O Rebelde de Ferro escrita por ValentinaV


Capítulo 3
Cabelo do boneco Ken


Notas iniciais do capítulo

Olá príncipes e princesas! Como vão nessa graciosa noite?
Agredeço muito pelos acompanhamentos, favorito e comentário que recebi! Me deixaram mais feliz :D
Não consegui encontrar um nome de capítulo melhor que esse, espero que me perdoem hahahahaha
Boa leitura!



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Às nove em ponto, Troy bateu em minha porta e pediu licença para entrar. Eu já estava acordado desde as sete horas fazendo uma série de abdominais e flexões para manter o ritmo que tinha do treino da Facção. Embora o castelo possuísse algumas salas de academia, ainda não queria explorá-las antes da permissão da princesa.

Não que eu precisasse de permissão, mas pareceria obediente à família real pelo menos por algum tempo. Eu tinha oito semanas para conquistá-los, e então a monarquia afundaria de uma só vez.

Enquanto o valete dava alguns conselhos sobre o que vestir naquela manhã, eu pensava na noite anterior. A princesa, de fato, era como todos imaginavam: vivia no mundo da lua e falava com seus bichos de estimação. Na televisão ela parecia animada demais e sorridente demais, como uma daquelas líderes de torcida de filmes colegiais antigos americanos. Como era mesmo o nome daquele clássico, que a protagonista me dava vontade de dormir? High School... Musical. Isso. Ela parecia uma líder de torcida do século passado. Mas também não pude deixar de notar uma verdadeira inocência e credulidade em seu jeito, ao tratar de Michelangelo e ao falar comigo.

Pelo menos eu tinha me saído bem. Ela já sabia o meu nome, e estava me devendo um favor.

Depois do banho, vesti uma roupa bem diferente da que Troy recomendara: coloquei uma calça de sarja marrom e uma camiseta gola canoa branca. O rapaz, quando me viu sair do banheiro, fez um sinal negativo com a cabeça, mas não disse nada. Apenas avisou para que chegasse no salão de refeições matutinas até cinco minutos antes das onze horas. Seria servido um brunch.

Achava que onze horas eram um horário tarde para a família real. E o fato de o rei, a rainha, e a princesa não terem aparecido na apresentação da noite anterior e não terem dado explicações era no mínimo curioso. Eles não eram de faltar compromissos oficiais e obrigações para ganhar fama; já as obrigações com a população, eles não estavam nem aí.

Dei uma última olhada no espelho de corpo inteiro antes de sair. Ainda eram dez horas e eu queria dar uma caminhada pelos corredores e talvez descobrir sobre o que os coitados estavam conversando.

Assim que saí, o idiota do quarto da frente também estava saindo. Ele me olhou de baixo a cima e ergueu uma sobrancelha loira.

— Está vestido para um passeio no jardim?

— Estou vestido como quero – eu repliquei dando de ombros – E você foi convidado a um baile de gala? Sortudo, porque eu não recebi o convite!

Ele soltou uma risada que ofuscou meus olhos. Aqueles dentes eram mais brancos que as folhas de papel de cima da minha escrivaninha. Eram ridiculamente brancos.

— Sou Eric – ele ajeitou o cabelo loiro cheio de gel – Eric Weiss, antiga geração de 2.

— Sou Martin – eu respondi, já começando a andar – Martin Rudolf de Wintercamp Golens Valois Kruge. Decore se puder.

Deixei-o com cara de trouxa no corredor, e caminhei respirando fundo, controlando a minha raiva. Não consegui deixar meu verdadeiro sobrenome fora daquela lista ridícula, e rapidamente vi um erro fatal. Se qualquer tipo de desconfiança nascesse das minhas piadas impulsivas, eu não estaria nada bem. Ainda tinha gente como ele no mundo, e eu precisava lidar com aquilo melhor ainda naquele castelo, que foi berço da segregação e do preconceito do sistema de castas.

Eu ia ter que me acostumar a dar respostas inteligentes para aqueles engomadinhos, quando citassem as castas como motivo de orgulho. Só precisava tomar cuidado para não soar como um rebelde, ou estragaria tudo.

“Você é um soldado, Martin. Por que acha que lhe dei este nome? Seu coração é de ferro.” A voz de meu pai soou em minha mente.

— Por que de ferro, pai? – mudei de tom e imitei a voz de meu pai, virando um corredor – Porque basta alguns raios de sol para o gelo derreter, e basta uma chuva boba cair para o fogo apagar. Mas para destruir o ferro, meu filho...

— Eu não acredito nisso – um rabo de cavalo interrompeu meu monólogo, balançando de costas para mim – Por que as melhores idéias vêm nessas horas? Preciso anotar em algum lugar, mas... Argh! – a garota colocou a única mão livre em sua cabeça – Até lá eu não vou lembrar os detalhes, e não tenho tempo de escrevê-los...

— Gostaria de ajuda? – perguntei, assim que a reconheci.

Amora deixou tudo o que carregava cair no chão, com o susto de minha voz. Confesso que me assustei com o susto dela, pois eu havia feito barulho o suficiente para que tivesse me ouvido chegar.

— Como papai diz: quanto mais pressa, menos vitórias – ela resmungou, abaixando para catar seus pertences – O que está fazendo aqui?

