Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 77
Capítulo Setenta e Sete


Notas iniciais do capítulo

Ai. Meu. Deus.
O momento chegou. Aquele que parecia que nunca ia chegar.

Eu tô muito MUITO nervosa, ansiosa, cheia dos faniquito. Essa é a primeira história que eu finalizo e eu não podia estar mais feliz por saber que este ainda não é o fim. Aliás, não pode ser o fim, porque... Bom, vocês vão entender.

Sugiro que ouçam as músicas, pois elas ambientam ainda mais o momento. É isso.

Não esqueçam de comentar, deixar uma recomendação e compartilhar esse universo com os migus, tá?

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696872/chapter/77

Hunter e Natalie haviam se acomodado na cama de casal, um de frente para o outro, de pernas cruzadas. Não havia nenhuma iluminação no quarto, exceto pelas luzes da cidade, que davam um tom azulado ao cômodo.

Os dois deram as mãos e ficaram a se encarar por um longo instante, sem dizer nada, e o silêncio nunca foi tão ensurdecedor como naquele momento. A tensão pairava. Hunter sentia a mão de Natalie tremer levemente.

— Você tem certeza? Não quero que se sinta obrigada a isso - Hunter manteve um tom calmo e doce.

— Tenho - Natalie respondeu com firmeza, embora sua voz estivesse um tanto trêmula. Na verdade, ela sentia que todo o seu corpo estava em estado completo de tremor. - Não quero mais ter de esconder algo de você. Defenceless, lembra?

Defenceless — ele repetiu, assentindo. Hunter tentou apresentar a expressão mais serena e encorajadora possível, embora estivesse tão nervoso quanto ela.

 

Natalie respirou fundo, encarando a mão dele sobre a sua, os dedos entrelaçados.

— Mas antes eu quero que me prometa uma coisa.

— Claro. Qualquer coisa.

Natalie voltou a olhá-lo. Estudou cada parte do rosto do namorado.

— Seja lá o que você descubra essa noite, eu não quero que a maneira como você me olha mude. Não quero que seu tratamento seja influenciado, que você sinta pena de mim ou qualquer coisa do tipo.

Hunter apertou a mão de Natalie levemente, sustentando o olhar penetrante dela.

— A maneira que eu olho pra você jamais vai mudar, Natalie. Eu prometo - ele afirmou com firmeza.

Natalie assentiu em resposta antes de puxar todo o ar que seus pulmões fossem capaz de suportar.



***INÍCIO DO FLASHBACK***

 

Logo que Natalie ingressou na NYU, conheceu Izaac Cadwell, um segundanista do curso de Relações Internacionais. Izaac era originalmente da cidade de Bristol, Inglaterra, e morava nos Estados Unidos há exatos dois anos, quando decidira estudar fora.

Ela o conheceu em uma cafeteria nos arredores do campus, quando a atendente acidentalmente trocou os pedidos. A conexão nasceu no mesmo instante, e não demorou muito para que entrassem em um relacionamento sério.

Izaac era muito popular entre os amigos, e por esse motivo, Natalie e Anna acabaram por fazer muitas novas amizades, e estavam sempre em festas de fraternidade e reuniões sociais. E o casal estava sempre junto.

Eram completamente apaixonados e sabiam tudo, um do outro. Natalie o considerava seu melhor amigo, e a recíproca era verdadeira. Ou pelo menos parecia que era.

O namoro deles era admirado por todos que os conheciam. Para muitas garotas, Natalie e Izaac eram um verdadeiro símbolo de meta de relacionamento.

Tudo parecia perfeito. Perfeito até demais. E quando o milagre é demais, até o santo desconfia.

Ou melhor: no caso de Natalie, ela jamais desconfiou que algo do tipo poderia acontecer.

Todo primeiro sábado do mês acontecia uma festa muito conhecida entre as fraternidades da NYU, e já havia virado tradição entre o grupo de amigos de Natalie e Izaac. No entanto, Izaac havia alegado estar com gripe, e disse que não poderia comparecer. E apesar de Natalie se oferecer para lhe fazer companhia, Izaac insistiu que não havia necessidade, e não queria que a namorada deixasse de se divertir por sua causa.

