Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 47
XLVII


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta!
Tive momentos meio tensos nos últimos dias e isso me impediu de terminar o capítulo da maneira que eu queria, mas isso foi superado. Amém XD Seria maldade deixar mais tempo no suspense depois do final do capítulo anterior. Agradeço muito pelo apoio da Nana, Nath, Lili e da Loeine ♥ Vocês são maravilhosas. Espero que gostem do capítulo novo. O próximo sai na quarta-feira! ~~ porque mais uma vez escrevi muito e tive que dividir em dois hahah~~



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A boca de Bucky estava levemente aberta, seus olhos arregalados. Foi lançado para trás devido ao impacto das explosões, todas ativadas ao mesmo tempo. Ele e Sam tinham jogado as bombas em direção ao campo de batalha, aos pés dos Sentinelas, e isso agora parecia uma ideia estúpida porque nada sobreviveria ali. Wanda…

Ele engoliu em seco, levantou-se na neve. Mal sentia os cortes por conta dos estilhaços. Não sentia nada, apenas assistia a poeira baixar.

Desviou seus olhos para Steve, que também observava os destroços do campo de batalha. Esperavam algum som. Alguma coisa. Algo que dissesse que Wanda Maximoff ainda estava viva. Veio apenas o barulho longínquo de helicópteros inimigos.

As pernas dele vacilaram, seus olhos piscaram mais rápido, talvez só por conta do vento, neve e fuligem, talvez por lágrimas contidas. Sua mão estava pesada ao lado só corpo, lembrando-se do toque gentil das mãos magras de Wanda. O riso dela gentil e melancólico. Uma mulher bondosa e triste e, ao mesmo tempo tão mais do que isso. Deveria ter feito algo. Deveria ter treinado mais o pulso de energia no braço metálico para protegê-la, mas tivera medo de ferir quem estava em volta. Tivera medo de machucá-la e agora…

Não lhe vieram palavras, apenas o nome dela. A reação de seus amigos era igual.

Magneto também encarava o nada.

— Vão morrer se continuarem aqui. — Alguém disse e quase todos se viraram. Magnus permaneceu na mesma posição, quanto Frost desfazia sua forma de diamante e Psylocke aproximava-se. Era uma mulher e suas pegadas na neve sugeriram que ela saira do hangar pela abertura feita pelos Sentinelas. — Posso levá-los para um lugar seguro.

Além de luto, violência e medo, dúvidas pairaram no ar. Quem era ela é por quê somente se revelara agora? Antes que as perguntas tornassem-se sólidas, Magneto adiantou-se com algo que parecia mais pertinente:

Seguro? Não existe lugar seguro para nós. Nunca houve. E agora… — Raven o chamou, tentando evitar que sua ira transbordasse o corpo. Ele não lhe deu atenção. — E agora mataram aquela menina, uma de nós. Vocês viram os Sentinelas. Eles focaram apenas nela, nível Ômega. Eles tem que pagar e eu irei destruir cada um desses helicópteros que vem em nossa direção até que não exista mais nada.

— Qual é o seu nome?—  Steve Rogers perguntou. Estavam reunidos perto dela naquele instante, ainda chocados com a possibilidade real de ter perdido Wanda Maximoff para sempre. Ele não perguntaria uma segunda vez. Deixaria que os inimigos viessem, mas não deixaria o corpo da jovem lá, na neve. James estava de acordo.

— É só um nome inútil agora. —  Ela disse, afinal. — Vim com o Hind-D. Depois conto o porquê. Sairemos nele antes dos Mata-Capas chegarem.

Bucky sabia quem era ela e ela sabia quem era ele. Não imaginavam que se encontrariam de novo, não nessa vida. Talvez no inferno. A garota do lago congelado…

Ele voltou sua atenção para o termo que ela usara. Mata-Capas. O time de aprimorados que os governos queriam usar contra aqueles que não estava dentro da Lei do Registro, dentro do Acordo de Sokovia. Lidar com robôs e artilharia pesada já tinha esgotado-os por completo, combater pessoas com poderes sobre-humanos era impossível naquele estado.

Magneto se pronunciou, respondendo pela sua equipe de mutantes:

— Vão. Tenho coisas para terminar aqui. Helicópteros e balas não vão me parar. Eles vão pagar pelo o que houve.

A mulher quis argumentar com o Mestre do Magnetismo, desejando que ele a acompanhasse. A insistência era visível em seus olhos claros. Fosse lá o que iria dizer, as palavras morreram em sua boca quando ouviu-se o som de reforço inimigo chegando. O vento uivava frio, trazendo o barulho predatório da equipe aérea. Foi nesse instante entre o vento que Bucky viu uma figura se levantar no meio das partes desmembradas dos Sentinelas, uma figura que falhou miseravelmente em se manter de pé.

Steve Rogers perdeu a respiração, vieram lágrimas aos seus olhos. Sam tapara a própria boca. Bucky só conseguiu encarar onde deveria existir apenas vazio, porém felizmente não havia. O mutante, Magneto, também observava a fumaça, o fogo e Wanda Maximoff tentando se levantar.

