Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 70
LXX


Notas iniciais do capítulo

06/12/2018
Olá, pessoas cheirosas! Peço desculpas pela demora em postar um novo capítulo. Acho que ao longo dessa jornada deve ter ficado claro pelas minhas notas iniciais que tenho alguns problemas pessoais que muitas vezes voltam e essas duas últimas semanas foram difíceis. Eu tinha planejado escrever até determinado ponto para ir postando com mais frequência, mas isso se mostrou impossível até então. Posto agora o que eu já tinha escrito e espero voltar a escrever mais em breve. Um beijo enorme no coração de cada um de vocês, que sempre são tão gentis e me dão apoio.

*PS: Galera, estarei na CCXP na sexta-feira! Se alguém for, me dá um alô aqui. E quem sabe ver o Sebastian Stan não me dá inspiração para escrever o próximo capítulo? hahah eu espero que sim.



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Wanda despejou a mochila em cima do sofá e deu uma olhada no apartamento ao seu redor. Era pequeno, tinha apenas divisória pro quarto e para o banheiro, ao fundo da cozinha havia uma máquina de lavar. Não era ruim apesar das rachaduras, no entanto não era nada que as lições de magia não pudessem resolver. O fato de haver apenas um quarto lhe provocou certo arrepio, mas não queria pensar muito sobre isso e esperava que o rubor em sua face fosse ignorado por Bucky Barnes. Para seu alívio, ele entreteu-se em tentar fechar a porta emperrada, o único acesso ao apartamento por uma escadaria de ferro ao lado do prédio. O último andar.

Depois de xingar a porta uma dúzia de vezes, Bucky afinal deu um empurrão com o ombro e selou-os ali dentro. Soltou um suspiro, jogou a chave na mesa de centro e veio a seu encontro arrumando o próprio cabelo com uma das mãos.

— Porta resolvida, boneca.

Ele lhe ofereceu um sorriso e foi bisbilhotar a cozinha. Era agradável ter Bucky ao seu lado, pois ele tinha uma visão estratégica sobre como se entrosar no ambiente e desaparecer, além de conseguir abrigo rápido. Ter tais habilidades somadas aos poderes escarlates de Wanda resultou numa viagem rápida, tirando o contratempo com Gambit. Na realidade, ela estava acostumada com o ritmo de viagens e esconderijos, mas sentia a diferença com ele ao seu lado.

Wanda espiou a janela da sala, depois sentou-se no sofá. Estava cansada e seus olhos pesavam. Seu corpo, mesmo sentado, afinal sentiu conforto e ela fechou as pálpebras. Entre o sono e a voz de Bucky listando os itens no armário, Wanda divagava.

O que Pietro diria se soubesse que iria dividir o apartamento com… Bem, com Bucky? Por vezes ela achava que tudo era muito devagar entre eles, agora parecia acontecer tudo tão rápido. E, ao mesmo tempo, era tão natural. Franziu a testa. Não deveria se focar nisso, tinha que se concentrar na sua tarefa principal: Encontrar a Loja de Bruxa de Agatha Harkness, desenvolver seus poderes. Assim poderia descobrir mais sobre sua história e salvar Natalya Maximoff.

No entanto, Wanda se perdoava. Era difícil não se apaixonar pelos silêncios e risos de lado de James Barnes. Sorriu, quase dormindo. Seria engraçado saber como Pietro reagiria a ele. Imaginava que seriam amigos. Bom, amigos implicantes um com o outro, mas amigos.

Ele a chamou baixinho, de modo que Wanda mal achou que isso era a realidade. Teve que ser chamada mais de uma vez para perceber que James de fato queria sua atenção, mas ela abriu os olhos apenas um pouco.

Bucky se apoiou de lado com o quadril na pequena mesa entre a cozinha e a sala, os braços cruzados e uma expressão amena. Eles se encararam.

— E agora? — Ela perguntou num bocejo.

— Agora… Nós vamos no supermercado.

— Nós? Mas são… Oito horas já.

— E a gente não comeu. Vamos, vai ser aqui perto. Eu conheço o lugar. — Um segundo a mais de silêncio. Ela fechou os olhos e talvez tenha se passado mais tempo do que imaginava, pois quando ouviu a voz dele de novo, Bucky estava ajoelhado ao lado do sofá e segurava sua mão com zelo.— Tudo bem, eu posso ir sozinho, mas… Mas fique acordada. Pra proteger o apartamento.

— Eu tô acordada.

Ele riu.

— Se mantenha segura, tudo bem?

— Uhum.

O desenlace das mãos dos dois foi vagaroso e ela mal o viu sair do apartamento.