No entanto, para Natalie, aquela festa não tinha graça nenhuma sem Izaac. Foi por isso que ela abandonou a festa e decidiu lhe fazer uma surpresa, levando café e donuts para o namorado.

E foi então que Natalie descobriu da forma mais amarga que Izaac não estava doente. Muito pelo contrário, inclusive. Pelo menos foi o que pareceu quando Natalie o pegou na cama com uma garota. (GIF)

E para piorar, não era qualquer garota: Era Saddie Greenwalsh, uma das melhores amigas de Natalie e Anna.

Foi tão devastador quanto um tornado na cidade. Natalie ficou completamente destruída, de todas as maneiras que alguém pode ser destruído. Sentiu-se desolada, enganada, humilhada, dizimada. Eles sequer terminaram. Natalie simplesmente sumiu do mapa. Isolou-se de tudo e todos. Correu para a casa de sua tia Suzy, que morava em Newark, New Jersey. E durante as férias de verão, ninguém sabia dizer onde ela estava (com exceção de Anna). Izaac tentou ligar e mandar mensagem nos primeiros dias, mas depois ela simplesmente bloqueou o número dele. O mesmo aconteceu quando tentou contatá-la via e-mail. Ou Facebook. Ou Instagram.

E por mais que soubesse que o estava fazendo era certo, Natalie sofria mais a cada dia, pois amava Izaac com todas as suas forças e tentava acreditar que aquilo tudo era mentira, não passava de um pesadelo do qual ela não conseguia acordar. Só que não era. O inferno era real.

Depois de longos e intermináveis dois meses, Natalie finalmente retornou à New York. E ao contrário do que pensou, ficar longe não melhorou nada. Sofria pela traição, mas sofria ainda mais por não estar com Izaac, e se odiava por isso. O bom senso, o orgulho e o amor próprio haviam simplesmente evaporado de seus principais valores. E ela teve certeza disso quando apenas um mês depois ela aceitou voltar com Izaac. Anna quis enforcar a melhor amiga na Washington Square Park por tamanha audácia.

A muito custo e esforço de Izaac para reconquistar a confiança da namorada, as coisas foram melhorando aos poucos.

Se Natalie dissesse que havia esquecido, seria uma bela de uma mentira. Mas era melhor aquilo do que não ter Izaac.

A garota de sardas sempre fora adepta da crença de que as coisas nunca aconteciam por acaso. Tudo tinha uma explicação e servia de aprendizado para alguma situação futura na vida. Ela só não estava contando com tantas lições assim.

Quando as coisas finalmente pareciam estar se normalizando, de fato, algo aconteceu. Algo que fez com que a máscara de Izaac finalmente caísse.

O período de Natalie estava atrasado, e o desespero tomou conta dela e de Izaac quando decidiram comprar o teste de gravidez na farmácia.

Os três minutos pareciam uma eternidade enquanto esperavam pelo resultado no quarto de Izaac. Natalie estava sentada na cama, com as costas na parede, enquanto Izaac andava de um lado para o outro, ainda mais aflito, que já estava com o rosto inchado de tanto chorar.

— Você… Quer falar sobre isso? - ela perguntou com a voz ainda embargada.

— Sobre “isso” o quê? - Izaac parou de andar para olhá-la.

— Sobre o que faremos se…

— O que quer dizer com isso? - Izaac a olhou incrédulo. - Natalie, o que está querendo sugerir?

— Nada, só que…

— Só somos estudantes. Você tá no primeiro ano da faculdade. O que planeja? Estudar enquanto troca fraldas? Se mudar para o meu apartamento?

— Eu não disse isso, Zac. Você não precisa falar desse jeito.

— De que jeito?

Ela respirou fundo.

— Bom, pra começar, você poderia parar de me responder só com perguntas. E você também não precisa agir como se esse fosse ser o fim das nossas vidas.

— É o fim das nossas vidas, Natalie. Eu não vou arruinar os meus estudos, o meu futuro caso isso esteja mesmo acontecendo - Izaac abriu os braços, gesticulando exageradamente indignado com o que ouvia da boca da namorada.

— “Isso” seria uma criança, Izaac. E de qualquer forma… Não era algo que estava nos nossos planos futuramente?

