O Rebelde de Ferro escrita por ValentinaV


Capítulo 12
Segredos e mais segredos


Notas iniciais do capítulo

Eu jurava que esse capítulo já seria a festa, mas os planos mudaram e resolvi escrever o pré-festa. Muitos detalhes e muitas coisinhas que não poderiam ser deixadas de fora estão neste capítulo, então espero que aproveitem!
Boa leitura :)



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Trocamos beijos e alguns carinhos delicados até o filme acabar. Assim que o letreiro começou a passar, batidas soaram à porta e Amora se distanciou de mim como se houvesse levado um choque. Fingi que nada estava acontecendo e comecei a vasculhar o menu de filmes, quando ela mandou que a pessoa entrasse.

— Com licença, Vossa Alteza – O guarda que vigiava lá fora apareceu e reverenciou Amora antes de falar. – A rainha está requisitando vossa presença no escritório dela.

— Eu já combinei de ir até lá mais tarde. – Ela respondeu, sem vacilar a voz.

— A rainha pediu que vá imediatamente. Disse que são assuntos de vosso interesse e que não podem esperar.

O guarda fez outra reverência e saiu, fechando a porta. Amora soltou um grunhido de frustração, e imagino que se eu não estivesse em sua presença, ela teria soltado algum palavrão, pela cara de desgosto que fez. Soltei o controle novamente e virei-me para ela.

— Se quiser aproveitar mais um pouco, eu deixei o cinema reservado para nós até as cinco horas. – Ela se aproximou de mim e deu um sorriso triste. – Desculpe por ter que sair assim.

— Não teria motivos para continuar aqui sem você. – Eu me levantei e comecei a descer os grandes degraus fofos feitos de sofá. – E não se desculpe, você é a princesa e tem muito com o que se preocupar além de um simples candidato.

Ouvi os passos de Amora logo atrás de mim, e quando cheguei à porta, ela me abraçou pelas costas, de supetão. Paralisado e sem conseguir me mexer, deixei que ela continuasse o gesto até quando quisesse soltar, e quando seus braços se afrouxaram, eu me virei para olhá-la.

Ela era tão delicada e tão... Forte?

— Nos vemos depois. – Ela se despediu, hesitante.

— Até depois. – Eu concordei, e dei espaço para ela.

Amora subiu na ponta dos pés e selou nossos lábios demoradamente, antes de sair definitivamente. A sensação que me deixou foi de formigamento na boca, um tipo de reação do meu corpo pedindo mais. Avisei para o guarda desligar os aparelhos do cinema e corri para meu quarto, louco para trocar de roupa e ir para a academia, gastar toda a energia acumulada em meu corpo.

Porém, quando cheguei lá, encontrei com o loiro mais enjoado daquela competição.

— Weiss. – Cumprimentei, quando o rapaz parou em minha frente.

Com a mesma altura que eu, Eric não precisava fazer esforço para olhar para mim. Ele parecia estar treinando a horas, pois pingos de suor manchavam sua camiseta e o rosto brilhava com a luz das salas de treino. Curiosamente, ele não parecia nem um pouco abalado, na verdade tinha um sorriso estranho no canto da boca, e isso me fez ficar alerta.

— Ora, acabei de pensar em você, camarada – Ele deu um tapinha em meu ombro antes que eu pudesse desviar. – Se divertiu com a princesa?

Cerrei os olhos, buscando o que quer que Eric escondia por trás daquele discurso tão amigável.

— Não estou autorizado a falar sobre meus encontros com a princesa Amora.

— Ah, nem eu! – Ele deu uma risadinha e enxugou a testa com uma toalha verde que possuía o brasão da família real – Todos nós sabemos que ela gosta de ter segredos com os rapazes. Ela é muito esperta.

Mordi os lábios, avaliando a postura de Eric. Ele não parecia estar mentindo.

— Amora gosta de privacidade. – Eu afirmei, tentando não ser rude. De alguma maneira Eric estava conseguindo me irritar com aquela conversa.

— Não me leve a mal, Rufolf! – Ele riu, rendendo-se com os braços – Eu faria a mesma coisa que ela.

— Quantas vezes já se encontrou com ela?

O rosto de Eric se contorceu em uma microexpressão de prazer. Ele estava chegando onde queria e eu estava caindo no que ele havia planejado.

— Hum... Cinco vezes? – Ele fingiu que estava contando com os dedos, mas logo desfez o ato – Ah, não sei. Mas não era de mim que eu queria falar. Sei que você e Shang são muito amigos, praticamente inseparáveis neste castelo.

Cinco vezes? Amora tinha se encontrado tanto assim com aquele cara? Prendi o maxilar.

— E daí?

