O Rebelde de Ferro escrita por ValentinaV


Capítulo 6
Competição


Notas iniciais do capítulo

Clima de Olimpíadas, galera!
UHUUUUU



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Não consegui dormir pelo resto da semana.  

Após a eliminação de Nathan e mais seis concorrentes, todos ficaram tensos. Eu perdia o sono não pela chance de ser eliminado, mas sim de começar a perceber que a princesa não era exatamente como deveria ser. E isso estragava todos os cálculos feitos em minha mente até então.  

Ela não apareceu em público por dois dias inteiros. Comecei a malhar em turnos vazios nas academias para não ter que ouvir tantas abobrinhas quanto eu já ouvia no Salão dos Homens. À noite, saía para mapear os pontos fracos do castelo e logo que percebia já era de manhã novamente.   

No terceiro dia fomos convidados a jogar vôlei em uma das quadras que havia na ala Oeste do castelo, mas a princesa só deu as caras para pegar no braço de Shang e sumir pelo castelo. Aquela atitude deu um tempero a mais nos jogos, e os caras bateram com muito mais força na bola do que precisavam para marcar pontos.  

Nada como a raiva para esquentar os ânimos.  

No dia seguinte, antes do sol nascer, fui correr como o de costume. Na segunda volta pelo perímetro do castelo, porém, quando estava chegando perto dos estábulos, tive a súbita vontade de olhar os animais. Mudei a rota e entrei no estábulo, andando mais devagar para não assustar nenhum deles.  

Meu barulho, porém, não passou despercebido. O primeiro cavalo, que parecia dormir dentro da baia relinchou inquieto quando me aproximei. Ele, claramente, não era um animal para se montar sem conhecer. Passei para a segunda baia e ela estava vazia. Na terceira, porém, um fantasma, ou quase isso, me assustou de forma impiedosa.  

— Achei que ia continuar correndo em círculos pelo resto do dia.  

Ela riu da minha posição de defesa. Teve sorte por eu não tê-la atacado imediatamente. 

— O que está fazendo aqui? – perguntei, com o coração acelerado. 

— Ora, ora – ela riu, saindo da baia segurando uma cela – O castelo é meu e você é quem pergunta o que eu estou fazendo. 

Engoli seco e comecei a controlar minha respiração. Ritmo quatro por quatro como sempre. 

Amora passou por mim e começou a ir embora, sem dar nenhum tipo de atenção para o nosso encontro. Por menos que eu gostasse daquilo, sentia-me descartado, e o pior de tudo era que eu estava sendo descartado pela garota que achei que poderia conquistar num estalar de dedos. 

Já se deu por vencido? Por essa garotinha? 

— Vossa Alteza – eu chamei com a voz controlada – Peço perdão por não ter escrito o poema. 

Ela virou-se de frente para mim com um sorriso satisfeito. Com as mãos na cintura e vestida com trajes de montaria ela não parecia tão criança como no dia que encontrei Michelangelo. 

Ela soltou o cabelo ondulado e mencionou com a cabeça para que eu continuasse. 

— Eu achei que poderíamos nos conhecer melhor em um encontro – pigarreei, fingindo arrependimento – Sou à moda antiga, mas não tão artístico como a senhorita gostaria. Peço desculpas novamente, eu apenas queria encontra-la formalmente, e não nestes acasos que me deixam cheio de perguntas a respeito da senhorita. 

Ela abriu os olhos um pouco mais, como se tivesse começado a se interessar. Foi a minha deixa para se aproximar dela. Parei em uma distância confortável para nós dois. 

— Todos querem um encontro comigo, senhor Rudolf – ela deu de ombros e seus olhos azuis tornaram-se desafiadores – Por que acha que eu lhe daria algum privilégio? 

— Eu não quero privilégios – disse firme – Só um pouco do seu tempo. 

— Está tendo um pouco do meu tempo – ela rebateu – E aliás, foi o selecionado que mais conversou comigo, depois de Shang. 

Definitivamente ela não era tão fácil de se levar como parecia ser. Respirei fundo, lembrando da cortesia que aprendi em toda a minha vida. 

— Agradeço muito. 

— Não, não agradece não – ela colocou um dedo de baixo do queixo, e ficou com um ar pensativo – Você é realmente um candidato com muito potencial, e eu já teria lhe chamado para um encontro se não fosse por um único defeito. 

Sem esperar tamanha sinceridade, acabei recuando o corpo sem querer. Ela percebeu e apontou para mim com as sobrancelhas erguidas, como se aquilo demonstrasse algo. 

