Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 6
VI


Notas iniciais do capítulo

Ufa, esse aqui demorou mais. Tive que reescrevê-lo :/ Apesar de meio lento, espero que gostem desse novo capítulo! Ele é uma pequena transição pra coisas bem mais legais que virão!
Agradeço muito a todos que acompanham a fic e especialmente aqueles que dedicam seu tempo a comentar. - Sim, eu sei que você vai comentar mais tarde, James! Relax, pal. - Temos mais leitores entre nós e recebi reviews tão fofos que quase desmaiei. Continuem assim hahah



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— Minha nossa. – A boca de Wanda ficou seca. Estava no meio de uma imensa sala circular, onde a parte externa do teto retrátil e metálico encolhia aos poucos, deixando apenas a abóbada de vidro transparecer o céu noturno. Ela deu um pulo quando o corpo cilíndrico de um grande telescópio moveu-se, soltando um som de ar pressurizado. – Jamais vi algo assim. Nem Stark...

Não acabou a frase. Encarou as luzes acenderem-se das telas sensíveis ao toque nos painéis e nos hologramas que orbitavam lentamente pelo cômodo. Eram coloridos e percorriam trajetórias hipnotizantes, circundando o local e as mesas. T’Challa segurou um cometa que passava e com apenas um movimento expansivo do dedos foi capaz de aumentá-lo para o tamanho de uma bola de basquete, toda irregular e com a textura de seu relevo ástreo perfeitamente delineada.

Um rei com uma estrela pulsante na mão.

 Wanda inclinou o rosto, captando tal imagem por mais tempo para dentro dos olhos, como se aquele momento fosse eterno. Ele estava pensando em algo... Algo antigo. Algo ancestral. Algo que remontava ao inicio, ao início de tudo.
Ela sentiu o rugido de seus poderes. Queria entrar nas lembranças do monarca, as lembranças de um povo inteiro. Desejava descobrir a história que se passava pelos neurônios tão bem disciplinados dele. O rugido escarlate mais uma vez arranhou sua garganta.

Uma voz serena perguntou algo, algo simples e que somente o rei entendeu. Ele retrucou com um sorriso e diminuiu o asteroide até sua forma original, largando-o no ar. O holograma vagueou pelo espaço artificial por breves instantes, até que a voz novamente se impôs no ambiente. Então o asteroide se desfez em poeira, reaparecendo em sua rumo original e com a mesma velocidade.

— O que... O que foi isso?

Ele virou-se para Wanda.

— Ilizwi. É o sistema operacional do Observatório. – Respondeu com simplicidade, andando com seu jeito elegante e despreocupado. – Pedi que não recalculasse o curso do asteroide. Ele não deve ser parado.

T’Challa não era de rodear em palavras e aquilo parecia fora do lugar. Uma possibilidade pequena, aquela menor porcentagem que era nada mais do que o improvável. Ou então ele estava apenas se divertindo com o mistério lançado no ar.

Wanda absorveu o que ele dissera, medindo  o peso de cada letra.

 

Enquanto ainda saboreavam a sobremesa e finalmente Steve teve coragem de pedir por uma segunda rodada, Sam comentara que se preparavam para uma nova investida em um dos pontos indicados no globo, onde alguém tentou perfurar as defesas cibernéticas de Wakanda.
Não iriam mais. Seria infrutífero e arriscado, uma vez que os locais já verificados eram todos ermos. Planejariam mais na Sala de Inteligência, pois já havia uma equipe de T’Challa trabalhando no caso e rastreando o que mais poderia se relacionar com as tais cidades ou quem conseguiria tal tecnologia para as tentativas de acesso, além de esparsos resquícios da HIDRA.
Steve levantara-se naquele momento. Afirmou naquela sua postura azul, sempre azul,  que havia um lugar a mais onde se vasculhar e que Natasha saberia como ir. Disse para Sam, mais baixo:

“Há dois anos, em Wheaton, Nova Jersey. Eu e Nat encontramos algo na Base Leigh.”

“Antes de aparecerem na minha casa?”

Steve concordou.

“Parece que temos uma pista.”

O fato que deveriam já investigar sobre o assunto e partir para a Sala de Inteligência foi do mais puro e sincronizado consenso. Sam e Steve levantaram-se com rapidez, mas assim como uma pantera preguiçosa faria, T’Challa não lhes deu a devida atenção. Garantiu que logo se veriam, no entanto, haviam assuntos que gostaria de discutir com a Maximoff.

E agora lá estava ela, admirando o céu pelo vidro.

O humor wakandano deveria ser, no mínimo, peculiar.

 

— Esse lugar é lindo. – Wanda lançou a afirmação no ar, mais como um pensamento solto do que uma verdadeira frase. A luz era amena, mas a escuridão que imperava não lhe mostrava unhas e dentes. Lhe abraçava. – Deve ser um dos observatórios mais avançados da Terra. Por quê me trouxe aqui?

