Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 17
XVII


Notas iniciais do capítulo

Oba, mais um capítulo *-*
Muito obrigada pelos comentários fofos que recebi - responderei logo, logo - e muito obrigada por acompanharem a fic. O próximo capítulo já está planejado, mas sem previsão de postagem - sorry. Mas não deve demorar, pois saio de fériassss ♥ ♥ ♥ Oh, Lord! E agora, momento de paz:
Eu desejo, como se estivesse esfregando uma lâmpada de gênio, que vocês tenham um excelente ano. Que nós tenhamos. Desejo que a prosperidade entre e fique em nossa casa como se um leprechaun morasse conosco. Que a saúde prevaleça em meio à dificuldade e que sempre haja amor em nossos corações. Desejo uma virada de ano que seja uma virada de vida, para melhor!
Agradeço por fazerem parte da minha vida e por me permitirem fazer parte da sua. Muito obrigada!



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Já na Sala de Inteligência, “alugada” especificamente para os assuntos que o monarca e seus refugiados discutiam, Wanda observava o rosto duro do rei. Ele aguardava enquanto os Steve e Sam falavam, absorvendo com atenção toda e cada frase e por fim disparando perguntas pertinentes. Ela tentou sondar vestígios da discussão com Deka, sombras em sua aura, mas T’Challa estava concentrado demais para que pudesse identificar algo e forçar sua mente seria algo detectável.

Enquanto isso, ela tentava não encarar o rosto da própria aprendiz do outro lado da mesa.

Só  souberam que Deka estaria ali depois que entraram na sala. De início, o incômodo foi palpável no ar, pois tanto Sam quanto principalmente Steve guardavam ressalvas quanto ao comportamento dela e se seria seguro compartilhar informações preciosas em sua presença. Wanda, por sua vez, não guardava rancor. Ela queria violência e a obteve. Agora desejava apaziguar os ânimos e esperava conseguir também.
O monarca foi firme e não demonstrou dúvidas ao trazê-la na reunião. Deu uma breve e seca introdução à sua pessoa e logo pediu o relatório inicial, por onde haviam passado, com quem haviam falado – se haviam falado – e quem encontraram durante a Conferência de Veneza.

Ambos relutaram em dizer, mas Wanda deu um pequeno e imperceptível empurrão em seus ímpetos. Ninguém precisava de um conflito agora. Portanto, até o momento ambos prosseguiam com o cronograma estabelecido, narrando o desenrolar da missão.

Steve continuou, mostrando no holograma qual havia sido o percurso que tomaram da base à local da Conferência, depois passando imagens digitalizadas que Natasha havia mostrado, encontradas sob os escombros da Base Leigh há tempos.

Fotos ainda em preto e branco. Coordenadas. Steve, de pé e acostumando-se com a tecnologia wakandana, fez um gesto inseguro com a mão e passou para um arquivo de áudio. A sala se encheu com um ruído baixo, como se alguém amassasse placas de metal com as próprias mãos. Era algo antigo, de talvez trinta ou quarenta anos atrás. Um som de uma fita cassete.

“Eu não vou vê-los terminar como cinzas.

Wanda, até então imersa em sentir a vibração dos outros no ambiente, despertou com aquela voz. Seus olhos arregalaram-se, quase faiscando. Não era ninguém conhecido, ninguém especial. Só um homem, com o timbre grave e rouco; com o peso do mundo nas costas. Ele engasgou e o ruído nublou mais ainda a gravação.

“Vocês são todos diamantes...

 Nós somos...”

A fita se encerrou, de súbito.

A aprendiz também arregalou seus olhos até então desinteressados, franzindo o cenho. Direcionou sua atenção ao seu rei, que não lhe deu respostas e depois voltou seu rosto para Wanda, de maneira direta e dura.

— Esse áudio foi transmitido de Wheaton para Veneza, há quase três anos. Sem notas associadas, sem título, sem nada além de uma 22 de Novembro de 1963. E eu posso até ter ficado congelado por setenta anos, mas sei que essa é a data de morte do presidente Kennedy.

T’Challa levantou uma das sobrancelhas. A aprendiz inclinou o rosto.

— E o que isso teria a ver com um grupo organizado hackeando sistemas de segurança?

— Exatamente. – Sam anuiu.

— De início, nós queríamos nos assegurar da segurança do local e tentar ir mais a fundo nas informações que Romanoff nos passou. Ela havia recuperado alguns dados de operações em Veneza, e eram dados estranhos demais para se deixar passar.