Wanda acordou com a respiração engasgada, inspirando fundo e rápido para logo tossir por conta da fumaça e fuligem. Ela sentiu seus ombros moverem devido a tosse, seu pescoço tentou inclinar o rosto e seus olhos estavam pesados, mas ainda assim conseguiu abri-los. Não ouvia nada, só o zumbido contínuo. Viu que estava deitada, tremendo. Seus dentes batiam dentro da boca, enquanto chamava baixinho o nome do irmão.

Bomba. A bomba em sua casa, na sala de jantar em pleno Shabat. O chão…

Wanda segurou a própria cabeça com as mãos, encontrando a viscosidade do sangue nos cabelos. Fazia anos. Anos. E estava de volta ao mesmo cenário de destruição, embora sem seu irmão para abraçá-la e para contar mentiras, de como ela era corajosa e como tudo iria ficar bem. Sua mente era esmagada pelo som da explosão e das memórias ecoando em sua cabeça, mas ela tinha que se levantar. Seu corpo sabia por instinto que era estúpido permanecer no mesmo lugar numa zona de guerra. Tinha que levantar. Se manter em movimento, correr se possível.

A primeira tentativa foi ridícula e dolorosa. A segunda, igual. Na terceira, suas pernas bambearam e ela caiu de joelhos, mãos espalmadas no terreno áspero. Ao menos viu alguém à distância, entre as névoa da explosão. Alguém que a enxergou em meio aos destroços e começou a correr em sua direção. Essa pessoa gritou, gritou mais de uma vez seu nome, mas Wanda ainda não era capaz de ouvi-la.

 

Bucky prostrou-se de joelhos, frente a Feiticeira Escarlate. Não tocou-a no primeiro momento, observando as faíscas da névoa carmesim que pairavam sobre o corpo dela, seus olhos ainda rubros e vivos. Não saberia explicar como ela tinha sobrevivido a sequência de explosões, no entanto era claro que a jovem o tinha feito por meios não naturais. Magia. Um milagre. Ela balbuciou em sua língua materna, sua voz chorosa e seus olhos mudando de tom para o verde. Ferida, em muitas maneiras. James Barnes não tinha ideia por onde começar a limpar as marcas de sangue e fuligem no rosto dela, se seria seguro levantá-la, se havia algum osso deslocado ou quebrado… A visão de Wanda, a boneca, trincada e além do reparo, o fez tremer também. Então, ele apenas segurou suas mãos.

 

Tudo era silêncio.

Steve veio em seguida, acompanhado de Sam Wilson e a estranha que aparecera após a explosão. Eles não a conheciam, nem mesmo o grupo de mutantes sabia quem era a mulher loira e de cabelos na altura dos ombros, seu uniforme escuro e preparado demais para a situação. Tão preparada que tal fato gerava desconfiança. Ela também não gastara muitas palavras com apresentações, dissera apenas que de onde saíram aqueles helicópteros, viriam muitos mais. Era urgente e categórica, honesta. Havia perigo, era verdade. No entanto, oferecia uma alternativa, até mesmo repetitiva. Podiam ir com ela.

Agora, vendo que a Feiticeira estava viva, Bucky queria apenas afastá-la de todo o mal, de toda a dor. Era irônico como a sua aparição escarlate conseguia abençoá-lo, em meio a suas próprias maldições. Mas ele não tinha poderes, apenas um braço metálico, algo criado para guerra. Não era algo feito para um toque delicado, embora fosse exatamente assim como ele a segurava.

A consciência de Wanda escapava de seus olhos, tão pesados. Ele a segurou mais forte, murmurando, implorando para que permanecesse acordada.

Ela olhou para cima. Viu a mulher loira, a estranha. Franziu a testa, um brilho de reconhecimento em suas íris.

Yelena?

Então o brilho se apagou e a consciência de Wanda afinal desmaiou. Todos concordaram que precisavam levá-la para longe dali o quanto antes, portanto Bucky a pegou com suavidade no colo junto ao seu tórax, perto do seu coração.

Steve não conseguia decidir se ficava aliviado por vê-la a salvo, se negava a ajuda da estranha, se considerava mais bizarro ainda fato de Wanda saber quem ela era…

Mas nada mudava o fato que inimigos vinham e eles estavam cansados, sem muita munição e a qualquer instante os guardas da base, adormecidos por Wanda, poderiam acordar - já que ela desmaiara. Olhou o próprio pulso e viu o comunicador quebrado. Sem alternativa de chamar Shuri ou Natasha. Suspirou. A aeronave deles também tinha partido.

— Iremos com você. Onde é esse “lugar seguro”?

— Ao contrário do que pode parecer, um vilarejo próximo de Novi Grad. Será o suficiente para passarmos a noite.

— E então? — Ele questionou.

— E então vamos focar primeiro em sobreviver, Capitão Rogers. Depois podemos decidir para onde vamos.

— Desculpe se você não inspira muita confiança, Yelena. — Sam respondeu, ríspido.

— Eu não vim para inspirar coisa alguma. Vim para tirá-los daqui. E vendo todas as suas opções, ou melhor, a falta delas, seguiria logo até a droga do Hind-D.

O som dos helicópteros ficou mais próximo.