Uma chuva de meteoros holográficos passou entre eles.

— Na verdade, este Observatório tem mais do que sua idade e já não é mais usado. Aprendizes veem conhecer o trabalho de seus antecessores e o conservamos por seu valor histórico. – Ela abriu a boca com a resposta, o que fez o rei quase sorrir. Quantos anos à frente Wakanda estava em relação ao resto do mundo? Com as mãos nos bolsos da calça e o queixo erguido para o céu, T’Challa prosseguiu: – Eu diria que tem mais valor contemplativo, senhorita Maximoff. Agora, respondendo diretamente sua pergunta... Verdade seja dita, você não tem sido muito discreta nas suas caminhadas noturnas. Ou nos supostos treinos com a minha Guarda Real.

Ela abriu a boca para falar, embora palavras não viessem à sua garganta. De qualquer forma, não foi necessário: O rei apenas levantou a mão, impedindo-a de protestar, de se explicar. Não fora um gesto rude, aliás pelo contrário, alívio inundou os nervos da ex-Vingadora e aquela voz escarlate abaixou seu tom para nada mais que um sussurro dentro de seu peito.

— Confesso estranhei seu costume, mas não se preocupe. É algo típico de Sokovia?

Wanda soltou um breve riso, nervoso e abafado.

— Não. Não é algo de Sokovia.

O silêncio pairou por alguns instantes sobre os dois, um resquício da noite. Ambos ainda estavam absortos pela visão falsa das estrelas.

— O céu de Wakanda é limpo o suficiente para uma boa visibilidade do espaço e meus ancestrais aproveitaram muito bem disso. Gosta de astronomia, Maximoff?

Ela soube para onde a conversa estava indo e ficou grata pelo rei tratar disso em particular.

Não aguentaria o olhar de Steve ou de Sam.

— Talvez não do jeito que vocês, astrofísicos, devem gostar. – Disse ela, referindo-se ao currículo extenso de T’Challa nas melhores universidades do mundo. Rei e brilhante. Claramente o oposto do que uma menina de um certo país ex-soviético, alistada em um plano suicida de experimentos humanos que deram... Certo?

— Perto de amanhecer, você vai para perto de alguma janela ou varanda e olha o céu. Por quê?

Sequer tinha cogitado a ideia tola de pensar que ninguém notaria. Dúzias de câmeras flagraram suas andanças, subidas e descidas nas escadarias, caminhadas por longos corredores. Ela só tivera cuidado em não permitir que pessoas a vissem durante a noite, topassem com tal figura estranha a vagar feito um fantasma. Sempre esteve ciente de que eles sabiam, sabiam e a  deixavam em paz. Perceberam que ela, para aliviar a cabeça, encarava quadros, passava a ponta dos dedos em esculturas e admirava a decoração quente e viva, tão diferente de sua terra natal. Perceberam, é claro. Assim como perceberiam que antes de finalmente se dirigir até seu quarto e dormir, seus olhos tinham que vislumbrar as estrelas.

As íris dela, lutando para permanecerem verdes, refletiam as constelações. Sua voz balbuciava.

— Eu sempre tive pesadelos. Meu irmão... Meu irmão me fazia esquecê-los. – Sentiu o peso do olhar de T’Challa sobre si, no entanto não foi capaz de retribuir. Suas pálpebras ardiam. – No orfanato em que passamos um tempo, ele me ensinou a ver algumas constelações. Esqueci a maioria, mas é fácil achar o Cinturão de Órion à noite.

O monarca também cruzou os braços e tentou encontrar as três estrelas principais que compunham a constelação, com a escuridão da noite já desbotando sua densa cor.

Um pensamento forte instalou-se na mente dele, um pensamento envolto em tamanho sofrimento e saudade que Wanda sentiu suas vibrações sem mesmo que a seus poderes lhe anunciassem. Por fora, ainda implacável. O rosto do Pantera Negra era um poço infinito de serenidade. Mas, se ela investigasse a origem daquela dor, veria uma ferida sem cura.

Planetas, galáxias e estrelas continuaram a orbitar a sala em seu próprio ritmo. Ela viu seu planeta, um globo pequeno em relação aos outros e tão insignificante, saudar o grande Sol no centro. Algo menor circundava-o, a Lua. E na mesma trajetória que T’Challa pediu que Ilizwi não recalculasse, aquele cometa... direcionava-se diretamente ao planeta.

— T’Challa. – Wanda tocou o braço dele, segurando forte no tecido de sua roupa. – Está indo para a Terra!

Ele somente lançou seu olhar seco para a mão dela sobre si, enquanto a energia rubra de Wanda despertou à indiferença do rei, rugindo e desejando romper as barreiras que ela se impunha tão rigidamente. Enquanto se virava para ver de novo o holograma, talvez até com as pernas e braços mais pesados, a gravidade também tornou-se mais lenta.

