Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 69
LXIX


Notas iniciais do capítulo

25/11/2018
Vamos, me dê sua mão. Iremos para Bucareste.



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Eles demoraram para decidir afinal que ponto turístico de Bucareste iriam. Bucky achava que não era uma boa ideia se teletransportar para um dos pontos mais famosos da capital, já que haveria gente e segurança mesmo no final do dia, mas Wanda argumentou que escolher um ponto no catálogo de viagens seria a forma mais rápida de chegarem, além de ser um presente de Clint Barton.

Ao fim, ela garantiu que tinha escolhido um local apropriado e, na realidade, não foi difícil convencê-lo. Luz vermelha os engoliu e quando o soldado abriu os olhos, não pôde conter um sorriso de lado. Ele conhecia aquela vista, já que morou ali durante meses.

Ouvia o tráfico e sentia o vento fresco. Estavam abaixo de uma construção opaca e neoclássica, tingida pela luz bronze do ocaso. Ele colocou as mãos nos bolsos do casaco escuro e deu um passo para trás, admirando a curvatura do monumento acima de sua cabeça.

— O Arco do Triunfo?

— Sim. Eu fiquei surpresa de existir um na Romênia. É menor e tal, mas… — Ela deu de ombros, a mochila de um lado e o gato preto no outro. — Acho que faz sentido. Para nós.

— É? — Bucky gostou da forma que Wanda disse “nós”. — Por quê?

— Hm, no catálogo dizia que foi construído às pressas depois que ganharam a Independência daqui, para que… Para que as tropas vitoriosas marchassem por baixo.

Wanda não disse que eles eram vitoriosos, nem que tinham conquistado um pouco de independência, mas Bucky Barnes compreendeu suas palavras sussurradas. Ele sabia o que ela queria dizer. Afinal, era sempre isso, não? Ele sabia o que ela queria dizer sem dizer. E ela sabia de volta.

Naquele instante, porém, ele queria dizer algo. Algo que fosse tão significativo quanto aquele arco, quanto a viagem deles, quanto o “nós” que ela tinha dito. No entanto, Ebony acordou do colo de Wanda com um bocejo displicente e começou a tagarelar sobre o barulho do trânsito.

— E então, bruxa boba. Chegamos. Pode me soltar agora.

— Não reclamou quando eu cocei as orelhas até dormir.

— Só me solte, Wan.

Ela o largou no chão. Bucky viu que a cena era meio estranha, duas pessoas no meio do Arco ao final da tarde, com um gato preto estranhamente comportado. Talvez passassem por turistas inconvenientes.

— Bom, se agora os dois me dão licença… Irei dar uma volta.

— Ei. Você não vai me dizer onde fica a… A Loja de Bruxa da Agatha?

— Não. Mas você vai encontrá-la. Até breve, bruxa boba. — E então, um último aceno com a cabeça felpuda. — Soldado.

— Até mais, bichano.

Wanda soltou um suspiro quando o viu desaparecer, depois se voltou para Bucky.

— Sabe, eu na verdade não gosto de mistérios, a agonia de não saber as coisas. Confesso que é interessante ir atrás das respostas, mas estou tão...

— Exausta?

— É.

— Lamento, Wanda… A gente ainda vai ter que andar mais um pouco. O Arco do Triunfo me lembrou do tal francês que precisamos encontrar.

Ela ergueu apenas uma sobrancelha.

— E temos que resolver mais alguns mistérios?

Discutiram antes se ficariam em um hotel. O apartamento antigo de Bucky estava fora de cogitação e Wanda dissera que manipular a mente de muitas pessoas ao mesmo tempo era cansativo demais, sem falar a necessidade de proteger a identidade de Bucky também. Ela também não se sentia confiante o suficiente para arriscar alterações mais ousadas em sua aparência por meio da magia. Portanto, um hotel grande onde lidariam diariamente com a equipe, serviço de quarto e outras outros hóspedes, também não era uma boa opção.

