Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 29
XXIX


Notas iniciais do capítulo

Hey. Passei por uma turbulência, mas aqui está o capítulo. Foi feito com muito amor e pesquisa ♥ Editei uma porção de vezes também ^-^' Agradeço quem continua lendo essa minha querida fic, mesmo com meus atrasos. Espero não decepcioná-los!
Boa leitura!



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Wanda tinha bolsas arroxeadas abaixo dos olhos, mas a pupilas fixas num ponto a metros de distância.  Era cedo e o Sol não passava de um brilho opaco no horizonte, um ambiente deveras ameno e que não servia mais do que um cenário para os pensamentos fugidios da Feiticeira.

Sua postura estava ancorada na arena e no pouco que a fazia se prender ao mundo real, o braço tensionado assim como a corda do arco. Com a respiração presa, ela contara. E contara até nove. A flecha se foi veloz, pela primeira vez alcançando sua ponteira de metal exatamente no centro. Naquele instante, suas íris estavam vermelhas.

Não compreendeu aquele segundo infinito, não compreendeu as diversas flechas que viu no ar, como se pudesse enxergar cada possibilidade tomar forma diante de si e como fosse capaz de escolher qualquer uma delas a seu bel-prazer. Ela estava parada, ainda na mesma posição, como se pudesse tocar com as pontas de seus dedos os diversos mundos, explicados pela mitologia e pelas teorias de universos alternativos. Mas aquilo seus amigos não precisavam saber, pois já estavam preocupados demais com sua saúde.

Ela mal conseguira dormir.

Além de se perguntar como pudera escutar o número “nove” que ecoava na mente de James Barnes, ela se questionava a razão de ter ouvido. A ideia de que ele pudesse a ter chamado era doce, absurda e absolutamente impossível. A ideia de que não era nada isso era igualmente desconcertante, talvez pior do que explicar isso a um terceiro.

Suspirou. Já tinha gastado todas as flechas na aljava, portanto caminhava em direção ao alvo para arrancar aquelas que fincaram ali e as que caíram ao chão. Apesar de ser um trabalho repetitivo e extenuante, Wanda preferia a exaustão física à mental.  Pegou as inúmeras que jamais alcançaram o alvo de madeira, depois cansou seus braços ao retirar as flechas da madeira.

Mas aquilo também era uma mentira.

Se Wanda pudesse ser estupidamente verdadeira, seria claro que as memórias de Bucky Barnes recheavam a maioria de seus pensamentos. Sim, eram terríveis, tão terríveis quanto as recordações que eram suas. Talvez Steve e Shuri estivessem certos, vagar pela mente do Soldado Invernal não a fazia bem, no entanto... A sensação do oceano abissal era autêntica e preferível à dor do vazio, feito um vício que as pessoas imaginam controlar.

De certa forma, apreciava a ressaca que sentia depois de se banhar na cor escarlate e viajar por lugares intangíveis.

Mas Barnes não lhe dera permissão. Aquilo a partia por dentro, afinal, era mais alguém indistinto a tocar e revirar sua cabeça e ela estava ciente de que tal fato era repulsivo. É claro que gostaria de ajuda-lo a sair do Brooklynn nazista que ele imaginava estar, porém também pensava se aquilo não era outro impulso egoísta seu.

Ás vezes ela podia ver realidades diferentes, onde ele era sorridente e cheio de alegria.

Com o arco chamado “Agneta” em mãos, ela se sentiu pequena e tola. Arco e flecha não fariam diferença nas mãos de quem conjurava energia carmesim e podia voar...  Mas ela gostaria de ser como Clint Barton. Apesar do talento natural, seu único poder era ter tido força para treinar dia após dia. Foco, mira, treino, acertos.

Acertos.

“Está focando mais no alvo do que em si”

Talvez não houvesse significado profundo nenhum, mas ela insistiu em tirar um sentido metafórico naquilo que o Gavião Arqueiro dissera. Wanda estava se preocupando demasiado com o que estava fora de si, de forma que sua postura, seu jeito, andavam despreparados e inúteis para atingir seus objetivos. A recomendação dele, além de exercícios físicos, era simples:

Primeiro, cuide de si mesma. Depois vá atrás do que quer.

Ao invés destes singelos conselhos, Wanda passara a noite mapeando o labirinto confuso que era a mente de James Barnes, relacionando com tópicos estranhos oriundos de sua própria cabeça. Magneto, James, Nexus, Zola... Ela sentou numa pedra, encarando a imensidão do céu. As coisas estavam ficando estranhas muito rápido.

*** ***

Wanda foi chamada depois do almoço para os aposentos da princesa de Wakanda.
Elas não puderam se encontrar como o de costume para o treino de manhã e nem o grupo inteiro se reuniu na Sala de Inteligência, pois Ororo Munroe e Charles Xavier foram até o Instituto Wakandano compartilhar suas experiências e métodos de ensino para jovens super-dotados, e era o dever real de Shuri supervisionar essa visita.