Quando Bucky disse para Wanda proteger o apartamento, era com intuito que ela permanecesse desperta e atenta para qualquer perigo. Aquele era um apartamento vago de Remy LeBeau, afinal de contas, e ele não podia confiar num ladrão - mesmo que o bairro não fosse perigoso. Ao chegar de volta com as sacolas de compras, porém, encontrou uma fina linha de sal a alguns centímetros de distância da porta e um símbolo esquisito desenhado no chão. Não era esse tipo de proteção que se referiu para Wanda. Ele contornou aquilo com cuidado, tentou trancar a porta da forma mais silenciosa possível e guardou os mantimentos nos armários.

Wanda dormia no sofá, a mochila no chão.

Ele buscou um cobertor e um travesseiro para acomodá-la melhor, embora tenha se surpreendido por não ter acordado-a nesse processo. Sorriu e a deixou sonhar, para então tomar um gole da bebida que comprou momentos antes, quando Wanda tratou o ferimento de Gambit. Sujeito indecente, pensou consigo. Ele fez uma careta, depois foi para o quarto, que não considerou tão ruim assim. Cama de casal, janela com sacada…James se aproximou do vidro para encarar as luzes do bairro. Era estranho estar na mesma cidade do que o ano anterior, antes de toda aquela loucura acontecer e reencontrar Steve. Achava que seria quase igual, mas... não era. Wanda Maximoff era, de fato, um desafio interessante.

Foi se deitar também, num sono pesado que há muito não tinha.

 

*

Wanda e Bucky andavam pelas ruas de Bucareste, aproveitando a luz da manhã e o vento fresco, quase frio. O começo das voltas e mais voltas que davam pela cidade foi inicialmente motivado pela busca da casa de Agatha Harkness, o objetivo da viagem. A Feiticeira Escarlate alertou seu parceiro de viagem a procurar a cor roxa ou algo que parecesse ligeiramente fora do normal, porém a atenção dele estava no verde de seus olhos e no brilho ameno de sua expressão - afinal, o rosto de Wanda se iluminava ao ver os pontos turísticos por quais passavam. Não demorou para que aquilo virasse somente um passeio na cidade que também foi conhecida por ser a “Pequena Paris”, hoje com toques próprios - embora não exatamente mais elegantes. Existiam construções abandonadas, estruturas careciam de cuidado do poder público, assim como algumas ruas estavam esburacadas. Wanda lembrava-se de Novi Grad ao andar por ali, sabendo que assim como Sokovia, a Romênia era um país conturbado por guerras, corrupção e pessoas que ainda resistiam.

Muito cinza em meio a construções neoclássicas. Ainda assim, existia charme no ar, mesmo com certo abandono. Arte de rua coloria as fachadas de lojas, jardins queriam florescer. Wanda sorvia esses detalhes com avidez, encantada com as várias facetas de Bucareste: estilo parisiense, arte do período de domínio soviético e até mesmo um pouco de art nouveau. Beleza em meio a ruínas, tesouros escondidos. E então voltava seus olhos para Bucky, pensando que não era difícil estabelecer um paralelo entre o soldado e a cidade. Ambos se reconstruíram, ambos buscavam redescobrir a própria identidade.

Ele, por sua vez, narrava detalhes que nenhum outro guia contaria, de mãos dadas com Wanda. Alguns fatos eram engraçados, a maioria inócuo.

— Aqui eu encontrei um gato perdido e devolvi para o dono. Talvez seja um parente de Ebony.

Era só uma esquina vazia, mas que se tornou especial para ela ao saber da história. Wanda sorriu, muito atenta às próximas palavras ditas em russo.

— Aqui, — Disse ele depois, apontando para um desnível na calçada próxima a uma loja. — Eu caí com as compras do mês e reavaliei toda a minha existência.

— Acontecem alguns desastres contigo quando sai para fazer compras, não?

Uma pausa.

— Nunca pensei nisso, mas considerando todo o caso das ameixas… — Ele soltou uma risada agridoce e sua face franziu um pouco o nariz, naquela expressão rara. — Ainda bem que não aconteceu nada ontem a noite.

Andaram mais um pouco, desviaram de feirantes e de ofertas.

— Já aqui… — Ele pôs a mão livre no bolso do casaco com o rasgo, remendado por Wanda antes de saírem. — Eu matei um homem.

— Sério?

— Não.

Ela lhe deu um empurrão fraco de lado com a mochila no ombro, como se seu corpo pudesse mover o soldado. Como estavam de braços dados, foram um pouco para o lado, trombaram em alguém e  ouviram uma reclamação de outro transeunte. Wanda não entendeu muita coisa, não falava bem o romeno apesar da similaridade com outras línguas, mas Bucky se desculpou.

