Devoid of Colors escrita por Bárbara Martin


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aconselho vocês a escutarem a música Colors, da Halsey, durante a leitura. Alguns trechos estarão intercalados com o texto.

https://www.youtube.com/watch?v=JGulAZnnTKA

Boa leitura ❤



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Magnus estava sentando no sofá de seu apartamento. Uma xícara de café repousava em suas mãos e seu gato roçava em suas pernas buscando sua atenção quando, de fato, a atenção do feiticeiro estava bem distante dali.

Milhares de problemas haviam se instalado em sua cabeça, mas o que mais lhe preocupava — piscando em luzes neon quando ele fechava os olhos — era Alexander. Desde que vira o garoto pela primeira vez, algo diferente surgiu em seu peito. Um sentimento forte que o tomou lentamente e de uma só vez. Poucas conversas bastaram para confirmar o estrago.

Alec era diferente de todas as pessoas que Magnus conheceu em sua vida. Ele tinha um semblante sério e preocupado, mas ao mesmo tempo deixava alguns tons de insegurança e ingenuidade se esvaírem de seu comportamento retido, tornando-o adorável nos olhos do feiticeiro. Ele podia ver que o garoto possuía rasgos em sua superfície, mas que seu interior era uma obra-prima.

You're ripped at every edge but you're a masterpiece
And now I'm tearing through the pages and the ink

A cada vez que se falavam, Magnus não podia conter seu interesse. Era óbvio, escancaradamente notável, que ele havia gostado do caçador de sombras e ele não se sentia envergonhado por aquilo. Por outro lado, o moreno de olhos azuis perdia palavras em sua boca e não sabia o que fazer consigo mesmo. Bane teria pena se aquilo não o deixasse apenas mais encantado.

Ele podia ver o desejo e a tentação no oceano dos olhos de Alexander. Podia ver que, por trás do muro construído pelo garoto para que ninguém soubesse como ele se sentia, seus sentimentos também o preenchiam.

Alec sentia-os lhe afogando, lhe tirando o ar. Eram como uma pia prestes a transbordar, e quando os pingos atingissem o chão, tudo se tornaria um caos. Ele temia isso e por esse motivo não sabia como agir perto do mago. Tudo conspirava para o pior e sua cabeça latejava com o quanto era errada sua relação com Magnus.

You're dripping like a saturated sunrise
You're spilling like an overflowing sink

A cada passo que o arqueiro dava naquele momento era um calafrio correndo por sua espinha. Ele não sabia porque havia aceitado ir para o apartamento do homem, mas agora não importava já que estava na metade do caminho. Não sabia o que iria falar para Magnus porque também não sabia o que pensava. Ele estava mais do que confuso com tudo aquilo, porém sabia que não fazer nada só iria sufocá-lo mais.

Suas batidas apreensivas na porta despertaram o anfitrião de seus devaneios, que logo pôs sua xícara com café já frio na cozinha e então foi atender a porta.

— Boa noite, Alexander. — Magnus deu um de seus maiores sorrisos, fazendo sinal para o garoto entrar.

— Boa noite. — Alec respondeu com um sorriso quase imperceptível, passando pelo lado do feiticeiro.

— Fico feliz que tenha vindo. — O outro comentou fechando a porta e o acompanhando até a sala. — Devo admitir que não esperava que aceitasse meu convite. — Com um balançar de dedos, duas taças de vinho surgiram na mesa de centro ao lado deles. — Tão facilmente, digo.

— O que quer dizer com isso? — Alec perguntou olhando para as taças, reunindo todas suas forças para não desistir da ideia de ter ido ali.

— Oh! Porque você é você. Todo caçador de sombras e “A lei é dura, mas é a lei.” — Disse fazendo uma voz idosa no final.

Alec não sabia se sentia ofendido ou se ria da encenação, então se limitou a sorrir. Não era difícil fazê-lo perto de Magnus. Ele trazia cor à sua alma. Deixava-o menos cinza.

Everything is grey
His hair, his smoke, his dreams

— Mas gosto de você assim e gosto ainda mais que está aqui. — O outro completou, pegando as taças e estendendo uma ao arqueiro.

Todo seu empenho em evitar beber e se deixar levar pelos flertes estava escorrendo por seus dedos pálidos agora. Afastando todas as vozes negativas em sua cabeça, Alec pegou a taça e tomou um gole do vinho que, surpreendentemente, era bem suave levando em consideração a última — e única — bebida que Magnus o oferecera em outra ocasião.

Sua reação não passara despercebida para Bane, que já havia pensado em algo menos forte para o moreno. Sorrindo, ele se sentou no sofá, satisfeito por conseguir deixar o caçador um pouco mais confortável.

— Sobre o que você queria conversar? — Alec disse quando se sentou também.

Na verdade ele não se importava sobre o que falariam desde que conversassem. Aquilo o fazia se esquecer de seus problemas e responsabilidades momentaneamente. Ele se focava em Magnus, em suas palavras e em seus gestos. Era tudo que importava por hora.

— Você. — Magnus disse com um pequeno sorriso. Era um sorriso vago, entretanto. Não como seus sorrisos galantes usuais. Não o trouxe ali para cortejá-lo, mas sim tentar clarear a mente do jovem, consertar seus pedaços quebrados.