Livros cobriam o chão e as poltronas da sala que antecedia seu quarto propriamente dito, mas a Feiticeira Escarlate estranhou ficar sozinha. Não era a primeira vez que vinha ali para pesquisar mais naquela semana. Além de não sofrerem as contínuas reprimendas dos funcionários da Biblioteca por causa do barulho, Shuri argumentara que seriam menos fiscalizadas ali e poderiam seguir com o plano de descobrirem mais rápido quem eram os autores dos diversos hacks ao redor do mundo, além de poderem pesquisar com tanta liberdade quanto na Sala de Inteligência sobre mutantes e o tal “Magneto”.

Steve acreditava que o motivo que as unia era amizade e, por mais que tal coisa lhe provocasse estranhamento devido às brigas anteriores das duas, também lhe trazia um pouco de paz. Wanda tinha uma amiga, afinal.
No entanto, T’Challa sabia que aquelas garotas não se juntariam por motivos triviais. Ele fazia o possível para mantê-las por perto e sob sua vigilância, embora estivesse ocupado demais com os outros hóspedes e com formalidades de sua posição de rei para entender o que a sua irmã arquitetava com a sokoviana.

Ela se sentou de pernas cruzadas no chão, admirando a solidão do espaço. Na mesa de centro à sua frente, havia esferas decorativas de metal e uma estatueta feita de obsidiana na forma de gato, ou melhor, de gata, já que a deusa cultuada era uma Pantera. Sem muito que fazer e sem quem conversar, ela abriu as páginas dos cadernos em seu colo em que discorrera sobre suas visitas à câmara criogênica.

23/12/2016

“Graças a Deus sou eu, e não você”— 1944. Queda. Vagão de Carga.

26/12/2016

Eles te pegaram também? Você ainda vai cantar? Vai se lembrar de quem é e de quem ama?Eu estou esquecendo. E espero que isso não aconteça a você.” — 2012. Laboratório. Primeiro dia.

28/12/2016

 “Sargento James Barnes, saindo daqui logo amanhã de manhã.” – 1944/2014. Brooklyn. Casa. Saudade.

30/12/2017

“O que é esse sangue no chão?”— 2009. Pierce. Tortura. Odessa, Nat.

“Não!”— 1963. O Homem das Fitas, Magneto. Morte de JFK.

09/01/2017

“Onde ele está?” – 196? – Nove. HYDRA. Arnim Zola.

Eu te conheço.” — XXXX – Brooklyn nazista. Dentro do inconsciente.

Ela não notou nenhum padrão ou tamanha diferença entre os tópicos, pois a maioria incluía missões e mortes, exceto o fato que vira memórias do Soldado Invernal... E não exatamente de quando estava consciente e vivo. Ela vira muito pouco daquilo que fizera de James Bucky, o rapaz dos anos 30 e melhor amigo de Steve Roger. Nem o vira roubar doces no Natal quando criança. Aquilo era interessante, como se Wanda atravessasse camadas de suas memórias, sendo que as mais externas compunham as recordações de um soldado, de uma vítima incapaz de reagir, e aquelas que lhe eram mais preciosas estavam protegidas por uma concha.
Algumas palavras que pareciam saltar do papel foram sublinhadas, mas ela não sabia razão disso ainda.

Se ao menos pudesse ter acesso àquele caderno vermelho...

Ela rabiscou aleatoriamente. Em meio aos livros de psicologia, filosofia e estudos mais avançados sobre o cérebro humano, Wanda também lia diversos tópicos de esoterismo. Este último assunto preferia manter afastado de sua aliada, pois se já não era dada a sua religião, que dirá a estudos de auras, clarividência e projeção astral. Era mais fácil lembrar-se dos conceitos da Cabala, embora tenha gostado de saber que existia um segmento da bruxaria que justamente se intitulava “Caoísmo”, a magia imprevisível do caos.

A arte de lidar com o bater de asas das borboletas, ela leu em uma das passagens, referindo-se à Teoria do Caos. Isto a fez sorrir.

E isto também a encorajou a esticar as próprias asas. Enquanto alternava entre os livros, anotava o que lhe parecia importante e fazia lembretes mentais, seus olhos cintilavam levemente com a cor vermelha. Sem sair de sua posição confortável em cima de almofadas, ela ligou o aparelho de som de Shuri, que ambas tinham usado bastante para deixar uma música de fundo enquanto pesquisavam. Passou as canções uma a uma com seu poder rubro, até encontrar a sua preferida até então: uma melodia suave, apenas instrumental, da orquestra nacional de Wakanda.