— Partam de uma vez, tolos. — Magneto tinha a expressão dura, a maxila travada. Não escapava de seus olhos que aquele homem, amigo do Capitão Rogers, carregava a mutante no colo. No entanto, sabia que aquela era a forma de mantê-la segura. — Consigo atrasa-los. Minha equipe ficará bem, mas a garota não se continuarem a discutir. Se assegurem que ela receba tratamento adequado.

 

Não houve mais discussão. Steve, Sam, Yelena e Bucky, carregando Wanda, correram em direção a aeronave de guerra. Saíram dali o mais rápido possível. A mulher loira, de sotaque ainda um tanto puxado para o russo, pilotava enquanto Capitão América assistia explosões ao fundo, metal partindo metal.

Wanda, em meio a turbulência do helicóptero, abriu fracamente os olhos. Se viu amparada. Se viu segura, mesmo que uma das mãos que a segurassem fosse de metal. Ela apertou o tecido da roupa dele com a pouca força que ainda lhe restava nas pontas dos dedos, querendo que aquela sensação não terminasse jamais.

A boca de James Barnes teimou em florescer um sorriso de lado.

* * *

Diferente das vezes anteriores, Wanda não acordou de forma súbita e assustada. Parecia que seu corpo queria ainda deixá-la dormir por muito mais tempo, pois uma hora ela abriu os olhos e se viu numa cama confortável, perto de uma janela. O cenário lá fora era branco, ou ao menos era podia ver entre seu sono e o tecido das cortinas. Dentro era morno e escuro. Talvez tudo fosse um sonho e ela ainda estivesse em casa, com Pietro. Dormiu de novo.

No outro momento em que recobrou a consciência, agora mais desperta, viu uma figura parada em frente a sua cama, lendo sentada num banco.

Essa pessoa percebeu a movimentação na cama e aproximou-se. Wanda demorou um segundo a mais para lembrar-se do nome completo de seu amigo Samuel Wilson. Tudo o que ele dizia - ou parecia dizer - era muito longe, distante de seus ouvidos. Quem sabe fosse somente o efeito das bombas em seus ouvidos, quem sabe estivesse desassociando de novo. Njeri havia falado sobre isso, mas saber dos sintomas não a deixava escapar da sensação aérea de não sentir-se no próprio corpo, de não ter foco.

Ele sorriu e o quarto amornou-se mais ainda, aconchegante. Acariciou o topo de sua cabeça, tirando uma mecha da frente do cabelo dela.

— Você dormiu por um tempo, bruxinha. — Aquilo. Um apelido. Seu apelido. Demorou para que ela formasse a sentença na boca, uma palavra apenas:

— Quanto?

— Nove anos. Mentira, fique calma! — Ele riu, mas parecia preocupado pela reação dela. — Pensei que pegaria a referência.

— Refe… Nossa, Sam. — Wanda colocou a mão sobre a própria testa, voltando bem sua nuca de volta para o travesseiro. Deitara-se. — Eu acabei de acordar. Mal sei o que é contar até dez e quer que eu lembre da fala de uma cena de videogame?

— É assim que eu podia saber que está bem. Vai sobreviver. E se passou apenas um dia, se quer saber.

— Eu estou tão mal quanto me sinto?

— Não muito. — Sam deu de ombros, mentindo. — Hey. Bela pontaria lá na base. Só tente não se matar da próxima vez, ok?

Houve um barulho, alguém falando no cômodo ao lado. Wanda reparou como o ambiente era pequeno e as paredes de madeira deixavam o som entrar. Ela reconheceu a estrutura do lugar como um chalé, ou uma casa pequena, típica de vilarejos. Steve entrou, acompanhado de Bucky.

— Oh, então ela acordou. — Ela viu o peito de Steve afundar com um suspiro aliviado, sua aura afinal azul como seus olhos. Ele passou a mão na barba, adentrou o quarto e sorriu. James Barnes, ao seu lado, também pareceu melhor ao vê-la acordada. Eles se encararam por um segundo o mais, Bucky reticente e ela confusa.

— É. — Wanda disse, meio sem jeito. — Sam estava dizendo para eu tentar não me matar da próxima… O que acho incrível, já que é o que fazemos toda vez. E eu estava apenas seguindo seu exemplo, lembra-se quando você se jogou numa granada, Stevie?

— Espera, espera. — Bucky franziu o cenho. — Steve se jogou numa granada? Quando…?

— É só uma história sem graça de antes de eu tomar o soro do supersoldado, Buck. O importante é que você está segura… — Aproximou-se e sentou na beirada da cama, desviando do assunto. — E que saiba que não queremos mais baixas na equipe.

— Você sabe que eu… — Wanda tentou focar-se nele e no que ia dizer, mas os pensamentos fugiam. Teve dificuldade para continuar a frase: — Eu faria qualquer coisa para deixá-los seguros. Qualquer coisa por vocês.

— Eu sei. Todos nessa sala fariam o mesmo… E isso meio que me preocupa. Bom te ver de pé, Wan. Ou quase de pé.

Ela deu um sorriso de lado, ou tentou dar. Faria qualquer coisa, inclusive morrer. Inclusive continuar vivendo.

