Vazios escrita por Shalashaska


Capítulo 15
XV


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores! Espero que tenham passado o Natal bem ♥ Sei que o final de ano pode ser uma época difícil , pois vemos tantas pessoas reunidas e felizes enquanto nossa vida continua...bem, na mesma. Mas não se sintam sozinhos. Sempre há alguém ao seu lado ♥ Meu presente é ter pessoas tão legais como leitores, que não desistem apesar dos meus atrasos, que sempre tem uma palavra gentil para me dar. Muito obrigada. Fico também muito feliz em dizer que mais dois capítulos estão prontos e provavelmente sairão ainda esta semana *0* Beijos!



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Tudo parecia um sonho estranho durante o percurso até o quarto. Poderia até pensar que não acontecera nada na última meia hora; poderia pensar que a briga, seus poderes aflorando, o sentimento latente de Deka, não passavam de alucinação. Caso voltasse ao quarto com a ameixa na mão e visse o ambiente no mesmo estado que tinha deixado, concordaria em se consultar com um psiquiatra.

Mas nenhum dos dois estava lá.

Isso a aliviou, de certa forma. Não era um delírio ou outro pesadelo, afinal. Inclinou sua cabeça de um lado a outro, sem ouvir um único som que pudesse indicar onde os dois estavam. Certamente não na cozinha e muito menos na sala, porém não escutara nenhum ruído vindo dos quartos. Então lembrou-se de que seus amigos corriam pela manhã.

Foi até a arena, então. Não levou o arco e flecha, ainda não havia trocado o vestido da noite anterior. Era cedo e ela teria tempo para tudo isso logo. Só sabia que precisava ver o riso de Sam e a solidez de Steve, e precisava disso rápido.

Wanda viu apenas o primeiro, de costas, e neste exato instante ela parou. O dia já começara brando e iluminado, o vento sussurrava fresco. Sam estava perto das árvores e era possível ouvir sua voz agradável, embora ela não pudesse distinguir suas palavras ao certo. Conversava daquele seu jeito alegre, meio sol, meio estrela. Naquele curto momento, Wanda foi atingida por revelações agudas e melancólicas.

Sam tinha sofrido também na sua vida. Assistira o amigo de outros voltarem: Bucky para Steve, Rhodes para Tony, ainda que com todas as dificuldades e problemas. Mas Riley jazia morto e enterrado, assim como Pietro. O luto era uma constante, mas...

O sorriso de dele ainda estava ali. Mesmo que estivesse de costas e conversando com pássaros, Wanda sabia que carregava aquele seu sorriso matreiro no rosto.

Isto a levou a segunda epifania:

Sam estava de costas e distraído e, mesmo que separados por trinta ou vinte metros, parecia insuportavelmente inalcançável. Sua alegria e sua luz eram distantes. Distantes demais.

Ela deu um passo para trás. O sol a chamou de volta.

— Hey, garota. – Wanda estava certa. Ele ainda sorria. – Há quanto tempo está aí parada?

Não respondeu de imediato, somente deu de ombros e encarou o chão, sem saber porque seus pés a levavam para frente, sem recuar. Talvez porque precisava de luz, talvez porque Sam mesmo dissera que poderia contar as coisas à ele. Provavelmente ambos. Quando estava mais próxima, ele balançou um pouco a cabeça e quadril, finalizando numa pose de ar hollywoodiano e blasé enquanto levantava os óculos escuros da altura dos olhos.

Então ela riu, riu até verter o corpo pela metade. Nenhum dos dois estava esperando tal reação, tanto que Sam ergueu as sobrancelhas impressionado. Ainda segurando a haste dos óculos, decidiu entrar na brincadeira.

— Gostando da visão, Wanda?

A palavra “visão” a deixou desconfortável e ele foi sagaz o suficiente para perceber e mudar de tom.

— Só uma ameixa de café da manhã? Impossível que ainda esteja cheia de ontem a noite. – Wanda esboçou um meio sorriso, de lado. De fato, havia comido bastante, mas a ameixa não era para ela. – Bom, coma logo. Da última vez que alguém tentou comer ameixas, começou uma perseguição violenta em Bucareste.

— Vou tentar me lembrar disso. – Deu uma mordida na fruta, o que lhe dava tempo para pensar no que diria. Estava abalada pela discussão que tinha ouvido, entre T’Challa e Deka, mas não existiam formas seguras de contar isso a alguém. Teria que contar que sim, mais uma vez tinha ido vagar pelos corredores, e que de alguma forma que nem ela, nem ninguém conseguiria desvendar, Wanda compreendera boa parte do que ambos disseram. Como Steve reagiria à isso? Ou Sam? Ela terminou de mastigar e seus breves segundos terminaram. – Hã... Onde Steve está?

— Nós íamos nos encontrar com T’Challa bem cedo, para relatório, você sabe... – Ele desviou o rosto para o alto, como se procurasse as aves com quem brincava há poucos instantes. – E já que só a Pantera Cor-De-Rosa que pode abrir a Sala de Inteligência, nós esperamos aqui. Mas ele demorou e Steve saiu há uns, não sei, dez minutos?

— Ah.

Droga. Era por isso que Deka e T’Challa conversavam numa antessala comum, inapropriada para discussões tão pessoais. Ele estava no meio do caminho e a aprendiz o prendeu ali, na conversa. Será que seu forte intento de encontrá-lo teria ocasionado esta eventualidade?

Não, não mesmo. Era só sua mania de culpa, querendo jogar a responsabilidade do acaso para suas costas.

— E por que a senhorita está com um rosto tão travesso?

Ela quase engasgou.

— Eu?

— Você mesma. Por onde você esteve?

