O Rebelde de Ferro escrita por ValentinaV


Capítulo 2
Encontrando Michelangelo


Notas iniciais do capítulo

Embora não tenha ganhado comentários e nem acompanhamentos, resolvi escrever mesmo assim. Espero que a história desenvolva o potencial que tenho para ela.
Boa leitura :)



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Fiquei sentado por quase duas horas esperando igual aos outros trinta e quatro idiotas a princesa aparecer. Mas a garota não deu as caras. Uma senhorita de óculos redondos e terninho preto veio nos dizer que imprevistos haviam acontecido, e que jantaríamos em nossos quartos naquela noite.

Também ficamos sem previsões para finalmente conhecermos a princesa. Os avisos seriam dados pelos nossos valetes e até lá, não tínhamos nada para fazer.

Ouvi alguns garotos xingando a família real. Gravei o rosto deles: o rapaz mais alto de todos, mais branco que eu e com cabelos pretos quase raspados em máquina 1; o rapaz mais forte de todos, com o triplo de músculos que eu tenho e olhos pequenos e negros; o rapaz mais esquelético de todos, com pele morena e estranhas tatuagens no pescoço. Era um trio esquisito, mas talvez também fossem simpatizantes aos rebeldes. Ficaria de olho neles o tempo todo.

Outro cara chamou minha atenção. Ele estava sentado ao meu lado e murmurou uma frase de consolo a si mesmo. Virei a cabeça para marcá-lo em minha mente, mas infelizmente ele havia me olhado também. Seu rosto oriental era fácil de memorizar: olhos puxados, estatura média e cabelos lambidos com um corte parecido ao que meu cabelo estava. Provavelmente haviam mudado o visual daquele cara e já estavam sem criatividade para cortar seu cabelo.

Ou então a monarquia era sem graça até nesse sentido.

— Sou Shang – ele se apresentou, estendendo a mão.

Me surpreendi por ele não ter citado seu sobrenome. Descendentes de orientais geralmente era mais formais. Estendi a minha e acenei com a cabeça.

— Sou Martin – apertamos as mãos e voltamos ao normal – O que será que houve?

— A princesa Amora não tem uma fama muito... Legal.

Sorri por dentro. Quer dizer que eu não era o único que havia estudado sobre a garota. Resolvi cutucá-lo para saber mais.

— Como assim? Ela é do tipo durona? Ou “não me toque”?

— Está mais para o tipo mundo da lua. Ela não é levada muito a sério. Quem quer que assuma o trono terá todo o trabalho de governar sozinho.

Arregalei os olhos, teatralmente, fingindo que não sabia daquilo.

— Minha nossa, onde fui me meter...

Shang deu uma risadinha e assentiu com pesar, como se pensasse a mesma coisa.

— Estou aqui porque no fundo, acho que gosto dela – ele abaixou o tom de voz e tossiu antes de continuar – Quero dizer, eu a vejo desde pequeno na televisão. É como se fosse minha namorada de mentirinha, que agora pode ser de verdade. Mas estou ciente de que mal a conheço, e tenho medo de conhecê-la melhor.

Puxa. Ele era um cara profundo.

— Por que você está aqui? – ele perguntou.

Respirei fundo, e repassei a frase pronta que meu pai havia feito para essa pergunta.

— Eu a amo – disse com a emoção treinada na frente do espelho – Desde que a vi pela primeira vez.

O rapaz deu uma gargalhada e bateu em minhas costas com uma força considerável.

— Somos dois desafortunados. Que vença o melhor?

— Que vença o melhor.

A ingenuidade de Shang me fez gostar dele. Eu precisava de pessoas ingênuas perto de mim, e quanto menos espertas fossem, melhor. Ele seria meu parceiro pelas próximas semanas, estava decidido.

Levantamos para subirmos ao andar dos quartos, e ainda conversamos sobre o calor daquela cidade e do luxo da recepção que tivemos. Shang vinha de uma antiga linhagem de 3, mas disse que nunca teve nada comparado ao que tinha agora.

Bem, eu não poderia dizer o mesmo. Meu pai era um 8 na Época Sombria – período que a Facção chamava quando as castas existiam – mas depois de fundar a Facção, ganhou alguns privilégios, dos quais eu usufruí também. E foram graças a eles que pude crescer focado em um único objetivo, maior que eu e maior que a Facção: salvar Ilea da miséria.

Chegando no corredor de quartos, cada porta possuía uma pequena placa com o nome do candidato juntamente com um valete à espera. Logo cheguei à minha e despedi-me de Shang, que seguiu pelo corredor.

O quarto era amplo, com uma ante-sala, banheiro grande e cama gigante. Toda a decoração estava em um tom azul pastel que me deixou deprimido. Abri a janela para ventilar o quarto e mandei que Troy, o valete, fosse embora e me deixasse em paz com o carrinho de comida que estava ali.

Belisquei alguns pasteis de queijo com um tempero diferente, e pesquei um bolinho trufado para finalizar a janta. O monte de comida que sobrou poderia alimentar três famílias de seis ou sete pessoas. Cuspi o resto de bolinho da minha boca pela janela.

Aproveitando o momento, dei uma olhada na paisagem lá fora, que era um jardim lateral do castelo, com árvores volumosas e alguns bancos de madeira espalhados pelo caminho de pedriscos. Fiquei por um bom tempo respirando o ar úmido que soprava de fora, até cansar-me e começar a fechar o vidro.

Uma movimentação, porém, fez-me voltar a observar a paisagem escura. Acompanhei o vulto que havia visto e quando ele se aproximou de um dos postes de luz, percebi longos cabelos escuros balançando de uma cabeça pequena que era de um corpo também pequeno. Parecia uma criança correndo no jardim.