— É esse o seu defeito – ela disse – Você é um grande controlador. Não o vi demonstrar insegurança, tristeza, raiva, ou até mesmo paixão, senhor Rudolf. Fico apenas tentando saber quem realmente é o senhor, sem descobrir nada. Eu queria ver suas emoções assim como vejo a dos outros candidatos.

Chocado por ser exposto daquela maneira, mudei o foco da conversa:

— E se eles estiverem fingindo certas emoções, princesa?

Ela balançou a cabeça como se aquilo não importasse.

— Eu tenho que acreditar – sua expressão se fechou e seu ar desafiador acabou – Se eu não puder confiar em vocês, como escolherei alguém para se casar comigo? Para ser o futuro rei deste país?

— O que eu quero dizer é que tenha cuidado – engoli seco, tentando parecer honesto e escondendo toda a hipocrisia de minhas palavras – Eu posso não ter lhe mostrado nada ainda porque ainda não te conheço, e por isso me pergunto como alguns rapazes podem demonstrar tantas emoções para alguém que mal conhecem.

Seus olhos grandes pareciam compreender o que eu dizia. A inocência da garota transpareceu novamente, e eu poderia ter uma nova vantagem ali.

— Eu gostaria de fazer um pedido – dei um sorriso fraco – Vamos fazer uma aposta. A senhorita gosta de esportes? 

— Eu sou uma princesa – ela disse como se fosse óbvio – Sou boa em todos. 

— Então eu aposto que sou melhor. 

Ela riu debochada. 

— Não sou fã de competições, senhor Rudolf. 

— Ah, então já está fugindo antes mesmo da minha proposta. 

Ela me encarou por alguns instantes, e cruzou os braços. 

— Qual é a proposta? 

— Escolha seus três melhores esportes e jogue comigo. Se eu vencer em pelos menos dois, quero um encontro com a Vossa Alteza, e só serei chamado de Martin, e se a senhorita vencer dois, poderá me pedir qualquer coisa. 

— Eu poderia ordená-lo a fazer qualquer coisa mesmo sem essa competição, o senhor deveria saber. 

— Eu sei – dei um sorriso de canto – Mas a senhorita prefere diversão às ordens, não estou certo? 

Ela confirmou com a cabeça. Estendi a mão direita e ela estendeu a esquerda. 

— Apostas comigo são feitas com a mão esquerda – ela disse séria. 

Mudei a mão e ela apertou a minha com o vigor de um homem. 

— Tenho que ir – ela falou e virou de costas – Prepare-se para jogar à tarde. 

Despedi-me com uma reverência, peguei o primeiro cavalo que encontrei e fui cavalgar. 

♛.♛.♛ 

Trapaceira!  

Cochilei após o almoço e fui acordado por Troy, que avisava para me preparar para Os Grandes Jogos Da Seleção, uma competição que a princesa faria com todos os candidatos no ginásio de esportes. A espertinha usara minha brilhante ideia para facilitar sua vida e suas escolhas entre os rapazes, ao invés de competir apenas comigo. 

Pelo visto eu não tinha ganhado tanta vantagem quanto pensara.

Vesti os trajes que Troy separou: calça de um tecido grosso e preto, camisa de manga comprida verde clara e um colete de couro com meu nome escrito. 

Desci as escadas e fui para o ginásio rindo daquela placa na minha jaqueta, aquilo significava que Amora ainda não havia decorado o nome de todos. Eu não conseguia compreender como aquela garota funcionava: cabeça de vento e trapaceira, desafiadora e inocente, sensível e apertava minha mão como um homem. Ela não fazia o menor sentido.

— O que tanto pensa, Martin? – a voz de Shang tirou-me de meu transe mental.

— Em quais serão os esportes que competiremos – eu menti – Você é bom em algum especificamente?

— Eu dou sorte – ele colocou as mãos nos bolsos.

— Então quero você nos meus times – eu soquei seu ombro – Um de nós tem que ganhar.

Ele confirmou com a cabeça com inocência.

Quando chegamos no ginásio, tudo já estava armado e pronto para uma competição: dois alvos de arco-e-flecha, uma cesta de basquete com uma marcação no chão fora do garrafão e um palco de esgrima. A princesa estava com uma calça marrom de sarja e uma blusa preta sem mangas que dava a impressão de que seu corpo era menor ainda do que é. O cabelo preso em um rabo de cavalo e a expressão séria davam a entender que ela estava concentrada no evento que estava começando.