A manhã tinha começado com um café simples preparado por Bucky, que havia acordado cedo. Na verdade, ele parecia já pronto para sair para algum lugar, pois estava com os cabelos alinhados, higiene feita - ainda que exibisse olheiras abaixo dos olhos, resquício ainda da insônia. Saber que ele tinha esse tour planejado a fez sentir seu coração morno, como se ele entregasse a cidade para ela. Em um primeiro momento, quando ainda fingiam procurar a casa de Agatha, Wanda até chegou a brincar, questionando:

Não acha melhor perguntarmos a Remy LeBeau sobre lojas de bruxa e portas roxas?”

Mas Bucky fechou a expressão de um jeito que só um abraço de lado dela, somado a seu riso, pôde resolver.

Agora seguiam em um das inúmeras vielas, em silêncio agradável. Não tinham descoberto nada relevante, mas ela não podia dizer que o dia tinha sido inútil. Passava da hora do almoço e seu estômago reclamava, embora ela nem ouvisse. Havia tanta coisa acontecendo dentro e fora de sua cabeça. Existiam jornais discutindo os direitos mutantes, fotos borradas de aparições dos antigos Vingadores em zonas de guerra, a construção de Genosha, o legado de Wanda Maximoff e seu pai revolucionário. Manchetes e mais manchetes. Ela não conseguia deixar de pensar nele, Magneto, em seus irmãos… Pietro, metade de si. Lorna, que nunca conheceu. Pensava em seus pais e em uma explosão. Tais pensamentos iam e vinham, mas naquele momento ela se permitiu estar ali, apenas. Com James Barnes.

— Ei, boneca. — Ele se desprendeu dela de repente, mirando outro local. Era uma viela adjacente com algumas plantas, letreiros apagados pelo tempo. Bucky deu passos assertivos até lá, seu rosto inexpressivo. — Acho que vi algo.

— Espera! Não me deixe aqui, não faço ideia como me localizar em Bucareste. — Suas palavras foram em vão, pois ele desapareceu no virar da esquina para a rua seguinte. Wanda começou a andar mais rápido. — James!

A voz da Feiticeira Escarlate foi abafada pelo som do trânsito, que seguia no mesmo sentido da rua. Quase correu até ele, que atravessava um portão de grades entre duas casas, fato que Wanda só pôde estranhar. O que diabos Bucky estava pensando? Ainda um pouco acanhada, ela adentrou o local, pisando na grama e intimidada pelas rachaduras da parede da casa ao lado. Parecia um quintal. Então ela ouviu música ao fundo, som de conversa e o bater de talheres.

— Céus, eu pensei que fosse mais curiosa. Não vai entrar? — Bucky surgiu da porta aberta, rindo discretamente. A entrada onde ela estava era composta por grama no chão e bicicletas coloridas encostadas, depois disso vinha porta por qual Bucky se encostou com os braços cruzados. Era possível ver algumas mesas lá dentro e até mesmo iluminação intensa, o que a fez suspeitar que ainda havia mais um jardim para dentro.

— Isso...Isso é um restaurante?

Ele assentiu em resposta, de modo que ela abriu um sorriso nervoso, embora aliviado.

Terase, pra ser mais exato. Tem vários desses pela cidade, e são bons para… — Ele deu de ombros. — Sossegar. É bem tranquilo, tipo... Terraços mesmo. E aqui é colorido também, então achei que fosse gostar, já que não é a lanchonete com milkshake que eu prometi. Você não viu o carro velho lá fora com o nome?

— Não…? Como vou imaginar que um carro velho é um letreiro de um bar?

— Não sei. Você costuma prestar atenção nas coisas.

— Minha nossa, parecia que eu estava invadindo uma casa. Que susto!

— É bem sua cara, você sabe. Invadir lugares. A mente das pessoas...

— Ei!

— Só quis fazer uma surpresa. Vem cá, vamos comer.

Ela aceitou sua mão e adentrou o local, seguindo os passos dele. Wanda foi tingida pela variedade de cores dos móveis, bem como a decoração que ao mesmo tempo parecia despreocupada, improvisada. Seus olhos se encheram com a quantidade de tons distintos dos objetos e das auras dos outros visitantes, que desfrutavam de conversas regadas a coquetéis cítricos. Ao fundo do restaurante, ficava ainda o tal terraço que Bucky havia dito: um cenário ameno e de céu aberto. Poderia ser um lugar comum se não fossem pelos guarda-chuvas pendurados, criando sombras divertidas. Havia até mesmo redes para descanso.

Wanda sorria sem parar até que escolheram uma mesa ao lado de algumas plantas, com cadeiras amarelas e turquesas. Ainda de pé, ela perguntou:

— Isso é um encontro?

Uma pausa.

— É pra você?

Ela ia responder quando o garçom aproximou-se, assegurando-se que estavam confortáveis. Era simpático e falava em inglês, o que ajudou Wanda a fazer seu pedido no menu sem ter a necessidade de Bucky traduzir tudo o que dizia. De qualquer modo, também teve a necessidade de confundir os pensamentos do homem o suficiente para que não notasse suas identidades.