James Barnes tinha uma terceira alternativa, embora não muito confiável. Conhecia um cara que lhe devia um favor, a mesma pessoa que arrumou o apartamento para ele antes. Respondendo à pergunta dela, suspirou.

— Eu diria que no momento está mais para um acerto de contas com Remy LeBeau. E se chegarmos rápido, quem sabe esbarramos nele?

Para Wanda, o sujeito não parecia nada mais do que um artista de rua. E um artista muito bom, que fazia truques com cartas e despertava risadinhas do público feminino devido ao seu carisma e ao sotaque francês. O pequeno espetáculo com o baralho envolvia desviar a atenção para as partes certas, mas Wanda não achou que o lume rosa-choque fosse parte de um truque de ilusionismo. Parecia poder. Para ser sincera, Wanda não podia deixar de sentir simpatia por quem também tinha olhos rubros - ou talvez realmente fosse admiração por seu talento, e bem, por sua aparência. Talvez tivesse algo por caras com cabelos castanhos na altura dos ombros.

Bucky havia dito que ele costumava ficar na praça por conta do movimento, embora organizasse um esquema de comércio ilegal e troca de favores. Bucareste era uma cidade com muitas construções abandonadas e até mesmo tinha um tour turístico para visitas. Certos prédios e apartamentos não estavam sob domínio da prefeitura ou moradores locais, mas sim de indivíduos com interesses escusos que os usavam como hospedaria discreta para pessoas só de passagem. Gambit era uma dessas pessoas e tinha muitas dessas hospedarias pelo preço ou favor certo. Era um mercenário conhecido, astuto. Reconheceu o Soldado Invernal em meio a pequeno espetáculo que apresentava, inclusive deu um jeito sutil de encerrar logo seu número e chamou-os para mais perto, em direção a uma das inúmeras vielas que aquela cidade tinha. Dissera ele que era melhor para conversarem em particular.

— Deixe que eu falo com ele. — James disse em seu ouvido, falando baixo e em russo. — Gambit me deve um favor.

Ela concordou. James estava com aquela sua expressão séria, mortífera. Não era possível enxergar seu braço metálico por debaixo do casaco, mas o jeito que ele fechava a mão, cerrando o punho, soltava um leve estalo. Lá estavam eles no meio de uma viela, a noite chegando e os postes se acendendo. Sozinhos.

— Eu pensei que não iria mais vê-lo, mon ami. — A voz dele era quase um ronronar. Gambit se direcionava a Bucky, mas olhava para Wanda de tempos em tempos. Ao notar que ela também o encarava, piscou com apenas um olho e fez uma breve mesura. — Ma chérie. É um grande prazer recebê-los, depois de certa… Confusão há algumas semanas, não? A que devo a honra?

— Você pode pagar seu favor. Ainda tem lofts sobrando?

— Tenho coisas mais interessantes que um loft.

— Só preciso de um lugar seguro. Fora de vista, perto de rotas de fuga. Sabe do que estou falando.

— Você quer um refúgio. — Ele ainda tinha as cartas nas mãos e fez um breve truque, quase distraído, porém das cartas saiu luz rosa-choque e som de tensão elétrica no ar. — Sinto muito, mas não vai encontrar segurança na cidade em que o Soldado Invernal morou. Há alguns drones pelo centro. Pelo preço certo, eu poderia até dizer os horários de patrulhas deles…

— Pensei que honrava ao menos sua palavra.

— Ora, essa! — Ele riu. — Estou sendo sincero. Quer um lugar seguro? Suma daqui.

— Não quero saber o que considera seguro ou não. Se não tem algo que eu queira, outra pessoa terá.

— Sabe que não está em posição de exigir, não é?

Bucky rangeu os dentes, já Wanda inclinou o queixo. Aquela frase soou como uma ameaça, coisa que fez o soldado ao seu lado tensionar os músculos. No entanto, não podiam apelar para uma briga ali mesmo. Se ele também tinha poderes… Um combate envolvendo a Feiticeira Escarlate e o Soldado Invernal faria muito estrago.

