Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 62
LXII


Notas iniciais do capítulo

05/10/2018
Certo, eu não esperava dar um hiato de 30 dias, mas muitas coisas ocorreram nesse meio tempo e eu lamento de verdade a demora. Sei que o capítulo não está tão grande quanto costumo entregar, porém adianto que estou finalizando os próximos. Eu me senti um pouco perdida na narrativa porque certas coisas vão mudar e quis abordar isso com cuidado, para que seja coerente e etc, isso me fez atrasar mesmo. Perdoem essa autora confusa hahaha Muito obrigada pelo apoio, seus lindos e lindas. Hoje não tem imagem porque estou postando pelo tablet e fica meio difícil editar do jeito que eu gosto, só avisando. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/697672/chapter/62

Um suspiro. Estavam exaustos e tudo ocorrera exatamente ao contrário do que planejaram, mas estavam vivos. Wanda estava ali, seu peso fazendo arder os ombros de James Barnes, embora esse peso fosse na verdade um alívio. Existiam pesos piores para carregar.

Cada um deles olhou um para o outro. Sam Wilson resumiu a questão:

— Uau. E agora?

Depois de se certificarem que nenhum deles tinha um ferimento terrível, os Vingadores começaram a realmente respirar melhor. Nenhum outro robô assassino chegou, Silver Sable e o resto dos Mata-Capas estavam preocupados demais com a própria equipe para lidar com eles e aparentemente a ordem de caçá-los foi suspensa. Só que nenhum dos Vingadores queria dar chance ao azar. O objetivo era sumir até que a situação se acalmasse - ou que o foco voltasse para cima deles.

As provas de que o Projeto Sentinela era vil foram entregues. Nenhum inocente morreu enquanto estavam lá e, exceto o metrô, nenhum prédio ou obra pública foi danificado. Magneto estava a salvo, sua alma não foi tirada do corpo. O único porém era que Zola sobrevivera, mas não resolveriam aquilo nem ali, nem agora.. Não tinham mais o que fazer em Zurique, portanto. O problema era o transporte.

A mulher que veio depois de Tony Stark à cena de luta então pareceu muito concentrada num ponto fixo, como se escutasse algo baixo, algo que somente ela ouvia. Poderia ser uma escuta em seu ouvido, um comunicador moderno. Ou telepatia. Sabendo que se tratava de uma mutante, Bucky não ficaria surpreso por isso acontecer. Natasha e Sam conversavam, Tony mudou a perna em que apoiava-se e se aproximou de Steve.

Para a surpresa de todos, foi o Capitão América que falou primeiro:

— Eu agradeço por atender o telefone.

O Homem de Ferro baixou os olhos por alguns segundos. Quando os levantou, mesmo que por um segundo, cruzou o olhar com Bucky.

E ambos sentiram tal olhar raspar faíscas um no outro. Um suspiro.

— Vocês vão precisar de cuidados médicos, todos vocês. E Wanda… Bem, e Wanda tem muito o que processar. Desde quando sabem que ela é mutante?

— Há alguns dias. — Steve respondeu, incerto pelo tom de seu amigo Stark. — Era só uma possibilidade estranha até o Sentinela confirmar.

— E o fato de Magneto acreditar ser pai dela? Isso é impossível.

— Nós vimos aliens e pessoas voando, Tony. Isso deveria ser impossível também.

— Eu não vou discutir as peculiaridades científicas de tudo isso agora, Romanoff. A menos que o material genético de Erik Lensherr tenha sido coletado pra gerar crianças in-vitro, não vejo outra forma dele ser pai dos gêmeos. Ele está alucinando e eu temo que essa mentira contamine a cabeça dela. E não precisamos que Wanda fique instável.

Bucky podia aceitar certas palavras ásperas para si, mas não hipocrisia direcionada a Wanda. Ele estava cansado, cheio de hematomas que certamente iriam doer mais no dia seguinte, e não conseguiria mais ouvir a voz de Tony. Ele nem mesmo pareceu pensar sobre o estado mental de Wanda quando a jogou numa prisão de baixo do mar, por que estaria agora falando sobre ela ficar instável? Sua cabeça zuniu e quando se deu por si, já estava falando:

— “Contamine a cabeça”? Wanda foi culpada por algo que nem era responsabilidade dela e eletrocutada pelo governo. Ela se odiava! E você tem medo que isso, isso que ela mal escutou, contamine a cabeça dela?

— Não fale comigo, seu assassino! Eu sei que ela se odeia, mas jogou fora a oportunidade de ser uma heroína da ONU! E agora vem um louco fazer propaganda mutante às custas dela!

