Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 40
XL


Notas iniciais do capítulo

Olá! Esse capítulo foi escrito com muito amor e carinho, com cenas de Natasha e Bucky! Espero que gostem tanto quanto eu. Também aproveito esse tempinho para dizer o quanto sou grata pelo apoio de vocês... Sei o quanto pode soar repetitivo e meu objetivo não é ser redundante, mas sou verdadeiramente grata por ter tanta gente legal, tanta incentivo! São dois anos de fic e não mudaria por nada. Estou fazendo o possível para continuar o ritmo e postar um novo capítulo em breve!



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Assistir Natasha praticar exercícios de ballet, embora de forma improvisada nas barras da varanda, fazia Wanda Maximoff esquecer de seus problemas. Era cedo, o céu ainda estava tingido de rosa e com poucas nuvens no céu, todos os tons combinando com a aura da espiã, que por sua vez ficara um tanto surpresa por receber Wanda em seu quarto logo nas primeiras horas da manhã. Ela, trajada num collant preto, exalava serenidade e uma travessura contida. Esticou-se mais um pouco, em silêncio no movimento gracioso do Grand battement, finalizando a sequência inteira de exercícios. Com os braços erguidos e a mão relaxada, Wanda enxergava nela uma bailarina completa.

Uma bailarina fatal.

Ela alongava-se e Wanda podia ignorar a canção de ninar polonesa que repetia-se em seus ouvidos. Natasha flexionava os joelhos e contava uma piada sórdida e Wanda esquecia-se da imagem de uma montanha vinda de um sonho. De um pesadelo.

Era bom conversar em sua língua natal com alguém, ainda mais que Natasha já havia se acostumado com o dialeto e expressões idiomáticas de Sokovia, e Wanda também conseguia reproduzir com perfeição o sotaque de Moscou.

— Estou mal acostumada com elogios seus quando me vê praticar, Wanda. — Ela quebrou sua postura perfeita com um sorriso de lado, zombeteiro. Logo em seguida sua expressão voltou à perfeição da porcelana. — E hoje nem para dizer que adorou meu coque. Devo me preocupar?

Wanda soltou um sorriso. De fato, todos os episódios anteriores em que assistira-a dançar foram acompanhados de comentários aqui e ali como a sequência era encantadora. A Feiticeira não podia mentir sobre isso e admirava a disciplina, a leveza e até mesmo um pouco da dor. Parecia uma dor útil, por mais romanceada que fosse. Diferente das dores que ela própria sentia.

Ela ajeitou-se no estofado da poltrona de vime, tomando cuidado para não derrubar o chá em si mesma e nem nos móveis. Poderia dizer que estava tudo bem, mas as olheiras não a deixariam mentir. Poderia usar seus poderes e fazer com que Natasha ignorasse o estado debilitado de sua amiga. Poderia simplesmente dizer a verdade, falar que estava aterrorizada com o que Xavier dissera e com os pesadelos que lhe assombravam, mas estava cansada.

— Você foi ótima, Nat. Sempre é. Sou eu que… Que estou com sono.

— Oh. Entendo.

Foi apenas o que respondeu. Desligou a música orquestrada que saía de seu celular e deu batidinhas no rosto com uma toalha, para tirar o brilho do suor. Era verdade que as duas se entendiam bem, mas isso não significava que a russa não se ferisse com tantos silêncios. Natasha sabia que havia algo de errado e sabia que Wanda não queria lhe contar. Pior, sabia que não contaria porque considerava que o peso era demais para seus amigos.
Isso tanto a ofendia quanto a preocupava.

— Eu parto amanhã de manhã. Tony Stark não é nenhum bicho-papão, mas é estranho que eu saia de cena logo depois de um incidente não bem explicado em Viena. E a ONU também deve sentir falta do meu rosto. E mais: Liho faz aniversário logo e eu prometi algo especial.