— Por que uma subdivisão da subdivisão da SHIELD teria plantas arquitetônicas de outras bases, sendo da SHIELD ou não, e registros de operações antigas? E como eles teriam acesso a isso?

Sam balançou a cabeça, soltando um estalo com a boca, irritado com a lembrança de alguém lhe surrando na ocasião.

— O centro de Veneza é pequeno o suficiente para não chamar a atenção, mas limitado. Servia só de ponte de comunicação entre diferentes locais da SHIELD quando necessário e até mesmo convinha de referência para agentes de campo. Um refúgio temporário.

— Que após a queda da SHIELD, foi desativado e tudo foi repassado a seu governo local e ao estadunidense, já que a organização é americana. Suspeitamos de relação com outra base relativamente próxima, porém da HIDRA, em Florença, mas nada confirmado. Os dados que encontramos lá eram físicos: papéis, arquivos, pastas... E a maioria dos locais mencionados foram alvos de tentativa de invasão cibernética.

— Algo ainda não se encaixa. – A voz de Deka não foi bem recebida. T’Challa lhe lançou um olhar sutil, mas poderoso. Não queria que se pronunciasse ainda, não queria que interrompesse o relatório. – O que mais?

Wanda pôde ouvir a inquietação se distendendo em agudo crescendo, tal qual as músicas que Natasha costumava ouvir. Escondeu as mãos abaixo da mesa, tamborilando movimentos curtos. Pontas dos dedos unidas, então gestos para fora. Steve anuiu, ignorando certa irritação que de súbito se desvanecera.

— Alguém havia estado há pouco naquela instalação. Talvez o grupo de Aprimorados que encontramos durante a Conferência. Os documentos estavam empilhados e não havia pó. Além das plantas que mencionamos, encontramos isso:

Outros hologramas projetaram-se no meio da sala, em tons laranjas. Eram scanners e fotos tiradas por Falcão, indicando matérias sob a Crise dos Mísseis no litoral de Cuba, e depois as manchetes de jornais no dia da morte de JFK, em 1963.

— Não estou dizendo que Wakanda sofreu uma tentativa de invasão porque algum grupo quer desvendar a teoria da conspiração por trás da morte do presidente Kennedy ou rever algum assunto de Guerra Fria, vossa Majestade... Mas o assunto é muito mais estranho que nós esperávamos.

O rei continuou encarando as imagens pairando sob a mesa. Wanda, ainda quieta, endireitou-se na cadeira e inclinou-se para mais perto dos hologramas.

Hackers. Invasão da Crise dos Mísseis. JFK. Nada daquilo apresentava ligação com os assuntos de hoje, entre os conflitos do Registro de Sokovia e queda da SHIELD.

— Mostre-me o segundo áudio, Rogers.

A mão de Steve hesitou, tanto que naquele instante Wanda pôde sentir um arrepio na nuca.

“As correntes...”

Era possível ouvir os ruídos, embora estivessem mais ao fundo e mais distantes. A voz, a mesma voz grave e cheia de dor, murmurava entre dentes, em primeiro plano na gravação. A Feiticeira Escarlate imaginou em qual contexto havia sido gravada, a razão da fúria do homem. No fim, a sentença:

“...O medo de retaliação é o que unirá verdadeiramente este mundo como um só.”

 Os ombros de T’Challa tencionaram-se rijos, enquanto sua boca comprimiu-se numa linha reta e silenciosa. Encarou um ponto fixo e vazio sobre a mesa por breves segundos, para em seguida retribuir o olhar de Steve no lado oposto da sala.

— Capitão Rogers... – Ele suspirou. – Acredita que tem alguém seguindo as palavras desta gravação? Deste... Homem?

— No contexto em que foi gravada, o mundo estava dividido em dois. Eu temo que o mundo esteja se desmontando novamente. Só é difícil saber os nomes dessas partes.

— Parece algo mais do que Registrados e Não-Registrados.

— Mas... – Wanda testou a voz. – Ainda é verdadeiro. A frase é verdadeira. Querem nos registrar, nos tornar alvos de fácil localização e manipulação, para o mundo se tornar seguro. Como se fossemos bombas nucleares. –Ela lembrou das palavras de Ross, tempos atrás. – Há medo nas duas partes. Sempre há medo.

Steve demorou-se um pouco ao olhar Wanda, e por breves segundos foi ele que enxergou sua aura. Jamais assistiria através dos olhos dela suas memórias, jamais saberia em sua própria pele a violência que ela presenciara, mas naquele instante ele sentiu.

E ele poucas vezes se sentira tão impotente.

