Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 88
[2ª T] Capítulo Dez


Notas iniciais do capítulo

Olarrr!
Queria dizer que os próximos capítulos já foram planejadíssimoooossss. Agora só falta a vergonha na cara pra escrever :xxxx

Enquanto isso... Segura a emoção, que agora é que são elas, xenti! Prepare os fones de ouvido, porque esse capítulo é cheio de hino, tem que ouvir TUDO. Já vou deixar a playlist do Spotify atualizadíssima pra quem prefere usar o app enquanto lê:

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Quando chegou ao térreo, Natalie saiu correndo do elevador como se possuísse foguetes no lugar dos pés. Correu até a 7ª Avenida, pegou o trem N e fez baldeação para a linha B, na 34ª rua. Mesmo com lugares vagos, ficou de pé. Sentia seu corpo inteiro rígido e trêmulo. Seu sangue parecia borbulhar e esquentar todas as suas extremidades.

 

On the Train Ride Home - The Paper Kites

 

Deu graças a Deus pelo fato de o metrô não estar muito movimentado naquela hora da noite, pois não era capaz de esconder seu estado de choque. As lágrimas continuavam incessantes e seu coração a mil. Deixou que sua visão turva se perdesse na escuridão do túnel que passava rapidamente entre as estações. Notou as poucas pessoas sentadas no vagão observando-a chorar, mas não se importou.

Estava aterrorizada. Parecia que a partir do momento em que saiu do edifício, havia parado em outra dimensão. Todos os lugares, todas as estações e pessoas estavam diferentes. Era como se tivesse acordado de um sonho depois de muito custo. Sonho não - pesadelo.

Não sabia descrever como estava se sentindo. Quer dizer: ela havia acabado de dar de cara com a pessoa que havia partido seu coração e sumido por oito meses sem dar sequer uma explicação. E de repente, aquela mesma pessoa estava de volta em seu apartamento, como se nunca houvesse saído de lá!

E tudo o que ela conseguiu fazer foi sair correndo para longe, como uma criança que corre com medo do escuro para o quarto dos pais.

Por que ele havia voltado, afinal? Estava tudo bem! Ou pelo menos era naquilo que ela estava tentando acreditar já fazia um tempo...

Observou a linha que desenhava os prédios iluminados da cidade quando o trem começou a cruzar a Manhattan Bridge. Seu corpo inteiro doía como se tivesse dormido por horas a fio, e nem mesmo sua adorada New York estava sendo capaz de lhe confortar com todas aquelas luzes que sempre brilhavam de volta para ela. Sentia-se na escuridão total.

Sem pensar, desceu após cruzar a Manhtattan Bridge, na estação da avenida DeKalb. Seguiu sem rumo pelas ruas do Brooklyn, perdida em sua carregada nuvem de pensamentos cinzas. Sentia a leve brisa da primavera chocar com seu rosto molhado e inchado pelas lágrimas.

Sentia-se dentro de um buraco sem fim. E no seu peito, outro buraco que ela pensou ter sido tampado. Mero engano.

Continuou a caminhar por aproximadamente 25 minutos, e apesar de não saber o que estava fazendo, seus pés pareciam saber exatamente onde ir.

Natalie só parou de andar quando chegou às pedras do Pier 1. Viu a água do rio Hudson no seu famoso vai-e-vem entre rochas disformes. Mais a frente, ela pôde observar as numerosas estacas de madeira fincadas na água que formavam canais em direção da iluminada paisagem da parte mais baixa de Manhattan. A Freedom Tower continuava ali, alta e imponente.

Por alguns segundos lembrou-se da primeira vez em que esteve ali. Descobriu o lugar por acaso, andando aleatoriamente pelo Brooklyn Bridge Park, que se iniciava na Brooklyn Bridge e se estendia por toda a costa do rio. Foi em uma noite qualquer, quando ainda era au pair e nem sonhava que New York se tornaria seu lar permanente. Quando nem sonhava que tanta coisa aconteceria. Ou melhor: que Izaac ou Hunter ou Benjamin fossem acontecer em sua vida.

Não sabia como havia deixado tudo chegar àquele ponto. Mas deixou. E de certa forma, sentia-se traída. Sentia-se traída pela vida, pelo destino ou o que quer que tivesse permitido Hunter voltar depois de tanto tempo. Justo quando suas feridas pareciam finalmente estar cicatrizando.

