O Rebelde de Ferro escrita por ValentinaV


Capítulo 13
Pego no flagra


Notas iniciais do capítulo

Depois de um longo e tenebroso outono, estou aqui novamente!
Aconteceu tanta coisa que eu vou poupar vocês de saber da minha vida, afinal o que importa aqui é Martin, Amora e os demais personagens.
E olha, não é por nada não, mas a vida deles tá meio complicada também.
Boa leitura!



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— Você deve sair imediatamente daqui, Mariana. Invente uma doença, ou eu mesmo farei isso. 

A loira olhou para minha cara com um sorriso de escárnio. 

— Pode me amar menos, Martin – ela balançou os cabelos para frente e deu uma piscadela – Estou aqui para matar as saudades, só isso. 

— Pensei que quisesse que viéssemos – meu pai disse, me encarando. 

Troquei o peso de perna, perplexo com a cena. 

— Vocês são muito irresponsáveis. Não deveriam ter vindo. Por mais que essa nova máscara te disfarce, qualquer erro pode acabar comigo e com a Facção. 

— Deixe de ser estúpido – meu pai respondeu grosseiramente, sem aumentar a voz – eu vim totalmente preparado para não haver erros. Já esqueceu como nós lidamos com tudo dentro da Facção, meu filho? Por acaso já se contaminou com esse palácio cheio de nobres nojentinhos e incompetentes? 

— Não devia ter trazido ela, e podia ter enviado Gregory ou Mark em seu lugar. Por que vocês dois vieram? 

Antes de responder, porém, meu pai mudou o olhar de direção e acompanhou alguém chegando perto de mim pelas costas. Não virei bruscamente, e procurei fingir que estava entretido em uma conversa positiva de boas vindas. Voltei com o sorriso em meu rosto e só me virei quando a pessoa se apresentou ao meu lado. 

— Boa tarde – Amora estava de cabelo preso em um coque que envelhecia o rosto, com um vestido amarelo claro, acompanhado de luvas brancas, e um sorriso gigante em seu rosto – Sejam bem-vindos senhor Rudolf e senhorita... 

— Mariana Rudolf – Mariana nem sequer mudara seu nome. Eu não mudei o meu para não cometer atos falhos nem nada do tipo. Mas ela ficaria pouco tempo e precisava mudar. Ela reverenciou levemente a princesa e colocou a mão em meu ombro – Sou irmã adotiva de Martin. Ele não deve falar muito de mim, peço desculpas por isso. 

— Oh, imagina – a princesa ergueu as sobrancelhas um pouco espantada mas riu – Não sei muitas coisas sobre seu irmão. Talvez pudéssemos conversar mais tarde para nos conhecermos, o que acha? 

— Quer saber fofocas sobre Martin? – a loira perguntou em um tom malicioso e finalmente tirou as mãos de mim – Será um prazer, princesa. 

Engoli seco, começando a me sentir verdadeiramente nervoso. Precisava me lembrar de colocar Mariana em seu devido lugar quando estivéssemos sozinhos. 

— É um prazer enorme conhece-la, Vossa Alteza. – Meu pai reverenciou profundamente a garota, e até eu cheguei a acreditar em alguma sinceridade daquele gesto por microssegundos – Agradeço muito à senhorita por permitir que meu filho ainda esteja na competição. 

— O prazer é todo meu, senhor. – Amora virou-se para mim – Já dá para saber de onde vem a suas belas palavras e postura. São exatamente iguais às do seu pai. 

— Quem sai aos seus, não degenera. – Meu pai soltou seu ditado preferido – Martin é a cara de sua mãe, mas a personalidade é como a minha. 

E de repente aquilo não parecia tão interessante. Toda a farsa daquela situação começava a me enjoar. 

— Por favor, quero que sentem com meus pais e comigo no jardim. Adoraria conversar mais confortavelmente com Martin e sua família. 

— Juntamente com o rei e a rainha? – Lancei um olhar aflito em direção às majestades. Eu não previra uma conversa entre meu pai e Mariana com eles. Não estava no nosso script. – Todas as famílias farão isso? 

— Até agora, apenas vocês. – A princesa sorriu gentilmente e então fez uma curta reverência – Vou cumprimentar as outras famílias e depois aguardo vocês lá fora.

A princesa saiu e logo meu pai virou-se para mim. 

— Preciso ir ao banheiro, fixar melhor a máscara. Creio que Ryan não tenha fixado direito na testa, estou sentindo ela frouxa. – Meu pai falou tão baixo que eu mal ouvi – Encontro vocês lá fora. 

— Espera – segurei seu braço, impedindo que ele fosse – O que vamos conversar com o rei e a rainha? Isso não estava previsto. 