O nariz de Bucky se franziu junto com a expressão severa em seu rosto, quase torcida num rosnado.

— O que a ONU fez pelo país dela?

Sam Wilson também se sentiu na necessidade de falar, embora sua voz alta fosse firme. Não havia a volatilidade da emoção, e sim a solidez de sua moral somada a expressão de seu cansaço.

— Não é porque não sabemos a verdade que isso é insano. E sejamos francos, tá tudo errado. Ano passado, o plano da ONU deixou que um assassino jogasse a responsabilidade de um atentado terrorista nas costas de um inocente e ninguém soube até nós investigarmos. E nós fomos presos. Sobre Wanda e Erik… Sinto que vamos descobrir também. Mais cedo ou mais tarde.

O argumento surtiu efeito e amenizou os ânimos da discussão, ainda que fosse uma referência direta a Zemo. Tony olhou para Bucky de novo e disse, não diretamente para o Soldado Invernal:

— Ele não é inocente.

— Não. — James Barnes assentiu, retribuindo o olhar. Optou por ser sucinto. — E nem você.

Tony Stark engoliu seco de ódio. Bucky se sentia frio pelo mesmo sentimento. Até que o Homem de Ferro desviou o rosto e tentou uma abordagem mais suave, em tom de reconciliação - um tanto contrariado.

— Será que ao menos um de vocês poderia ouvir a voz da razão e voltar comigo pra casa? Ainda há tempo. O Acordo não é perfeito, mas…

Steve balançou a cabeça.

— Tony… — Ele começou, gentil. — Nós não vamos discutir o Acordo agora. Você sabe a nossa resposta. E sabe que estamos fazendo o certo. Nós agradecemos que tenha atendido e tenha nos ajudado, de verdade. Mas não existe um lugar para nós em casa enquanto o Acordo for assim.

— Você sabe que não sou eu que decido isso. E sabe que está sendo um idealista ingênuo. Isso aqui é a realidade, picolé.

— Eu sei, posso ser um tanto antiquado, mas… Eu sou o Capitão América. — Steve deu de ombros, um tanto conformado e sarcástico por conta de sua alcunha patriota. — Só sei que tem funcionado, afinal, você está aqui.

Essas palavras quebraram Tony por um instante.

— Era o certo a se fazer. — Ele argumentou, como se sua frase se focasse mais na situação do que concordar com Steve. No entanto, sua resposta serviu justamente para provar o ponto dele.

Bucky gostava quando seu amigo era um desgraçado esperto, a ponta da língua sempre pronta para uma resposta afiada. O breve silêncio falou por si, assentando as palavras de Steve Rogers

— Se vocês já terminaram… — A mutante de cabelos alvos interviu. — Professor Xavier me mandou uma mensagem. Conseguiram eliminar os Sentinelas sem nenhuma baixa ou destruição absurda, mas T’Challa e Okoye partiram. Aconteceu algo com a princesa Shuri em Wakanda. Então se precisam de carona pra qualquer lugar, podemos levá-los em nossa nave.

— Uma carona seria bem vinda, Ororo. — Sam suspirou. Ao menos foi bom para Bucky descobrir o nome daquela mulher-deusa, que controlava raios. — E eu espero que tenham algo para comer nessa nave.

Ela riu e logo vento se fez. Antes não havia nada, ou não parecia haver, até que uma nave se revelou diante do olhar de todos, já há poucos metros acima da cabeça de todos. Tratava se de tecnologia de camuflagem na carapaça da aeronave que descia. Não pousou devido a quantidade de destroços no chão, portanto apenas pairava sobre o asfalto. Uma das portas se abriu, relevando uma mulher ruiva vestida de verde. Ela sorria, apesar de um hematoma recente na face, e não parecia dar muita importância ao cenário de caos lá embaixo.

— Tempestade, — Ela se referiu a Ororo, e Bucky considerou o apelido muito apropriado. — Precisamos de você de volta para pilotar isso aqui. Eu não confio em Logan e nem em Scott na direção.

Uma reclamação indistinta ressoou de dentro.

— Prepare lugar para mais…— Tempestade então se virou para o grupo de Vingadores, contando-os. — Seis?

— Não se preocupe, senhorita Munroe. — Tony interrompeu-a. — Uma outra hora visito o Instituto Xavier para aquele whisky. Agora tenho outras coisas a fazer. Uma bagunça pra limpar.