O gato de Natasha. Será que se daria bem com Ebony, o gato falante de Agatha Harkness? Wanda então sentiu o absurdo em seus pensamentos.
A resposta engraçada e evasiva que pensou em dar para sua amiga não foi dita por seus lábios e ela permaneceu a encarar um ponto vazio, dividida entre devaneios.

Até que notou decepção em Natasha.

Wanda não podia culpar a amiga por tentar entender o que acontecera para deixá-la tão abalada. Estava estampado na sua face, era notável. Talvez a russa imaginasse, com certa razão, que os motivos que a deixavam triste eram os mesmos de sempre: a morte súbita do irmão, a prisão com coleira elétrica e camisa de força, níveis baixos na absorção de serotonina…

E ela gostaria que Natasha ainda pensasse dessa forma. Quem sabe ela tentasse ainda usar suas técnicas de interrogação, geralmente perspicazes e discretas, para entender melhor o que houve. No entanto, isso seria ineficaz para uma telepata sem paciência. Wanda não queria explicar a conversa que tivera com Xavier, conversa tal que ninguém mais soube e provavelmente jamais saberia, pois ele partira de volta para a América ainda naquela tarde.

Ânsia revirava seu estômago só de pensar em revelar a qualquer pessoa - até mesmo Steve - que era ainda mais estranha. Talvez parente do tal Erik Lensherr, cujo nome era lembrado em poucas citações na internet - e em muitas em arquivos secretos.

Deus, o que achariam dela? O mundo já a julgava como aquela que destruíra Sokovia, ou a que ajudara destruir. O que diriam se soubessem tal parentesco com um líder revolucionário, mutante e sanguinário?

Pensou de novo. Lembrou-se da voz dele nas fitas cassetes, o rosto torcido em choque pelo tiro que Bucky dera em JFK. Ele não parecia sanguinário, então por que sempre o citavam como vilão?

Wanda percebeu sua respiração tornar-se irregular e o olhos de Natasha caírem ainda mais pesados sobre si. Era melhor parar de pensar. Aproximou-se da beirada da varanda, inspirando fundo e com as pálpebras fechadas. Indicou as barras de metal com um breve gesto.

— Um dia fica mais fácil? — Perguntou como se referisse aos exercícios de ballet, tamborilando os dedos. Gostaria que a questão fosse apenas sobre ballet, enquanto na verdade lembrava-se de outras coisas ainda mais sombrias. Forjou um sorriso doce.

Natasha não acreditou nele, mas chegou mais perto.

— Não sei se diria mais fácil. — Deu de ombros. — Mas com certeza você fica mais forte. Preparada. Veja, — Ela endireitou a coluna e executou um tendu apoiada na barra com perfeição. Suas palavras também eram dúbias, como se respondesse também à pergunta que Wanda não disse. — São os mesmos movimentos na primeira vez que faz você faz e na milésima. O passo em si não muda, e sim você. No entanto… Que diferença do primeiro para o milésimo, não? Quer tentar?

Wanda riu.

— Eu não sei. Acho que não.

A russa comprimiu os lábios e os entortou, numa expressão de falso desgosto.

— Estou ofendida. Aprende arco e flecha por causa de Barton, treina tiro ao alvo com Wilson e desenho com Rogers, sem falar nas aulas de wakandano com Vossa Alteza, Shuri. — Frisou a última parte com um tanto de nojo. — E não vai dançar?

— Bem, eu… — Ela ergueu as mãos em rendição. — Aprendi a beber com você.

— Justo.

O vento soprou quente sobre a figura das duas, ambas apoiadas com os braços na varanda.

— Estou pensando em descolorir o cabelo. — Natasha falou, por fim. Não poderia ter recebido reação mais estranha do que o olhar espantado de Wanda, horrorizada com a ideia. — É só um cabelo, Wanda.

— É o seu cabelo. E eu adoro o seu cabelo.

— Eu não diria que é para um disfarce, mas… É para um disfarce. E eu prefiro que você continue me adorando, não só o meu cabelo.

A Feiticeira deu uma cotovelada nela, de leve.

— É claro.

— E então… Falou com Xavier?