— Você realmente está mais covarde, Martin – ele me olhou de cima a baixo – O que quer que tenham feito com você eu vou faze-lo acordar. Deixe em minhas mãos, eu sei o que estou fazendo. Fique calado e veja seu pai atuar. 

E dito isso, meu pai, com uma máscara de última tecnologia lançada na Facção no início do ano, saiu andando pelo salão e cumprimentando as pessoas. Eu estava estarrecido. 

— Que vidão esse pessoal tem, hein... – Mariana interrompeu meus pensamentos. 

Voltei a notar a presença dela só então. O decote provocativo era sua marca registrada, e ela não deixou isso para lá nem mesmo fingindo ser minha irmã. O batom nude não apagava a sensualidade dos lábios carnudos, e sua postura insinuante não passava despercebida por nenhum rapaz daquele salão. Quem quer que passasse os olhos por mim, logo a olhava dos pés a cabeça. Ela era tão inapropriada, que eu ainda me perguntava, com raiva, como meu pai a trouxera. 

— Até parece que você não tem uma vida luxuosa na Facção. – Disse ríspido e puxei seu braço, evitando contatos maiores – Precisamos conversar antes que você faça besteira. 

— Oh, irmãozinho, não fique tão nervoso. – Ela respondeu gracejando – Quero fazer uma besteirinha com você, só isso. 

— Calada, Mariana. – rosnei, enquanto sorria para a família de Lucas Ginger que passava por nós. 

Enterrei os dedos com mais força em seu braço e apressei nosso passo. Quando finalmente chegamos no corredor que levava ao salão de refeições, me meti num corredor lateral que dava para um dos almoxarifados e soltei Mariana num local que ninguém mais poderia nos encontrar eventualmente. Nem mesmo qualquer câmera. 

— Eu não quero gracinhas nesse palácio – olhei diretamente em seus olhos que soltavam faíscas de malícia – Você está avisada. Não se atreva a insinuar nada sobre nós para a princesa ou para qualquer outra pessoa nesse palácio. 

— Isso quer dizer que nós temos alguma coisa, então. – Ela me analisou – Exatamente o que combinamos antes de você vir para cá. Nós tínhamos muitas coisas, na verdade. Todos os dias. Várias vezes por dia. 

— Comece a abaixar esse tom de voz, ou eu lhe expulso daqui rapidinho. 

Meu sangue fervia de raiva. Não conseguia me concentrar no que deveria fazer. Por mais que eu resistisse, Mariana tirava meu raciocínio com seus artifícios sedutores, e eu não conseguia ficar calmo e manter o controle sobre mim mesmo. 

— Não me expulsa não. – Ela deu um sorriso desafiador – Mas se quiser ser violento comigo no seu quarto, eu vou adorar. Por que não fomos para lá afinal? A princesinha ainda está ocupada. 

— Eu não quero ir para o quarto com você, Mari... 

E antes que eu terminasse de dizer o nome dela, a garota desencostou-se da parede e avançou em minha direção, beijando-me com o mesmo ardor e a mesma sensualidade de sempre. Ela se segurou em meu pescoço e eu fechei minhas mãos em seu quadril, deixando meu controle ir completamente por água abaixo. 

Quando consegui parar de beijá-la, percebi a loucura que estava fazendo. Empurrei-a para a parede e me afastei, esfregando minha boca para tirar qualquer vestígio de batom. Olhei para o corredor de onde tínhamos vindo, mas parecia que nenhuma viva alma estava andando por ali, aquela hora. 

— Você quer sim – ela riu e jogou a cabeça para trás – Fique tranquilo, porque não escolhi esse batom sem graça a toa. Você não está marcado. 

Parei de limpar a boca, um pouco mais aliviado. Virei-me para ela de novo. 

— Esse lugar é vigiado o tempo todo. Não ouse a fazer isso novamente. Eu preciso me concentrar em conquistar a princesa, e tudo o que eu não quero é você atrapalhando isso – Pausei para voltar a respirar devagar novamente – Por que você veio? 

Ela me olhou como se eu fosse o cara mais burro do mundo. 

— Quando tudo isso aqui acabar, e não vai demorar, a gente vai voltar a ficar junto. Eu te amo e você me ama, e deu para ver que você não esqueceu disso. – Ela desencostou-se da parede e começou a andar pelo corredor – Em breve estaremos juntos, Martin. 

x.x.x 

Quando me dirigi para fora do castelo, no jardim onde o brunch começava a ser servido e as famílias começavam a se misturar e se conhecer, a princesa já estava sentada na mesa principal, ao lado de seu pai, o rei George. Especialmente naquela tarde, ele não parecia de mau humor. Encontrei meu pai conversando com a mãe de Shang, e quando cumprimentei a senhora e as senhoritas Sawada, não pude deixar de sorrir com os elogios que me teciam. 