Usando seu poder, ela brincava com as esferas da decoração. Levitava-os cima a baixo, lado a outro, os rodopiava como estrelas. Deixara a gata de obsidiana em seu devido lugar, pois não precisava de uma deusa em seu encalço por causa de uma brincadeira tola.

Então ela não pareceu tão mal assim. Certo, estava inquieta e perturbada por suas condições atuais, mas naquele momento, usar seus poderes de forma branda acendeu seu espírito. Não estava numa cela com um vestido maltrapilho, levitando cubos num laboratório da HYDRA. Não estava destruindo concreto, esmagando corpos.

Sentir-se assim quase trazia de volta o fantasma da culpa ao seu coração. Perdera as contas de quantas vezes a mínima manifestação de seus poderes levara desgraça ao mundo ao seu redor, de modo que sempre esperava ou severa punição ou que alguém lhe tirasse proveito. Não raramente, ambos. Mas...

Os dedos de Wanda dançaram brevemente, lume rubro iluminando seu sorriso tolo. Na verdade, ela se sentia bem quando se derramava em seus poderes. Podia sentir energia voltando ao seu corpo e arrepiando sua pele, pois fazia o que nascera – ou fora criada – para fazer.

Wanda Maximoff se sentia ela mesma afinal, judia, aprimorada e bruxa. Sentia-se escarlate, fosse de paixão ou violência. Bom ou ruim.

— Está progredindo bem. — Wanda ouviu Shuri murmurar, monitorando um painel holográfico que mostrava os avanços de arco e flecha. Ela entrara no quarto silenciosa, embora felizmente tão fixada em sua kimoyo que não flagrara os objetos levitando no ambiente. Wanda conseguiu pousá-los bem a tempo.—Se intensificarmos as sessões para três horas diárias, mantendo essa taxa de crescimento, em dois anos poderá ficar tão boa quanto eu. Ou quase.

Ela não respondeu a provocação de imediato.

— Você precisa de apoio da matemática para zombar de mim?

Shuri deu de ombros, lânguida. Levantou os olhos para sua convidada.

— Não, não preciso. Mas isso tem muito mais classe. — A boca da Feiticeira Escarlate estava muda, mas dentro de si abriu um sorriso.

— Você demorou.

— Eu poderia dizer que a razão de meu atraso não é de seu interesse, mas confesso que isso não seria verdade. Além de acompanhar professor Xavier e senhorita Munroe na excursão até o Instituto, passei na Sede de Astronomia para ver um assunto que estava pendente há meses.

— E....?

—E, se eu fosse mais supersticiosa, diria que é um alinhamento planetário. — Arqueou uma sobrancelha, depois se endireitou no sofá. — A visita de Jane Foster estava programada há mais de um ano. É muita sorte tê-la aqui. Ela tem informações importantes que queremos complementar com nossos estudos de Astronomia, afinal, não é todo dia que temos alguém que foi para Asgard e pode completar algumas outras informações que já possuímos.

— Ou é um receptáculo para um poder alienígena.

—Exatamente, bruxa.

Wanda virou se torso e jogou uma almofada nela, que não chegou a acertá-la.

— Eu não deveria ter te contado isso. — Wanda disse, embora a empolgação em sua voz lhe desmentisse. — Basicamente porque peguei o que Steve me disse, que Thor contara a ele... Sobre essas tais Joias do Infinito.

— Correção:Provavelmente você tirou a verdade dele.

— Não faço isso o tempo todo.

Shuri só lhe ofereceu um sorriso presunçoso.

—Foster é uma cientista que teve essa experiência e sobreviveu. Ela pode dar uma ideia do que cientificamente acontece e é claro que entendo que ela vai nos dar uma perspectiva diferente. Pensei que soubesse o que ironia significa.

— É difícil distinguir quando você só não se importa com algo ou se apenas está sendo sarcástica e rude.

— Preocupe-se menos com isso e mais como iremos abordá-la. A não ser que queira apelar para... — Ela meneou seus dedos e mãos de maneira grotesca, numa imitação sórdida de ķWanda. — Você sabe.

— Provavelmente você vai me mandar, sei lá, para as masmorras por causa disso, mas eu acho que te odeio.

— Saiba ser grata, Maximoff. Provavelmente é uma vez na vida que pode falar com Xavier e com Jane Foster na mesma semana. —Shuri deu de ombros. — E masmorras são tão arcaicas e europeias. Provavelmente eu te jogaria para as panteras.

— É. Eu te odeio.

— Sabe, —Shuri esticou-se no sofá, abrindo a boca. Franziu o nariz durante o bocejo, felina.—Você parece melhor. Centrada. E talvez não descubra tudo o que quer descobrir. Jane Foster quase morreu depois de ter sido possuída pelo tal Aether, é possível que não tenha muitas respostas. Mas você ainda pode fazer outras coisas mesmo sem saber exatamente o que a HYDRA fez. Talvez nem seja exatamente saudável.