Tal qual uma nebulosa se formando no vácuo, poder acumulava-se dentro da moça, sendo visível e pulsante em toda a sua aura.

— Eu lhe disse. O asteroide não deve ser parado.

Ela apertou ainda mais seu antebraço.

 – Mas,

— Senhorita Maximoff, por favor. Estamos observando uma projeção estelar de centenas de anos atrás. – T’Challa deu de ombros, como se aquilo não fosse importante, como se não existisse a possibilidade dela se descontrolar e... E mais um rei deste pequeno país ir para os braços de Bast e Sekhemet. Ela engoliu em seco. – Este cometa foi o primeiro meteorito a atingir o território que após muito tempo veio a se chamar Wakanda. Nos o chamamos de Okuqala, o Primeiro.

— Vibranium.

Wanda soltou o braço dele, envergonhada. Quantos protocolos de etiqueta tinha rompido ao tocar em vossa Majestade e chamá-lo diretamente pelo primeiro nome?

— Mais do que isso, eu diria. Vibranium não fez por si só o meu povo ser o que é. Se não fosse por ele, nós iríamos encontrar outra maneira pacífica de prosperar. Mas a questão é que ele também nos moldou. Somos Wakanda também por causa dele. Esse asteroide não deve ser parado.

O rugido rubro em sua mente ainda quis entortar as vigas metálicas do cômodo e triturar o vidro da abóbada. Wanda respirou fundo uma, duas, quatro vezes. Passou as pontas dos dedos nas têmporas, tateando levemente os pontos que levara acima da sobrancelha esquerda.

— Eu não entendo. Não está me censurando pelas Dora Milaje ou por vaguear pelo palácio. Por quê me trazer aqui? Por quê me mostrar isso?

Wanda poderia ainda gostar de constelações, no entanto jamais enxergaria estrelas cadentes ou meteoritos da mesma forma. Não depois de Ultron, em Sokovia. No escuro, ela tremia.

— Achei que gostaria de ver o espaço como nunca viu antes. Foi só um tolo pensamento, não imaginei que pudesse se assustar com  Okuqala. – Ele soltou um sorriso daqueles que indicavam que haviam muito mais palavras atrás de seus dentes brancos. – E também lhe trouxe porque quero lhe dar uma tarefa.

— Com muito respeito, Majestade...

— É uma tarefa simples. – Assegurou antes que ela protestasse, virando seu torso na direção da Maximoff. – E sei bem que não têm participado das reuniões com seus amigos, para missões externas que eles tanto tem planejado.

Havia um pouco de raiva no tom de Wanda:

— Eu só não me considero apta para me expor. Não é seguro. Depois do que fiz na Nigéria...

— Impedindo uma explosão de acontecer no meio do mercado?

— Deixando que uma explosão acontecesse de qualquer maneira.

Ela era responsável pela morte daquelas pessoas, não importava se Steve lhe apoiasse, dizendo que o trabalho deles era assim mesmo. Não importava. Aquelas pessoas continuavam mortas e enterradas.

O Pantera Negra decidiu que seria inútil discutir.

— Uma aprendiz especial chegará ao fim dessa semana. Ela não será uma Dora Milaje, mas terá treinamento muito bem aplicado. Está no fim de sua formação. Acredito que ela poderia aprender muito contigo.

— Aprender?

— Sim. Se não me falha a memória, fui lançado à metros de distância por você quando defendeu Barnes.

— Oh. Sobre isso, eu deveria pedir desculpas?

— Não. Vou deixar essa passar. – T’Challa observou o próprio pulso, como se checasse as horas, embora não houvesse uma placa circular com ponteiros em sua pulseira de contas. – É tarde e tenho muito o que fazer pela manhã. Posso contar com você nessa tarefa?

Wanda não conseguiu formar um pensamento nítido sobre o assunto na cabeça, já o rei aproximava-se cada vez mais da porta de saída sem se importar se a resposta era positiva ou não.

— Qual é o nome dela?

Ele deu mais alguns passos adiante.

— Deka.

— E por quê tenho a sensação que você só está querendo me obrigar a fazer amigos?

T’Challa se absteve de lhe dar qualquer resposta ou explicação. Sua silhueta contra a luz mais intensa do corredor afora era uma imagem escura, diferente do sorriso inteiro que se abrira em sua boca.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram de ver mais o nosso rei, T'Challa?
~~ já disse que adoro ele? Porque eu adoro! Mas nada de ship indevido, galera. Aqui é WINTERWITCH, NÉ NOM? ~~
Enfim, se avistarem algum erro maroto, me avisem. Algumas coisas podem escapar até mesmo para o mais atento dos Vingadores!
Sugestões são bem-vindas! *0* Tô ansiosa pra saber o que acharam!