Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 7
Novatos




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Corri em direção de Michonne, temerosa. Rick tomou a dianteira do grupo e foi se aproximando do carro velho com sua arma em punho.

Daryl desce de sua moto, a besta em suas costas e suas mãos ao alto.

— Irmão, tranqüilo... Encontramos essas pessoas – ele disse

— NINGUÉM DESCE DO CARRO – Rick apontou a arma para o tal carro e para a mulher que ainda estava na garupa – Daryl, chegue mais perto.

Os dois sussurraram algumas coisas e momentos depois Rick estava com a arma abaixada, e Dixon fazia sinal para as pessoas que estavam no carro e a mulher se aproximarem.

Saíram do carro um homem, com seus 30 anos – difícil estimar a idade de alguém depois do pandemônio –, barba cheia, alto, esguio, moreno, bela postura, óculos de grau na cara e uma mulher, com seus 40 e tantos anos, cabelo curto desgrenhado, face rija, olhos puxados. A mulher-da-moto, que se aproximava, devia ter a mesma idade que o homem, sendo possível notar que, provavelmente, no mundo “anterior”, pintava o cabelo de loiro, mas era morena, e suas vestes pareciam muito com as de Dixon. Eu nunca imaginaria esses três sobrevivendo juntos.. o homem e a mulher pareciam cientistas, cultos e a mulher-da-moto parecia... Daryl.

— A moto de vocês é muito massa. Achei que nunca mais veria uma belezura dessa – ouvi a mulher-da-moto dizer isso à Rick e Dixon.

O homem e a mulher pareciam bem calados, porém compenetrados, corretos. A mulher-da-moto parecia mais extrovertida, inclusive sua postura denunciava isso.

Fiquei apenas observando tudo boquiaberta. Michonne me cutucou, de cara feia, dizendo “vamos logo, garota”, dando-me a mochila para carregar para dentro.

Nos encontramos todos no hall da Prisão, em que Rick explicou que Daryl havia achado conveniente trazer esses 3 sobreviventes. Eles estavam no povoado em que nosso grupo foi patrulhar e por terem agido amistosamente e mostrarem “skills” de sobrevivência, Dixon achou útil a presença deles, bem como seria um bom negócio pros 3 novatos.

Assim, fomos apresentados ao homem, chamado Jorge – pelo seu sotaque, quando ele finalmente abriu a boca – pude notar que era Latino; à mulher, chamada Ceci e à mulher-da-moto, chamada Anny. Como suspeitei, Jorge e Ceci eram cientistas, e professores do curso de Engenharia Civil da faculdade local antes do mundo virar de cabeça para baixo. Anny, por sua vez, descreveu-se como empresária: antes do mundo virar um amontoado de mortos-vivos, tinha uma loja de equipamentos para motocicleta, juntamente com seu "falecido-zumbi-noivo" (palavras dela!). Loja esta que ficava bem próximo da faculdade em que Jorge e Ceci lecionavam e pesquisavam, porém apenas conheceu o casal cientista em decorrência do apocalipse.

Jorge nos contou que assim que começara os boatos de mortos-vivos andando pelas ruas, ele e Ceci decidiram abandonar o laboratório a fim de procurarem seus pais, idosos.

Eles haviam se conhecido nos corredores da faculdade e eram amigos desde então. Disse que tentaram convencer à todo o pessoal dos laboratórios a fazerem o mesmo, mas que muitos – principalmente os pesquisadores da área de biologia – preferiram ficar estudando sobre os rumores. Ceci levantou a mão, como um pedido educado e silencioso para tomar a palavra, após Rick ter os apresentado. Rick assentiu com a cabeça e Ceci levantou-se.