— E daí que ele deve ter te contado que saiu no jornal uma pesquisa em que ele é o primeiro colocado entre os votos da população. Você não tem nem um pouco de ciúmes?

— Não teremos nem uma edição de jornal nessa Seleção, como foi previamente combinado e assinado antes de chegarmos ao castelo. – Eu franzi a sobrancelha – Foi um pedido da...

— Amora? – Ele sorriu inocente – Mas foi ela quem pediu para lançar essa edição especial, pelo menos é o que estão dizendo pelos corredores. E tem mais... – Ele abaixou o tom de voz – Parece que nessa edição a rainha deu uma entrevista exclusiva falando do candidato em primeiro lugar, e ela só elogiou o seu amigo. Shang já está cotado como vencedor e nem estamos na metade da Seleção! Esse é um feito quase inédito.

Resolvi não continuar aquela conversa. Já havia ouvido o suficiente.

— Então que bom para ele, não é mesmo? – Virei as costas e fui atrás do primeiro aparelho do meu treino. Ia pegar pesado aquela noite – Agora vamos parar de fofocas, porque já estou me sentindo uma mulherzinha.

Eric me acompanhou e parou no aparelho do lado.

— Achei que você já era uma, Martin. – Ele riu e começou a puxar seu peso.

Ajustei os pesos do meu aparelho e comecei o treino.

 ϟ ϟ ϟ

No dia seguinte resolvi tomar o desjejum no quarto, e quando desci, fui direto ao salão dos homens. Era dia de vídeo-game, e eu estava louco para me afundar num sofá, comer barras de proteína, tomar pó de guaraná e ficar jogando para sempre. Isso porque eu nunca fui um fã de games.

Sabiamente, meu corpo gastou toda a energia da corrida em energia mental, e não perdi para ninguém que quis competir comigo. Embora recebesse alguns elogios e outros xingamentos, limitei-me a ficar calado o dia todo, mesmo quando Shang apareceu para conversar bobeiras.

O último que tentou jogar comigo foi Eric, que parecia não ter dormido pelo tamanho de suas olheiras. Isso me animou para abrir a boca e tecer algum comentário.

— Não aguentou o treino de ontem, fracote?

Ele me deu um soco no ombro e sentou do outro lado do sofá, pegando o controle e dando play em seu jogador. Volta e meia ele falava algo inteligente a respeito do jogo, e confesso que deu trabalho para vence-lo na primeira partida. A segunda e a terceira eu perdi, mas Eric não se gabou por aquilo. Estava me tratando de igual para igual agora.

Para onde tinha ido a imponência da sua antiga casta 2?

Ele tomou um pouco de guaraná e logo se levantou, quando a porta abriu e um mordomo que eu não conhecia entrou fazendo barulho com um apito agudo.

— Todos vocês! – Ele gritou, despertando atenção de todos os rapazes – Vocês têm uma hora para estarem com traje esportivo no Salão de Recepções, onde seus parentes chegarão! Após a recepção haverá um brunch no jardim e a noite uma festa no Salão Nobre. Atrasos não serão permitidos!

Em poucos minutos todos já haviam se dispersado do salão, mas eu ainda estava lá, entretido com um game que nunca jogara.

— Senhor Martin? – A voz de Troy ao meu lado me assustou. – Desculpe, mas o senhor está atrasado. Não vai se arrumar para a recepção?

Dei restart na partida e continuei a jogar.

— Não estou afim.

— O candidato que não comparecer pontualmente pode ter advertências ou até mesmo ser expulso. – Ele apareceu no meu campo de visão e eu pausei o jogo.

— Sai da frente, Troy.

— O que houve, senhor? – Ele parecia preocupado.

— Nada.

— Então vamos. – Troy se dirigiu a TV para desliga-la.

— Não ouse.

Troy parou antes de apertar o botão e virou-se para mim com o cenho franzido. Sua franja cobria-lhe quase até os olhos, mas como seu cabelo era fino, não era difícil ver sua expressão zangada.

— Eu não sei o que houve, meu senhor, mas como seu responsável, preciso fazer de tudo para lhe ajudar. – Ele desligou a TV e eu levantei em um pulo, querendo socar a cara dele. – O que quer que tenha acontecido, o senhor não precisa me contar. Apenas vá se arrumar e não perca a droga da chance de ser o futuro rei deste país!

Até então eu nunca havia visto Troy se exaltar tanto. Sempre era meio fraco, não se expressava muito bem e parecia me temer muitas e muitas vezes. Só que agora ele estava se posicionando contra a minha vontade, e de certa forma, fazendo o papel que meu pai faria. Ele realmente se preocupava comigo, e eu nem merecia aquilo.