— Eu não sei, Natalie…! - Izaac parecia desolado, fora de si. - Uma coisa é falarmos isso enquanto nos declaramos, estamos em um momento íntimo… Outra completamente diferente é estarmos… Espera aí - ele parou de falar subitamente, como se algo o tivesse acertado e então lançou um olhar estreito e acusador a ela. - Você fez isso de propósito, não é?!

Natalie se levantou bruscamente da cama, ultrajada pela insinuação de Izaac.

— Você perdeu o juízo?

— Responde, Natalie. Você planejou isso como vingança, não é? Como um modo de me manter com você! - Izaac gritou, apontando o dedo na cara dela. - Pois saiba que eu NÃO vou cair no seu joguinho, sua… - ele se conteve para não xingá-la, o que provocou horror em Natalie no mesmo instante. - Se você acha que eu vou assumir qualquer responsabilidade nessa LOUCURA caso você esteja mesmo grávida, está MUITO enganada. Aliás, quem garante que é meu? Quem garante que você não me traiu pra pagar na mesma moeda?

— Izaac…! - Natalie começou a chorar desacreditada. - Você está se escutando?!

— Eu não vou esperar pra ver esse resultado. Não importa qual seja, não é meu. E essa… É a ÚLTIMA vez que você me vê - Izaac pegou o casaco que estava pendurado no encosto da cadeira. - Eu vou sair. E quando voltar… Eu não quero mais te ver aqui, entendeu?

 

Izaac nem a esperou responder, saiu pela porta do quarto, batendo-a com um estrondo enquanto Natalie afundava o rosto no travesseiro, chorando copiosamente.

E de fato, aquela fora a última vez que Natalie viu ou falou com Izaac. Ela não obteve uma resposta nem mesmo quando enviou uma mensagem com o resultado negativo do exame. Izaac voltou para a Inglaterra e cortou qualquer vínculo que possuía em New York City.

 

***FIM DO FLASHBACK***

 

Quando Natalie terminou de contar, os olhos estavam marejados e a boca estava completamente seca, mas ela se conteve. Não queria chorar por Izaac nunca mais. E embora sentisse que um piano havia sido tirado de suas costas, estava aflita. Havia muito tempo ela não repetia aquela história para alguém. Aliás, as únicas pessoas que sabiam do acontecido eram Anna e Jason, o caso não tão duradouro de Natalie.

Após o monólogo, um silêncio insuportável se instaurou, e mesmo as incessantes buzinas dos carros que ecoavam lá embaixo, nas ruas de New York, pareciam não conseguir penetrar aquele quarto.

Nos primeiros instantes, Hunter ficou imóvel. Se Natalie não conseguisse observar a sua respiração ou o piscar de seus olhos, diria que o namorado havia sido congelado.

Hunter continuou a olhá-la tentando digerir cada palavra do que havia sido contado, e conforme aquilo ia acontecendo, a perna dele, que estava pendendo para fora da cama, começava a tremer impaciente e inquietamente, como quando estamos nervosos e ficamos movimentando-a rapidamente.

Sua ira se concentrara especialmente na mandíbula, que de tão rígida, parecia que estava prestes a despencar da cabeça dele.

Levantou-se atordoado e passou a mão pelo cabelo com certa brutalidade, ficando de costas para Natalie. Ele ficou assim por alguns instantes enquanto ela ficava cada vez mais desconsolada de preocupação com o que estava se passando na cabeça de Hunter.

Quando finalmente tornou a se virar para ela, Hunter lançou-lhe um olhar um confuso. Natalie quebrou o contato visual por alguns instantes, olhando para as próprias mãos.

— Você prometeu que não ia mudar a forma como me olha - a expressão dela era vazia.

— E não mudei - ele respondeu firmemente. - Mas eu não consigo, Natalie - a maneira como ele falou provocou certa apreensão e nervosismo na garota. Ele continuou - Eu não consigo entender como alguém consegue ser capaz de agir de maneira tão… nojenta, baixa. Depois de tudo o que esse filho de uma puta fez, ele teve a audácia de apontar VOCÊ como a traidora? Quer dizer….

Hunter começou a andar de um lado para o outro completamente desnorteado. Parecia que a fúria estava se apossando de seu corpo gradativamente, conforme sua mente se lembrava da ordem dos fatos da história, e então ele se revoltava cada vez mais.

