Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 6
He shot me down, bang bang.




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Não sei a hora que meu sono chegou, só sei que acordei com a boca seca e sentindo muita sede. “Sério mesmo que vou ter que lidar com uma ressaca no meio da porra de um apocalipse?” pensei antes mesmo de levantar-me.

Ao sair da minha cela, trombei em Maggie.

— Me desculpe!

— Você parece péssima... – ela disse sorrindo

— Você não está das melhores, também – eu disse soltando uma risada. Da mesma forma que meus cabelos estavam desgrenhados e minhas olheiras gigantescas, os cabelos e olheiras de Maggie também estavam. A questão é que era sabido de todos que ela havia bebido, já quanto a mim...

— Eu bebi um pouco demais ontem... mas não sabia que você também tinha bebido, não te vi lá no hall.

— Na verdade, é...bem... – eu não sabia se mandava a real e, consequentemente, contava que bebi COM o Daryl. Eu não sabia ate que ponto aquela historia podia sair das grades da cela.

Enquanto eu pensava, fui salva pelo gongo: Carl. Eu amava quando isso acontecia... o mundo que conhecíamos podia ter acabado, mas eu as vezes era abençoada com esses momentos de salvação em momentos difíceis.

— Maggie, papai está precisando de você lá nas grades.

Maggie pareceu não se importar comigo e saiu imediatamente, apenas dando um toque em meu ombro. Carl se aproximou.

— Você está bem?

— Eu estou tão péssima assim? – perguntei divertida

— Bom...

— Não precisa responder, Carl... foi uma pergunta retórica – eu disse sorrindo, ajeitando-lhe a franja que caía em seus olhos claros.

— O que é uma pergunta retórica? – ele indagou?

— São perguntas que pessoas que não tem nada pra fazer, fazem – disse a voz sem emoção de Daryl logo atrás de mim – Você pode dar licença pra gente, garotão?

Daryl mudava até o tom de voz para falar com Carl; ele parecia gostar muito do menino, assim como tinha muito respeito por Rick: isso era evidente.

— Espero que não tenha saído por aí falando besteiras – ele disse bem próximo a mim, me “rodeando”, e sempre olhando de soslaio à nossa volta. Ninguém passava por ali, era bem cedo.

— O que você ta falando, Dixon? – eu o questionei, enquanto tentava arranjar meu cabelo desgrenhado numa trança lateral.

— O que aconteceu na clareira, o que aconteceu ontem... melhor deixar baixo. Não acho que caiba esse tipo de coisa na situação atual do mundo, se é que você me entende.

— Te entendo em partes, mas também não faço questão. Se é isso que você quer, conte com a minha discrição. Esqueça tudo e ficamos bem – eu disse suando frio, trêmula, com ódio.

— Bom isso. Você não é mesmo o meu tipo.

Com o “fim do mundo”, eu realmente esperava que os homens mudassem... mas Murphy não perdoa. Eu tinha dedo podre pra homem. Eu me interessei justamente pelo maior cabeça dura da face do Velho-novo mundo. Não que eu fosse sair cantarolando e confidenciando pra todos o pau duro que eu causei nele na clareira, muito menos a bebedeira na cela que acabou nuns beijos bem daora.

Claro que eu não faria isso. Em milésimos de segundos cheguei à conclusão: que coisa ridícula. Estávamos no meio do apocalipse e eu estava passando por crises “românticas”? Eu tinha de me preocupar em ser útil pra Prisão e pro Rick; jamais ficar “preocupada” com Dixon.

— Ah, que bom que encontrei vocês juntos... – Rick chegou todo afobado perto da gente – Daryl, acho que seria bacana você ministrar mais uma aula de tiro pra Ellie, agora. Depois do meio dia pretendo montar uma equipe pra fazer uma varredura no antigo povoado a 5km daqui e quero você no comando. Ficarei na Prisão com Carl... preciso passar mais tempo com ele.

— Sem problemas, irmão – Daryl disse com sua mais bela voz de puxa-saco-do-Rick.

— Aconteceu algo, Ellie?

— Acordei um pouco agitada, só isso – eu respondi, bem sem graça, e voltando à mim: voltando à dor de cabeça e boca seca por conta do whisky. Notei que eu ainda não tinha finalizado a minha trança e eu ainda parecia uma maluca.

— Que bom que está agitada; precisará disso pra sua aula. – Rick disse isso rapidamente e logo saiu, sem menos ouvir uma resposta minha. Não que eu tivesse opção de dar uma resposta diferente de “ok” para ele...

— Ouviu o chefe, né. – Daryl deu meia volta e saiu logo atrás de Rick, como se nada tivesse acontecido.

Nada aconteceu, na verdade.

**

Um gole de água, dois minutos da frente do espelho, botas de combate e 10 minutos depois eu já estava na frente do portão principal esperando Daryl.