E agora já não sabia mais o que fazer. O que faria sobre Hunter. O que faria sobre Benjamin. O que faria sobre ela mesma.

 

**

 

— Ok, estou chamando a polícia. - Anna levantou o celular na altura do ouvido.

— O quê? Anna, não se passaram nem dez horas que a Natalie saiu, não pode ir ligando pra polícia assim, vão rir de você. - Luke puxou o aparelho da namorada, que o encarou consternada.

A morena começou a andar de um lado para o outro, e Luke foi obrigado a acompanhá-la com os olhos ritmadamente.

— Conheço a minha amiga, Luke. Algo não está cheirando bem.

— Quantas vezes ela não falou que ia ao mercado e apareceu no outro dia, voltando de uma festa completamente chapada? Sabe que os hábitos dela não têm sido dos melhores. - Luke arregalou um pouco os olhos castanho-escuros para enfatizar o que falava.

— Não, mas dessa vez é diferente. Ela saiu às seis da tarde! Não pode ser.

Anna voltou para perto dele e lhe tomou o iPhone.

— Não pode ligar pra polícia.

— Vou ligar para Hans. E para Thomas. E Benjamin. E aquela Winter também.

 

**

 

Always - Gavin James

 

Hunter passou a mão na parte longa dos cabelos cortados, jogando o topete para o lado. Ainda não havia perdido aquele costume. Agradeceu aos céus por não estar mais tomando medicamentos controlados quando decidiu servir uma dose de whisky de sua velha coleção.

Andou indisplicente e lentamente até o sofá, como se suas pernas estivessem meio soltas do resto do corpo. Sentou-se de maneira que todo o seu tronco se esparramasse no assento macio e os pés ficassem apoiados mais a frente. Tomou um gole de sua bebida antes de encarar o teto baixo daquela parte do apartamento que formava o mezanino.

A cena de Natalie parada na sua frente cerca de cinco horas e meia atrás ainda continuava viva e se repetia incontáveis vezes em sua mente. E a cada momento, um detalhe diferente parecia se sobressaltar em suas lembranças. Os olhos cor de mel que tanto amava estavam assustados, marejados e curiosos. O rosto mais fino, a mandíbula dela ainda mais marcada e delicada, como se tocá-la fosse capaz de quebrá-la. Os ombros encolhidos que completavam uma postura arredia. A boca trêmula que parecia fazer menção de querer vomitar inúmeras perguntas a qualquer instante. A respiração descompassada acompanhada da expressão que beirava a linha entre o medo, a raiva e o ressentimento. Jamais pensou que Natalie um dia fosse capaz de lhe olhar daquela maneira.

E doeu. Saber que cada linha de sofrimento que estampava aquele rosto tão leve e perfeitamente manchado pelas sardas era culpa dele o trucidava de dentro para fora.

Queria ter dito algo. Queria ter feito algo, qualquer coisa. Nem que fosse ajoelhar aos pés dela e pedir perdão por toda a dor que havia lhe causado, por cada noite mal dormida pensando no que fizera de errado para ele ter ido embora, por dias chorando sem fim atrás de respostas que nunca vieram. Dizer que ainda a amava dilaceradamente, ou até mais que isso.

Mas não conseguiu. Foi pego totalmente desprevenido. Não estava preparado para aquela situação, para aquele momento. Mesmo que ele e Lydia já houvessem conversado à respeito, simulando possibilidades de ele ir atrás dela ou algo do gênero. Nenhuma delas se comparava ao que havia acabado de acontecer.

Havia sido assustador, horripilante. Seu corpo enrijeceu no mesmo instante em que o mel lhe encontrou, como se aquele par de olhos fosse capaz de lhe arrancar todo o oxigênio que seu cérebro precisava.

Virou o whisky todo e sentiu-o queimar por todo o caminho até o seu estômago. Não estava acostumado a beber como antes. Nada mais era como antes, e aquela era a mais dura constatação da noite.

 

**

 

New York I Love You, But You’re Bringing Me Down - LCD

 

Eram quase quatro horas da manhã quando Natalie parou por alguns instantes, encarando as portas de vidro do edifício onde morava. Olhava para o hall iluminado sem realmente vê-lo. E apesar de seu corpo continuar a realizar as funções básicas, era quase como se seu cérebro estivesse em stand by. Por isso demorou alguns segundos até que suas pernas respondessem ao comando e ela adentrasse o edifício.