Wanda não foi capaz de conter a reação de retraída de seu corpo. Limpou a garganta com uma tosse forçada, considerando-se uma tola por achar que Natasha não conseguiria detectar  justamente o ponto exato que tanto a incomodava. Ela cruzou os braços e olhou para o horizonte.

— Sim.

— Era importante?

Suspirou.

— Sim.

— O que… Ele queria com a foto?

— Professor Xavier levantou a possibilidade de termos parentes mutantes. A foto… Bem, meu irmão parece com algum conhecido dele. Parecia. — Disse ela, logo vendo que mais uma vez colocara a frase no plural - pois era sempre ela e Pietro, os gêmeos - e também evitara o pretérito - pois sua boca não acostumava-se ainda com o fato de que ele estava simplesmente morto.

— Oh.

Mesmo recusando-se a dançar como sua amiga bailarina, Wanda esticou-se na varanda soltando um longo e cansado suspiro. Quanto tempo demoraria para que Natasha somasse 2+2? Uma antiga foto. Um velho conhecido de Charles. Erik Lensherr. Wanda e Pietro Maximoff.

— Não sei se dá pra minha vida ficar mais confusa do que isso.

— Tem razão. Vamos, deixe os cisnes e a dança. — Tocou seus ombros. — Vamos beber.

Ela até poderia dizer “o quê?” e rir, como se a ideia fosse idiota. Desta vez, apenas sorriu e deu de ombros.

— Parece uma despedida apropriada.

* * *

Beber vodka ás oito da manhã não foi uma experiência saudável e Wanda não sabia se repetiria tão cedo no futuro, mas jamais negaria que tinha sido divertido. Após algumas doses, as duas começaram a rir e a falar mais alto na língua comum à ambas, tirando sarro dos costumes folclóricos de sua terra, como a superstição de meninas solteiras não sentarem em pontas de mesa e a questão de flores amarelas e buquês de quantidade ímpar.

Logo deu onze e meia da manhã e o álcool já tinha baixado. Natasha foi se banhar e Wanda ainda permaneceu alguns minutos com a melodia de “Kalinka” na cabeça, murmurando o refrão na lembrança de girar com a vodka na mão e sentada no tapete. Ela juntou as garrafas e as pôs no lixo, tentando adivinhar de onde Natasha as tirara ou se ela sempre levava uma dose junto em suas viagens. Impressionou-se também com as batidas feitas por ela com algumas frutas furtadas da cozinha, deliciosamente combinadas com gelo e a tal vodka.

Wanda também era eslava, ou melhor, vinha de um país considerado eslavo - apesar da grande sopa étnica dali. De qualquer modo, não demorou para que retornasse ao seu estado sóbrio. Ela ajeitou o cabelo e saiu do quarto de Romanoff, indo para o hall dos dormitórios sem saber o que faria da vida.

Era uma garota com olheiras no rosto e o gosto de álcool ainda nos lábios.

E então aproximou-se da pequena sala, lugar onde tinha acendido o menorah no Hanukkah, e esticou seu corpo no sofá, cobrindo os olhos com a mão direita. Permaneceu parada durante alguns instantes só respirando, na esperança que a cabeça continuasse vazia. No entanto, logo as imagens do pesadelo voltaram a abocanhar sua atenção, com dentes tão afiados e fortes quanto antes, durante a madrugada. A canção de ninar polonesa. A montanha com neve. Uma presença demoníaca, dissonante e pesada, e duas mulheres gritando.

 

— Você está bem?

Ele assistiu Wanda abrir os olhos de súbito e virar seu rosto lentamente.

— Oh. James. — Endireitou-se no estofado e nas almofadas, sentando. Também alisara a saia para acertá-la nas coxas. O soldado estava na poltrona ao lado, as pernas cruzadas e um livro no colo, e desviou seus olhos de volta para o rosto dela. — Eu não te vi aí. Desculpe, já estou indo.