— O que… O que houve? Aquela mulher… — Ela sacudiu brevemente a cabeça. — Onde nós estamos?

Mais alguém chegou no quarto, apoiando-se de forma displicente no batente da porta. Wanda observou-a com atenção, como se as memórias que assistira de Natasha fossem dela, na verdade. O rosto não havia mudado muito. Maçãs do rosto rosáceas, sobrancelhas arqueadas e a ponta do nariz levemente arrebitado. Ainda era loira, ainda parecia saber um segredo - ou melhor, todos eles. Cada um engatilhado na língua. Diferente da ocasião anterior, ela vestia branco e seu rosto estava limpo, sem fuligens.

— Um vilarejo ainda sem nome, perto de Novi Grad. Uns sessenta quilômetros de distância, no máximo. Lar para quem fugiu da destruição da capital em 2014 e também para quem quer lucrar com os restos dela. Pedaços de Ultron são bem valiosos, ainda mais as partes que continuam funcionando. Consegui nosso café e nosso jantar só com um dedo de metal.

A atmosfera do quarto foi tomada por desconforto. A mulher, Yelena, aproximou-se com os braços cruzados, trazendo o frio da neve que caía do lado de fora. Yelena, Wanda e Bucky. Cada um sabia partes um do outro, embora não fosse certo quais partes eram. Protagonistas e coadjuvantes de histórias interrompidas. Faltava apenas Natasha. O olhar que a loira lançava à Wanda indagava como sabia seu nome, mas a expressão no resto de sua face, bem como seu corpo, contradiziam tal pergunta.

Yelena virou-se para Steve, seus lábios muito macios apesar de sua voz afiada.

— Estamos perdendo tempo. O Beco começa a lotar em breve.

— Aonde vocês vão?

Steve segurou a mão de Wanda ao ouvir sua pergunta assustada. Ele engoliu em seco e ela, mesmo ferida, mesmo ainda abalada e sem conseguir formar pensamentos inteiros na boca, soube que o Capitão América só queria ser gentil e suavizar más notícias. A jovem lembrava-se do mesmo tom de aura quando ele lhe contara que Natasha tinha sido sequestrada.

Sem ser capaz de conter-se, a respiração dela começou a acelerar-se.

— Eles ainda estão procurando o modelo Hind-D que levou suspeitos de terem destruído uma base no Norte. Disseram, — Explicou ele, referindo-se a boatos e a mídia, sobre o que houvera na base. Mais mentiras para o resto do mundo acreditar.—  Que era uma fábrica farmacêutica e que foram mutantes os responsáveis pelo ataque, impedindo medicamentos de chegarem a refugiados. Nos escondemos aqui, mas…

— Estamos ilhados. —Sam completou.

— O fato é, Maximoff, — Yelena lhe ofereceu um sorriso de lado. — Que o ideal nesse vilarejo é parecer suspeito. As pessoas vem aqui só pra comprar e vender coisas. Não existe ajuda humanitária aqui e somos caçados. Precisamos vender ao menos as peças desse helicóptero, pois se vendermos inteiro vai ficar muito na cara. Diremos que foi de uma aeronave que caiu na floresta. Pegaremos um bom dinheiro para mantimentos e depois caímos fora. E quanto antes, melhor.

Wanda passou a mão nos cabelos, puxando-os para trás. Sentiu um pouco de dor ao relar nos ferimentos feitos por estilhaços, limpos e agora cicatrizando. Odiava como sentia-se frágil, e devido a sua instabilidade, odiava banhar-se nas auras próximas. Ela piscou, sem querer deixar seus olhos tomarem a cor vermelha.

Supôs que havia passado um tempo, na verdade. Steve parecia de certa forma confortável com Yelena e até mesmo iria… Bom, iria naquele lugar que ela se referiu como Beco. Quanto tempo dormiu? Um dia inteiro, talvez dois. Não muito mais que isso. E então lembrou-se que Falcão ja havia dito que era apenas um dia e ela já tinha esquecido. Tentou não pensar muito nisso, em como sua mente falhava.

— E os mutantes? Emma, Raven… Magnus. Eles nos ajudaram na batalha. Estão bem? Deram… algum sinal de vida?

— Magneto destruiu cada centímetro daquele lugar, cada helicóptero inimigo que se aproximou. Não sobrou nada lá, acredito que… Nem soldados sobreviventes. Mas saberíamos se tivessem-no capturado. Deve ter sobrevivido, suas aliadas também.

Ela sentiu um aperto no peito.

— Descanse, Wanda. Poderemos contar tudo quando voltarmos. Vamos pegar alguns mantimentos...

— Não, eu preciso… Preciso saber. Por que Zola estava lá? Por que Magnus estava lá? Eu simplesmente não entendo. Por que… Por que os Sentinelas me atacaram?

— Deixe-me contar, Rogers.

Yelena abriu a boca para continuar, mas Steve a deteve, chamando seu nome.

Yelena. Deixa-a descansar. É… É muita coisa. Wanda acabou de acordar. Precisa de água, precisa…

— Ela não é mais uma garotinha, Rogers. Você viu esse país. Ela sabe o que é violência.