— Se... – Tossiu um pouco, fisgando de volta sua linha de raciocínio. – Se existe algo nessa história que se refira à 1962, eu já sei que pode nos ajudar. Professor Charles Xavier me contou algumas memórias dele desta época.

— Providenciarei um meio de comunicação segura para o Instituto Xavier. – T’Challa anuiu. – Talvez seja um pouco complicado devido a monitoria em volta deles, mas nada que não consiga contornar. Aliás, não há nada de errado no Escola Wakandana para Estudos Alternativos entrar em contato com outra escola. Um simples intercâmbio.

Ele deu um meio sorriso, perigoso. O rosto de Deka azedou-se mais, como se isso fosse possível.

— A menos que essas duas escolas sejam para jovens Aprimorados.

“Aprimorado” é só uma palavra nova para um termo antigo, senhor Wilson. Eu pessoalmente prefiro “meta-humanos”.

— Ainda parece menos ofensivo do que “mutantes”. – Steve comentou.

A Feiticeira Escarlate se viu surpresa por estar ali e principalmente por se sentir confortável discutindo terminologias politicamente corretas com Sam, T’Challa e Steve. Era estranho como momentos tensos seguiam-se com piadas toscas, mas ela agradeceu por este fato aleatório. Era justamente um pouco de tolice inócua que precisava. Só a aprendiz destoava.

— Eu gosto de “mutante”. Não me ofende.

T’Challa juntou as mãos e as pôs de baixo do queixo, sustentando o peso de sua cabeça e consciência com os braços. Em seu semblante sério, era possível ver o fantasma de um sorriso. Assim que a sala fez silêncio outra vez, ele voltou a falar.

— Nossa situação é delicada e sem orientação, mas temos um pouco de sorte ao nosso lado. Parece bem conveniente que a aprendiz aqui estude justamente na Escola para Estudos Alternativos...

Wanda ficou curiosa. Estudos Alternativos? Parecia um daqueles colégios internos caríssimos, com a promessa de um plano de estudos moderno que na verdade só desorganizado. Talvez sorrisse, mas acreditou que seria melhor tampar discretamente a boca com as mãos, pois aparentemente wakandanos entendiam mais humor sarcástico do que piadas tolas.

— Rogers, Wilson, Maximoff... Quero fazer uma apresentação apropriada. E quero que me entendam. – Ele se levantou, gesto que foi seguido por sua aprendiz logo depois. Seu rosto era sereno, mas Wanda sentia a perturbação na atmosfera. – Eu já lhes contei que ela é uma aprendiz especial, no fim de sua formação. Fui verdadeiro em tudo o que disse.

— Mas? – Steve foi de sólido a cortante, com a boca comprimida e tensa.

— Mas meu nome é Shuri. Eu e T’Challa compartilhamos do mesmo sangue. Somos irmãos e eu também sou herdeira do trono.

O silencio que se seguiu foi absoluta, tal qual houvesse despencado uma tempestade severa na sala. Sam permaneceu impassível, porém visivelmente irritado, enquanto Steve passou por diversos sentimentos e microexpressões. De incredulidade, ele foi à raiva e então à desconfiança. Deu um passo para trás, depois voltou, sem querer insultar à coroa.

Wanda continuou olhando para ela.

É claro.

Era por isso que Deka hesitava toda vez que ia pronunciar o nome de seu rei ou apenas se referir à Vossa Majestade. Era por esta mesma razão que tinha acesso a informações confidenciais e detinha respeito notório das Dora Milaje. E era também o motivo por se sentir tão diminuída.

— Eu não desejo ofendê-los. O que aconteceu – Ele passou o olho pela sua irmã  e Wanda. –  Está longe de ser o que eu planejava. O que queria é estabelecer um laço maior do que essa causa, maior do que um sentimento de “dever” ou “retribuição”. Mas não desejava que fosse forçado apenas porque ela é minha irmã ou porque ela é a Princesa de Wakanda. De qualquer maneira.. Jamais se repetirá.

— Qual é a razão disso? É um teste? Não confia em nós?

— Essa prova não era para vocês e é uma pena que falhou de forma que não previ, Capitão Rogers. Espero que relevem.

— Certo. – Disse Sam, meio à contragosto mas querendo encerrar o assunto. – E o que Vossa Majestade acredita que a Alteza possa fazer?

— Será mais fácil entrar em contato com o Instituto Xavier. Shuri pode programar uma viagem de alguém para lá ou de alguém para cá, sem o risco de uma abordagem direta da ONU.