Pelo menos essa era a parte positiva da visita. Ainda havia a possibilidade de Bane estar errado quanto aos sentimentos do garoto por si e, se tivesse, o encontro dos dois serviria para afastar de uma vez as esperanças de algo entre eles.

— Creio que a essa altura você já tenha percebido que meus sentimentos por você não param em apenas flertes, Alexander. — Ele continuou enquanto Alec olhava para suas mãos sem coragem de levantar o olhar. Estava suando frio e o tom azul de seus dedos combinava com o azul escuro de seus jeans.

Everything is blue
His pills, his hands, his jeans

— Veja bem, — Magnus completou. — eu já tive experiências suficientes para saber o quão trágico é o amor platônico e também sou inteligente o bastante para notar que você também sente alguma coisa por mim. Por favor, me diga se estou errado.

Depois de uma respiração falhada e alguns segundos de hesitação, o garoto levantou o olhar para encarar o mago e sua expressão ansiosa. Mesmo com brilhos avermelhados em suas pálpebras, seu olhar estava apagado.

— Eu sempre tive um tipo de pensamento, sempre segui as regras que me foram impostas achando que, se eu continuasse o fazendo, tudo daria certo. Agora... — Ele suspirou. — Agora eu estou confuso e não faço ideia do que eu sinto.

— Emoções não são monocromáticas, Alec. Não há certo ou errado. Elas nem sempre são claras. — Magnus o respondeu, pegando suas mãos gélidas lentamente, esperando por aprovação. O garoto não faz menção de tirá-las então ele as manteve entre as suas e continuou:

— Eu não quero que se sinta pressionado de modo algum, mas se você esquecesse a dúvida por um instante e desse uma chance a mim, talvez alguma das perguntas que circundam sua mente poderiam ser respondidas.

— Eu... — Alec engoliu seco, tentando pensar em como respondê-lo, mas todas as palavras haviam sumido de sua mente. Seu interior gritava para que aceitasse, já que não havia mal algum em tentar uma vez, mas todo resto estava em pânico. O arqueiro nunca teve tempo para relacionamentos, portanto nunca teve um. Não saberia como agir, como beijá-lo apropriadamente. Era isso que Magnus havia proposto? Tivera ele interpretado mal?

Quase como se tivesse lido seus pensamentos, o mais velho soltou uma de suas mãos e segurou delicadamente seu queixo. Alec notou sua sutileza. Ele sabia que o mago não era assim usualmente, mas que estava se controlando um pouco para não assustá-lo. Ele apreciou esse gesto e deixou-o conduzi-los.

A cada centímetro de distância que eles perdiam, o frio em seus estômagos aumentava. Seus olhares eram fixos um no outro. Magnus se perdia no azul dos olhos de Alec e Alec, nas chamas vermelhas dos olhos de Magnus. Quando seus lábios se tocaram, eles fecharam os olhos e juntos se tornaram lilás.

You were red and you liked me 'cause I was blue
You touched me and suddenly I was a lilac sky

 O beijo foi terno e breve. O feiticeiro não queria fazer o garoto se sentir desconfortável. Ele queria que ele tivesse certeza do que sentia antes de se entregar totalmente.

Quando se separaram, Alec manteve seus olhos fechados por alguns instantes tentando processar o que recém acontecera.

— Mesmo se eu sentisse algo por você, — Ele disse em um tom baixo, quase como um sussurro, e abriu os olhos agora tempestuosos. — Eu não sei se posso desistir de toda minha vida por você. Minha família, o Instituto...

Magnus franziu o cenho, um tanto ofendido, mas não surpreso com a resposta de Alexander. Ele não o culpava pelo receio.

— Sua família ainda te amará, Alec. Jace, se é o que mais lhe preocupa, não costuma falar, mas ele te ama muito. O Instituto ainda estará lá para você comandar. Quem você ama não define suas capacidades.

— Você não conhece meus pais. — O caçador de sombras se afastou, pensando em como o repreenderiam por aquilo.

— Conheço sim. — Magnus sorriu tristemente. — Sua mãe é um tanto difícil e a única situação em que sorri é perante a Clave, mas você ainda é filho deles. Eles possuem um grande coração por baixo de toda rigidez. — Seu olhar suaviza. — Assim como você.

— Desculpe-me, mas eu não posso fazer isso. — Alec disse se levantando. — Não agora.

E desse jeito ele se foi. Havia decidido que, pelo menos naquele momento, roxo não era sua cor. Saiu do apartamento, deixando Magnus sem palavras e sem despedidas.

And you decided purple just wasn't for you

O feiticeiro sentiu pena do garoto pelos tons de cinza que insistiam em pairar em seus sonhos, seus medos e seus sentimentos. Ele era desprovido de cores e não sabia o que aquilo significava. Agora ambos estavam machucados.

And now he's so devoid of color
He don't know what it means
And he's blue


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Notas finais do capítulo

Olá novamente. Obrigada por ter lido ❤ Adoro comentários — críticos ou não — e respondo todos com muito amor.
Eu ficaria muito feliz se você favoritasse também. Recomendar, então, faria meu mundo. Já pensou em melhorar o dia de alguém?

xoxo