— Eu sei que ela sabe! — Steve levantou-se, encarando Yelena Belova de frente. A explosão de sua voz pegou todos de surpresa, inclusive Sam, que deu um pequeno passo para trás e arregalou os olhos. — E talvez seja por isso que ela não mereça se envolver nisso tudo!

Os lábios de Wanda tremeram. A aura de Steve tinha espinhos, a de Belova balas. A discussão poderia ter consequências graves e o próprio corpo da Feiticeira Escarlate reagiu por antecipação, prevendo dor. Arqueou os ombros, desviou o rosto da origem do som como se desviasse de um tapa. Seu olhar abstraiu-se no vazio.

Bucky notou. Era óbvio que ela odiasse barulho, voz alta. Ela viveu numa cidade em guerra.

— Wanda, — Ele tentou captar sua atenção. Aproximou-se da cama, comprimiu os lábios. Suave, gentil. — Não sabemos exatamente a razão de Erik Lensherr ter ido até lá, mas… Yelena nos contou o porque Zola o quer tanto assim. E ela estava lá para salvá-lo.

A jovem levantou o rosto.

Steve soltou um suspiro e se viu derrotado, embora Yelena tenha lançado um último olhar em direção ao Capitão América em busca de aprovação. Não enxergando ressalvas, a mulher deu três passos para a frente, sua postura graciosa.

— Vocês estão acostumados com agentes que vendem mentiras. — Ela deu de ombros, Wanda soube que ela se referia a Romanoff. — Eu vendia verdades, mas… O problema é que as verdades são sempre pesadas, caras. Plante uma no lugar certo, um vislumbre de informação cristalina e será o suficiente para causar desordem. Verdades são sempre inconvenientes. Eu fiz o translado do corpo de Magneto. Foi em 1999 e eu era só… Só uma menina igual você. O Pentágono aproveitou as pesquisas envolvendo Erik Lensherr desde 1963, mas chegou um momento em que eles queriam dar um passo a mais nos experimentos. Os mutantes já causavam problemas demais. E então contrataram o Salão Vermelho para fazer o serviço sujo. Não vi problemas. Estava acostumada. Até que eu descobri que o objetivo de transladar o corpo, aquele caixão de criostase, era algo além da razão.

Wanda engoliu em seco, Steve parecia que iria socar alguém. Sam soltou um suspiro e Bucky permaneceu olhando para a Feiticeira Escarlate. Yelena já havia contado essa história para o resto do grupo, mas o que vinha a seguir ainda não cabia na cabeça de nenhum deles. Experimentos com artefatos alienígenas? Dentro da realidade. Homens que adquiriram força com um soro? Armaduras de metal, mutações genéticas? Pareciam todas possíveis. Mas não o que Yelena dissera:

— O experimento a seguir foi conduzido pelo próprio Arnim Zola, ou o que restou dele em sua inteligência artificial. A esse ponto, todos sabiam que o futuro seria feito de metal, seria digital. Era a tendência, o Ocidente e o Oriente sabiam disso, SHIELD, HYDRA e tantas outras organizações também. Erik Lensherr era o único capaz de dobrar isso com as próprias mãos. Então, Zola pensou: “Por que não ter o corpo e os poderes daquele que poderia me vencer?”.  Eles queriam transplantar consciências de um corpo para outro, transplantar Almas. Controlar qualquer um.

— O… O quê?

— Sim. E tenho que dizer… — Yelena olhou para Bucky. — Estavam prontos para fazer isso. Já tinham aprimorado muito bem a técnica de lavagem cerebral e manipulação. E eu… Não pude ser parte disso. Desviei o curso. Ao invés de ir até a Suíça, escondi o caixão em criostase em uma Ilha perto de Madagascar. Claro que tive ajuda, cobrei favores… Depois sumi do mapa. Não quis ser responsável por acordar Magneto, mas não ligava por ser responsável pela sua morte. Sabia que uma vez desperto, o mundo não seria o mesmo e acredito também que ele preferiria ser assassinado do que ter seu corpo usurpado. Considerei a questão como encerrada, até que no mesmo ano estourou a guerra em Kosovo e… E a HYDRA quis fazer o experimento com outra pessoa com os mesmos poderes.

— Lorna Darne. A filha dele. — Wanda concluiu o pensamento por ela. Lembrava-se das conversas com Professor X, sobre a filha de Erik. Mesmos poderes. Morta em combate. Xavier dissera que foi numa luta para tirar mutantes do exército, salvar pessoas.

— Sim. Ela morreu. Mas vocês conhecem outra pessoa que deveria ter um rosto, um corpo, mas tem outro. Não conhecem?

Wanda franziu o cenho. Falcão explicou:

— Elizabeth Braddock. Pyslocke.

Yelena assentiu, para o horror de Wanda.