— Shang não deixou de falar sobre você em nenhuma carta que nos enviou – a mãe de Shang apertou minhas bochechas com força - Ainda bem que vocês são amigos! Dá para ver que veio que uma ótima família.

— Ora, agradeço o elogio, senhora – respondi, sorrindo - Vocês são uma ótima família, Shang é um ótimo amigo. 

— Com todo o respeito, não posso negar que todas vocês são encantadoras – meu pai deu um sorriso e me olhou com seus falsos olhos pretos – Martin você tinha algo a me dizer? 

— Sim, precisamos nos retirar agora. Foi um prazer conhecê-las! Mais tarde nos vemos novamente. 

Todas as irmãs de Shang despediram com acenos delicados e risadinhas baixas, tipicamente oriental. Uma delas parecia especialmente envergonhada. Depois perguntaria a Shang o nome de todas, ele nunca havia falado realmente. Por falar nisso, queria saber onde aquele asiático tinha se metido. 

Mesmo dando uma olhada ao redor, não achei Shang. Mais tarde no baile nos encontraríamos com certeza.  

Eu, meu pai e Mariana nos direcionamos à mesa Real, e quando ali sentamos, todos os olhos do jardim se recaíram sobre nós. Eu podia ler as bocas das pessoas dizendo "Mas o que eles estão fazendo?" Ou "Por que não somos nós sentados com o rei?". Dei um sorriso nervoso para a princesa e cumprimentei o rei, que logo após apertou as mãos de meu pai e de Mariana. 

Aquela cena era desconcertante. Eu nunca imaginei em minha vida que meu pai fosse apertar as mãos do homem que queria no mínimo depor, e no máximo, matar. Um frio percorreu minha espinha e eu tentei buscar um pouco de tranquilidade nos olhos azuis de Amora. Mas não consegui. A princesa olhava inquieta para a cadeira vazia de sua mãe e também encarava de um jeito estranho Mariana. Ou eu estava ficando paranoico ou a história de irmãos não havia caído bem. 

De fato, não havia caído bem nem mesmo para mim. 

Pensei que teria de trazer assuntos amenos à mesa, mas meu pai dominou a conversa com facilidade, e o rei pareceu um tanto que a vontade conversando conosco. Risadas polidas e piadas sobre minha falsa infância foram feitas e, por consequência, detalhes da princesa, quando pequena, foram revelados. 

Suas comidas preferidas, seu ursinho de estimação que foi jogado fora sem querer, suas noites mal dormidas por causa dele, os pedidos de uma irmãzinha, as gafes nos jantares reais e todas as suas artes que destruíam paredes e mesas na mais pura inocência - ela desenhava com canetinhas e tinta em seus móveis e nas paredes, achando que estava lindo. 

A cada história nova, Amora parecia mais corada. Não falou muito, assim como eu, mas trocou alguns olhares significativos. Volta e meia Mariana fazia algum comentário constrangedor sobre alguma coisa mentirosa de minha infância ou adolescência, mas assim que podia, retrucava e desmentia a situação. O rei achou graça na discordância entre mim e ela, mas Amora não parecia muito satisfeita quando Mariana falava algo. Ela continuava sorrindo, mas não era um sorriso normal. Se eu conseguisse ler melhor sua expressão... 

Suspirei. A comida foi servida e comemos com uma falsa tranquilidade. Meu pulso não conseguia desacelerar. A tensão era tão grande em mim que minhas mãos pegavam os talheres de um jeito duro e inapropriado. Eu estava perdendo o controle muito fácil. 

Precisava me concentrar. 

Quando terminamos, o rei se retirou, e nos levantamos. Eu estava exausto, toda a energia mental já havia sido gasta e eu precisava urgentemente desaparecer dali e ficar sozinho, digerindo tudo aquilo. 

Um criado levou meu pai e Mariana ao andar do quarto de hóspedes, enquanto outras famílias também eram dirigidas ao mesmo andar. Resolvi voltar ao meu quarto o mais rápido possível. Queria dormir, e ter tempo para me arrumar adequadamente para o baile. 

Porém, assim que entrei no aposento, um envelope branco fez barulho em baixo do meu pé. Fechei a porta e abaixei para pegar o papel. Quando o abri, senti meu coração parar. 

Era uma foto revelada de um casal se beijando num corredor. Eu e Mariana fomos pegos. 

E alguém tinha essa prova em mãos. 

Eu estava ferrado.


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Notas finais do capítulo

Sei que prometi um capítulo FESTA anteriormente, mas precisei construir esse primeiro. Nos próximos capítulos a festa estará bombando nos salões do castelo.
Não percam :D



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