Mas não havia crianças no castelo.

Abalado por uma súbita curiosidade, abri a porta e desci as escadas em silêncio. Passei por alguns guardas, mas fingi que nem os tinha visto e continuei seguindo até o térreo. Eu não estudara nada sobre crianças no castelo, e se o rei possuísse qualquer segredo guardado ali, eu seria o primeiro a descobrir. Talvez até facilitasse meus planos.

Segui em direção à cozinha – sim, eu já havia decorado o mapa oficial do castelo, dado naquele mesmo dia assim que chegamos – e pelo caminho encontrei uma porta sem guardas. Saí no jardim oposto ao que meu quarto tinha vista, então corri pelas sombras, dando a volta e desviando dos poucos guardas atentos em seus turnos.

Não foi nem um pouco difícil chegar na área que havia visto a criança. Obviamente ela não estava mais perto do poste de luz em que eu enxerguei seu cabelo se mexendo. Tive que desviar das luzes e andar em zigue-zague pela sombra, atento a qualquer som ou movimento entre as árvores.

E não demorou muito para que eu ouvisse alguma coisa.

— Michelangelo, se eu encontrar o senhor, irei deixá-lo de castigo junto com Pandora – era uma voz fina, mas não era infantil. Parecia uma pessoa tendo delírios sozinha – Eu tenho certeza que aquela gata malvada abriu a minha janela e te deixou fugir.

Aproximei-me lentamente, seguindo o som daquela voz.

— Está certo, vou reconsiderar o castigo – a voz começou a vir em minha direção e eu me esquivei para trás de uma árvore – Se você aparecer agora, nesse exato minuto, não terá castigo.

Eu já podia ouvir a respiração cansada dela. Estava muito mais perto de mim do que eu gostaria, talvez do outro lado do tronco.

— Ok, Michelangelo, eu te dou aqueles biscoitos que ganhei de Louis no meu aniversário – ela disse brava, e então assoviou – Chega de gracinha, apareça...

Um latido vindo do meu pé, me fez gritar de susto como havia muito tempo que eu não gritava. Meu grito fez a criança, menina, ou sei lá o que gritar junto, e eu gritei mais e ela gritou mais ainda.

Joguei meu braço em volta do tronco da árvore até encontrar o braço dela, que parecia já estar fugindo dali. Puxei-a com agilidade, e a garota se desequilibrou, caindo em cima de mim. Segurei-a com um braço e com o outro, puxei o cachorro que tentava morder minhas pernas.

Quando me voltei para ela, com a intenção de calar-lhe a boca antes de ser pego pelos guardas que com certeza ouviram nossos gritos, engasguei ao ver seu rosto.

Era o rosto que eu assistia mais que quatro horas por dia na televisão. Era o rosto que eu sabia todas as expressões e microexpressões, juntamente com cada um de seus significados. Era o rosto da terceira pessoa que eu melhor conhecia, perdendo para mim mesmo e para o meu pai. Era o rosto da garota que eu conquistaria custasse o que custasse.

— Ah, olá princesa – eu tentava manter o meu tom de voz calmo e grave, embora tivesse um cachorro irritante em meu colo, latindo – Vejo que encontrei o que você procurava.

Eu não a enxergava direito, mas podia saber que estava assustada. Sua respiração batia em meu braço. Sua cabeça batia em meu ombro. Ela era menor do que eu esperava, embora soubesse que sua altura era 1,57.

— Você é um ladrão? – ela perguntou com a voz trêmula – Se for, por favor não leve Michelangelo, ele tem problemas cardíacos e precisa de um remédio caro para viver. Leve alguma jóia minha... Quer um meu par de brincos?

— Não, princesa, eu...

— Então tome – ela retirou algo de seus braços e empurrou em meu peito – Tem o colar também, são todos de ouro branco e meus brincos têm pérolas verdadeiras. Se isso não bastar, eu...

— Princesa Amora, eu sou Martin Rudolf, um dos candidatos da Seleção.

Ela parou de empurrar suas jóias contra mim e olhou para cima, finalmente encontrando com meu olhar.

— Oh, santo Martin! – pela voz contente, soube que ela havia aberto um grande sorriso – Você encontrou meu Michelangelo.

Mal ela sabia que o cachorro era quem havia me encontrado. Mas é claro que ninguém sabia disso, então eu aproveitaria a situação. Me livrei do cachorro e ela se distanciou um pouco, acariciando-o na cabeça.

— Muito obrigada – ela disse um pouco emocionada – Pensei que ele havia me abandonado para sempre.

— Disponha – eu dei um passo adiante e encarei a garota que cheirava a rosas. Parecia piada, mas ela realmente cheirava a rosas – Os guardas devem ter ouvido. É melhor que não conte sobre mim, ainda não tenho permissão oficial para vê-la.

— Não contarei – ela prometeu ainda feliz com o cachorro babão em seu colo – Nos conheceremos amanhã, Martin.

— E eu tentarei conquistá-la melhor, Vossa Alteza.

Ela ficou parada, sem responder nada. Acenei com a cabeça e então saí pela sombra, de volta ao meu quarto. Ouvi os guardas gritando uns com os outros e correndo na direção que a princesa havia permanecido. Eu já estava longe, e muito satisfeito com aquela noite. Havia ganhado uma bela primeira vantagem.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu escrevi essa capítulo sem ninguém pedir, mas sim, é legal receber comentários e críticas acerca da história.
Por favor, não me deixem no vácuo :(
Beijinhos!



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