— E aonde você quer chegar, Vossa Graça?

Wanda viu bondade no que a princesa dizia, mas não era algo poderoso o suficiente para que ela desse um passo para trás e desistisse de entender completamente o queera, além de quem era. No fundo, sabia que não era tudo o que podia contar à Shuri.
Ela não sabia como era sua vida antes da HYDRA. Não sabia na pele como era não se sentir no pleno controle de sua própria cabeça. Wanda não estava melhorando apenas porque se exercitava, tomava um pouco de Sol e socializava mais.

Aquilo a quebrou um pouco, embora não colocasse a culpa na outra.

—Você podia cursar Ensino Superior aqui. Não sei. Virar uma psicóloga muito boa. Está particularmente interessada por esse assunto e a sua obsessão não deveria ser desperdiçada. Você poderia continuar me odiando, e eu poderia continuar te odiando também.

Ao final disso ela riu, embora fosse uma risada fraca e vulnerável, cujo som Wanda compreendeu que era trégua. Uma oferta que qualquer um em sua posição deveria aceitar, pois simplesmente a princesa de Wakanda estava à vontade com sua presença o suficiente para lhe encher de deboches e depois uma proposta de paz.

— E então poderíamos ser amigas?

— É. — Confirmou, olhando para o teto. O vento entrava pelas imensas janelas do cômodo, música saia por elas. — Poderíamos.

— Eu não sei se as pessoas iriam querer uma ex-Vingadora ou Fugitiva de guerra fosse sua psicóloga. Ou se os cidadãos de Wakanda sequer me aceitariam numa Universidade.

— Eu sei. Mas seria legal, huh?

— É. — Wanda viu o quanto aquilo era um sonho vazio. — Seria. E você? Se eu pudesse cursar Psicologia aqui, o que você faria então?

—Provavelmente seria obrigada a te livrar de uma enrascada e outra... E concentraria todos os meus esforços para numa competição comRiri Williams. Talvez viajasse.

— Espera. — Wanda largou seu caderno, tomando cuidado para fechá-lo antes. — Não é aquela garota-prodígio do MIT? E... E bem, nova protegida de Tony Stark?

— Aquela garota pode tanto mais que isso. —Shuri soltou um suspiro. —É realmente um gênio. Aplicar engenharia reversa com quinze anos e ingressar num Instituto reconhecido... Só quero que ela não seja apenas conhecida por ser a Coração de Ferro, coisa que a mídia insiste em fazer.

— Isso não parece uma competição, sabe?

— Ah, é sim. De vez em quando tenho um acesso súbito de generosidade, mas logo volto a minha verdadeira natureza. Eu sou competitiva.

Shuri jogou de volta a almofada, mas Wanda apenas a parou no ar com um gesto fraco, enrolando-a em energia escarlate.

Wanda enxergava tudo. A vulnerabilidade de Shuri ao usar uma das pernas como base quando treinava na arena, deixando uma abertura em que poderia ser facilmente ferida. A vulnerabilidade dela ao expor seu coração, duro e cristalino feito uma jazida a ser descoberta. Pôde enxergar aquela realidade que a princesa propusera e ela desejava segurá-la tão forte, tão perto do peito, assim como todos os outros cenários melhores de sua vida.
Ela estava bem. Todos estavam bem.

Mas ela não podia estar mais desconectada dessa fantasia.

A gravidade fez tanto a almofada quanto os pensamentos de Wanda caírem no chão. Era imperceptível o peso em sua voz, tão treinada, tão falsa. Ela sorriu e não havia alegria naquele gesto.

— Tipo a competição que estamos fazendo secretamente com seu irmão e o resto do mundo para achar a origem dos hacks?

— Sim. Achar e eliminar.

— Isso é tão idiota.

As duas riram, Wanda não por muito tempo. A música continuava e Shuri acendeu mais uma vez sua joia kimoyo no pulso, para continuar pesquisando. Enquanto isso, uma ideia tomava forma na cabeça da Feiticeira Escarlate:

Desejava ser ela mesma, mas precisava descobrir quem era antes. Sem culpa, sem ódio, apenas entendimento. Escarlate, como se sentira minutos atrás. E não o faria ali, em Wakanda. Não para sempre.

—Shuri, — Ela disse. — Eu preciso te contar o que sei.

