O Canto da Sereia escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 1
Le Chant De Sirène




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Eu me sento à praia, tão melancólica naquele final de tarde. Tento distrair-me observando um grupo de crianças que aproveitam a calmaria e o clima mais ameno do horário para brincar, ignorando o vento forte que desmonta o castelo de areia com que me ocupei pelas últimas horas.

Não me acalmo mais, não quando percebo que o tempo passa dolorosamente, sem poupar ninguém. Os anos passam impiedosos, aumentando o sofrimento, os ecos das perdas escapando por entre a areia…

Eu não devia ter permitido que você partisse. Eu sei, sempre soube, era seu sonho.

Quem era eu para impedir você de viajar? O destino lhe chamava, eu mesmo dizia que era questão de tempo até que descobrissem seu talento. Por mais que eu tivesse aquele mau pressentimento, o que eu seria capaz de fazer quando finalmente perceberam sua bela voz e lhe deram a chance que tanto sonhou?

Como eu poderei aceitar o fato de que você não mais retornará?

Em minha carteira, uma foto. A única foto que tenho de nós dois juntos. Uma recordação de nosso primeiro encontro, quando passamos aquela noite maravilhosa no parque de diversões. Uma lembrança palpável daquele seu sorriso, os cabelos negros como o luar emoldurando seu belo rosto, a alegria por estarmos juntos naquela cabine apertada.

Aperto minhas mãos, me recordando de seu abraço…

Quantas vezes não brincamos juntos? Quantas vezes não tentamos arrancar sorrisos um do outro em momentos tristes. E quantas vezes não nos rendemos a eles, sempre juntos, na esperança que um pudesse anuviar a dor do outro.

E pensar que tudo isso ficou para trás.

Eu venho para as dunas quando posso. Elas me lembram de você; o movimento da areia suave por seu corpo quando viemos aqui pela primeira vez... aonde finalmente baixamos nossas armas, aonde decidimos por nos unir, aonde sonhamos por uma vida a dois…

Por que eu não fui com você? Eu não precisaria sofrer tanto por sua ausência se tivesse lhe acompanhado nessa viagem sem volta…

As memórias se misturam. Decido entrar na água. As lágrimas me vem e se misturam às águas já salgadas, as ondas batem em meu corpo, mas as lembranças que tenho de você fazem com que eu não me importe mais.

Escuto por mais uma vez sua voz cantando para mim. O canto da sereia que me mergulha no inverno, não importa a estação…

Oh, melancolia cruel.

Lembrar-me de sua voz suave me deixa eufórico. Uma euforia solitária.

Eu me rendo a esses vislumbres do passado.

Preciso encontrar calma nesse barulho, nesse alvoroço que é minha mente, antes que na tristeza dessa harmonia eu me afogue…

Às memórias, às decisões…

Eu me rendo.


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