Aquela reação atingiu Natalie como uma dose de alívio. Ela respirou fundo, sentindo os próprios ombros relaxarem enquanto ela se levantava e ia na direção de Hunter.

— Não está bravo comigo?

— Bravo? Com você? Natalie, ele é o cretino da história, não você - Hunter indicou o nada com a mão aberta como se Izaac estivesse no mesmo ambiente que eles. - Ele te abandonou quando você mais precisou, quando havia a possibilidade de você estar gráv… Oh, meu Deus.

 

How Would You Feel - Ed Sheeran

 

O horror se apossou de Hunter quando o cérebro dele finalmente fez a conexão de todas as situações que ele próprio e Natalie haviam passado. A reação repulsiva quando se conheceram, a desconfiança sobre os reais interesses por parte dele, a insegurança, a indecisão… E finalmente o assunto “gravidez”. Todos os medos, traumas e anseios de Natalie eram culpa de Izaac. Um único ser humano fora capaz de desestruturá-la por completo e permanentemente. Tudo o que ela havia se tornado era reflexo de um cara desprezível.

— Meu Deus, se esse infeliz um dia cruzar meu caminho - Hunter passou a mão pelo rosto, inconformado e tomado de ódio. - Não importa quanto tempo passe. Eu JURO que acabo com a raça dele.

Natalie se levantou no mesmo instante para ir de encontro ao namorado. Ela espalmou as duas mãos no tórax nu de Hunter, como se aquele ato o fosse impedi-lo de alguma coisa. Aquilo o fez observá-la, saindo do transe. Ele a abraçou com força, como se seus braços fossem capaz de afagá-la e protegê-la de todo o mal presente no mundo.

— Ele foi embora. Você não precisa se preocupar com isso… - ela respondeu um pouco vacilante.

Natalie parecia tão indefesa…! Como alguém havia sido capaz de agir daquela maneira com aquela garota tão doce, tão apaixonante?

— Se acontecer, eu estarei preparado - o tom de Hunter era duro e assertivo. - Desgraçado… - ele respirou fundo, a fim de se recompor. O ar que entrou em seus pulmões lentamente o ajudou a assumir uma postura mais amena. Hunter, então, amparou o rosto de Natalie com as duas mãos em um ato carinhoso e delicado. Os dois se encararam profundamente por algum tempo. - Obrigado por compartilhar a sua dor comigo. Sei o quanto foi difícil - Hunter parou por um momento para soltar o ar de uma vez, a fim de controlar as lágrimas que afogavam seus olhos, deixando-os ligeiramente vermelhos. - Como está se sentindo?

— Assustada… Mas leve, aliviada. Contar a você me faz sentir que talvez agora eu esteja pronta de verdade para deixar essa história para trás.

Hunter deu um pequeno sorriso de canto, deixando que uma covinha surgisse do lado esquerdo da bochecha. Em seguida, acariciou o rosto de Natalie com os polegares.

— Eu jamais imaginei que você tivesse passado por algo assim, e agora compreendo todos os seus anseios, seu distanciamento e insegurança, e… Eu quero que você saiba que não vou deixar que mais ninguém te machuque dessa forma, meu amor. Aliás, EU jamais farei qualquer coisa que possa te machucar.

Natalie sorriu minimamente, apenas com os lábios. Os olhos também marejados. Hunter encostou a testa na dela, roçando os narizes carinhosamente.

— Promete? - ela perguntou num sussurro.

— Prometo - Hunter sussurrou de volta. - Não há mais nada entre nós.

— Quase nada - ela comentou com um pouco de humor na voz, afastando o rosto para olhá-lo. Hunter franziu o cenho em resposta. - O baseado não era meu, era da Mila. Ela pediu pra eu segurá-lo enquanto tirava uma foto e você acabou vendo, e… Enfim… - os dois riram fracamente. - Foi meio que aquela história de estar no lugar errado na hora errada.

— Me desculpa por aquilo. Quando te vi, perdi o chão. Lembrei de Grace e imaginei que tudo aquilo pudesse se repetir com você, e… Eu surtei. Idiotamente, eu sei.

Natalie reagiu com um pequeno sorriso ao ouvi-lo dizer “idiotamente”.

— Bobo.

— Por você - Hunter afastou uma mecha de Natalie e aproximou seus lábios do ouvido dela. - Você é a minha vida.