*** ***

 

 Assim como na tarde anterior, estavam Wanda e professor Xavier no interior da sala vazia e somente Tempestade e Shuri observavam pelo vidro, pois o restante do grupo se preocupava em desvendar outras informações captadas pela equipe de Wakanda, além do que Natasha reportara em sua missão misteriosa.
Wanda contara a Shuri brevemente o que vira nas memórias do Soldado Invernal e ela chocou-se em saber que a ex-vingadora não precisara de proximidade para ver. Logo sua face assumira a expressão distante, afinal, a princesa lidava com quem tinha poder o suficiente para ler as cabeças mais brilhantes do mundo eparti-las também.

Nada disse, não debochou e tampouco sua voz adquiriu o timbre agressivo que era esperado. Sua calma, entretanto, era efeito de autocontrole, cuja estava no limite.

Mas Wanda também guardava coisas para si, por exemplo, o final de sua pequena aventura. Não diria que acessara a parte consciente de Bucky Barnes até ter certeza de que realmente o fizera, mas essa informação teria que esperar para ser conferida.

Embora isso não fosse tanto tempo assim.

— Então, Wanda...— Xavier começou a dizer, sua voz gentil e os olhos espertos. Ele não lera o que ela pensava, pois a barreira mental que Wanda se protegia agora era reforçada.—Quando lhe disse que seu poder era um músculo, não achei que fosse treiná-lo tão cedo. Estou admirado.

— E um tanto cauteloso.

Ele sorriu.

— Sim. Um tanto cauteloso. Pensei sobre o que me mostrou ontem, pensei muito. Foi bom ver que Erik estava tentando salvar JFK, mas essa informação só me trouxe mais perguntas e isto pode nos confundir em nossos objetivos.

— Peço desculpas, professor, mas também não pretendo responde-las. — Wanda deu de ombros, seus olhos preparando-se para compartilhar da memória. Suas íris escarlates, seu rosto sereno e a voz calma a faziam jus à sua alcunha de feiticeira. — Vi o que só nos traz mais dúvidas.

— Bem... São as perguntas que movem o mundo, não é mesmo? — Estendeu a mão para ela, pegando gentilmente seus dedos magros. — Não posso perdê-la durante essa visão. A princesa me deu um breve contexto de suas experiências anteriores e não deixarei que escape dessa realidade, querida. Ou desse ano. Seria caótico.

A ironia atingiu a boca do estômago de Wanda, o que provocou um sorriso estranho e largo demais em seus lábios.

—Seria.

Estavam na memória de novo, Xavier assistindo apreensivo e atento, enquanto Wanda aproveitava para observar o que fugira de seus olhos durante a madrugada. Viu os corpos, ouviu Zola falando... Mas era frustrante o quanto ela podia apenas enxergar e escutar o que estava no foco do Soldado Invernal, e este era programado especificamente em seus alvos. Aquilo a distanciava de forma segura da lembrança, para que não se perdesse e se ferisse assim como Xavier soubera através de Shuri, porém Wanda não estava ali a passeio e não queria sair com informações pela metade, por mais que estas fossem valiosas.

“E se...” Ela pensou, tamborilando os dedos. Sentia-se um pêndulo rodando em círculos, em pensamentos opostos e obsessivos, depois voltando ao mesmo lugar. Seu corpo estava mais desperto e ciente, no entanto inclinava-se a uma decisão questionável, não sendo possível considerar uma escolha em juízo perfeito. Havia algo em sua garganta que a fez em ficar em silencio. Talvez fosse aquilo, o Caos, chamando-a para casa e tentando animá-la um pouco... Mas ela já prometera a não considerar aquilo outra coisa senão sua vontade estranha de fazer coisas além de sua compreensão e até mesmo erradas.

Ela deu um passo para fora da mera lembrança e a sala do laboratório banhou-se em luz vermelha.

Wanda deslocou-se no espaço e tempo. Aos poucos a sentia seu próprio peso, saindo do que era diáfano e indo ao concreto, tudo ainda inefável. Era uma tentativa de repetir a experiência de entrar na lembrança e na realidade de 2009, quando Pierce torturou Bucky e ela pode usar de todos os seus sentidos para saber o que ocorrera, mesmo que isso tenha significado voltar com um ferimento na mão e sua cabeça em cacos.

Wanda

Os sons de impactos e explosões atingiram mais do que seus ouvidos.Sua pele eriçou-se com o reverberar de mais um estouro, seus olhos arregalaram bem abertos. Seu próprio corpo a alertou que era errado estar naquele ambiente hostil, naquele laboratório. Se fechasse os olhos, seria atacada pelas próprias lembranças do míssil que atingira sua casa, pelo tempo confinada na HYDRA.

Afastou-se do medo instintivo e deixou suas pálpebras bem abertas, os ouvidos aguçados.

Wanda, não

Ela sentiu algo segurar sua mão, mas não havia nada ali. Uma sensação vaziae fantasmagórica que a puxava para trás. Wanda encarou sua própria palma, depois ergueu o queixo. Deu mais um passo a frente.