— Não. — Franziu a testa. — Não precisa ir, não por minha causa. — Bucky sentiu a garganta apertar, pensamentos fecharem tanto sua expressão quanto sua aura. Ela o chamava de James, a única a fazer isso e de uma forma tão casual. Mas ela queria partir. — A menos que queira sair exatamente por isso..

— Hm. Não pelo motivo que pensa. — Respondeu, sua mãos voltando a brincar com a barra da saia. Ansiosa. — Digo, não quero te incomodar.

— Oh. Bem, eu… — Um sorriso conseguiu escapar de seus lábios. — Estou lendo um pouco. Steve não deixa sozinho muito tempo, mas parece que ele está fazendo algo importante. Não quero atrapalhar, só que não tem muito o que fazer por aqui.

“A vida é uma sombra que passa”.

— O quê?

O coração dele deu uma pausa, como uma vela de repente assoprada.

— O livro. — Wanda indicou-o com um gesto, apreciando a capa vermelha escura e o título grafado em dourado. — Macbeth. Leitura pesada.

— Ah, sim. — Deu de ombros. — Eu ainda não sei usar o tradutor, aquele aparelho que parece…

— Uma bandeja de vidro?

— É. — Confirmou com um aceno, uma mecha de seu cabelo indo para frente de seu rosto. Um lampejo rápido e brilhante saiu dos olhos da Feiticeira enquanto ele arrumava-o com uma das mãos, marcando a página do livro que lia com o dedo anelar da outra. Ele irritava-se com a mecha insistente que lhe atrapalhava, mas algo na expressão dela quase o fez sorrir. O quê ela estava pensando? Lembrou-se de em um momento, enquanto dormia, de saber o que ela pensava, ou melhor, sentir. — E só os clássicos estão na língua original.

Ela anuiu, fechando os olhos mais uma vez. Quando os abriu, encarou as próprias mãos repousadas sobre o colo. Pela citação, James sabia que ela tinha lido e imaginava se Wanda via ou não suas mãos como Lady Macbeth, com sangue que não se esvaía dos dedos.

— Você está encrencada? — Bucky repetiu a pergunta, a mesma que fizera quando se encontraram de forma consciente em uma das visões. Ele ainda ardia por ter chamado-a de boneca, mas queria que ela sorrisse um pouco. Para seu alívio, a tentativa de fazer piada foi bem recebida.

— Eu e Natasha acabamos com duas garrafas de vodka. Ás oito horas da manhã.

— Bem que eu ouvi vocês cantando “Kalinka”. — Disse ele de forma natural, numa pronúncia que somente um nativo poderia dar àquele nome. Significava “junípero”. Wanda entreabriu a boca, numa pergunta muda.  — Você quer algo? Água, chá…?

— Eu quero aquele milkshake.

— Oh. “Aquele milkshake”. — Ele desviou o olhar para o nada. — Eu não lembro de citar milkshake quando conversamos naquela vez…

— Bom, — Wanda limpou a garganta. — Tecnicamente nós estavamos na sua consciência e pensamentos podem ser bem altos ali.

— Verdade. Acho então que estou te devendo um.

Bucky a assistiu sorrir aquele seu sorriso triste. Não parecia querer problemas, mas de alguma forma eles sempre a encontravam. Talvez ela ainda fosse a tal garota encrencada que ela confirmara ser, mas Bucky gostaria de dizer que não precisava ficar sozinha. Que não estava sozinha.

A imagem dela em sua memória não era sempre nítida, como a aparição escarlate que viu ainda como Soldado Invernal, quando quase atirou com um fuzil na cabeça dela. A garota maltrapilha no laboratório, levitando cubos de madeira. A guia no labirinto de sua própria mente. Ele desejava saber o que ela fizera exatamente para deixar sua cabeça mais leve - não completamente sã, mas muito mais leve. E mais, queria saber se podia retribuir o favor. De alguma forma.

Wanda colocou as mãos sobre as têmporas.