Aqueles dizeres fizeram com que um arrepio crescesse dentro do peito de Natalie e percorresse toda a sua espinha dorsal como uma uma brisa flamejante.

— Eu te amo - ela declarou enquanto seus dedos transitaram pelo tórax e abdômen de Hunter.

— Eu te amo mais…

Eles não disseram mais nada. O que precisavam dizer já havia sido dito, e naquele momento nada falaria mais do que os gestos, um do outro. Beijos, toques e carícias que os levavam a suspiros e gemidos.

Hunter a levantou do chão e a carregou até a cama. Deitou-se por cima dela, beijando-a apaixonadamente e selando todas aquelas promessas de amor.

 

**

 

Natalie despertou quando ouviu a porta do closet se fechar. Ao sentar-se na cama, alcançou o seu celular para verificar a hora: 3:47 da manhã. Viu um Hunter mal iluminado pela luz da lua jogar uma mala de viagem consideravelmente grande sobre o ombro esquerdo. Ele estava vestido como se estivesse pronto para ir a algum lugar. Estava até calçado.

— Hunter? O qu…?

Ele pareceu surpreso por vê-la acordada. Não havia se preocupado muito com o barulho que estava fazendo enquanto arrumava as suas coisas. Quando Hunter levantou o rosto na direção dela, Natalie percebeu algumas marcas de lágrimas na pele dele.

Hunter não respondeu, apenas foi em direção da porta do quarto. Natalie levantou em um solavanco, correndo descalça, vestida apenas com a calcinha e a camiseta preta de Hunter que lhe cobria até a metade das coxas.

— Hunter! - ele desceu as escadas correndo. Natalie estava logo atrás, em seu encalço. - que diabos está acontecendo? O que é essa mala, para onde está indo? São 4 horas da manhã!

 

Waiting - Alice Boman

 

Ao perceber que o rapaz não possuía nenhuma intenção de respondê-la, ela puxou a alça da mala do ombro dele com força em um ato de desespero, derrubando-a no chão. Não conseguia compreender o tratamento duro que estava recebendo do castanho.

— HUNTER!

— EU NÃO POSSO MAIS FICAR COM VOCÊ! - Hunter finalmente gritou, afastando-a. Arrependeu-se no mesmo instante por ter falado aquilo. Mas não sabia o que dizer, não havia planejado ter Natalie acordada enquanto saía dali. Abaixou-se para pegar a mala de viagem que jazia no chão.

Ele então a olhou nos olhos. Algo estava errado naquele verde. Já não existia aquele brilho que sempre a encantou. Mal conseguia se ver refletida ali.

— O que você tá falando? Nós estamos bem - ela afirmou.

Natalie não estava entendendo absolutamente nada. O que havia acontecido entre o período que foram deitar e agora? Ela havia adormecido tão leve…! Finalmente havia tirado todo o seu passado com Izaac do peito e compartilhado todas as suas dores com Hunter. Sentia que estava mais do que pronta para seguir em frente…! Foi então que ela sentiu como se alguém apedrejasse os seus pulmões. Hunter estava indo embora por conta da história que ela havia lhe contado sobre o seu passado? Estaria ele abandonando-a assim como Izaac? Desesperou-se.

— Você está indo embora? - Natalie viu os lábios trêmulos dele sumirem enquanto as covinhas surgiam nas bochechas. - Por causa do que eu contei? - ele continuou em silêncio, o que para Natalie soava como um estridente SIM. - Por favor, não faz isso comigo. Eu não consigo passar por algo assim de novo. - a voz dela estava por um fio, a ponto de se arrebentar a qualquer instante. Sentia um nó tão grande se formar na garganta que chegava até lhe causar dor.

Hunter abaixou o olhar e aquilo destruiu Natalie por dentro como se todos os seus órgãos estivessem se desintegrando.

— Hunter, por favor… - a garota de sardas juntou todas as forças que ainda lhe restavam na garganta e se aproximou dele. As lágrimas começaram a cair aos montes, sem controle quando ela segurou na mão gelada de Hunter. O rapaz fechou os olhos em resposta, se segurando para que também não começasse a chorar ali mesmo. - Por que você tá fazendo isso com a gente? Eu te amo tanto, Hunter.