A memória estava ali e de repente já não era mais uma mera lembrança quase esquecida.

Era a realidade.

Envolta em energia pura, não passava de um espectro avermelhado e pairava centímetros acima do chão. Até aquele infinito instante, não haviam notado sua presença e ela julgou que de fato era uma entidade ilusória, apenas observando com o rosto impassível.Ele estava logo ali, em seu sono desperto e cativo na própria cabeça. Andando e agindo, sob cordas de marionete da HYDRA. O Soldado Invernal. Ela inclinou o rosto, tentada a tocar seu ombro e acordá-lo, mas recolheu a mão.

Xavier não estava lá.

Zola murmurava ainda em sua conversa sem propósito, até que pegou sua maleta para partir.

—Auf Wiedersehen!

Despediu-se e saiu escoltado por outros agentes, de modo que Wanda aproximou-se suavepara que sua presença não fosse sentida, atravessando a porta de saída junto com o pequeno grupo. O cientista dizia outras coisas em alemão, língua que ela conhecia pouco e que agora a mente de James Barnes não poderia traduzir para ela.

Mas ela pôde entender que ele, assim como conversara com Bucky há instantes atrás, chilreava com os outros homens que o acompanhavam, se referia constantemente à “er”, “metall”, “transportieren”. Ao fim, quando se aproximava do fim de um corredor, ele disse aonde ia.

E era o suficiente.

Voltou ao ponto em que se tornara presente, atravessando os átomos da porta dupla de ferro, a tempo ainda de assistir a mulher azul e coberta de escamas gritar por “Azazel”. Logo um demônio vermelho apareceu e partiu, tão repentino quanto viera numa pequena explosão vermelha e cheirando a enxofre.

O Soldado Invernal não pudera ver o que era aquilo, pois estava encostado na maca de inox, uma barricada feita no improviso para se proteger da suposta explosão. O barulho de luta, de tiros, de gritos ainda era orquestrado por um maestro sádico, mas Wanda conseguia apenas observar o semblante cansado de Bucky e desejar ajuda-lo, enquanto parte de si só queria escapar daquele pandemônio. Uma terceira parte tentava decifrar como sairia dali.

A compaixão se desvaneceu quando ele se levantou, fuzil engatilhado e a mira em sua cabeça.

Wanda permaneceu onde estava, frio tomando conta de seu corpo. Seu coração estava mudo, bem como sua cabeça. Enxergava sua própria imagem refletida nas suas lentes de proteção dele, cor de vinho, talvez de sangue. Seus lábios tremeram.

Algo puxou sua mão com força, de volta para a realidade em que vivia, mas ela ainda pode escutar o som de um tiro.

Wanda abriu os olhos esperando encontrar o rosto preocupado de Xavier e os gritos acusatórios da princesa de Wakanda, mas suas pupilas não captaram nada na luz difusa e seus ouvidos escutaram apenas o som baixo do vento. Ela se girou os calcanhares, assustada, tentando fisgar algo familiar naquele território estranho e selvagem: uma floresta.

Árvores subiam aos céus até onde a vista alcançava e suas raízes grossas abriam círculos e espirais, entrelaçando-se cada vez mais. Havia um quê de luminosidade púrpura e fantasmagórica, talvez vinda dos cogumelos nos troncos caídos e cheios de musgo, cujo efeito dava a expressão desconcertada da bruxa um tom ainda mais triste. Ela estava entorpecida demais para dar voz ao seu pânico, como se compreendesse por fim, que sucumbira a insanidade e não havia nada mais a fazer. Passou as mãos nos cabelos, segurou o próprio rosto.

Seus lábios tremeram e ela quis cair num choro eterno, mas uma voz estranha despertou-a.

— Eu me pergunto o que vejo em você. — Wanda ergueu o queixo para cima, como se a voz viesse de tal direção, tal qual foi sua surpresa em ver que realmente quem lhe dirigia a palavra flutuava. A velha tinha aspecto ácido, uma expressão soberba. — Pobre garota ignorante.

— O que...? O que é você?

— Não o que, minha querida. Quem. Seria apropriado ter ao menos um pouco de respeito comigo, pois acabei de te resgatar de uma bala no crânio e um possível paradoxo temporal desastroso.

O espectro se aproximou, seus olhos grandes e sábios contemplando a figura da Feiticeira Escarlate. Circundou-a por um breve momento, depois soltou um suspiro cansado.

— Tão poderosa... — Ela deu alguns estalos com a boca. — Tão descuidada.

— Eu estou alucinando?

— Ah, sim. — A voz dela subiu mais alguns tons, mais alegre e mais luminosa. Cintilou lilás e sentou-se numa das raízes altas dali. — Tudo não passa de uma ilusão. A verdade é que você nunca saiu do laboratório da HYDRA e está enlouquecendo. Os últimos três anos que lembra simplesmente não aconteceram.