— Acho que  milkshake serve. — respondeu, colocando uma almofada sobre os joelhos. Ele ficou pálido, a respiração presa, de modo que seu silêncio foi logo compreendido por ela. As íris dela, num brilho rubro, apagaram-se. — Desculpe, é que… Ás vezes você pensa bem alto. Eu sei, eu sei, eu não deveria… Eu não consigo controlar totalmente. Também gostaria que alguém tirasse de mim o que a HYDRA fez, mas se o que o professor Xavier disse for verdade, eu já não era normal muito antes disso.

— Ainda vamos ter essas… não-conversas?

— Isso te incomoda muito?

— Não, não mesmo. Me assusta. Digo…

Ele fechou o livro por completo e inclinou-se na poltrona, encarando bem o rosto de Wanda, suas olheiras fundas e as íris agora verdes. Ela deveria achar que ele a considerava um monstro por escutar seus pensamentos, ver suas memórias, mas não conseguia culpá-la quando não era exatamente de propósito. E como seria capaz de condenar um toque tão gentil?

A expressão dela era desanimada, quase desfeita. James notou que ela não permitia-se ser assim na presença de outros, talvez para não alarmá-los.

Perguntou-se se parte disso, de seu cansaço e tristeza, era culpa sua. O que Wanda assistiu em suas memórias de Soldado Invernal não era remotamente humano. Tanto sangue. Tanta dor para alguém tão jovem testemunhar. Não seria à toa caso ela virasse o rosto, para nunca mais vê-lo. Seria natural. Talvez até mesmo o correto. Mas o ódio de criatura tão serena era pesado demais para James carregar, uma sentença muito dura - por mais que fosse justa. A voz dele foi baixa e grave, a questão saindo de sua boca antes que tivesse medo demais para verbalizá-la:

— Você não se assustou com tudo o que viu?

— Nada que eu não tenha visto com meus próprios olhos, em minhas próprias memórias. Ás vezes sinto que é por isso que é mais fácil para mim ler você e Natasha. Eu conheço os mesmos horrores. E o que vocês sentiram, eu senti também.

O silêncio pesou sobre eles, tão denso que a luz do dia não trazia alegria ali.

— Eu sinto muito por isso.

— Eu também. E não só por mim, por você, por Nat… Pelo meu irmão. Então, — Ela ajeitou o próprio cabelo e evitou o choro, alongando as últimas sílabas da palavra na boca. Havia hesitação em seus lábios, e ele não queria reparar muito neles e nem em como havia peso naquele silêncio.

As palavras dela pareciam sempre tão densas, sempre tão significativas. Pareciam, porém, cheias de dor - como uma rosa cujos espinhos crescem invertidos. James franziu a testa. Ele não era um homem acostumado com metáforas, nem mesmo a ler tantos clássicos. Gostava um pouco de ciência na juventude - tanto que levou Steve para uma Feira de Ciências antes da Guerra - e no fim tornou-se ele próprio um produto manufaturado. Mas, pelo o que lembrava de sua educação formal, citações de Shakespeare pareciam inevitáveis quando conversava com a Feiticeira Escarlate:

“Você tem bruxaria em seus lábios, Kate.”

Mas o nome dela era Wanda. Wanda. E o modo que seu nome ecoava na mente dele era peculiar.

Wanda colocou os pés no sofá e dobrou os joelhos, abraçando-os enquanto encarava a mesa de centro.

— Escute… — A voz dela era carregada de cautela. — Lembra-se de mais algo na HYRA? Sobre eu e meu irmão? Algo a ver com DNA, parentesco, algo assim?

— Detalhes não eram exatamente compartilhados comigo. Eu não faria nada de útil com eles. — Suspirou. Não eram recordações gentis. — Então o que eu sei vieram de conversas esparsas, arquivos que bati o olho… Disseram algo sobre a estrutura genética de vocês ser semelhante a de outro mutante, outro experimento no catálogo. Algo antigo.

— Eles disseram mutantes? — Ele podia ver o arrepio dela fronte a sua confirmação de Trêmula, conseguiu ainda continuar: — Eles citaram algum nome?

— Não.