— Eu estava em Kosovo. Terminaria o que tinha começado. Veio o bombardeio, Polaris salvou os mutantes que restavam e suas aliadas. Não sei dizer ao certo o que houve, lembro-me de luz e então… Morte.Até hoje nao sei exatamente que tipo de máquina é capaz de fazer isso, Ao menos Zola não aproveitou o corpo dela. Tudo ficou quieto depois de um tempo. Mais uma vez parecia que tudo tinha se resolvido, apesar de uma forma terrível. Mas daí soube de Emma e uma garota japonesa eram muito próximas. A menina sabia de coisas que não seria possível se lembrar. Emma Frost a chamava por Betsy, ou Lizzie. Não foi difícil ligar uma coisa a outra. Eu só não contava que Zola ainda não tivesse enferrujado em toda a lataria de sua inteligência artificial, nem que Magneto ainda estivesse vivo em pleno 2017. Zola vai tentar de novo.

— Eu não entendo. — Wanda tinha várias perguntas e a cabeça fragmentada em diversos medos. — Por que você fez o que fez, por ele ou por Lorna? Por que você se importa?

Yelena abriu a boca, depois fechou-a sem responder de imediato. Não estava preparada para aquela questão, aquela que não podia responder por A e B, 2+2 ou linha cronológica. Ela engoliu em seco, Steve aproximou-se interessado nesse ponto da conversa.

— Eu… Eu não sei. Acho que resta algo em mim. Algo que o Salão Vermelho não pode tirar. Suponho que entenda.

A Feiticeira assentiu. Entendia.

— Basicamente, Wanda, nós temos que expor todo esse esquema e impedir que Magneto se torne vítima disso. — Capitão América disse, agora manso. Ainda não queria que Wanda se envolvesse com mais guerra, mas ao menos aliviara-se com o tom usado por Belova. Denotava lealdade. Princípios. Ele respeitava isso. — Nós vamos para a um esconderijo em São Petersburgo e para a Suíça depois, lugar onde a central do “cérebro” de Zola está, segundo Yelena. Você… — Suspirou, rendido. — Quer vir conosco? Não há nada de errado em voltar para Wakanda, se quiser.

— Eu… Eu realmente aceito um copo d’água agora. E descanso.

Ele lhe deu um meio sorriso, saiu para buscar. Yelena, por sua vez, soltou um suspiro cansado e caminhou até a janela. Wanda não pode deixar de notar o quanto sua postura ainda impressionava, suas costas retas e omoplatas aparentes, bem como os ossos das clavículas. Então ela se virou para Sam:

— Preciso de um copiloto para checar o resto do equipamento do helicóptero. Você era da aeronáutica, vai saber especificar as peças para os compradores melhor do que Rogers. Vá conosco também.

Falcão olhou de Wanda para Bucky, de Bucky para Wanda. Franziu os cenhos. Não queria deixá-los sozinhos.

— Nós vamos ficar bem, Sam. — Wanda assegurou. — E não é como se vocês fossem demorar para sempre.

— Vamos chegar depois da meia-noite. Esse Beco é perigoso.Não quero problemas.

— Sam. Provavelmente eu vou dormir até vocês voltarem.

Ele não parecia muito convencido. Steve voltou com um copo de água para Wanda e a observou tomar, atento se ela precisava de ajuda ou se sentia dor.

— Bom, é melhor irmos andando. — Falcão deu de ombros, derrotado. — Nos vemos em breve, bruxinha.

Steve demorou-se um pouco á porta, encarando seu amigo Bucky.

— Não façam nada estúpido até eu voltar.

— Como eu poderia? Você está levando toda a estupidez com você. — O outro respondeu. Sorriram da mesma forma que fizeram em 1944.

 

Nada aconteceu nas primeiras duas horas e logo Wanda começou a experimentar a inquietação comum ao seu gêmeo. Estava cansada, com um pouco de fome, mas queria saber também se seu corpo estava tão mal quanto imaginava. Bucky não estava mais no mesmo cômodo e ela perguntou-se o que estava fazendo, já que sentia cheiro de café. Tentou se levantar e soltou um arquejo de dor, os músculos ganindo. Foi o suficiente para que em menos de dois segundos o rosto de James Barnes aparecesse no batente da porta, conferindo se Wanda estava bem.

— Ei. Você precisa descansar. Lembre o que Steve disse…

Ela franziu os cenhos e o ignorou, ao mesmo tempo com o coração morno por mais alguém se importar com seu bem-estar. Girou o quadril, colocou os pés para fora da cama. Estava descalça e por isso despreparada para o toque frio no chão. A vedação do chalé então não era muito boa e ela também notou que estava vestindo roupas diferentes: um suéter cinza três números acima do seu e uma calça preta, quente e larga. Com a ajuda dos braços apoiados no colchão, ela empurrou seu corpo para cima e para frente.

Seus joelhos desfaleceram e ela teve que se apoiar com os braços novamente.

— Wanda! — Adentrou o quarto e correu até ela, ajudando-a sentar mais uma vez no colchão. Sua voz era metade nervosa, metade incrédula. Inteira preocupada. — O que está fazendo?

— Eu… — Bucky ainda segurava seus ombros. — Quero ir no banheiro.

— Ah. Hum… — Ele murmurou, sem graça. — Venha, eu te ajudo ir até lá.

Assim como ela suspeitou, o chalé era pequeno. Havia somente uma sala aberta para a cozinha e uma porta para o dito banheiro. Ele a acompanhou até lá, sustentando os passos vacilantes dela, até que Wanda fechou a porta de madeira.