Seus olhos mal conseguiam registrar o conhecido hall. Era como se ela estivesse ali pela primeira vez. Porém, ao entrar no elevador, sua mente pareceu dar um estalo, como se enviasse impulsos nervosos acumulados para compensar toda a falta de funcionamento das últimas horas e que limitaram qualquer que fossem os seus atos. O mel se livrou da tonalidade fosca do olhar perdido e quase vegetativo, voltando a brilhar. O dedo indicador passou direto pelo quarto andar. Em vez disso, apertou o quinto.

Quando as portas do elevador se abriram, andou decidida até a porta do apartamento 52. Precisava se livrar daquele sentimento que fazia seu coração pesar uma tonelada. Se libertar daquela força que apertava a sua garganta como se alguém a estrangulasse. E revelar todo aquele suplício que estava vivendo a Benjamin talvez pudesse lhe trazer o alívio que tanto ansiava.

Tocou a campainha e não teve de esperar muito tempo para encontrar a figura do rapaz de olhos azuis abrindo a porta enquanto estava em uma ligação. Ele interrompeu o que quer que estivesse falando:

— Nos falamos depois. Sim. Sim. Tá tudo bem. - foi a única coisa que o loiro pronunciou antes de finalizar a chamada. Ele a observou atentamente por alguns segundos. - Você tá bem?

Natalie escondeu as mãos nos bolsos de trás da calça jeans, tentando parecer o mais natural possível, embora qualquer um que a conhecesse um pouco mais pudesse dizer o contrário facilmente. Primeiro, porque seu aspecto mostrava, claramente, que havia chorado. O tom avermelhado do nariz e do contorno dos lábios era evidente; Segundo, porque até mesmo a sua postura desconfortável consigo mesma acabava lhe entregando.

— Por que a pergunta? - a voz da garota saiu um pouco rouca. Fazia algumas horas que sua garganta não trabalhava.

— Anna tem te procurado. - ele respondeu o mais calmamente que pôde, como se estivesse lhe informando algo corriqueiro.

— Certo… - ela assentiu em um sorriso fraco, mas que morreu muito rapidamente. A voz vacilou, trêmula. - Não. Eu não tô bem.

Benjamin abriu a porta ainda mais para que Natalie pudesse entrar.

— O que houve? Por onde esteve?

Ela se virou para encarar o loiro quando o viu fechar a porta. Respirou fundo.

— Você… você se lembra da nossa conversa no terraço da Winter e do Oliver? Quando você me contou sobre seu passado… e que di-disse que sabia que eu o procuraria quando eu estivesse preparada para falar sobre mim? - a garota de sardas gaguejou, se esforçando para que sua voz não quebrasse e ela começasse a chorar ali mesmo. Aquilo fez Benjamin franzir a testa, como se pudesse sentir a aflição dela correr pelo seu corpo. Ele assentiu em resposta. - Eu estou preparada.

— Hm… - Benjamin arregalou os olhos minimamente. Engoliu a saliva de forma um tanto nervosa, como se não soubesse direito o que esperar daquele pronunciamento. Indicou o sofá da sala para que ela se acomodasse, seguindo-a.

Natalie mal sentou e puxou todo o ar que seus pulmões podiam suportar com o nariz, e ainda mais rapidamente deixou-o escapar pela boca. Virou-se para Benjamin e o encontrou devidamente sentado  ao seu lado. Ficou o mais próxima que pôde, o ombro esquerdo escorado no encosto do sofá.

— Eu espero que esteja preparado pra saber sobre mim, Ben. Porque depois… depois não tem mais volta.

A garota de sardas o olhou com atenção e o viu assentir. Ele parecia tenso e focado demais para dizer qualquer coisa.

Natalie tomou fôlego novamente, mas dessa vez não foi apenas para se acalmar. Começou do início, de Izaac a Hunter, e de Hunter ao presente momento. Sobre os meses que se antecederam até conhecer Benjamin. Explicou sobre todas as vezes em que fugiu e evitou revelar qualquer que fosse a informação sobre o seu passado. Todos os pretextos, todas as desculpas. E a cada segundo, Benjamin conseguia encaixar uma peça que faltava em sua linha do tempo. Todas as atitudes e reações de Natalie... tudo começava a fazer sentido. (GIF)

Ao fim do monólogo, Natalie tinha seus olhos marejados, mas lutava arduamente para que nenhuma lágrima lhe escapasse daquela vez. Sustentou seu olhar firmemente, preso ao azul de Benjamin, que pressionava a mandíbula enquanto a estudava.

