Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 16
XVI


Notas iniciais do capítulo

Aqui está, como prometido.
Vocês notarão que este capítulo dá certa sensação de continuidade, e o próximo também. Se passa no mesmo dia ^-^' Enfim, espero que gostem. É algo mais light.



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Steve estava particularmente tenso naquela manhã, muito provavelmente em razão dos últimos dias em missão de campo em Veneza. Seu semblante era sério na maior parte do tempo, por mais que se forçasse a sorrir vez ou outra para quebrar o clima carregado e também para acompanhar o humor de Sam.
Eles estavam do lado de fora, ainda nos jardins, sentados em um banco de pedra. Wanda suspeitava que se tratava de um imenso quartzo fumê lapidado, tanto pela cor quanto pela temperatura fria, e ficou a divagar por um breve momento se seria comum tantos móveis e utilitários feitos de metal e pedra. Sam repousava seu corpo com naturalidade e vagareza, os óculos escuros escondendo seus olhos brilhantes e um copo de papel na mão, com café. Enquanto isso, Steve ouvia concentrado o relato de Wanda.

Ela deixou de fora alguns detalhes, para manter a conversa saudável e a mente dele tranquila. Não era necessário que soubesse que por pouco não partira a mulher ao meio, ou que sofrera certas injúrias pessoais dela. Também omitiu que sentira mais dor do que parecia, mas que na verdade os analgésicos e remédios de Wakanda eram potentes à ponto de sua pele exibir apenas manchas roxas e amareladas. Apontou sua cicatriz acima da sobrancelha, indicando que estava melhor. Sorriu, sorriu até covinhas surgirem no alto das maçãs de seu rosto.

Naquele instante, Sam voltou sua atenção para ela. Não esboçou nenhuma reação, não disse nada. Por mais que ele fosse perspicaz, Wanda também era uma boa atriz e contava com uma vantagem injusta: Sam e Steve queriam que Wanda estivesse bem e por isso acreditariam em uma frase falsa, uma ilusão de felicidade. Era mais fácil fazer as pessoas enxergarem o que elas queriam enxergar e isso fazia parte da magia.

Mas Wanda não conseguiu dizer o que vira no laboratório com James. Ela própria não havia entendido ainda como fora capaz de estabelecer contato e porque tinha a sensação desconfortável que ele olhara de volta. Não sabia se faria isso pela terceira vez, depois que assistira uma memória distante de James e Natasha, e James e Steve.
Também não queria que fosse obrigada a realizar testes, que mais médicos e cientistas analisassem a atividade cerebral e magnética enquanto usava seus poderes. A HIDRA já havia feito isso várias e várias vezes enquanto ela escutava os próprios gritos e os de seu irmão; o governo americano medira se ela poderia ser considerada “segura” e “útil” para o Estado. Mesmo que Steve nunca a obrigasse a nada, se fosse para recuperar seu amigo Bucky, ela sabia que esperaria algo dela.

Algo que ela não sabia se poderia fazer.

— Nada de muito interessante, Steve... – Ela concluiu, cruzando as pernas. – Eu já... Eu já ia me acertar com T’Challa em relação à Deka antes que vocês chegassem. Ela não é tão má assim. Acho que só nos... Esbarramos no momento errado.

— “Esbarramos” não é exatamente a palavra certa, Wanda.

— Eu sei. – Encolheu-se com o tom usado por ele, pois sabia que a preocupação era real e o nervosismo palpável. Ela brincou com a saia, evitando o olhar azul gelo dele. – Desculpe.

— Não, não ouça assim... – Steve se amornou. – Foi uma irresponsabilidade minha. Você não devia estar no meio de um... Conflito, ou seja lá como estejam chamando essa nossa divisão entre nós e a ONU.

Wanda soltou um bafejo risonho, meio nervoso.

— “Conflito” não é exatamente a palavra certa, Stevie.

— A internet têm chamado de “Guerra Civil”. – Sam tomou um pouco de seu café, depois respirou fundo. – E por alguma razão parece mais que as pessoas veem como um duelo entre você e Stark.