Maggie passou por mim e elogiou minha aparência, dando uma risada divertida. Eu gostava muito dela apesar de termos conversado pouco. Ela foi se ocupar com os errantes na cerca norte e eu recostei-me no portão de correr.

— Acorda – Dixon esbravejou enquanto abria o portão em que eu me recostava fazendo com que eu caísse na terra batida.

— Filho da puta – eu gritei ao me ver toda suja de terra.

— Levanta logo e vamos.

Dixon saiu e deixou para mim a tarefa de fechar o portão sozinha – pesadíssimo por sinal –, bem como carregar a bolsa de armamento que ele deixou perto dos meus pés. Esse cara precisava viver mais sob o efeito de bebida, pois ele careta desse jeito tava um porre! Se é que você me entende.

O alcancei, mas não disse uma só palavra. Estava cansada dessa atitude dele: claro que o jeitão todo diferente dele me atrai, mas não sou capacho de ninguém.

Seguíamos em linha reta até que ele dobrou a direita e parou abruptamente, na mesma clareira que havíamos estado anteriormente.

— Ok. Hoje vamos atirar pra valer... assim quem sabe não terminamos logo essas aulas. Não curto ser professorzinho de ninguém.

— Pode crer que ninguém deve curtir ser sua aluninha – eu sorri ironicamente.

— Ellie... eu sou bem forte, mas você me enfraqueceu, ok? Eu não misturo as coisas nesse velho-novo mundo. Eu tenho que me manter focado. É viver ou morrer aqui, entende? Depois de Rick, vocês só têm a mim pra cuidar de vocês.

Achei tal discurso um tanto quanto machista da parte de Dixon, mas eu nem sei pelo o que eles já passaram juntos, nem como funciona esse esquema de proteção que eles têm. Resolvi que a melhor coisa a ser feita era deixar pra lá. Eu iria sobreviver, ser útil à eles, e apenas isso.

— Vamos logo com isso – eu disse, finalmente.

**

A aula foi uma grande merda. Para mim, pelo menos. Daryl continuou agindo profissionalmente: me tocava para me guiar no manejo da arma e parecia não se abalar com isso... diferentemente de como ficou “abalado” em nossa primeira vez na clareira.

Voltamos à Prisão antes do meio dia, pois logo Dixon teria que sair com sua equipe. Alguns enlatados nos esperavam, e nos separamos assim que pisamos na terra batida da Prisão.

Enquanto Rick comia, me aproximei dele:

— Rick, gostaria muito de ser mais útil aqui... se você achar bacana, eu poderia ir com a equipe ao povoado...

— Acho que ainda não é uma boa ideia. Estou enviando os melhores, pois caso aconteça algo inesperado eles conseguem se livrar e voltar logo... alguém não muito preparado pode dificultar o processo, entende? – ele me respondeu paternalmente.

Assenti com um sorriso e saí de perto do chefe. Eu me senti um pouco mal por isso... eu estava há pouquíssimos dias ali, mas, ora, eu havia sobrevivido até aquele momento sozinha! Eu poderia ajudar!

Fui me sentar ao lado de Michonne. A vi algumas vezes treinar sozinha, no canto sul da Prisão; tanto o corpo, quanto suas técnicas com a espada. Conversamos um pouco e, apesar de durona, ela era mulher e nos demos bem.

Comentei com ela a minha vontade de poder fazer mais pelo pessoal da Prisão, bem como, pra isso, treinar como ela. Michonne prometeu que da próxima vez que fosse treinar me chamaria e que eu poderia ser o “projeto” dela.

— Quem sabe você não vira a versão feminina do Dixon? Durona e tal – ela disse

— Ah não... obrigada. Prefiro ser uma versão diferente de Michonne mesmo  – eu ri

— Qual o problema? Como estão indo as aulas de tiro?

— Tudo bem... é que... na verdade... ele é uma pessoa difícil.

— É assim que tem que ser. Flores murchas não agüentam ventania, Ellie. – Michonne disse isso e se retirou para a expedição, deixando-me sozinha com meus miolos.

Ela, Dixon e Gleen se encontraram, em seguida, no portão principal e saíram em sua busca. Tudo que podíamos fazer era torcer para que voltassem.

Eu me sentia cansada e, apesar de ter suado bastante, não me sentia 100% recuperada da bebedeira.

Fui dormir cedo, nem havia escurecido ainda, pois Rick disse que não precisava de minha ajuda no resto do dia.

Carl bateu com sua caneca nas grades de minha cela, algumas horas após eu ter pego no sono... subentendi que ainda era madrugada, me avisando que Michonne, Glenn e Daryl estavam chegando.

Corri para ajudá-lo a abrir o portão e vi Michonne chegando juntamente com Glenn, em seu cavalo, portando uma mochila que aparentava estar recheada, um carro – que não pertencia à nós, da Prisão – velho, coberto por sangue seco (de zumbi, espero) e partes dos corpos dos errantes e... Daryl com sua moto e uma mulher na garupa.

O que estava acontecendo?


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