O silêncio perdurou por mais alguns segundos, com ambos se entreolhando. Quando Natalie percebeu que o rapaz estava longe de se pronunciar, ela finalmente deixou o ar irromper seus pulmões para dar força às suas cordas vocais.

— Me desculpa. Me desculpa por esconder tudo isso. Sei que não fui justa com você, não tinha o direito de te esconder a bagunça que eu sou. Vou entender se quiser terminar tudo e… - a voz de Natalie vacilou, e ela entendeu aquilo como sinal de que suas lágrimas estavam prestes a brotar de seus olhos. E uma vez que começassem a sair, nada as faria parar.

Levantou-se abruptamente na intenção de sair dali o quanto antes, mas foi impedida pela mão de Benjamin, que levantou depressa e segurou-a delicadamente pelo pulso.

— Hey… hey! - ao puxá-la para mais perto, notou os olhos de mel espelhados de lágrimas. - O que você pensa que eu sou? - apesar da pergunta parecer um tanto ríspida, o tom do loiro era calmo.

— E-eu n-não...

— Tudo o que me contou faz parte de quem você é. Então nada mais justo escolher o melhor momento pra compartilhar comigo. - o loiro deu um sorriso fraco para encorajá-la a fazer o mesmo. - Você não precisa me pedir desculpas. E nem ficar assim. Tá tudo bem.

— Não, não tá tudo bem. - Natalie o viu reagir franzindo a testa. Não conseguiu mais conter as lágrimas que já lhe ardiam os olhos por terem sido contidas por tanto tempo. - Ele voltou. - ela fez uma longa pausa, tentando engolir a saliva, que naquela altura mais parecia um bloco de gelo. - Fui até o apartamento dele pra me livrar de uma coisa, e… ele estava lá. E eu… eu fugi!

Foi naquele momento que Benjamin compreendeu todo o contexto dos últimos acontecimentos. O sumiço de Natalie durante quase uma noite toda sem nem avisar a melhor amiga. O estado penoso no qual havia aparecido em sua porta e porque era tão pertinente que ele soubesse de toda a história naquele momento. Hunter Saxton havia voltado a New York, e algo dizia que as coisas não seriam mais as mesmas com aquela notícia.

— Você ainda... gosta dele? - tensionou a mandíbula com certo receio de ouvir a resposta. Mas precisava saber.

— Não. Não, eu… eu… não sei! - Natalie voltou a se perder em seu choro, afastando seus cabelos.

 

Let Me - Zayn

 

Benjamin sentiu um peso afundar em seu peito e prendeu a respiração. Apressou-se em segurar a garota, envolvendo o rosto dela com as duas mãos e obrigando-a a olhá-lo nos olhos.

— Você quer voltar com ele?

— Não. - dessa vez a resposta foi assertiva, mesmo em meio aos soluços. - Quero ficar com você!

Só então Benjamin conseguiu voltar a respirar normalmente.

— Bom, isso é ótimo. Então foda-se o resto.

— Mas e…

— Eu amo você, Natalie. - ele deu um sorrisinho fraco quando a viu conter a respiração ao ouvi-lo. Também não acreditou no que ele mesmo havia acabado de falar, por isso repetiu. - Eu amo você. E se você quer ficar comigo, e não com ele, é o que importa. Não é? (GIF)

Natalie deu um pequeno e surpreso sorriso, embora seus olhos ainda estivessem marejados.

— E-eu…

— Só você me importa. E se ficar comigo é o que te faz feliz agora… eu não vou medir esforços...

Antes que Benjamin pudesse completar o que dizia, Natalie se aninhou nos braços dele deixando todo o peso do seu corpo apoiado no dele.

— Não quero mais ter de vê-lo. Nunca mais!

Benjamin a envolveu, afagando os cabelos de forma gentil enquanto soltava o ar pesadamente. Não tinha ideia de todo o fardo que a castanha vinha carregando durante todo aquele tempo. E agora ter de enfrentar a presença de Hunter, depois de tudo…! (GIF)

— Shh... tá tudo bem. Eu tô aqui… eu tô aqui. - lentamente a puxou para aconchegá-la no sofá. - Vou preparar um chá, tudo bem? - a garota assentiu com um ar cansado.