— Ah, eu... – Ela deu outra mordida, praticamente terminando a diminuta ameixa. Meio mastigando, respondeu: – Insônia. Andei por aí.

— Não anda fazendo investigações particulares, anda? – Deu um estalo na língua, em desaprovação fingida e completamente teatral. – Bruxinha...

A Feiticeira Escarlate deu um sorriso amarelo, muito, mas muito distante de ser amarelo num aspecto positivo feito o sorriso do homem a sua frente. Sam Wilson era tão perceptivo que beirava ao ridículo, tanto que sabia que ela estava aprontando algo, algo que nem ela saberia explicar tão bem quanto ele. Investigações particulares... Era uma boa maneira de ver aquilo, seja lá o que fosse.

— Não era eu quem estava conversando com aves. O que você anda aprontando?

Foi a vez dele enrubescer suas maçãs do rosto, salientes.

— Eu juro que já te ouvi conversando com plantas!

Ela riu mais uma vez, depois estranhou o som da própria risada. Fazia tempo... Fazia tempo que ela não discutia de uma forma saudável com alguém. Fazia tempo que ela não bancava a insuportável, irritante. Era bom, era muito bom que isso fosse encarado de maneira leve, praticamente impalpável.

— Não fuja do assunto, Sam Wilson. – Tocou o ombro dele, empurrando-o de leve e muito gentil. – Eu o vi conversando com aves e ponto. O que elas disseram?

Ele sacudiu a cabeça, depois suspirou exasperado. Abriu a boca para falar, fechou, abriu mais uma vez.

— Um passarinho me disse...Que uma garota muito, muito malandra, está tirando onda com o cara mais legal que ela conhece.

— Uh, pássaros são mais perspicazes do que eu pensava. O que mais te contaram?

— Que se ela não parar, ele não vai mais participar dos esquemas dela.

— Sam! – Wanda o segurou mais forte, meio rindo, meio implorando que ele ainda fizesse todas as suas vontades fúteis e profundas. Sam que fizera compras para ela, Sam que a confortara por pesadelos e duras realidades. Realmente, um dos caras mais legais que ela conhecia. – Não faça isso.

— Não! Não é hora de fazer essa cara de labrador pidão. – Ele, com firmeza e suavidade, tirou a mão dela de seu braço. – Nem venha.

— Quem está fazendo cara de labrador? – Steve. Seu rosto estava avermelhado devido a caminhada rápida, enquanto seu peitoral subia e descia para acalmar a respiração. Ele parou, sério. Então deu um sorriso furtivo.

— Adivinha? – Sam debochou. – Sua fiel aprendiz, Wanda. Pelo jeito, não é só você que consegue fazer essa cara, mesmo. – Estreitou os olhos e sussurrou para a Feiticeira. – Isso é chantagem.

— Diplomacia. – Wanda respondeu em um tom de falso desafio, com o queixo erguido, até lembrar-se que esta era a mesma missão de Deka, que afinal não se chamava assim. Recordou-se de todo o rancor que a outra mulher guardava, impedida de ser ela própria em toda a sua explosão de personalidade. Personalidade e agressão. Sua expressão desmoronou aos poucos, de maneira que nem mesmo Sam pudesse notar.

— Certo, menina diplomática... – Capitão ergueu apenas uma de suas sobrancelhas, como se os repreendesse. – Não pude falar muito com T’Challa. Fui tentar encontrá-lo e ele parecia bem... Aborrecido.

A Feiticeira ficou lívida.

— E o que o Panterinha fez? Rosnou pra você?

— Disse que precisa resolver alguns imprevistos urgentes e que nos verá mais tarde. – Deu de ombros, com os cenhos franzidos. – Parece sério, mas nosso relatório também tem peso. Há mais coisa acontecendo e temos que descobrir o que é. – Indicou os ferimentos na face de Wanda inclinando o rosto em sua direção, num movimento rápido. – E preciso dar uma palavrinha com ele sobre a aprendiz, Deka. Passou da hora de termos uma conversa mais séria.

— Espero que ele nos chame antes no pôr do sol. – Wanda desviou de assunto. – Preciso estar no nosso dormitório para...Para acender o Menorah.

Steve anuiu, de repente austero. Era sensível quanto ao assunto, tanto que ela pôde ver que ele se culpou por não ter lembrado disso anteriormente. Era algo não dito sobre os dois.

Wanda podia sentir que ele a protegera antes mesmo de ter nascido, uma vez que ele lutara na guerra que dizimou milhões de seu povo, romani e judeus. Wanda também se sentia grata por sentir ecos de sua amparo ainda hoje.

Mordeu os lábios, logo depois parou porque sabia que isto era sinal de nervosismo e Sam poderia captar tal gesto. Sentia-se mal por não compartilhar a tempestade de coisas que pensava, mas ao mesmo tempo não queria lançar uma chuva tão pesada em seus amigos, com direito a relâmpagos e trovoadas. Logo eles, que eram tão abertos, tão gentis.

 Ela teria que contar o que sabia de Deka? Era algo íntimo, que nem Wanda deveria saber.

Passou a mão nas têmporas. Estava exaurida de tantos pensamentos conflitantes. Caóticos.

— Bom, podemos pedir que um dos serventes diga isso à ele. Se bem que ninguém aqui é servente. Eles só trabalham aqui. – Steve sacudiu a cabeça pela própria divagação. – Enquanto isso, podemos discutir mais sobre o que aconteceu em Veneza... E em Wakanda.

Mas Wanda não iria escapar tão fácil.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥ Pretendo trabalhar mais na sutil percepção de aura dos personagens, coisa que adoro. Acho que até esse ponto vocês perceberam que eu gosto de escrita sinestésica XD meu irmão até zoa. Steve azul, azul, azul hahahah
Enfim, até breve!