A comida não demorou para ser servida. Enquanto mastigava, Wanda ouvia com atenção a história de como ele tinha achado aquele lugar.

— Eu ainda estava confuso algumas memórias, mas não tão confuso. — Ele tomou um gole de sua bebida. — Então eu vi o nome do bistrô…

— Oh, então aqui é um bistrô? Pensei que fosse um bar. Ou como você disse, um… terase.

— É que eles colocam “bistrô” no nome. Tem o buffet também e algum outro restaurante do mesmo dono, com quase o mesmo nome.

— Você tem uma vida movimentada.

Um sorriso irônico floresceu em sua face quando respondeu:

— Não faz ideia. — Ela desviou o rosto, sacudindo um pouco a cabeça em sinal negativo. Ambos sabiam o que ele queria dizer e era verdade. James Barnes tinha deixado bem claro como a vida dele era uma bagunça desde o século passado. Adicionar uma busca por bruxas só tinha deixado a situação mais bizarra. — Como eu ia dizendo… Eu vi o nome do bistrô e lembrei que tinha algo a ver com artes. Então eu vim. Comi alguma coisa. Naquele dia  serviram literalmente aquarelas aos clientes, com papel grosso e pincéis, você sabe, todos aqueles aparatos artísticos.

— E aí?

— E aí que eu só consegui fazer manchas coloridas. Um desastre. Mas me fez lembrar melhor do Steve. Ele que leva jeito pra essas coisas… E ao menos enquanto desenha, ele fica fora de confusão.

— Engraçado. Geralmente ele que tenta me manter fora de confusão.

Ele fez uma expressão desgostosa, franzindo a testa. Não tinha a ver com a batata quente que levava a boca, mas sim com as memórias dele tentando evitar que Steve arrumasse briga no Brooklyn. Wanda conseguiu enxergar os contornos de tais lembranças, suas nuances, e então recordou-se uma história antiga que o próprio Steve Rogers lhe narrou numa noite de Natal.

— Hey, James. Stevie me contou sobre o primeiro beijo dele.

— Ah, não.

— Sobre Myrthes Larson e o visco. E sua obsessão por bengalas de açúcar de Natal.

— Eu não estou ouvindo isso.

Ela riu do embaraço dele, que desviou o rosto bebendo mais de sua bebida. Ele quase terminou sua limonada, mas não sua própria vergonha.

— Por que diabos ele te contou isso? Eu nunca mais vou parecer interessante para você.

Houve um meio silêncio e os dois cruzaram o olhar. Wanda não tinha intenção de dizer algo, porém sua língua foi mais rápida e deixou escapar uma dose vermelha de coragem:

— Sabe que está errado sobre isso, huh?

Ele tossiu por alguns minutos, de modo que foram obrigados a pedir outra bebida para Bucky se recompor completamente. Os dois, num acordo silencioso, optaram por não tocar no assunto, mas deram voltas e mais voltas em conversas desconexas. Falaram sobre o trânsito e os buracos na cidade, sobre como tudo ali era barato. Wanda exibiu seus poderes de forma discreta, rodando o canudo de seu copo com a telecinese para misturar melhor o açúcar - coisa que ele achou engraçado. Alternou a cor dos olhos, num breve truque de transfiguração e transformou guardanapos de papel em notas altas de leus, para que pudessem pagar a nova rodada de sobremesas que o soldado pediu.

James tentou também ensinar um pouco de romeno para ela, começando com frases básicas. Era uma língua que não exigia muita ênfase ou empolgação para falar, o que bem combinava com o jeito ameno de ambos. Ela prestava atenção em como a boca dele se movia e como ele explicava certas influências eslavas no idioma, apesar ser considerada uma língua românica. Na realidade, ela não entendia tudo, ou melhor, não entendia em termos acadêmicos e racionais os detalhes, mas compreendia finalmente o que uma certa gata de três olhos marroquina quis dizer com “ouvir com o coração”. Em cada sílaba dita por Bucky, ela ouvia eu te amo.

E esperava que seus sorrisos respondessem a mesma coisa.

A volta para o apartamento regada por silêncios hesitantes, risos nervosos. Wanda poucas vezes se sentira tão adolescente, sem saber o que responder ou o que fazer, mas seguia como se soubesse exatamente cada passo tomar. Aquilo parecia sim um primeiro encontro, porém algo dizia a ela que em geral não se voltava para casa com a pessoa em questão depois de uma primeira saída despreocupada. Para melhorar as coisas, veio uma chuva repentina.