Benjamin foi até a cozinha às pressas, encheu a chaleira elétrica com uma pequena quantia de água, e a colocou na base para aquecer enquanto alcançava a caixa de chá de maracujá automaticamente. Respirou fundo, esperando o eletrodoméstico desligar sozinho. Ainda tentava processar todos os últimos acontecimentos. Principalmente a parte em que finalmente havia entendido e expressado os seus sentimentos por Natalie. O que aconteceria agora que o ex-namorado - com quem ela havia tido uma história tão intensa - estava de volta?

Seus pensamentos foram interrompidos pelo desligar da chaleira, e ele se apressou em servir a água em uma xícara, mergulhando o sachê do chá de maracujá até vê-lo afundar completamente.

Quando se aproximou do sofá, deparou-se com Natalie já adormecida. Devia estar tão cansada que caiu no sono em menos de dez minutos. Benjamin depositou a xícara na mesa de centro e se voltou para a garota para observá-la, curvando-se na direção dela e apoiando suas mãos quase na altura dos joelhos.

Passeou seus olhos azuis pelo semblante cansado de Natalie, atentando-se ao tom avermelhado no contorno dos lábios e no nariz dela, vestígio do copioso choro de momentos antes. A respiração da castanha estava pesada, indicando a profundidade de seu sono.

Benjamin colocou uma mecha de cabelo de Natalie atrás da orelha, acariciando seu rosto logo em seguida.

— Vou cuidar de você. - falou baixinho. (GIF)

Não iria acordá-la. Em vez disso, tomou-a nos braços delicadamente para carregá-la escada acima. Atentou-se para não esbarrar com a garota na parede, e depois no corredor que se formava até seu quarto, no andar de cima.

Atravessou o cômodo com maestria, mesmo carregando-a em seu colo. Não precisava fazer qualquer esforço, na verdade. Seus anos praticando boxe  facilitavam a tarefa tranquilamente. Com cuidado, colocou Natalie sobre o colchão, que era consideravelmente alto. (GIF)

Tirou os sapatos dela delicadamente para não despertá-la. Em seguida, cobriu-a com o edredom e sentou-se ao lado, na beirada do colchão. Puxou o celular do bolso traseiro da calça.

Acessou as últimas chamadas e clicou no número não-salvo que havia lhe ligado mais cedo naquela noite. Não demorou muito para que alguém atendesse.

— Alguma notícia?— ele reconheceu a voz preocupada de Anna do outro lado da linha.

— Ela acabou aparecendo na minha porta.

— Vou matar essa garota! Me deixa falar com ela. — percebeu o alívio tomar conta da voz da morena.

— Ela acabou de dormir. Chegou bem abatida. - Benjamin respirou fundo. Achou melhor não comentar nada sobre a conversa. Era melhor que Natalie decidisse o que ia contar à melhor amiga. - Acho melhor ela ficar por aqui essa noite, e amanhã vocês conversam. Liguei apenas para que não se preocupasse.

— Hunf… Certo. Muito obrigada por cuidar dela.

— Não precisa nem agradecer… Ela é importante pra mim.

— Look… — Anna suspirou do outro lado. - Eu não sou muito sua fã, e você sabe exatamente o porquê… Mas eu sei que você gosta dela. Então…  Só não a magoe, ok?

— Considere isso uma promessa.

— Ótimo.

— Ótimo. - Benjamin repetiu antes de finalizar a chamada e arrancar os próprios tênis dos pés.

 

**

 

Já eram quase 11 horas da manhã quando Natalie adentrou o seu apartamento. Mal colocou os pés para dentro e ouviu a porta do quarto de Anna se abrir abruptamente. Passos rápidos vieram em sua direção.

— Você quer me matar do coração, garota?! - Anna parecia mal ter dormido. - Quase liguei pra polícia! O que acha que está fazendo? - ela nem conseguia separar uma frase da outra. - Sei que você anda toda na vibe da “rebelde sem causa”, mas isso não te dá o direito de…

— O Hunter voltou. - foi a única coisa que saiu da boca de Natalie, e foi tudo o que precisou para Anna se calar.

A morena piscou várias vezes repetidamente, tentando absorver as palavras da melhor amiga. Só então parou para analisar o semblante abatido de Natalie.

— O quê? Como…? - Anna havia se perdido no próprio raciocínio. Deixou seu corpo desmoronar no sofá e indicou à Natalie que fizesse o mesmo. - Como você saberia de algo assim? Pode ser um boato, como pode ter certeza disso?