Ela piscou de forma muito leve, seus olhos faiscaram vermelhos por um breve momento. Fazer uma leitura dele pareceu o mais sábio na situação, e o mundo desacelerou para que pudesse enxergar suas verdadeiras cores e ler seus pensamentos.

O sujeito não era mal, isso conseguiu enxergar em sua aura rosa neon, tipo um letreiro. Ele apenas era ganancioso e ressentido, não ligava muito para as consequências. Era esperto e da noite, dos truques e tramoias. Além de comentários nada delicados sobre sua aparência, Wanda podia ver algo mais a fundo em sua cabeça. Algo que… Não estava certo. Franziu a testa. A mente dele era intencionalmente instável e isso confundia sua leitura.

— Ah, ma chérie… — Ele a encarou e o coração dela pulou uma batida devido ao susto. — Se quiser saber o que estou pensando, é só perguntar. Tenho certeza de que vai gostar do que vai ouvir.

Silêncio se seguiu. Wanda não foi afetada pelo comentário dele, mais preocupada com o fato dele ser preparado para lidar com telepatas do que o conteúdo lascivo do que dissera. No entanto, não podia dizer o mesmo de Bucky. Sua aura escura tremulava de ódio.

Ela assumiu uma postura defensiva, cautelosa. Era melhor investigar mais a fundo o que Remy LeBeau estava pensando, só precisava de tempo. Ao menos conseguiria mais alguns segundos, já que os dois ainda debatiam.

— Olhe só… — Gambit continuou, abrindo casualmente o sobretudo que trajava. Guardou o baralho de cartas em um dos bolsos internos e do outro tirou um molho de chaves pesado, tilintando. — Posso dar uma das chaves pra vocês, qualquer uma delas, e são várias opções na cidade. Mas eu preciso de algo mais valioso que uma palavra.

— Você não vale nem o tempo que gasto falando contigo. Por que lhe daria algo além disso, quando ainda me deve?

— Bom, — Ele molhou os lábios com a ponta da língua. — Só quis uma chance de negociar e ainda fui generoso em lhe passar uma dica de graça. — Muito calmo, repetiu sua frase: — Quer um lugar seguro? Suma daqui.

Wanda arregalou os olhos. Ela viu. Foi menos de segundos, mas enxergou as intenções de Gambit. Se não fosse para lucrar ajudando os dois, ele iria lucrar prejudicando-os. E isso envolvia levá-los a justamente esta viela onde em breve passaria uma ronda de drones, o que resultaria em uma denuncia ao Serviço Mata-Capas e uma bela recompensa à Remy LeBeau.

— Bucky, drones!

Bastou meio grito de Wanda para o Soldado ligar um ponto a outro. Ouviu o aviso da Feiticeira, enxergou as máquinas chegando na rua onde estavam. Compreendeu perfeitamente do que se tratava: mais um engodo de Gambit.

Wanda foi rápida suficiente para detonar os drones no ar assim que apareceram e esperava que não tivesse dado tempo para realizarem detecção facial de seus rostos. Jogou sua mochila para o canto da rua e atacou em um segundo. Independente disso, tinham que sair dali logo, pois saberiam que as máquinas foram destruídas e então enviariam reforços. Isso significava Mata-Capas. Faltava lidar com Gambit para que pudessem fugir e Bucky se dispôs a sair no braço com ele.

A questão é que isso se mostraria mais difícil do que pensavam.

Ele era ágil e desviava dos golpes, mesmo que os socos de Bucky fossem pesados. Wanda pôde ver o brilho do braço metálico dele se acender dourado, carregando com impacto, porém precisava apenas da chance de golpear o trapaceiro de forma certeira. Ela erguia a mão para prendê-lo com magia rubra quando Gambit se afastou e tirou o baralho do sobretudo. As cartas ficaram brevemente suspensas no ar, até que uma delas foi lançada contra a mão da Feiticeira e entrou em combustão espontânea, queimando de raspão a sua pele.