Wanda e Bucky, sem poder usar o  teletransporte no meio de tanta gente, começaram a correr nas calçadas de Bucareste, assim como algumas pessoas que se preparavam com guarda-chuvas. Chegaram à porta emperrada do apartamento, esbaforidos, ensopados e rindo. Ele conseguiu, depois de algumas tentativas e com certo uso de força, fechar a porta e virou-se para ela, água gelada ainda escorrendo pela sua face de sorriso tímido. Houve mais um daqueles instantes que Wanda sentia seu coração pular uma batida - e Bucky parecia escutar tal pulo. Ela deu um passo em sua direção, ele também. Wanda sabia e não sabia o que diabos estava fazendo, embora na verdade pudesse se resumir a uma única frase: Wanda queria beijá-lo.

E não sentia a necessidade de um visco de Natal para aquilo.

No entanto, antes que seu rosto se inclinasse para cima e fechasse os olhos, o barulho de pratos caindo no chão a fez dar um pulo, trombando com Bucky de forma desajeitada. Virou-se para ver o que tinha derrubado a louça da cozinha e viu um gato preto balançando a cauda.

— Ops. — Ebony disse. — Em minha defesa, esse lugar é muito pequeno. Mal dá para me movimentar aqui. Mas vocês podem continuar com o que estavam fazendo, eu espero.

A Feiticeira sentiu seu próprio rosto arder. Andou até o felino, evitando encarar James Barnes, pois não podia deixar de perceber que ele também tinha se inclinado em sua direção antes. Ela engoliu seco enquanto escutava-o soltar um suspiro e um maldizer baixo.

— O que veio fazer aqui, Ebony?

— Na verdade, vim checar se estava tudo certo. Ouvi boatos de confusão ontem à noite na rua, mas… Vocês parecem muito bem.

— Wanda, eu não tenho mais certeza se eu continuo gostando de gatos.

Ela riu, um som breve e engasgado. Completamente nervoso. Bucky ajudou-a juntar os cacos de louça no piso e, depois de limpar os fragmentos de porcelana, tiraram os casacos molhados do corpo e os estenderam nos encostos das cadeiras da cozinha para secar. A mochila não felizmente não tinha molhado  muito porque Wanda a protegeu com o próprio corpo, de modo que estava apenas úmida sobre a mesa. A chuva tinha engrossado lá fora.

— Que lugar deplorável. — O gato pulou da bancada para o chão, em seguida saltou para o sofá. Cheirou o estofado por alguns segundos e ficou com a boca aberta numa expressão desgostosa. A jovem foi até ele, já Bucky permaneceu na área da cozinha. — Minha cara, poderiam ter ficado num hotel assim como fez em todas as outras cidades. Está mais afiada nas artes telepáticas.

— É, hm… Me consumiria menos energia ficar num lugar onde não tenho que me preocupar com minha identidade o tempo todo, sem falar que tenho que cuidar de James também.

— Entendo… Mas tinha que ser logo um apartamento com rachaduras e sem senso algum de estética?

Wanda não tinha prestado muita atenção no último miado. Bucky tinha tirado a camiseta ensopada na frente da pia para torcer o excesso de água da roupa. Olhou apenas meio segundo para seu torso nu, embora tivesse sido o suficiente para Ebony encará-la com seus grandes olhos amarelos cheios de deboche.

— O quê? — Ela disse para o gato, o rosto fingido.

— Quem você acha que está enganando, Feiticeira?

— Enganando quem? — Bucky perguntou do outro lado, um tanto distraído. Vestia-se de novo e aproximou-se da jovem e do felino.

— Hã, é só o jeito estranho do Ebony me animar. Disse que estou enganando a mim mesma se penso que não consigo melhorar o aspecto daqui com o pouco de magia, não é?

— Não, bruxa boba.

— Que gato engraçado! — Wanda ofereceu um riso falso para Bucky, depois uma careta feia para o outro. — E o que você ia me ensinar agora, hm…?

— Sabe, eu me sentiria mais à vontade para te ensinar um feitiço se seu cabelo parasse de pingar em mim. Urgh. Você não trouxe mais roupas da última viagem pra se trocar? Lembro-me que você enfiava tudo no portal dentro do livro roxo, o que é uma saída prática, porém herege da sua parte. Do jeito que eu gosto. — Outra gota pingou na testa de pelo preto dele, o que o fez balançar a cabeça e soltar um resmungo. — Argh, e pelo gelo dessa chuva, acho melhor vocês dois tomarem logo um banho quente se não quiserem ficar doentes!

O pensamento de que havia apenas um banheiro e dois deles atravessou a cabeça tanto de Wanda quanto de James, de modo que os dois cruzaram o olhar constrangidos.

— Eu acabei de torcer a minha camiseta, então você pode ir…

— Ah, eu vi. — Uma pausa. — Quero dizer, na verdade você pode ir primeiro. Tenho certeza que o Ebony pode me ensinar um feitiço de secagem rápida, não é mesmo?

— Eu aposto uma das minhas vidas que você acabaria colocando fogo em algo antes.