— O fato é que você não merece estar no meio disso. Nenhum de vocês. – Ele pôs as mãos entre os rostos. – Só estou cansado de violência.

Era verdade. A exaustão dele podia ser sentida pelo mais comum dos homens, sem poderes e sem sensibilidade. O Capitão América estava esgotado.

— Eu sou militar, Steve. – Sam deu de ombros. – Meio que me alistei pra isso. Jurei a bandeira. Estou aqui para impedir que a violência chegue a outras pessoas. E se ninguém tenta apontar o que há de errado... Quem mais o fará?

— Certo. – Disse ele, não muito convencido, mas grato. – Porém Wanda é só uma menina. Você merecia mais que isso.

— Bem, o meu governo não estava nem aí para Sokovia até que ela foi para os ares. Ninguém se lembrava desse pequeno país ex-soviético. Eu já vi a violência bem de perto antes de conhecer vocês. Eu e Pietro queríamos fazer a diferença. – A expressão de Wanda foi de dor. – Posso dizer que fiz. Agora sou uma Vingadora. Era. Não sei mais. Bom, sei que sou sua amiga. Acho que estamos juntos nessa.

— Não quero que me acompanhem só porque o “Capitão América” pediu. Eu não quero que me vejam assim, sigam um legado de dever de uma imagem que não é minha.

— Cara, eu não vou dizer que não existe o peso de ser o Capitão América. Isso seria ingenuidade. Mas não pode dizer que estamos aqui só por isso.

Era terrível ver Stevie tão impotente em sua grandeza. As expectativas que o mundo tinha sobre ele e sobre seus feitos antepassados eram absurdas para os ombros de um homem só, de modo que era necessário uma lenda para sustentar tanto peso. Ele era uma, um mito vivo. E ao mesmo tempo não era e o mundo não poderia esperar que Steve Rogers fosse para sempre o imortal Capitão América.

Talvez fosse uma das razões que ele parecesse tão sólido. O Capitão América era um conceito coletivo de exemplo, uma ideia, e ideias são à prova de balas.

Wanda tocou seu ombro, enxergando-o em toda a sua mortalidade.

— Não se preocupe. Nada permanece e as pessoas vão entender isso.

Ela se arrependeu por ter dito, pois era a mesma coisa que Natasha havia dito meses antes. E talvez fosse exatamente aquilo que doesse em cada um deles: a permanência da inconstância.

Steve respirou fundo.

— Ao menos é bom saber que você está melhorando, Wanda. É o que importa.

— Steve já ia dar chute no meio de T’Challa e provocar  um golpe de Estado. – Sam riu sozinho, bebericando mais uma vez o café. – Droga, agora sei porque Barton levou doze libras de café wakandano. É bem mais encorpado. E perfumado.

— Clint realmente levou doze libras de café na mala?

— Eu acharia mais engraçado se eu soubesse exatamente quantos quilos uma libra pesa. – Ela deu um riso torto, imaginando uma quantidade ridícula apesar de não ter visto muita coisa na bagagem do Gavião.

— Desculpe, Wanda. Esqueço que só nós usamos libras, praticamente. – Ele franziu a testa por alguns segundos. – Deve dar algo em torno dos cinco quilos.

— Cinco quilos e quatrocentas gramas, para ser um pouco mais exato. – Sam completou.

— Uau. Ele é maluco.

O vento varreu o silêncio e as folhas. Então Wanda sentiu-se tola e grata por estar ali, por mais infeliz que fosse a sua face e seu passado, por mais nebuloso que fosse o futuro. Ela passou a mão nas têmporas, ciente dos sentimentos conflitantes borbulhando dentro do peito. Gratidão e arrependimento. Dor e contentamento.

— Nós somos um bando de babacas mesmo?

— Shh, nem diga. Tenho até medo que Barton surja do chão.

— Do chão? – Steve debochou. – Pensei que ele viria do ar. Ele é o Gavião Arqueiro, não é?

— É. – Ela concluiu. – Nós somos babacas.


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Notas finais do capítulo

Tenham uma boa tarde ♥