Ela soltou um grunhido, Bucky se distraiu e levou um soco no queixo. As cartas sibilavam no ar antes de fincarem-se no chão e explodirem, mal dando tempo para que desviassem. Wanda ergueu um escudo de energia ao redor do soldado e desintegrou o restante do baralho com sua magia escarlate. Por um instante Remy ficou surpreso com a feitiçaria, em seguida sorriu. Despiu-se do sobretudo e balançou o molho de chaves a sua frente.

— O poder não está nas cartas. Está nas minhas mãos.

Foi a vez das chaves voarem e explodirem. A sorte era que as explosões eram pequenas em comparação a bombas ou granadas e até o momento não havia despertado a atenção de ninguém. Só não podiam se apoiar nessa sorte por muito tempo e ela mal conseguia se concentrar com a mão doendo tanto.

— Wanda! — Bucky chamou sua atenção. — Desfaz o escudo!

Ela ia gritar que não, porém optou por confiar em suas palavras. Discutir custaria tempo que não tinham. Ele estava próximo do oponente e se levantou, caminhando de forma decidida sem a proteção rubra de Wanda. Remy, em resposta, lançou uma chave que se cravou e explodiu no braço dele, abrindo um buraco em seu casaco. Houve um som elétrico depois. Bucky girou o próprio braço, endireitando-o no lugar, e não fez mais do que uma expressão aborrecida em meio a uma nuvem de fumaça. O metal era vibranium e não seria abatido pelos poderes do mutante.

Ela engoliu seco, assistindo-o. Da parte de trás do cinto, James tirou um canivete com a mão metálica e o arremessou em direção a Remy, acionando o mecanismo de seu braço para redirecionar energia. Houve um curto brilho dourado e em seguida Remy estava no chão, segurando o próprio ombro que sangrava.

— Ai, meu Deus! James! — Wanda foi correndo ao seu encontro, e ele já estava de frente para o francês. A vontade era de despejar todos os xingamentos que aprendeu com Natasha. — James! De onde você… De onde veio esse canivete?

— É um mau hábito.

— Minha nossa. — Ela observou Remy se contorcer. — Minhanossaminhanossaminhanossa. Ele vai morrer.

— Eu não to morto ainda. — O francês arfou, soltando um impropério.

Bucky apenas o encarou sem dizer nada. Wanda se abaixou, mas não sabia nem por onde começar. Lembrava-se que não podia tirar o canivete da ferida, senão sangraria mais.

— Nós não podemos deixá-lo aqui.

— Podemos sim. E nem me olhe desse jeito, você sabe que… Wanda, ele nos traiu!

— Certo, e do que vai adiantar se ele contar à polícia que estamos aqui?

— Bom, — Ele absorveu o argumento. — Talvez ele morra antes disso.

— Eu não to morto ainda, desgraça!

— Posso terminar o serviço.

— Que tal ninguém matar ou morrer? Que droga! — Wanda se levantou, xingando e pensando em voz alta. Procurou uma das chaves que ainda estava inteira no chão e mostrou-a para Remy LeBeau. — Lembra do endereço dessa chave?

— O quê? Pensei que ia me ajudar!

— Me dá o endereço e eu salvo sua vida. Vamos, monsieur. Você não está em posição de exigir, não é?

Gambit tentou se levantar com um grunhido, mas justamente quando Wanda ia prendê-lo com magia, Bucky lhe deu um pisão no meio do tórax e o pressionou contra o chão.

— Você ouviu a moça, dê o endereço.

O outro soltou um suspiro e assentiu, de modo que Bucky tirou a bota de cima dele.

— Tudo por garotas bonitas. Sabe, ma chérie… As palavras dele não me valem nada, mas um beijo seu...

— Pare de trapacear, Remy.

— É, — Ele riu para Wanda. — Você é uma boa telepata.

Eles tiveram que levá-lo por ruas acima, carregando-o para que pudesse se sentar numa outra praça. Wanda suou para desviar atenção das pessoas em relação ao trio, principalmente porque Remy ainda sangrava e estava até mesmo pálido. Felizmente a noite os cobria. Bucky levava a mochila de Wanda no outro ombro, grunhindo. Quando enfim estavam seguros, o francês deu-lhes o endereço completo. Era no centro da cidade e aquela era a única cópia da chave que existia. Teriam certeza de que ninguém os incomodaria.