Segurei os punhos ao lado do corpo, evitando que minha raiva explodisse, e vendo Troy se afastar sem mais nenhuma palavra, o segui pelos corredores até chegar em meu quarto. A roupa que eu iria usar na festa já estava pendurada num cabide e muito bem passada. Era um terno com calça de risca cor de chumbo, com uma camisa branca e uma gravata vermelha. A roupa que estava estendida na cama parecia ser o traje esportivo que usaria na recepção e no brunch: uma calça marrom quadriculada com branco, e uma camisa de gola U verde clara. Eu não teria escolhido aquela combinação, mas resolvi confiar no gosto de Troy.

Tomei banho e me arrumei em poucos minutos. Nunca havia sido tão rápido em minha vida, graças às batidas insistentes na porta do banheiro e das reclamações de Troy atrás da porta.

Quando terminei e saí com o cabelo parcialmente molhado, praticamente fui arrastado escadas abaixo pelo meu serviçal. Compreendi tamanha pressa quando pisei no salão de recepções. Eu havia sido o último a chegar, e restava apenas um minuto para que fosse considerado como atrasado.

— Ponha um sorriso nesse rosto.

Dito isso, Troy me abandonou e eu fui direto para a fila que começava a se organizar. Me coloquei no meio e felizmente ninguém percebeu minha presença. Treinei uns sorrisos enquanto olhava para a nuca do cara da frente.

De repente o burburinho cessou e os portões se abriram com uma música que vinha sei lá de onde. Estiquei o pescoço e vi várias famílias sendo anunciadas e entrando no salão com graça e espontaneidade, como se aquela já fosse a casa delas.

Algumas famílias eram tão óbvias que eu poderia acertar de cara quem eram seus filhos. A família de Roberto, um latino sorridente chegou ofuscando todo mundo com dentes perfeitos e alinhados, além de cinco crianças matracas e espevitadas. Devia ser curioso ter uma família grande. A família de Frederic, o-nariz-empinado, tinha exatamente o mesmo nariz para cima do garoto, e andava como se fossem parte da realeza. Deviam ser da antiga casta 2, ou então apenas tinham o rei na barriga. A família de Eric era composta de dois pais e duas filhas gêmeas da idade de Eric, também loiras. Era uma família muito bonita, por sinal. Agora eu me perguntava se Eric era gêmeo das garotas.

A família de Shang também foi muito fácil de se ver: sua mãe e suas três irmãs tinham olhos tão puxados quanto os dele. Todas eram muito adoráveis e suaves, e passavam a impressão de que haviam vivido em colônias orientais muito tradicionais, daquelas que remontavam costumes de séculos atrás.

Coincidentemente, a última família que entrou foi a minha, e só então percebi o quanto meu coração estava acelerado. Quando vi meu pai e mais uma pessoa entrando no salão, eu quase entrei em surto.

— Caraca, Martin, eu não sabia que você tinha uma irmã tão...

— Calado.

Concentrei no sorriso que Troy me mandara colocar no rosto e então ouvi o guarda lá da frente da fila nos mandar virar para a esquerda. Viramos de uma só vez e nos mantivemos em uma posição de sentido. As famílias tinham se espalhado pelo salão e quando avistei meu pai e ela, desviei os olhos e fiquei encarando uma das janelas de plano de fundo do salão.

Outra ordem foi dita, e fizemos todos uma reverência para as famílias em nossa frente. Ao mesmo tempo, voltamos a posição de sentido e então fomos dispensados pelo guarda. Cada selecionado foi direto para sua família, e pude ouvir vários “Como você cresceu!”, “Você está magro, está comendo direito?”, “Cadê a princesa? Você não deveria estar com ela?” e “Meu bebezinho, senti tanto a sua falta!”.

As vozes das mães enchiam o salão de ternura e preocupação, e os irmãos e irmãs mais novos gritavam coisas aleatórias e às vezes sem noção para qualquer um que passasse.

Fui andando devagar em direção ao meu pai, e quando cheguei em sua frente, parei de respirar, esperando seu primeiro gesto. Meu pai me abraçou batendo em minhas costas e falando frases afetuosas e de saudades. Tentei ao máximo ignorar a presença dela ao meu lado, mas quando eu e meu pai desfizemos o abraço, ela me agarrou pela cintura e enfiou a cabeça em meu peito, esmagando minhas costelas.

Virado para meu pai, perguntei:

— O que ela está fazendo aqui?

Meu pai abriu um sorriso cínico.

— Sua irmã Mariana pediu tanto para vir, que eu não pude negar.

— Minha irmã?

Mariana se desfez daquele abraço sufocante e pousou os olhos verdes com uma intensa maquiagem em mim.

— Senti tanto sua a falta, irmãozinho.


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Notas finais do capítulo

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