A Feiticeira cogitou quantas vidas ele ainda tinha, pois se continuasse naquele ritmo era capaz de matá-lo.

— Pode ir, James. — Ela o assegurou, sentindo uma pontada na testa. — Sem falar que você não trouxe muita coisa pra se trocar. Enquanto isso, a sua roupa seca. Ou Ebony pode fazer secar, o que vier primeiro.

— Eu… Eu vou pegar toalhas lá no fundo. Pareciam limpas. — Antes de sair em direção aos armários do quarto, Bucky voltou dois passos e soltou um sorriso matreiro. — Só não queimem as minhas coisas, ok?

Wanda assentiu e o observou ir embora da pequena sala, tirando a camiseta novamente. Depois olhou para o gato com fúria nas íris e chamas na aura.

— O quê? — Foi a vez dele perguntar, sua cara muito inocente.

— Tá me fazendo passar vergonha.

— Vocês dois são muito engraçados. Eu poderia ficar assistindo-os o dia inteiro.

— Que seja. Só me ajude aqui.

Wanda realmente ateou fogo na sala, quase interrompendo o banho de James Barnes em menos de dez minutos. Em meio aos seus gritos e os miados esganiçados - risos— de Ebony, Wanda ouviu o soldado perguntar se estava tudo bem, e é claro que ela respondeu que sim. O tapete já gasto agora estava com um buraco no meio, além das bordas chamuscadas. Num gesto de trégua, Ebony recuperou-o na forma original e intacta, até mesmo mais colorida, com somente um miado longo e etéreo, uma brisa indistinta na noite.

Foi o suficiente de magia por alguns minutos.

Aproveitou a ausência de James para organizar algumas coisas. O armário do quarto tinha apenas toalhas e roupas de quarto, como lençóis e cobertores, e também não era muito grande, de modo que ela colocou as poucas peças extras dele em cima da cama - dois pares de blusas e uma calça - para que pudesse vestir assim que saísse do banho.  

Depois sentou-se no sofá, observando a chuva lá fora e gato inspecionando o resto do lugar.

— Você vai ficar fuçando nas coisas até me convencer de usar magia no apartamento?

Outro som de algo caindo no chão.

— Está dando certo? — Um resmungo indistinto. — Eu sei que aqui não é nenhum Sanctum, mas bem que podia ter um feitiço de extensão para parecer maior, ou então janelas para outros locais… Sou fissurado naquelas janelas. São bonitas.

— Eu não faço a mínima ideia do que é um Sanctum, mas posso imaginar. Minha nossa, gato. Para de se enfiar nos armários da cozinha. Se eu concordar com o que disser, vai parar de pular nas coisas?

Ele voltou até ela, já um pouco mais animado.

— Provavelmente não, mas posso me distrair por alguns minutos.

— Serve.

— Bom, você já sabe os conceitos de transfiguração e tem sorte de ter talento, já que não estuda direito e fica se distraindo com o soldado. Se dependesse só dos estudos, estaria perdida.

Wanda cruzou os braços.

— Que tal a gente ir pra parte útil dessa conversa?

— Os reparos que esse apartamento precisa são óbvios. Criar e destruir coisas são artes perigosas, como já mencionei, mas a transfiguração é sublime e efetiva.

— Sei. Você mencionou isso quando me ensinou a mudar minha aparência… É mais fácil com objetos inanimados?

— Sim, a menos que sejam símbolos. Dificilmente você conseguiria transfigurar de maneira simples uma construção antiga, por exemplo. Catedrais, monumentos, templos, todos carregam poder por si só. Agora, um apartamento aos pedaços em Bucareste…

— Certo, certo. — Ela se levantou, colocou o dedo indicador nas têmporas e tentou se lembrar das lições. — Vamos lá, energia… Energia, intenção e performance. Foi o que você me pediu pra escrever no caderno enquanto viajávamos. E me obrigou a sublinhar três vezes.

— Nota-se que meu método é eficaz. Agora, comece.

Wanda esticou os braços e logo os gestos vieram de forma instintiva para seus dedos. Seus olhos brilhavam rubros, seu riso era luminoso. Parecia tocar a realidade e sentir os pontos em que era possível alterá-la. Isso a fez recordar das palavras da Phuri Daj, sobre a uma distorção nos véus da realidade em Wundagore Imaginou se isso teria ver com ela mesma, com suas habilidades. Seu gene X. Impossível dizer naquele instante. Prosseguiu com o feitiço, embora ainda sentisse certos pontos chamando-a. Certas coisas clamando para serem alteradas.

Ebony não a avisou que seria tão simples ou tão tentador, mas ela tomou cuidado para não fazer o que jamais deveria ser feito, mesmo que isso significasse manter abaixo do chão o que estava enterrado.