— Também sou capacitada para acompanhá-los em missões. Soube que foram atacados na última, e que foi necessário o auxílio da nossa guarda de elite. Serei útil.

Ninguém respondeu, ao menos não de imediato.

— Isso seria ótimo. – O tom agradável da Feiticeira Escarlate não podia contrastar mais do que a atmosfera tensa na sala e até mesmo de seu interior conturbado. Ela sorriu, e embora o sorriso fosse enigmático, não era falso. – Eu estava pensando em... Em voltar à ativa.

Lembrou de Clint dizendo para levantar sua bunda e fazer algo. Eram memórias doces de um período deveras confuso, mas que não se atreveu a mencionar. Steve ergueu somente uma sobrancelha, enquanto a expressão de Shuri era um riso mudo e debochado.

Minha nossa. O que estou falando? Tudo pode dar tão errado. Posso repetir o que fiz em Lagos. Posso destruir tudo ao meu redor. O que estou falando?

O que estou falando? O que estou falando? O que estou falando? O que estou falando? O que estou falando?

Pare.

— Nós veremos mais a frente. Não iremos decidir tudo agora. Agora, Rogers... Será que você poderia mostrar novamente o áudio? Eu gostaria de escutar mais uma vez.

Sam pediu licença e levantou-se. Para Wanda, era óbvio que precisava de um pouco de ar puro, tal era o clima claustrofóbico da situação. Ele detinha seu semblante apagado, seu sorriso de sol completamente eclipsado pelas dificuldades.
Quando repousou seus olhos em Steve para ter certo apoio, ela enxergou uma nevasca. Encarava T’Challa ainda com respeito e gratidão, mas nada mais do que isso.

Tudo porque ela decidira ser rude com Deka. Tudo porque ela não podia ficar quieta. Tudo porque agora havia anunciado que voltaria a participar de missões perigosas.

Urgh.

Wanda passou as mãos nas têmporas. Sentiu saudades de um monte de coisas e pessoas que não estavam ali. Levantou o rosto após alguns minutos, vendo que o sol começava seu declínio através da janela, e que uma silhueta de aspecto elegante observava o mundo lá fora.
Ela decidiu caminhar até lá, sem saber o que diria.

Lá estava ela, a dita Feiticeira Escarlate ao lado da princesa de Wakanda. Uma filha da neve de Sokovia, próxima de uma princesa de cristais e minério.

— Não é preciso poderes para saber que está chateada.

A expressão de Shuri foi clara.

— Então reveja suas feitiçarias, porque estou com raiva.

— Não. Você está tentando me afastar.

— Está certa. Vá embora.

— Sabe que não vou. Estou disposta –

— Não se faça de sonsa. Eu sei que está lendo minha mente ou que provavelmente escutou algo. Não preciso de mais alguém dizendo que sou um fracasso, então dispenso. – Ela levantou a palma da mão. – Vá ou a retiro daqui.

— Uso...– O pensamento estava incorreto. Wanda demorou um pouco, mas achou melhor por a frase em outras palavras. – Tenho tentado usar meus poderes não para expandi-los, mas sim para controlá-los. E não preciso disso para conhecer as pessoas porque elas se mostram sozinhas. Você é uma pessoa com raiva, no entanto sei que é mais do que isso. Eu –

— Você é uma bruxa. Veja o que o futuro reserva.

Steve ainda estava concentrado nos papéis e imagens, mas a Feiticeira notou que T’Challa prestava atenção nas duas. Se até então sobrava empatia em relação à Shuri, por todas as razões imagináveis, agora Wanda tornara-se tão hostil quanto os piores invernos de sua terra natal. Sorriu, encarando o céu limpo lá fora.

Seus olhos faiscaram vermelhos.

— Tempestade. Eu vejo tempestade.


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Notas finais do capítulo

Agoooora sim, sabemos a identidade real de Deka ~~ WHO THE HELL IS DEKA?? ~~
As frases no áudio são referências à Metal Gear V, que apesar nao ser um crossover, dá muita inspiração para o conflito que imagino para esta fic e para o personagem que vou inserir aqui! Por este capítulo, vocês também viram que puxei os filmes da FOX... Então acho que pessoas mais antenadas saberão o que isso significa.
Algumas pessoas sentiram saudades do Bucky e do Clint, e para falar a verdade eu também sinto! O novo capítulo terá a presença do nosso queridíssimo Soldado Invernal, mas ainda não veremos Clint tão cedo. Sorry, guys.

"VAZIOS" VOLTARÁ EM 2017!