Agora era parte em Wanda o ajudava, e ela teve que se recordar de cada pedaço de sabedoria dos livros sobre magia que leu.

Pediu que Bucky se afastasse. Pegou um trocado nos bolsos do sobretudo de Remy e solicitou que Bucky comprasse uma bebida no bar mais próximo. Como era apenas uns cinquenta metros de distância da praça, o soldado se foi - ainda que muito desconfiado.

— Certo, monsieur LeBeau. — Wanda tamborilou os dedos no ar, trazendo magia rubra para a cena. Começava a fechar a ferida aos poucos, para depois tirar o canivete. — Podemos fazer do jeito mais fácil ou do jeito mais difícil.

— Faço do jeito que você quiser.

Ela ergueu uma sobrancelha e preferiu continuar falando.

— Podemos acabar isso por aqui da forma que combinamos, mas... Por uma questão de segurança, eu vou manipular seus miolos para achar que nunca estivemos aqui e pego todo o restante dos seus leus romenos. Ou, você finalmente pára de fingir que o dinheiro é o mais importante e nos deixa em paz sem falar nada. E eu não mexo nos seus miolos ou no seus leus.

— Sabe que está sendo muito ingênua na segunda opção, não?

— Como você disse… Eu sou uma telepata muito boa. Eu vi que não é o dinheiro, huh? Você está arrumando formas de ajudar mutantes a fugirem para Genosha, para um lugar seguro. E pra isso precisa de grana. De muita grana.

— Eu sou pago pra isso.

— Pare de mentir. — Ela suspirou. — Você é um ladrão muito bom, mas não é tipo um coyote de fronteiras. Você está ajudando pessoas, famílias mutantes que não conseguem pagar a viagem para um lugar seguro. Não fica com nada pra si. Por que não disse isso para gente? Íamos tentar, sei lá, te ajudar também.

Remy ficou quieto por mais de minutos, Wanda afinal tirou o canivete e limpou o sangue no sobretudo dele, sem ficar enojada. O mutante soltou um arquejo e permaneceu respirando em silêncio, até que confessou:

— A cabeça dos dois vale bastante, entende? A Feiticeira Escarlate e o Soldado Invernal. Daria para cinco grupos fazerem a travessia com conforto.

— Boa sorte em tentar ir pra Genosha depois de entregar a filha do líder de lá para a polícia.

— Oh. Eu…

Wanda deu um meio sorriso.

— Esqueceu ou não viu o noticiários?

— Só não achei que fosse dar essa cartada, filhinha do papai.

— Bom, mas eu sou a filha dele, caso você queira ou não. — Depois repetiu baixinho, mais para si do que para ele. — Caso eu queira ou não. E ele foi bem eloquente sobre minha segurança.

— Primeiro me desculpe pela queimadura, não foi nada educado da minha parte. — Ela fez um gesto abanando o ar, fazendo pouco caso do ferimento. Estava satisfeita, porém, em receber um pedido de  desculpas. — E posso prometer que não vou me intrometer no que quer que vocês dois estejam aprontando, mas não posso oferecer proteção.

— Não pedi sua proteção e a palavra de um ladrão não me vale nada, como você bem fez questão de mostrar. — Ele riu dela, mas anuiu. — Quero a palavra de Remy LeBeau, mutante e… Herói? Bom, só quero sua palavra que não nos denunciará.

— Só… Mutante, por enquanto. E tudo bem, chérie. Eu prometo.

— Bom.

Se fez luz vermelha e feitiçaria. Remy exclamou assustado, tentando se afastar, porém névoa carmesim o envolvia inteiro e uma marca “W” surgiu em seu braço. Os olhos de Wanda estavam muito acesos e o sorriso dela grande demais.

— Que porra é essa?

— Cadê seu charme francês?