Natalie respirou fundo e se sentou do lado da amiga.

— Porque eu o vi bem na minha frente, Anna. - a voz de Natalie estava rouca. - Fui ao apartamento dele deixar a merda daquele colar. E ele estava lá. - viu Anna abrir a boca para falar algo, mas não a permitiu. - E não, eu não estava delirando, nem sob efeito de drogas.

Anna cerrou os lábios por alguns instantes para processar tudo antes de voltar a falar.

— Foi por isso que você sumiu. - Natalie assentiu em resposta. - Vocês conversaram?

— Não. A gente ficou se encarando. Entrei em choque e saí correndo de lá o mais rápido que pude. - balançou a cabeça em negativa, mais para si mesma do que para Anna. - Parece um pesadelo sem fim. Depois de todo esse tempo… quando eu finalmente sinto que estou seguindo em frente, ele aparece pra me assombrar.

— O que vai fazer agora?

— Nada. - ela deitou as costas no encosto do sofá. - Não há nada a ser feito ou dito. Não quero saber de nada que tenha a ver com ele. Se ele foi embora, isso significa que nunca fui nada pra ele. Por que seria agora? Além do mais, estou com Ben agora. - respirou fundo, olhando para a amiga com o canto do olho. - Aliás… Ele disse que me ama.

— SHUT. UP.— Anna gritou, incrédula. Se Natalie não estivesse afundada em tantos sentimentos, teria rido da reação da morena. - Não acreditoooo! Como foi isso?!

— Contei pra ele sobre o lance do Hunter. Tudo. - Anna arregalou os olhos atentamente. - Comecei a chorar… Pedi desculpas por ter escondido tudo dele e que entenderia se ele não quisesse mais ficar comigo… ele perguntou se eu queria voltar com o Hunter e eu disse que não, que queria ficar com ele. E foi aí que ele disse. Disse que me ama, e que se eu quero ficar com ele, nada mais importa.

— Santa Lady Gaga, estou em choque. E o que você disse, o que você disse? - Anna fechou o punho e o bateu no sofá repetidas vezes, entusiasmada.

— Nada. - Natalie subiu os ombros e Anna lhe lançou um olhar letal e repreensivo. - Eu estava chorando, Anna, for Christ sake.

— Você… O ama?

Natalie prendeu a respiração e fixou seu olhar na parede por um instante, mas não era como se ela precisasse pensar sobre aquilo. Sabia a resposta, e já fazia algum tempo. Mas não queria que Anna fosse a primeira a ouvir aquela confissão.

— Sim. Acho que sim, não sei direito.

— E o Hunter?

— Não sei. - Anna levantou as sobrancelhas, instigando a amiga. - Não sei, Anna. Não quero mais pensar nisso, ok? - Natalie se levantou. - Só quero esquecer que ele existe.

Antes que Anna pudesse dizer qualquer coisa, Natalie saiu em direção ao banheiro.

Tirou suas roupas de uma vez, sentindo seu corpo pesado, sujo naquele sentimento enervante. Raramente tomava banho de banheira, mas sentiu que aquele era um momento propício. Deixou a banheira encher e jogou os primeiros sais que encontrou no armário.

Entrou na banheira sem fazer qualquer cerimônia e se deitou, deixando apenas a cabeça pender para fora. Seu olhar se perdeu no teto.

Sentiu seu coração acelerar só de lembrar do momento em que o mel dos seus olhos encontrou a esmeralda dos olhos dele depois de tanto tempo… (GIF)

Chacoalhou a cabeça para afastá-lo. Sentiu um peso afundar em seu peito. A única coisa que se lembrava de ter sentido no momento daquele encontro inesperado… foi medo. Medo do sofrimento que tanto lutava para aprisionar voltar a assolá-la impetuosamente. Medo do motivo que trouxe Hunter de volta. Medo da presença dele. Da existência dele. Das respostas que nunca teve. Medo.

Submergiu a cabeça por inteiro dentro da banheira, esperando que a água fosse capaz de desanuviar a sua mente, lavando-a para sempre de suas memórias com Hunter Saxton. (GIF)


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Notas finais do capítulo

O que foi a Natalie contando os banho tudo pro Ben, meldelsss. E depois ele ainda vem e solta essa declaração, assim meu coração não aguenta, minha gente, dá não!!!!

Agora fica a pergunta: quanto de pano pra manga esse retorno do Hunter vai dar, hein?



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