Sua aura tornou-se incandescente conforme as rachaduras do apartamento se fechavam como se nunca tivessem sofrido um único dano, as cores dos móveis e da decoração avivaram-se. A Feiticeira não se esgotava, e sim revigorava por permitir que seus poderes escarlates jorrassem para fora dos limites do corpo. A questão era não deixar que o caos dentro de si não inundasse todo o que existia. Era isso que arrancava algumas gotas de suor de suas têmporas.

— O que diabos…?

O vermelho voltou a corpo de Wanda quando viu que Bucky estava parado, boca aberta e a expressão perdida. Ela riu e ele também, passando a mão na parede que tinha uma longa rachadura antes - e que agora era completamente lisa. Bucky já estava vestido com roupas secas, seu cabelo ainda úmido e bagunçado.

— Isso é…

— Meio estranho? — Ela escondeu as mãos atrás do corpo, cruzando-as. Sua postura era incerta, suas lembranças muito altas. Não era nada relacionado a James Barnes, na verdade. As pessoas costumavam ver seus poderes com assombro quando enxergavam um garota muito esquálida, de olheiras fundas e a fúria e cor vermelha saindo de seus dedos.

— Bom, algumas pessoas diriam satânico. — Ebony comentou.

Mas ele só balançou a cabeça, seu jeito silencioso.

— Não, não. É lindo.

Ela poderia ter chorado, no entanto não o fez.

— É, — O gato pulou no sofá, agora mais limpo e com um bom estofado. Deu uma espreguiçada, arranhou o encosto - sua face desgostosa ainda estampada no focinho. A exclamação de Wanda, pedindo que parasse de afiar as garras, mal adiantou. — Mas ninguém te ensinou a ser tão básica. Vamos, transforme isso aqui num sofá decente. Eu quero veludo.

— Eu vou tomar um banho antes.

— Depois você, hm… — Ele comprimiu os lábios. — Poderia também aumentar a geladeira? Seria legal.

— Sim, James.

Ela saiu rindo para o banheiro, ouvindo James Barnes e Ebony debochando um do outro. Concordou com a frase gato, no entanto usando-a para caracterizar a relação de ódio mútuo entre gato e soldado. Poderia vê-los o dia inteiro.

Depois de uma ducha quente e de ter melhorado o banheiro com seus poderes, arrumando os azulejos e a pia, Wanda vestiu o suéter longo e vermelho que trouxera, um presente de Natasha. Não conseguiu, porém, usá-lo de acordo com a sugestão da russa: somente suéter e botas de cano alto pretas. Trajou então uma calça simples e folgada, colocou meias e secou o cabelo o máximo que pôde. Pôs a pulseira que ganhou de Shuri no pulso, recordando-se da amiga. Quando voltou para a sala, Ebony brigava com a televisão enquanto Bucky pedia que ele calasse o focinho.

— Oh, você está de volta. — Ebony soltou um miado alegre. — Vamos, eu tenho minhas limitações quanto a magia. Transforme essa televisão num modelo decente, por favor. Ela só chuvisca, esse aparelho barato.

— Que tipo de programa que gatos assistem, afinal? — Bucky, ainda de costas, murmurou. Estava aprontando algo na cozinha, mas Wanda não adivinhou o que era.

— Que tipo de comida um soldado cozinha? Vocês só comem enlatados e é verdade. Eu vi.

— Chega, chega. Eu ajudo a transformar a televisão. E o sofá, que seja. Só pare de reclamar, gatinho.

— E a geladeira?

— Tá, a geladeira também.

Não foi tão difícil quanto achou que fosse, embora aparelhos eletrônicos fossem mais complexos para transfigurar. Ebony lhe deu uma ajuda extra, o que facilitou todo o processo - pois havia indicado com precisão qual modelo queria e deu dicas de como poderia simplesmente transfigurar as coisas. Tinha que imaginar o resultado final e se preocupar que funcionasse apenas. Já o sofá foi um modelo escolhido pela própria Wanda, enquanto a geladeira era uma réplica de uma dos anos 40, porém um pouco maior, para Bucky.

Ao fim, ela sentou-se no tapete com as costas apoiadas no sofá. Ainda chovia e esfriava, de modo que Bucky lhe trouxe uma manta e uma caneca com chocolate quente. Ela sorriu, pegou o pacote de bolachas em sua mão e abriu espaço para que ele sentasse ao seu lado. Lá fora, raios iluminavam a cidade.

— Então era isso que estava fazendo ali atrás? — Wanda soprou para esfriar o líquido, logo tomando um longo gole. — Hm, tá bom. Só tá bem quente.

— Eu costumava preparar chocolate quente quando morava aqui. Sei que gosta mais de chá e…

— Tudo bem. Eu gosto de chocolate também e nem dá pra te julgar. Sei que ama doces. — Ela deu de ombros, dando outro gole. Depois viu que Bucky, sentado ao seu lado, encarava sua boca. — O que? Eu fiquei com bigode de chocolate?