— Tony. — Natasha chamou-lhe a atenção, mas ele apenas fechou o capacete de sua armadura. Ele pareceu tentado a apenas se virar e sair voando, coisa que Bucky sentiu culpa por querer que fizesse. Depois lembrou que não deveria ser tão reativo com Tony, pois foi ele que matou Howard e Maria Stark e não era nada estranho que ele nem lhe dirigisse a palavra.

O Homem de Ferro se voltou a russa:

— Eu nem mesmo vou perguntar o que faz aqui e como sabia de tudo. E porque não me contou nada.

— A resposta está na sua frente. Está reagindo da forma que eu não queria que reagisse. E lembro que a última conversa nossa que durou mais que dois minutos não terminou muito bem.

— Você sabe que agora eles não vão te deixar em paz. E sabe que não vou conseguir protegê-la.

A russa negou com um gesto na cabeça.

— Ah, Tony. O Salão Vermelho já tentou me destruir. KGB, HYDRA, e muitos outros. Eu não preciso de proteção numa redoma de vidro. E você não precisa estar no controle de tudo.

Steve se aproximou.

— Sabe que pode contar conosco, a qualquer momento. Eu sempre atenderei seu número.

— Eu não queria ter que ligar pra ter sua ajuda.

O sorriso que o loiro deu foi tão triste quanto o concreto molhado no cenário.

— Então venha conosco.

Silêncio. O rosto de metal da armadura permaneceu impassível.

— Como eu disse, eu tenho uma bagunça para limpar. Tentem não se meter em confusão. — Ele acionou as turbinas nos pés e estabilizou com a energia das palmas. — E Rogers…

— Sim, Tony?

— Barba legal.

O Homem de Ferro partiu.E

Elesentraram no jet dos X-Men e se acomodaram aos poucos. Bucky continuou perto de Wanda, mesmo que não estivesse mais carregando-a no colo. Colocou-a deitada em  um  apoio, depois sentou-se ao seu lado. O restante do grupo não demorou a subir a bordo também e, enquanto Sam e Steve se preocupavam em cumprimentar os  mutantes que ali estavam, Bucky alisou os cabelos de Wanda para ver a sua face. Estava aliviado por vê-la bem, considerando as possibilidades. Soltou um suspiro cansado que até curvou seus ombros para dentro, sua postura um tanto encolhida. Existiam tantas coisas a se pensar que sua cabeça produzia devaneios inconsistentes, cada um nas dúzias de línguas que aprendeu ao decorrer dos anos. Passou a mão nos próprios cabelos como se isso pudesse calar seus pensamentos. Eles sentia certa culpa por ter se deixado levar pela emoção visceral ao ouvir o Homem de Ferro mencionar a instabilidade mental de Wanda pois, mesmo que Tony estivesse errado - porque era um hipócrita e nunca tivesse realmente ligado para o estado da jovem - discutir com ele não tornava a vida de Steve mais fácil.

A questão era que estava cansado, um tanto ferido, e não tinha conseguido segurar a própria língua. Deveria ter ficado quieto, pensava, pois Tony não disse nada incorreto sobre ele. Era um assassino. Era um desgraçado de um assassino. Ele fechou os olhos. Ouviu Steve apresentar os mutantes a Sam, um que inclusive tinha o nome James— mas que preferia ser chamado de Logan. O outro se chamava Scott e Natasha conversava com a mutante ruiva, Jean Grey. Eles compartilhavam detalhes sobre o que aconteceu naquela noite, sobre os Sentinelas. Aparentemente aquele que foi até os  Vingadores era apenas um de uma leva de cinco robôs apresentados na Conferência. Os X-Men haviam dado fim a três deles lá, Tempestade destruiu outro no caminho até a cena de batalha final. Escutou uma voz distinta, estranha, agradecer Steve e sua equipe por tudo. Foi nesse momento que abriu os olhos e viu um senhor numa cadeira de rodas. Tinha a expressão suave e parecia conhecer Steve, que agradeceu em troca o fato de que Ororo não revelara que iam até Wakanda para Tony Stark. Isso levantaria questões embaraçosas para T’Challa.

Natasha veio até ele, ou melhor, até ela.

— Wanda fez um bom trabalho hoje, não?

Ele concordou com um resmungo.

— Pensei que ficaria mais animado por saber que ela está bem.

— E se o que Tony disse for verdade? — Disse, de repente. — E isso for apenas uma história pra propaganda mutante de um revolucionário? Wanda… Ficaria muito abalada.

Natasha abriu a boca, mas depois se calou. Precisou de alguns minutos para dizer algo.

— Bom, então fico feliz que estejamos perto. Sendo mentira ou verdade, acho que precisamos ficar ao lado dela depois de hoje.