Uma vez que Wanda não respondera, pois reconsiderava a própria sanidade silenciosamente, a velha sacudiu a cabeça, logo em seguida ajeitando alguns fios de volta ao penteado impecável.

— Ah, por favor! Certo, certo... Você tem problemas psicológicos, mas não é tão louca quanto pensa que é. É?

— Bom. Eu simplesmente estava mostrando uma memória que não era minha quando tive a idéia estúpida de sair da visão para a realidade, só para ter mais informações de uma luta que também não é minha. E agora estou numa floresta estranha conversando com um fantasma.

— Hm, você ainda tem ao menos um pouco de razão na cabeça pra saber que tomou uma decisão estúpida. — Ela sorriu. — Teria tido mais sucesso se fosse mais cautelosa e tivesse mais instrução na magia, coisa que receio que Xavier não possa te ajudar.  Mas, estou bem viva e agradeço por perguntar.

Wanda aceitou a ofensa e o sarcasmo, pois os merecia. Deu alguns passos para frente, ouviu sons distantes de animais.

— Estou me sentindo uma Alice.

O sorriso do espectro abriu-se mais e mais. Não era a Lagarta Azul, mas as brumas que compunham seu corpo e a acidez de suas palavras faziam a comparação inevitável.

— Então deixe-me perguntar, garota estúpida... Quem és tu?

Eu perguntei isso antes.

— Mas minha identidade não é importante enquanto você não souber quem é. Se acha que é louca, eu não passarei de uma ilusão. Se realmente acredita em magia, posso ser mais do que isso. Então... Você é uma bruxa, uma vingadora, uma simples garota que precisa de ajuda? Quem é você, Wanda?

— Eu ainda não sei. — Disse ela, surpresa por ser honesta. — Estou... Tentando descobrir.

— Bom. Muito bom. — Ela voltou ao ar. Seu vestido comprido tremulava como se atingido por vento, mesmo que a mesma brisa não atingisse o rosto de Wanda.— Pois não importa o caminho se não sabe para onde ir.

— Suas referencias literárias são admiráveis, senhora. — Wanda sorriu a outra alusão, desta vez ao Gato Risonho. — Mas continuo numa floresta cheia de bioluminescência sem saber como cheguei aqui.

— Eu me chamo Agatha Harkness, querida. E você veio porque eu quis. Iria morrer lá, Wanda. O dono daquela memória estava além do controle do próprio corpo e teria lhe tomado a vida sem remorso. E Xavier... Bem, Xavier não pode te segurar por muito tempo, e ele bem que tentou. Você saiu dos limites da telepatia e usou sua magia, coisa que não é domínio dele, mas sim do meu. Veja...— Ela fez um gesto expansivo com os braços, indicando trilhas e caminhos através das árvores. — Qualquer aprendiz de magia que se preze deveria conhecer a Travessia da Bruxa, mas não a culpo.

— Desde... Desde quando tem me observado?

— Você tem poderes notáveis e pode ter certeza de que não passa despercebida para aqueles que lidam com magia. Conheço-te há alguns meses.

— E porque só agora se revela, se me acha tão estúpida assim? Tão despreparada, assim?

A velha se manteve em silêncio, pesando sua resposta. As palavras que se entalavam em sua garganta pareceram trazê-la de volta ao chão, de modo que ela se tornou mais sólida e menos lilás.

— Não te acho estúpida por falta de conhecimento. Você se acha mesmo tão frágil quanto às pessoas acreditam que você é, ou se considera tão inútil quanto pensa? Eu sei que não. Você sabe que não. E é por isso que tem esses espasmos de coragem insana e é descuidada ao tentar se desenvolver. Esta é a razão de eu te achar estúpida... Você finge que acredita em mentiras. Diga-me se isso não é tolice.

Os olhos de Wanda encheram-se d’água.

— Eu... Eu tento. Tanto. Mas estou tão cansada...

O ambiente tremeluziu, saindo de foco. Agatha aproximou-se dela, pondo uma das mãos em seu ombro.

— Não temos muito tempo. Vou deixá-la onde estava... Digo, antes de cometer aquela idiotice. Mas, assim que estiver pronta, venha me visitar.

— Aqui? Na Travessia da Bruxa?

— Não sei se consegue acessá-la ainda, Wanda, e não moro aqui, de qualquer modo. Vamos, me dê a sua mão. Dê logo!

A Feiticeira Escarlate hesitou em esticar o braço, mas por fim o fez. Agatha, a velha, pegou sua mão direita com cuidado, primeiro encarando bem sua pulseira azul, a joia kimoyo. Depois, como se tivesse despertado de sua breve distração, traçou delicadamente seu dedo enrugado sobre sua palma, deixando um rastro de luz púrpura no desenho de uma estranha rosa-dos-ventos, que mais era uma runa.

