soldado. Soltou um riso engasgado com choro, entre observar a capa dura e abraçar o livro.

— É a “Chapeuzinho Vermelho”. — Folheou as páginas, parando em algumas ilustrações. Suas mãos tremiam. — Meu irmão… Meu irmão costumava ler pra mim.

— Ah. — Ele engoliu seco. — Eu escolhi esse livro porque… Bem, por causa da cor vermelha e porque nessa versão o lobo não é sujeito mau. Me desculpe se isso… Se isso a deixou triste.

Droga”, ele pensou, “Fui escolher justamente o livro que a faz chorar?”

— É perfeito.

Wanda eliminou o espaço entre eles e lhe deu um abraço apertado, quase jogando seu peso inteiro nele. Bucky abraçou-a de volta, o aroma dos cabelos dela preenchendo seus pulmões como o paraíso. Ele inspirou fundo e assim se passaram sólidos minutos.

— Feliz aniversário, boneca.

— Obrigada, James.

Quando se separaram, ela não chorava mais. Aproveitou para deitar com no ombro dele, também já encostado com as costas no sofá, e ele percebeu que mais uma vez dormiriam na sala - pois não tinha coragem de pedir para que se afastasse. Não era como se doesse, ela estava apoiada em seu ombro metálico.

— A gente pode ler junto. — Wanda murmurou, admirando o livro que ganhara. — Digo, separado, mas junto. Entende?

— É. A gente pode. — Ele se ajeitou no tapete, esticando as pernas. Pensou no que Remy dissera, pensou nos avisos de Steve. Por fim, pensou na sua promessa a Erik Lensherr, pai de Wanda. Ele não precisaria nada daquilo - promessas, avisos - para querer protegê-la. A vontade era de deitar assim com ela para sempre. — Sabe, você podia ter contado que era seu aniversário.

— Olha… Eu até mesmo achei que soubesse. Pelas flores e pelo passeio.

— Você estava meio triste pela manhã.— Confessou. — Só queria melhorar um pouco o seu humor.

Bucky havia notado uma melancolia no verde de seus olhos pela manhã e viu que seria um daqueles dias. Sabia identificar aquilo, já que tinha dias assim também - embora com menos frequência. Às vezes tinha uma razão específica para dias assim. Às vezes não existia nada, apenas vazio. A maior parte dessas ocasiões, tinha apenas que esperar passar.

Lamentou por não poder fazer nada mais palpável por ela, por não ter poderes que aliviassem a sua dor, pois ele sabia o que era ter um peso na própria cabeça e não ser capaz de arrancá-lo completamente. Ele preferia coisas que pudesse socar, ou então atirar. No fim, a levou para um passeio.

— E conseguiu. — Ela sorriu. — Escuta… Mas o que nós íamos fazer se você soubesse que era meu aniversário? Tem algum outro terase escondido aqui em Bucareste?

— Até tem, só que… Não é lá que eu ia te levar. — Ela levantou uma sobrancelha, o que o fez rir. — Digo, se você quisesse. Eu estava pensando em… Bem, em aproveitar seus poderes de teletransporte e te mostrar Coney Island. Quem sabe pra ouvir jazz à noite.

Era uma ideia arriscada, ele sabia. No entanto, era só uma ideia, uma fantasia de aproveitar um passeio comum e, agora com o celular dado por Remy, tirar fotos com Wanda na roda gigante no píer. Bucky não confiava ainda totalmente em sua própria memória e, no fundo, gostava de fotos. E gostava de Wanda, então era uma boa combinação.

— Bom, eu estou livre amanhã. — Ela deu um bocejo. Bucky achou que ela fosse mais responsável que ele, e que no fim dispensaria a oferta. No entanto, os dois ardiam tanto por um descanso que até dispensavam maiores cautelas. — Talvez a gente possa ir pra Coney Island.


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Notas finais do capítulo

*O capítulo foi revisado, mas Zola ainda existe e pode tentar sabotar essa fanfic. Caso encontre algum erro, por favor reportar à Shalashaska.

*É claro que o bolo da Feiticeira Escarlate seria um *red velvet*

*O livro "O Uivo no Breu" não existe, mas fiquei interessada na narrativa haha Quem sabe eu não escrevo algo do tipo no futuro. Me deixem saber caso tenham gostado!

*Galera, eu acabei o planejamento dos capítulos seguintes até o final da fic. Tá sendo até quase doloroso saber que vai acabar, mas ao mesmo tempo muito legal também! Adianto que teremos muitos capítulos ainda pela frente, entao não se desesperem.

*Sim, a foto é para ser a foto que o Remy tirou da Wanda no apartamento.

*Vamos para Coney Island?



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