Velho-novo Mundo escrita por Mari Moreira


Capítulo 5
Stay




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696885/chapter/5

Cutucá-lo não estava surtindo efeito. Eu estava rindo de mim mesma naquela situação. Se isso tivesse acontecendo fora do apocalipse, eu – bêbada – simplesmente jogaria um copo d’água na cara do cidadão e ia rir muito quando ele acordasse revoltado ou afogado.

Minha visão começava a embaçar, pois é isso que acontece comigo quando bebo álcool. Tudo parecia borrões e meus movimentos estavam normais porém eu os via em câmera lenta. Subi em cima de Daryl e comecei a apertar suas bochechas e falar incessantemente “acorda” em sua orelha.

Daryl começou a se movimentar na cama, mas ao sentir que tinha algo pesado em cima dele, abriu seus pequenos olhos.

— Acorda, camarada. Você não ta na sua cama, não – eu disse rindo. Sou do tipo bêbada risonha, sabe?

— Por que você ta em cima de mim, Ellie? Eu dormi?

— Você não acordava de jeito nenhum, daí subi em cima de você. Dormiu.

— Belo despertador. Ellie, se você não servir pra nada nessa prisão, você pelo menos pode servir de despertador. Tenho certeza que Rick anda bastante carente – a voz de Dixon era uma mistura de álcool e sonolência. A minha era puro álcool. O cheiro dentro daquela cela era praticamente 100% álcool.

— Você é macio – eu disse sem prestar atenção. Apesar de ter ouvido o que ele dissera e ter me sentido um pouquinho ofendida, eu simplesmente não liguei. Valeu, álcool!

Dixon me fitou seriamente. Parecia ludibriado. Estava apenas bêbado. Era isso e só. Não era como se ele estivesse admirando minha beleza exótica.

— Você me deixou bêbada. A culpa é sua quanto as merdas que eu falar daqui pra frente – eu disse. Daryl pareceu despertar.

— É, pode ser – ele disse me fitando.

— Que coisa feia fazer isso... – eu passei a mão pelo seu rosto e tirei sua franja desgrenhada da frente de seus miúdos olhos.

Inclinei meu corpo, chegando mais perto do seu rosto.

— Tá escuro mas seus olhos continuam clarinhos – eu dei uma risada meio histérica.

Eu ficava ridícula bêbada e o que eu estava fazendo era ridículo, mas...ele era tão gato e rústico. Antes do apocalipse os homens ou eram playboys de corpo e alma ou totalmente rústicos mas ao ponto de serem ignorantes e eu simplesmente não suportava esses dois tipos. Daryl era apenas ele mesmo. Sua personalidade era um chute nas costelas de qualquer um, mas eu gostava.

Dixon sorriu de canto e segurou minha cintura. Eu conseguia sentir sua respiração quente e cheirando à álcool.

— Qual é a sua? – ele disse friamente

— Você é a minha – eu disse com os lábios semicerrados, aproximei mais ainda meu rosto do dele, nossas bocas quase se tocando.

Minhas mãos tocavam os ombros de Dixon e suas mãos subiram de minha cintura para meu rosto. Com uma força um tanto quanto bruta, Daryl agarrou-me pelos cabelos e juntou nossas bocas num beijo desesperado.

Minha língua estava um pouco adormecida por causa do álcool, e assim, ela ficava boba também. Eu não estava sabendo muito bem como lidar com aquele beijo. Pra onde virava meu rosto ou o quanto da minha língua eu enfiava na boca dele. Mas ele parecia saber o que estava fazendo e simplesmente ficou tudo muito fácil. Seus lábios eram maravilhosos. As maravilhas que ele poderia fazer com aquela língua... eu não conseguia nem imaginar.

Sua barba por fazer arranhava meu rosto e suas mãos passeavam do meu rosto, cabelos à cintura. Quando suas mãos estavam em minha cintura, ele fazia com que meu corpo pressionasse o dele e eu podia senti-lo rijo.

O ar estava faltando e tentei me afastar um pouco. Dixon percebeu e me soltou um pouco. Nossas bocas se separaram alguns centímetros. Ficamos nos olhando, tomando fôlego.

— Eu acho melhor eu ir pra minha cela – Dixon disse semicerrando os olhos e lambendo os lábios.

— É... talvez... sim... bom, sei lá – respondi, me sentindo tonta pela bebida.

— Você ta bem?

— To legal – eu disse enquanto saia de cima dele.

Desequilibrei-me, como sempre, e acabei caindo da cama.

— To vendo mesmo – Daryl disse sério, pondo-se de pé e me ajudando a levantar – Melhor você se deitar. Provavelmente te acordem daqui a pouco pra fazer alguma coisa na prisão.

O efeito da bebida em Dixon parecia estar mais suave, enquanto em mim o efeito encontrava-se à todo o vapor. Eu iria passar mal amanhã, com toda a certeza, e o que eu explicaria pro Rick eu não sabia.

Aproximei-me de Dixon, colocando minhas mãos em seus ombros.

— Fica mais um pouco, Daryl.

— Melhor não, Ellie. Você está péssima. Não pensei que ficaria assim.

— Você queria me embebedar e conseguiu, oras – eu respondi em meio a risadinhas – Brincadeiras à parte, eu vou ficar bem... mas fica mais um pouco.

Daryl passeou com suas mãos em minha cintura, dando leves apertões. Ele era mais alto, então apoiou seu queixo em minha cabeça. Pude recostar minha cabeça em seu peito e nos abraçamos.

Essa é uma cena que eu realmente não conseguiria imaginar Dixon inserido.

— Nos falamos depois, Ellie – Daryl disse, me soltando.

Ele alcançou a garrafa de whisky (que também pode ser chamada de arma do crime, se você tiver uma veia cômica) e levou-a consigo. Ele saiu de minha cela fazendo um silencio perturbador. Se fosse eu, provavelmente já teria acordado meio mundo com uma saída triunfal.

Deitei-me na cama e a cela começou a girar mais rápido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Velho-novo Mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.