Wanda sabia mais coisas que transparecia, isso era claro para James Buchanan Barnes. Suas palavras eram cautelosas demais, suas perguntas no ponto certo entre questionamentos diretos e questionamentos genéricos. James tentava responder à altura, de forma sensata, ao mesmo tempo em que indagava-se o porque ela não visitava sua memória para saber por completo.

Concluiu que era por respeito.

Mais uma vez ele quis interrogá-la sobre o que ela fizera em sua cabeça. Não se tratavam de acusações, apenas curiosidade. Fascinação. Como a garota a sua frente, de aparência frágil e quebradiça, não se partira em pedaços depois de tanto? Algo dizia que ela se sentia assim, embora ele enxergasse alguém forte, ainda que vulnerável. Compassiva. Bondosa.
Ocorreu à ele que talvez a cautela dela era motivada também para não trazer mais dor à ele.

E era verdade.

— Como era o seu irmão? — Bucky o vira tão poucas vezes e Wanda o amava tanto. — Steve e eu somos praticamente isso, mas vocês pareciam diferentes. Não sei. Sei o que é ter um irmão, mas como era o seu?

— Pietro e eu éramos um só. Ele sempre estava com fome. No orfanato, ele comia a porção inteira dele e um pouco da minha. Encrenqueiro. Brincalhão. Amoroso. Muitas vezes um babaca completo. Ele adorava música dos anos 80, mas… Não sei se você está familiarizado com o que é música dos anos 80. Steve parou a playlist dele nos anos 60.

— Parece algo que podemos fazer. Ouvir alguns discos. Se você quiser.

— Ah. Claro. — Ela desdobrou os joelhos e sentou-se corretamente no sofá. Entrelaçou os próprios dedos, sem perceber que a mão de Bucky estava próxima às suas. Por fim, soltou um pequeno riso: — Sabe, minhas mãos são sempre frias. As de Pietro sempre quentes. Nós… Sempre dávamos as mãos um para o outro. Equilíbrio térmico, sei lá.

James teria segurado a mão de Wanda, mas percebeu que era o seu braço esquerdo e metálico que queria aproximar-se dela. Seus dedos frios, artificiais e mortos. Ele recolheu a mão e recostou-se na poltrona

Wanda, por sua vez, notou que James encarava a nova prótese muito sério. E ele, ao sentir o olhar dela sobre si, disse:

— Às vezes ainda sinto o meu braço. O que não está lá. E dói. — Suspirou. — Uma dor fantasma.

Ela quis segurar a justamente a mão metálica dele e dizer que estava tudo bem, mas não podia invadir o espaço pessoal dele. De novo. Ainda mais depois daquela gafe de mencionar o milkshake. Oh, Deus. Quantas vezes tinha ultrapassado os limites? Ela também suspirou e disse:

— Acho que sinto isso também, James.

A atmosfera da conversa deles foi quebrada pela presença de Sam Wilson, que adentrou a sala do hall com os braços cruzados e o sorriso, geralmente tão iluminado, mudo. Sua expressão séria provocou más lembranças de um fusca azul em Bucky, enquanto Wanda quase saltou do sofá ao vê-lo assim, banhada em preocupação. Ele encarou James Barnes por alguns segundos antes de virar o rosto e dirigir-se à Feiticeira Escarlate:

— Precisamos conversar. Steve e T’Challa querem todos no subsolo, e como não temos credenciais para descer, temos que nos encontrar na Sala de Inteligência e acompanhar o rei. Quinze minutos. Wanda, — Disse ele, antes de se ir embora. — Avise Natasha.


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Notas finais do capítulo

*Desculpe, mas não consigo deixar de citar Macbeth hahah Eu assisti o filme com o Michael Fassbender e me apaixonei ainda mais pela história. Sempre curti.
*O capítulo foi revisado, mas existe a possibilidade deste arquivo ser sabotado pela HYDRA. Caso encontre algum erro, favor reporte à Shalashaska.
*Obaaa, as imagens voltaram! Aparentemente deu um bug por um tempo para usar links do pinterest, mas voltei a usar normalmente.



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