— Está formigando. — Murmurou, mexendo o braço de forma involuntária.

— Isso porque você nunca foi exorcizada. Isso dói. — Ela parou, satisfeita com o feitiço. Wanda abriu mais a mão, observando a figura flutuar a alguns centímetros da sua carne, onde um ponteiro ainda mais acima girava lentamente.

— Suponho que isso não seja o Norte. — Wanda disse, uma sobrancelha arqueada. —E essa bússola não aponta para canto algum.

— Os caminhos são confusos na Travessia da Bruxa. Antes que se vá, vou lhe dar uma primeira lição, querida. Este é um Vegsvisir, “aquele que mostra o caminho.” Adaptei para um feitiço simples, que mostrará o destino. Use com parcimônia, pois não é eterno... Só lembre-se de pronunciar corretamente, pois não quero que nada de mal aconteça quando for consultar a direção.

— Você não pode simplesmente dizer onde mora?

Agatha soltou um suspiro longo, murmurando o quanto não deveria perder tempo com isso.

— A Travessia da Bruxa é um lugar de bruxos e bruxas, alguns embusteiros. E você já deu seu endereço para um estranho? Não? Ótimo. Agora vá, sua tola. E ponha a cabeça no lugar.

A visão tremeluziu novamente, as árvores e a noite tornaram-se simples borrões. Wanda sentiu seu espírito ser tragado à Terra, como se voltasse rodopiando numa maré. Confusa e sem fala, estava de volta à realidade.

Por mais estranha que fosse.

— Você é louca? —Shuri já estava dentro da sala, sua face torcida em cólera perto de Wanda, que por sua vez respirava com dificuldade enquanto ainda apertava a mão de Xavier. A princesa ainda teceu outros comentários nada enobrecedores enquanto gesticulava para o nada e caminhando sem rumo pelo ambiente, até que se virou mais uma vez. — O que estava pensando? Tem noção do que... Você tem noção?

A Feiticeira Escarlate soltou a mão do professor para segurar a própria testa, a fim de manter a própria cabeça no lugar. Suas têmporas latejavam e ela podia também escutar seu coração bater forte dentro de sua caixa torácica. Suava frio. Não deu atenção para o que sua amiga dizia. O mundo girava rápido demais para que pudesse acompanhar, de qualquer forma.

Viu-se aceitar um copo d´água, se viu bebendo também, mas pareciam ações de outra pessoa. Assim que sua mente encaixava dentro do cérebro, ela pôde se focar na figura elegante de Ororo Munroe, que estava próxima e tão suave como uma garoa de verão.

— Você começou a desparecer, Wanda. Parecia que ia se desintegrar em vermelho.

Ela até chegou a abrir os lábios para responder que aquilo era um bom destino, mas a voz não saiu de sua garganta. Outra pontada atacou sua nuca e sua boca soltou apenas um gemido de dor.

— Isso foi extremamente insensato. — Xavier se pronunciou, gotículas de suor cobrindo sua testa. —Eu quase não consegui... Te trazer de volta. Poderia ter morrido.

— Morrido? —Shuri lançou uma risada ácida no ar. — Ela podia ter aberto um paradoxo temporal. E morrido! O que estava pensando?

— Ai, minha deusa. —Ororo passou a mão nos cabelos soltos de Wanda com preocupação notável em seus olhos. — Ela não consegue responder.

Houve silêncio por um instante, no segundo seguinte Shuri ergueu o pulso e aproximou sua joia kimoyo da própria boca, chamando uma equipe paramédica, Steve Rogers e Sam Wilson.

—Transporte, ele, metal... — Wanda disse baixinho, mal ouvindo sua própria voz. Em sua expressão, porém, havia o começo de um sorriso orgulhoso, que provocou nada mais do que uma troca de olhares assustados entre os outros que estavam presentes. — Pentágono. Arnim Zola ia para o Pentágono. “Transportieren”, “er”, “metall”... Magneto foi deslocado pra lá.


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Notas finais do capítulo

PS: Créditos à Paparazzi por continuar me incentivando a escrever. Muito obrigada!
* A "velha" que aparece é uma personagem dos quadrinhos e muito importante para o desenvolvimento da Wanda. Teremos algo nesse naipe aqui também.
* Algumas pessoas ficaram confusas com a parte consciente de Bucky Barnes. Trabalharei mais disso nos próximos capítulos, mas vocês acham que eu deveria fazer, sei lá, algo mais explicativo? Por favor, me deixem saber o que acham - até mesmo se algo estiver muito estranho.
*Apesar das revisões, é possivel que ainda existam erros. Me avise se achar um!
*Comentários são sempre apreciados!



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