— Eu pensei que ela ia se desfazer no ar. — Bucky confessou, ainda olhando para ela. Com a visão periférica, viu Natasha sentar ao seu lado. — E pensei que Magneto tentaria levá-la.

— Aí sim teríamos mais problemas. E o que você acha? Magneto é pai dela?

— Eu… Eu não tenho respostas lógicas pra isso. Magneto não faz o tipo ingênuo e nem parece investir em planos mirabolantes para ganhar confiança de alguém. Podemos dizer que ele é bem… Honesto. Então não acho que ele inventaria isso, por mais insano que seja.

— Sim. — A russa concordou. — Ele é bem intenso. Mas não explica o lapso temporal.

— Não, não explica. Urgh, eu sinto falta de tempos mais simples. E olhe que eu vivi na década de 30.

Ela riu. Observava o rosto da sokoviana, a tiara de metal.

— Wanda disse que eu tenho uma aura rosa.

— Rosa?

— Sim. Ela disse que… — Natasha virou o rosto e soltou um estalo com a língua, denunciando certo constrangimento pela história. — Era rosa, de coisas doces.

Bucky achou graça, e então calou-se. Que cor Wanda enxergava quando olhava para ele? Teria realmente James Barnes uma aura? E se tivesse, seria então uma aura convidativa ou fúnebre? Ele perguntaria à ela, caso não temesse a resposta.

A outra ruiva aproximou-se de Bucky e Natasha, também focada em Wanda. Sua face estava intrigada, suas mãos unidas. Quase formava um vinco na testa, tamanha era sua concentração.

— Eu sou telepata. — Jean confirmou, lendo a pergunta não dita de Bucky, que logo se sentiu deveras constrangido por notar que ela ouvia seus pensamentos. — Lamento, é que… É costume.

— Parece algo que Wanda diria. Acho que ela mesmo já me disse isso uma vez.

Jean sorriu por conta da afirmação de Natasha, Bucky também. Ele também escutou uma desculpa assim da Feiticeira Escarlate, na manhã em que ele lia Macbeth e Wanda e Natasha bebiam vodka. Um instante de silêncio se passou enquanto o jet voava.

— Você está tentando ler Wanda?

— Confesso que sim. — A mutante admitiu à Bucky, embora não parecesse incomodada. — Só queria confirmar se ela está bem, mas nao consigo. Não sei se é esta tiara interferindo ou não. Vocês sabem, é sempre mais complicado com feiticeiros.

Não, Bucky e Natasha não sabiam. Jean soltou um suspiro, lembrando-se que nem todos tinham poderes telepáticos e lidavam diariamente com esse tipo de questão. Sua expressão neutra tornou-se uma face um tanto ruborizada e com um pouco de embaraço.

— Bom, nem sempre a mente de um feiticeiro está onde achamos que está. Sonhos, realidades diferentes, na mente de outras pessoas… Mas, de algum modo, feiticeiros sempre estão onde devem estar.

Bucky sentiu um sopro no peito. Não quis formar o pensamento com todas as letras na cabeça por receio de Jean Grey ouvir, no entanto a ideia de que Wanda simplesmente deveria ter ido ao seu encontro em sua psiquê era reconfortante. Eles conversaram sobre isso uma vez, não há muito tempo - mesmo que já parecesse uma eternidade. Ela disse que Bucky pedia por ajuda em suas memórias e era verdade. Wanda escutou. E Wanda atendeu ao seu pedido. Ele tentou se lembrar quando a jovem entrara também em seu coração, embora não houvesse um momento exato em que simplesmente ela apareceu ali, nenhum evento específico que Bucky decidiu que iria gostar dela ou que ela o enfeitiçou. Talvez ele apenas tivesse a convidado a entrar. Talvez fosse tudo muito aos poucos.

Sem dúvida parecia certo.

James Barnes só podia esperar que fosse recíproco, mas algo dentro de si não se preocupava, pois Wanda segurava sua mão. Wanda o chamava ternamente por James, respondendo quando ele a chamava de boneca. Wanda o enxergava por dentro e ainda sorria.

Talvez ele também tivesse entrado em seu coração escarlate.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* Esse capítulo foi escrito com muito carinho, mas pode ter sido sabotado por Arnim Zola. Caso encontre erros gramaticais e incoerências, favor reporte à Shalashaska.
*Luto pelo tweet do Chris Evans dizendo que não seria mais o Cap. VAI SER SIM, SENHORITA! NADA DE DAR PRA TRÁS NÃO. VAI FICAR VIVINHO SIM!
*Espero que tenham gostado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vazios" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.