— A marca sumiu. — Ele tateou a própria pele. — Você... Você me amaldiçoou? Bruxa.

— É só um feitiço simples para garantir que cumpra a promessa. Se quebrar sua palavra, seu coração sairá pela boca, mas só se… Quebrar sua palavra. E você nem me agradeceu por ter curado seu ferimento, ou ao menos parcialmente.

— Isso é trapaça!

— Eu só queria que negociar. — Disse ela, muito inocente. — Vamos, seja forte. Não deve ser a primeira vez que é passado para trás.

— Até que eu gostei, — Remy mais uma vez soltou um riso grave, entre puro flerte e genuíno interesse. — Mas por que não só… Sabe, deletou minha memória? Me manipulou, com esses seus poderes?

— Eu já tentei fazer o certo por meios errados. — Wanda deu de ombros. — Agora deixo esse tipo de coisa pra momentos mais inócuos, tipo… Me misturar na multidão. Quero fazer o certo da forma certa.

— Não gosta das coisas erradas, ma chérie?

Bucky parou na frente deles, a garrafa na mão.

— É pra eu quebrar o vidro e enfiar nele?

— Não, é só… Pra desinfetar a ferida. Dê aqui, vou terminar. Fiz da melhor maneira que eu pude.

James Barnes apenas pegou o canivete de volta e o colocou no mesmo ponto do cinto. Seu rosto impassível provocava vontade de rir em Wanda, mas ela conseguiu disfarçar. Juntou a chave e a entregou à ele, dizendo que era melhor se apressarem. A viagem foi longa e ela queria descansar, sem falar que não conhecia nada da cidade.

— Vamos?

— E deixamos esse sujeito? — Ele apontou o outro com a ponta da garrafa. — Aqui?

— Também sentirei saudades, mon ami.

— Eu lancei um feitiço nele, James. Sofrerá consequências terríveis se quebrar a promessa de nos deixarmos em paz. Não vamos ter problemas, certo?

Oui.

Bucky franziu os cenhos, mas aquietou-se. A despedida foi breve e desajeitada, oscilante como algumas luzes na praça. Para a surpresa dos dois, o vigarista deu meia dúzia de notas para eles, para que pudessem pegar uma carona até o local e comprar alguma comida.Wanda e James seguiram em direção ao centro para o apartamento que Remy tinha, segurando bem a chave e atentos para a possibilidade de uma perseguição. Tomaram o transporte público sem problemas, seus pertences na mochila e um saco de papel pardo com a bebida.

— Wanda, — Ele começou, muito incerto. — Eu não lembrava que… Que sabia lançar feitiços assim. Feitiços de verdade, com juramentos e... Consequências.

— E eu não sei. — Wanda confessou. Tinha sido puro espetáculo de luzes vermelhas, não uma maldição verdadeira. — Mas Remy não sabe disso.

O soldado abriu a boca brevemente, quase sem acreditar no risco.

Boneca… Você tapeou Remy LeBeau.

— Olha, eu sei que não entende o motivo para eu querer deixá-lo… — Wanda olhou ao seu redor, vendo se prestavam atenção em sua conversa. Já era noite e alguns outros passageiros dormiam, porém isso não a deixou segura para falar mais alto.— Vivo, mas eu vi que ele não é mau. Ou inteiramente mau. Sei que pode deixar de ser assim. Ele só precisou de uma chance e acho que ele pode nos ajudar no futuro.

— Bom, ele é um sujeito muito ganancioso. Pode nos trazer problemas. — Ele pegou sua mão com carinho e encarou a queimadura de raspão. — E te machucou. Não existe como eu confiar nele, mas eu confio em você.

Ela sorriu e deitou sua cabeça no ombro dele. Ficaram de mãos dadas até chegarem ao seu destino.


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Notas finais do capítulo

* Parece que a Wanda sabe blefar, não é mesmo? hahaha

* Quem gostou da aparição do Gambit levanta a mão!

* Quem curtiu o Bucky #pistola dá um grito!

*Postei e sai correndo para ir trabalhar, socorro!