Aproximei-me da garota, que vestia um macacão sujo de tintas coloridas e tinha alguns respingos vermelhos em seu rosto. Seu cabelo preto meio avermelhado, como amoras silvestres, ondulava e caía pelo rabo de cavalo até o meio das costas. Seu rosto pequeno e fino tinha os mesmos traços da rainha, e os olhos redondos e grandes cintilavam um azul muito mais intenso do que era visto na televisão.

Abaixei-me finalmente vendo o que ela tinha derrubado: uma maleta de pintura, com tintas, pincéis sujos e alguns papeis com sketchs diversos. Ela se apressou em pegar as folhas, e eu ajudei com os tubos de tinta e os pinceis. Percebi seu olhar alternando entre as coisas que pegava e o meu rosto, mas fingi estar preocupado com seus objetos caídos.

Quando me levantei, novamente ficamos com uma diferença grande de altura, e tive que inclinar a cabeça para baixo, para olhá-la nos olhos.

— Aqui é o andar dos quartos dos candidatos – eu dei de ombros – Estava indo para as escadas, mas Vossa Alteza apareceu aqui e...

— E você nunca me viu assim – ela assoprou uma mecha de cabelo que grudara em seu rosto – Oh meu Deus, o que estou fazendo neste andar?

Coloquei as mãos dentro dos bolsos de minha calça, lançando-lhe um sorriso. Eu arriscaria abrir mais espaço com ela.

— Parece que Vossa Alteza estava ocupada com pinturas antes deste incidente ocorrer. Estava pintando?

Ela me encarou por um tempo sem responder. Depois tombou a cabeça para o lado e enrugou a testa, em uma expressão de dúvida.

— Você é o santo Martin?

Dei uma gargalhada. Tinha achado que ela havia me reconhecido desde que eu a assustara, mas aparentemente a princesa estava no mundo da lua, como Shang havia dito. Era uma presa mais fácil do que eu e meu pai poderíamos imaginar. Antes que eu pudesse responder alguma frase inteligente, porém, o loiro enxerido apareceu e roubou a atenção da princesa.

— Princesa Amora? – ele ergueu as duas sobrancelhas quando a viu, fazendo uma profunda e enjoada reverência – Meu nome é Eric Weiss. Perdão, eu não sabia que a senhorita estava aqui e... Esse sujeito está lhe incomodando, Vossa Alteza?

— Oh, não – ela disse, dando um sorriso bobo – Eu é que estou vagando pelo andar errado, Martin encontrou-me por acaso novamente.

Novamente? – Eric, que se mostrou menos burro do que eu esperava, lançou um olhar inquisitivo para mim.

Que garota bocuda. Pensei. Eu teria que anotar mentalmente não poder fazer “segredos” com ela, visto que não seria capaz de guardá-los nem por um dia sequer. Olhei para o relógio e depois me virei para a princesa, como se ele não estivesse presente.

— Creio que a Vossa Alteza não possa mais despender tempo conosco, não é mesmo?

Vendo meu olhar de falsa preocupação, a garota checou seu próprio relógio e então começou a andar depressa em direção às escadas, pedindo desculpas confusas para mim e para Eric também. Eu fui atrás dela, acompanhando-a até a escada, mas o loiro com cabelo do boneco Ken nos seguiu como uma sarna chata.

— Creio que este ainda não foi um encontro oficial – eu disse quando paramos na frente das escadas.

Eu e Eric íamos para baixo e ela ia para cima, no andar dos aposentos reais.

— Mas foi adorável conhecê-la logo, mesmo com tanta pressa - Eric bajulou, mostrando um sorriso brilhante - Espero poder ter uma chance incrível como esta logo logo.

— Você terá, Eric, agradeço pela atenção - a garota respondeu e deu um sorriso contente, virando-se para mim.

— Foi...

— Foi o destino, outra vez - ela me interrompeu, com inesperada sinceridade - Ele anda me pregando peças ruins ultimamente, mas estas duas foram realmente boas. Só pare de me assustar, ok?

Engoli seco. Por um segundo, senti-me alegre por ela me achar uma “peça boa pregada pelo destino”. Depois acordei da bobagem que pensei. Eu não poderia e nem me distrairia por frases tão bobas, fui treinado para isso também. Meu papel era servir ao povo, servir à Facção e como consequência, acabar com a vida daquela princesa muito em breve.

Por um bem maior que todos nós.

— Foi um prazer te encontrar, Vossa Alteza.

Minha voz não saiu tão calorosa desta vez, mas a princesa não pareceu notar. Eric se despediu com tantos elogios diferentes que quase vomitei pela bajulação. Fiz uma reverência e ela acenou com a cabeça para nós dois, antes de disparar escadas acima.

Não dei tempo para Eric me questionar. Uma pontada em minha cabeça me fez descer as escadas mais rápido e fincar mais ainda meus pés no chão, na realidade. Eu precisava repassar o plano de meu pai mentalmente e tinha algum tempo até que o brunch começasse. Precisava me preparar novamente para observar o rei e a rainha. Qualquer frase torta e qualquer gesto estranho seriam grandes alimentos para mim. E eu estava esfomeado pelos sinais de fraqueza deles. Mal podia esperar para que o verdadeiro jogo começasse.


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Notas finais do capítulo

Parece que no próximo capítulo serão apresentados personagens importantes...
Não esqueçam de comentar ^^
Até lá!



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