Ela ficou um tempo observando seu rosto, seus cabelos. Ao contrário de sua imaginação, sua pele não estava tão marcada e inchada. Ao menos não no rosto. Ela levantou o blusão cinzento e viu o longo hematoma roxo e amarelado ao longo da lateral de seu torso. Tocou com as pontas dos dedos, exibindo uma cara amarrada por sentir dor e ao mesmo tempo se sentindo idiota por querer tocar ali, onde o último Sentinela havia batido para jogá-la alto. Fora isso, cortes de estilhaços das explosões na lateral de sua cabeça, pescoço e também pernas. Quem era aquela que Wanda Maximoff enxergava no espelho diminuto e manchado? A órfã judia e romani, a Vingadora destrutiva. Uma mutante que, segundo novas e pesadas informações, era nível Ômega. Uma Nexus, disseram. Nada disso, tudo isso.

Um caos completo.

Ela tentou não fazer muito barulho ao chorar, limpando as lágrimas com as costas das mãos e um pouco de papel higiênico. Esperava que Bucky não ouvisse o quão instável era, que não se preocupasse. Que não visse como ela se via agora.

Parou um instante, focando-se em uma memória.

Visão tinha dito que queria quem o mundo a enxergasse como ele a via, mas ele concordou em mantê-la na base dos Vingadores, não pela sua segurança. Concordou com a coleira elétrica em seu pescoço. Talvez o mundo já a enxergasse então dessa forma, um animal a ser preso e castigado. A pergunta não era mais como as pessoas a enxergavam e sim se eles estavam certos afinal. As palavras de Zola ecoavam em seus ouvidos, a memória do que Ross dissera e Visão afirmara também. Talvez. Talvez fosse tudo verdade.

E talvez não importasse mais.

Não era mais uma luta da qual ela queria fazer parte. Ajudaria aquele pobre homem, Erik Lensherr e sossegaria. Pagar a dívida que tinha com ele, por tê-la ajudado. Uma última missão, defender a alma de alguém tão parecido com ela e fim. Outer Heaven não era para ela. Não merecia.

Ela só queria… Queria ser uma garota com amigos e família, por mais que isso nunca fosse acontecer. Amigos, tudo bem. Agora, família... Família.

Ela abafou o soluço com uma das mãos. Lá estava ela, em Sokovia e no fim do inverno. Março viria logo e com ele a primavera e seu aniversário. Voltara para casa, afinal, e havia neve do lado de fora, assim como em tantos anos anteriores. Porém, não existia quem a recebesse. Não havia casa. Não havia ninguém. Não…

— Wanda? — A voz grave e baixa de Bucky foi reticente, tanto que ela perguntou-se se realmente havia ouvido ou imaginado. — Wanda, eu… Tem comida aqui. Achei que estaria fome, então… —  Um suspiro do outro lado da porta. — Huh, tá tudo bem?

Ela apressou-se em enxugar os olhos, mas foi impossível esconder sua voz embargada. Tentou o máximo que pôde, seu tom todo desnivelado:

— Sim, sim. Eu já vou.

 Bucky esperou do lado de fora, voltou para a cozinha. Ouvir o som do choro dela atormentava seus tímpanos e lhe torcia o coração, embora dessa vez tivesse conseguido ter coragem o suficiente para bater à sua porta. A resposta foi uma mentira sórdida, sabia disso, mas era uma resposta de qualquer forma e uma maneira tola de Wanda saber que… Alguém escutara do outro lado, que alguém se importava. Ela havia feito isso por ele também, por meios mais elegantes e sobrenaturais.

Quando a Feiticeira afinal veio, seus olhos ainda estavam avermelhados e um tanto inchados por conta das lágrimas. Tinha demorado, quem sabe esperando que seu rosto ficasse mais apresentável e houvesse mais dignidade em seu semblante, e por fim desistido. Aproximou-se dizendo um fraco “oi”, sentou-se à mesa de madeira, quieta. Ela encarou a caneca com o café fumegando como se discernisse todos os seus contornos e propriedades pela primeira vez e somente então levantou seus olhos para agradecer com um sorriso pequeno e falso.

— Não tinha comida aqui. Só esse café e algumas bolachas.

— Oh, é suficiente. Não estou realmente com fome.

Outra mentira.

Ele não fazia ideia de como prosseguir a conversa ou se deveria de fato conversar enquanto ela mordiscava as bolachas antigas e quase sem sabor. O chalé era de Belova, embora ela não tenha revelado quando ou como conseguiu tal chalé para si, mas pelo jeito não era um lugar muito frequentado já que mal tinha alimentos nos armários. Ao menos havia um estoque de cobertores o suficiente para todos e também algumas mudas de roupas que serviram bem, sem falar que ficava num canto afastado e que não despertava tanta suspeita quanto poderia. Yelena até então tinha um comportamento silencioso e efetivo, focando mais na sobrevivência do que em questões menores - da forma que ele próprio havia ensinado anos atrás no Salão Vermelho. James notava os olhares de canto que ela por vezes lançava a ele, sua postura levemente mais tensa quando aproximava-se. Tentava não decepcionar seu instrutor, o americano? Parecia o mesmo tipo de comportamento que ele tinha, esperando ordens, ordens, ordens.