Wanda passou as costas da mão esquerda para se limpar enquanto Bucky soltava uma risada fraca.

— Olha… Na verdade, não era isso.

— Oh.

Uma pausa.

O gato rodeou o sofá, irritado.

Argh. Eu vou é ligar a televisão. — Ele pulou sem dó no controle remoto. — Esses jovens que nem perguntam mais se outra pessoa quer chocolate… No caso, o gato.

— Gatos não devem comer chocolate, Ebony.

— Ninguém, tecnicamente, deve comer chocolate. Mas eu quero. E ligue essa tv para mim, bruxa boba. Eu não tenho polegares opositores.

Assim que Wanda pegou o controle e apertou o botão, tudo escureceu. A energia tinha acabado por causa da tempestade de raios e os dois não tinham velas ou lanternas. Sobrou para os poderes de Wanda iluminarem o apartamento, uma estranha névoa vermelha que se condensava em pontos luminosos mais intensos. Era quase como ter nebulosas dentro de casa. Os minutos escorreram, o chocolate acabou e por fim restava Wanda e Ebony acordados, mudando móveis e detalhes do apartamento com magia. Paredes trocavam de cor, a mobília se transformava sozinha, como um catálogo de revistas de reforma. A discussão sobre o estilo da decoração poderia durar para sempre.

Bucky dormia em seu colo e ela passava sua mão esquerda suavemente em seus cabelos, os dois sentados no chão. Isso, mais a chuva e o escuro traziam um alento ao coração dela que parecia impossível, irreal. Pouco merecido e inefável, e doía pensar que era temporário. O gato preto, deitado no estofado do sofá, murmurou:

— Você ainda não quer deixá-lo. — Não era uma pergunta, e a voz do gato preto estava carregada de sabedoria de mais de uma vida. Ele entendia, sabia. E estava certo.

— Não, não quero.

A Feiticeira soltou um suspiro, observando o rosto de James Barnes. Era bom vê-lo assim, dormindo afinal. Uma noite em que ele podia descansar sem pensar em ser eletrocutado, manipulado, usado. E ela podia se acostumar com isso, com aquela rotina amena de magia, almoços, passeios. E sabia que isso jamais seria eterno.

— A decisão sempre será sua, Maximoff. — Ebony continuou. — Mas você sabe qual é a melhor alternativa para descobrir o que quer.

Wanda assentiu. O ideal era que encontrasse Agatha, para treinar logo seus poderes e salvar Natalya. Assim saberia suas origens. Assim saberia sobre sua mãe. Assim esclareceria tudo.

— Eu sei. — Uma pausa, outro relâmpago lá fora. Bucky se remexeu um pouco, sua cabeça apoiada na coxa dela. Wanda ajeitou-se para ficar mais confortável para ele e para ela própria. — É que… Acho que tenho um namorado agora.

Aquela palavra saiu estranha em sua boca e logo Ebony soltou uma risada cáustica.

— Ah, minha cara… Seu coração é violento demais para palavras leves assim. Você não tem um namorado, você tem um amante.

Wanda refletiu essa outra verdade. Seu irmão não era apenas seu irmão, era metade de si. Seus amigos não era apenas pessoas que conhecia, que estabelecera laços, não: eram sua família. Aquela não era uma viagem, era uma jornada. Ela não era problemática, era caótica.Tudo era intenso demais e com James Barnes não seria diferente. Um amante.

Ela riu daquela constatação tola e presunçosa.

— Ainda vou achar a casa da Agatha, gato. Talvez em breve, mas não quero pensar nisso agora. Estou com sono.

— Vá dormir, menina. Descanse. — Ele disse com carinho, quase um ronrom. — Eu sei que dia é amanhã.

Wanda apagou as luzes vermelhas e se enrodilhou melhor na coberta. Fechou os olhos, ainda lembrando. O dia seguinte era nove de Março, seu aniversário. Nosso, como ela costumava a dizer para Pietro durante tantos e tantos anos. Ela inspirou fundo e tentou não chorar, pois geralmente isso estragava seu sono.

Demorou mais do que o normal para finalmente dormir.


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Notas finais do capítulo

*Bucareste se mostrou uma cidade interessantíssima nas minhas pesquisas! Ela tem realmente várias facetas, vielas e, infelizmente, um aspecto um pouco abandonado. A maior parte dos relatos que li sobre esta capital fala que existem tesouros escondidos na cidade, como as "terase". O restaurante que Wanda e Bucky realmente existe! É o Bistrô Acuarela, um lugar muito lindo e que ilustra o início desse capítulo.

*Bucky is our lover ♥

*O capítulo foi revisado, mas Zola ainda existe e pode tentar sabotar essa fanfic. Caso encontre algum erro, por favor reportar à Shalashaska.



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