— Não… - a voz dele saiu fraca. - Para.

— Eu te amo, eu te amo…! Por favor. – As frases saíram quase como um sussurro, mas o soluço escapou alto dos lábios dela.

— Depois que você dormiu, eu fiquei pensando em tudo o que me contou, e... - Hunter começou, olhando para baixo. Não parecia muito bem saber o que falar.

— O que? - a cor parecia ter abandonado o rosto de Natalie. As lágrimas continuavam a cair dos olhos cor de mel que agora estavam arregalados. - O que está dizendo? - Hunter continuava a olhar para baixo, sem encará-la. - Olha pra mim. - o pedido soou mais como um comando.

Hunter respirou fundo como se aquele gesto fosse capaz de lhe ajudar a reunir coragem antes de olhá-la nos olhos. Sentia-os arder violentamente devido ao esforço que fazia para conter as lágrimas.

Quase desmontou. Vê-la ali, tão vulnerável, tão destruída por culpa dele próprio o fazia querer morrer. Aliás, tudo o que ele queria era morrer depois da ligação que recebeu 52 minutos antes. Molhou os lábios e interpretou o Hunter Saxton mais frio e convincente que conseguiu.

— Eu não posso - ele puxou a sua mão que ainda estava entre as dela.

— Não faz isso comigo, pelo o amor de Deus, Hunter - Natalie bateu o pé no chão quando o viu se afastar e ir em direção da porta. Estava confusa, irada, desolada… Danificada.

Eles estavam bem! Nunca haviam estado tão bem. Todos os segredos e passados sombrios haviam-se ido para sempre! O que havia acontecido nas poucas horas que se passaram, afinal? O que havia mudado?

— Você disse que não ia me machucar…! - um soluço alto escapou da garganta de Natalie enquanto chorava copiosamente.

— Adeus, Natalie - a garganta de Hunter parecia sangrar com aqueles dizeres com a porta já aberta e a mão na maçaneta.

Os dois trocaram um último olhar. Um olhar angustiante que parecia arrancar toda a vida existente do corpo de cada um. Todo o calor, toda a cor. Natalie viu uma lágrima solitária e furtiva cair daquele par de esmeraldas. As mesmas esmeraldas que por muitas vezes estudaram cada detalhe do corpo dela, que liam o seu interior como um livro, que emanavam amor a cada amanhecer. As mesmas esmeraldas que agora as deixava em frangalhos. As mesmas esmeraldas que ela sabia que jamais conseguiria esquecer e que iriam assombrar o seu sono pelo resto da vida.

Hunter fechou a porta atrás de si e Natalie sentiu suas pernas perderem toda a força de sustentação que ainda a mantinha de pé. Ela se deixou desmoronar no chão, de joelhos. Deixou que os soluços saíssem alto e sem pudor de sua garganta em um ato de desespero, a cabeça pendendo para trás como se olhasse para cima e perguntasse: “por quê?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OK....................................

Ainda estão respirando? Esse foi um dos capítulos mais difíceis de escrever, por inúmeros e infinitos motivos... Mas principalmente pela carga emocional por trás de cada detalhe. Nosso Hunter foi embora, nosso Hunlie separado. What a fuck is going on, afinal???

Comentários? Teorias? Opiniões? Xingamentos? Maldições? Fiquem à vontade, vamos conversar! ♥ E não se aflijam, por favor! A segunda temporada já está em produção! Não vai demorar, prometo!

Mas enquanto isso que tal vir bater um papo com a família Defenceless? Vamos discutir sobre o que foi essa primeira temporada? Tô a fim de fazer uns catadões de melhores momentos, curiosidades e troca de amor com os melhores leitores da face da Terra (no caso, vocês).

Venham: https://www.facebook.com/groups/1789592861331239/?ref=bookmarks

Quero agradecer imensamente, de coração, todo o carinho, toda a atenção e dedicação que vocês têm com Defenceless. É uma honra e uma enorme alegria escrever sabendo que pessoas tão amáveis irão ler cada palavrinha minha. Não sumam, não nos abandone. Tem muita coisa pra acontecer na próxima temporada, e logo vou lançar o trailer pra deixar vocês beeeem curiosos, lá no grupo! Vem comigo? ♥

AMO VOCÊS REAL



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Defenceless" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.