Nenhum sinal do Rei e da Rainha, para variar.

Um soldado ordenou que fizéssemos uma fila e entrei no meio, para não ser o último e nem o primeiro. A princesa vestia seus equipamentos para o tiro com arco com a ajuda de outro soldado. Ela pegou um arco vermelho e com uma flecha branca, esticou a corda e acertou no centro do alvo.

De repente, o burburinho dos rapazes na fila cessou, e todos ficaram embasbacados com a pontaria de Amora.

O soldado que a acompanhava mandou que o primeiro da fila fosse até o outro alvo. Outro soldado vestiu os equipamentos e deu um arco marrom e uma flecha ao rapaz baixinho que eu não lembrava o nome. Ele pegou o arco de mal jeito, mirou errado e atirou para fora do alvo.

Todos nós começamos a rir e gritar, comemorando a derrota dele.

O soldado ao lado da princesa fez um sinal para que nos calássemos.

— Cada um de vocês tem direito a um tiro. Quem acertar menos que 10 pontos está fora. Quem acertar os 10 terá novos tiros com a princesa, até que ela ou vocês façam a menor pontuação. Entendido?

— Sim, senhor! – todos respondemos.

O próximo candidato era Eric. Com o peito estufado ele mirou certo e atirou em 10 pontos.

Um “Oh” se espalhou na fila. O próximo era Lucas Ginger, o boboca mais alto de todos, que xingara a família real uma centena de vezes. Ele acertou 8 pontos e foi eliminado. Saiu xingando a competição, para variar.

Quando chegou em minha vez, a princesa, que tinha se sentado em uma poltrona estrategicamente colocada para assistir nossos tiros, se remexeu na cadeira e ficou olhando fixamente para mim. Amarrei a proteção de peito, a braçadeira e peguei o arco e a minha única flecha. Posicionei-me no local exato, estiquei a coluna, separei os pés, segurei o arco, puxei a flecha para trás, até que encostasse em minha bochecha e... Atirei.

Obviamente acertei, e passei para o lado de Eric, que era o único que já havia acertado os 10 pontos.

Depois de mim, Shang, Oliver, Phelippe e Josh fizeram 10 pontos. Jogamos novamente, e a princesa marcou mais 10 pontos.

Shang ria espantado com a habilidade dela. Amora voltou-se a sentar e esperou que nós atirássemos. Sobramos eu, Eric e Shang.

Soquei o braço do descendente de orientais mais forte.

— Sorte, hã?

— Humildade é uma característica que prezo – ele disse, rindo da minha cara.

Atiramos de novo e sobramos nós três de novo.

A princesa atirou mais uma vez em 10 pontos. Atiramos de novo e Shang acertou 8 pontos. Ele saiu e ficamos eu e Eric.

A princesa atirou novamente, mas fez 8 pontos. Atirei em 10 e Eric fez 8.

— Senhor Martin Rudolf, ganhador do tiro com arco!

Olhei para a princesa e fiz uma reverência debochada a ela, que ficou rindo. Fomos organizados novamente em fila e preparamos para o arremesso de 3 pontos na cesta de basquete.

A princesa posicionou-se primeiro no x marcado no chão e arremessou com maestria diretamente na cesta. Os rapazes gritaram, indo à loucura. Confesso que me empolguei quando vi tamanha habilidade em um corpo tão magro e pequeno. A princesa não fazia sentido.

Quem acertasse iria jogar novamente, no mesmo esquema do tiro com arco, e quem errasse já era eliminado. Sobramos eu, e mais dez selecionados. Basquete era mais popular, de fato. A princesa jogou novamente e acertou em cheio. Abri a boca, espantado novamente.

Sobramos cinco. Ela jogou de novo e acertou. Sobramos eu e Shang. Não acreditava que ele era tão bom nos esportes e havia sido tão humilde comigo. A princesa arremessou de novo e acertou. Ela não se cansava? Shang arremessou e acertou. Quando veio pra perto de mim, sussurrou em meu ouvido:

— Você vai perder agora.

— Vai sonhando – respondi, segurando a bola.

Ajeitei minha posição, flexionei os joelhos e arremessei.

Errei naquela vez. Shang começou a rir e eu soltei um palavrão alto, sem querer.

— Senhor Shang Futatsu, vencedor do arremesso de 3 – ele disse – Ordenem-se em fila para o último jogo: esgrima!


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Notas finais do capítulo

Me deixem feliz! Façam um comentário :D



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