— É muito bom ver muita gente junta! Creio que esse é o momento – ela ficou Jorge, tomando fôlego – Acho que devemos ir até a Faculdade... um colega de laboratório, pessoa extremamente peculiar, Joshua Heavensbee, me chamou para conversar pouco antes de eu sair. Ele parecia histérico, olhos vermelhos, respiração ofegante, fala descompassada. Falou coisas do tipo “suprimentos”; “vírus”; “eu já sabia”. Assim, creio que talvez ele tenha deixado algumas anotações por lá sobre o que descobriu e suspeitava sobre esse fim do mundo. Eu preciso de respostas e creio que vocês também.

— Ceci, não só respostas... creio que todos querem uma solução. Vasculhar os rascunhos doidos do seu amigo doido talvez não faça essa merda parar – Anny dizia sem emoção, apontando pro lado de fora da Prisão.

— Heavensbee? Eu já li algo desse cara na deepweb, na internet – eu me levantei, me aproximando de Ceci. Seus olhos se acenderam.

— Deepweb? Você não tem cara de quem fuça nessas coisas – Anny disse sorrindo, apoiando seus braços nas pernas, em pose corcunda.

— Ele tinha uma teoria de que um Apocalipse seria totalmente possível. Pena que eu não li o artigo todo. Não sei mais nada além disso – eu ignorei Anny.

— Continuamos na estaca zero. Bela contribuição, Ellie – Daryl concluiu, grossamente.

Ceci e Jorgem lançavam um olhar piedoso à mim, enquanto Anny rolava os olhos e Rick apenas nos observada.

— Creio que podemos conversar sobre isso amanhã. Teremos dias cheios pela frente. Então, temos 4 novatos conosco. Pessoal, deem atenção à eles e vamos fazer isso aqui funcionar, como de praxe – Rick finalizou seu discurso, lançando seu olhar à mim quando mencionou “4 novatos”.

Eu odiava ser novata.

Rick nos dispensou. Ajeitou celas para os novatos e chamou Daryl para conversar em sua cela particular.

Eu fui para a minha, um tanto quanto chateada e pensativa, pois Dixon pareceu querer a presença de TRÊS novatos, mas duvidou da minha utilidade à vida cotidiana do pessoal da Prisão.

Claro que seria difícil pra eu competir com dois cientistas e uma motoqueira igual à ele.

Eu havia chegado até ali praticamente sozinha, eu tinha meu mérito. Amanhã seria um dia diferente. Meu sangue fervia por mudança.

Absorta em meus pensamentos, não consegui dormir, e saí de minha cela com a esperança de que Michonne ainda estivesse acordada. A encontrei na cela onde estocávamos o que encontrávamos em buscas, bem como munição e armamento.

Confesso que estive nessa cela específica umas duas ou três vezes, ajudando Meggie, mas só agora eu realmente reparava naquele local. Havia bastante comida enlatada e muitas armas. A maioria não estava carregada, creio que Rick simplesmente coletava as que ia encontrando para usar algum dia caso ache alguma munição que corresponda ao calibre da arma de fogo.

Mas essa área não me interessou... fiquei seduzida pelo arsenal de facas. Havia facas dos mais diversos tipos, até aquelas de serra, que usamos na cozinha do dia-a-dia... mas também havia algumas enormes, curvadas, pontiagudas...

— Que foi, Ellie? – Michonne me cutucou.

 - Ah! Desculpe! Bem...Michonne, com licença... sei que está tarde, mas... sei também que você não perde nem um dia de treino. Amanhã seria um bom dia para começar? Na verdade... hoje... daqui a pouco, né? – sorri. Confesso que fiz cara de pidona.

— Por que isso, Ellie?

— Quero ser o tipo de pessoa que as outras chamam quando estão em problemas. Igual à você, Rick e Daryl.

— Te acordo daqui a pouco. Vá descansar. – Michonne tocou em meu ombro direito e se retirou, parecia ter deixado tudo muito bem arrumado.

Saí logo em seguida, dando pulinhos, mesmo sabendo que Michonne era tão dura quanto Daryl  e que ela não me daria mole.

Seria um desafio... assim como todos os dias vêm sendo desafios nesse Velho-novo mundo.


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