Só sobravam marcas.

Mas ele estava ali, sem ser uma marionete da HYDRA e ali estava ela também, livre do Salão Vermelho. Isso significava algo. Tinha que significar.

Wanda começou a tamborilar os dedos, distraída, enquanto apoiava o queixo com uma das mãos, encostando o cotovelo na mesa. Então ela o encarou.

— Minha… moeda. Estava em um dos bolsos do meu traje.

A pergunta pairou no ar e ele demorou alguns segundos para responder.

— Yelena. Ela trocou suas roupas, tratou seus ferimentos e…

Ele deu um meio sorriso, cogitando algo que pudesse a fazer rir. Ou que a fizesse pensar em outra coisa, algo que não a deixasse triste. Não sabia exatamente porque ela estava chorando antes. Eram os ferimentos? A situação? Ou aquilo que ela dissera antes de vir, de voltar e não ter o irmão?

James primeiro pegou algo de seu bolso frontal, de forma rápida e sorrateira. Atravessou o braço direito sobre a mesa que os distanciava e aproximou sua mão no rosto de Wanda, confusa. Ele fez um breve gesto com os dedos ao lado da orelha dela, cerimonioso, e depois mostrou uma moeda na frente de seu nariz. A moeda dela.

Surgiu um brilho nos olhos da Feiticeira, um sorriso tolo. Pegou a moeda com o símbolo de Ouroboros com as duas mãos feito uma criança, meio rindo, meio sem saber o que dizer. Era frágil tal expressão em seu rosto tão abatido e James queria ser capaz de sustentar tal sorriso por mais tempo.

— Como você…?

— Bom, dizem que um mágico não pode revelar seus truques.

Ela deu de ombros e revirou os olhos rápido.

— Um amigo meu disse que não existe realmente segredo no truque da moeda.

— Que amigo?

— Um gato preto. — James franziu a testa. — Você conhece.

— Hum. Isso explica algumas coisas. — Ele soltou uma risada curta. — E seu amigo está certo. Não existe exatamente um segredo. É só desviar a atenção da pessoa… — Alongou a palavra na boca, enquanto pegava a moeda de volta. Colocou-a entre os dedos e mostrou para Wanda, da forma que haviam ensinado a ele na década de 40, e depois repetiu o gesto de tirar detrás da orelha dela, relando sua mão nos cabelos longos da Feiticeira. Mais uma vez expôs a moeda em frente a ponta de seu nariz e o olhar de ambos se cruzou por mais alguns segundos - no entanto, Bucky sentiu a diferença daquele olhar. — E pronto. Agora você sabe o truque da moeda… Mas não quero que desapareça, boneca.

A neve caía do lado de fora, tão quieta, frágil e delicadamente gélida como o silêncio de dentro do chalé. James observou o cenário branco da janela atrás de Wanda, depois observou bem o rosto pálido dela. Ela engoliu em seco.

— Eu falei que não me deve nada, Wanda, você deve se lembrar disso. Mas você me disse que gostava de quando não haviam segredos e, ainda assim, guarda tudo para você.

— Eu sei. — Ela inspirou fundo, fazendo força aparente para não desabar. — O que eu guardo… Não é bonito. Eu não quero machucar ninguém. Eu não quero te machucar, James.

— Eu sei. Mas você está sofrendo.

Ele colocou a moeda em cima da mesa. Wanda a pegou em seguida, admirando o entalhe da figura e pensando em outros lugares. Qualquer lugar. Outro universo, outra vida.

— Desculpe. Eu… — Ela fechou os olhos por alguns instantes. Quando os abriu, haviam lágrimas querendo escapar. — É tanta coisa e eu… Sinto tanta falta do meu irmão.

Bucky sentiu o impulso de abraçá-la forte contra o peito ao ouvir um soluço incontido dela, da mesma maneira que fizera quando a carregou até o helicóptero Hind-D, pois sabia que Wanda estava tão ferida e exausta quanto naquele momento. A verdade é que ele não podia tomar as dores dela para si, assim como ela não conseguia fazer o mesmo por ele. Ambos tentavam.

— Desculpe, — Ela repetiu e ele não queria que Wanda se desculpasse. — Não é sábio nem sadio, mas… Eu preciso fazer isso. Eu quero ver o meu irmão, mesmo que… Mesmo que seja no cemitério e haja pessoas me caçando agora. Por favor…

Ele notou que a Feiticeira esperava uma resposta. Um impedimento. Censura. Jamais veio palavra assim da boca dele. Somente deu de ombros.

— Eu vou pegar um casaco.


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Notas finais do capítulo

Não há muitas referências aqui.
*Quando Falcão fala "Nove anos" que ela estava desacordada, é uma referência a "Metal Gear: The Phantom Pain".
*O diálogo entre Bucky e Steve, sobre fazer coisas estúpidas, é o mesmo diálogo que eles travam antes de Bucky ir para a guerra no filme "Capitão América: O Primeiro Vingador".
*Quem mais gostou da aparição da Yelena? >3< eu simm! Esse capítulo foi aquele episódio em séries e animes que serve para explicar a treta.
*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.