Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 69
Capítulo Sessenta e Nove


Notas iniciais do capítulo

People of my life, me desculpe por esse desaparecimento sem sequer uma explicação!
Tenho trabalhado tanto nas últimas semanas que pouco tempo me resta para me dedicar à Defenceless, mas eu não esqueci de vocês, viu? ♥

Nesse capítulo estamos FINALMENTE voltando à nossa amada New York! Já não era sem tempo, nénom? Até porque temos umas coisinhas inacabadas para resolver. Uma amizade, quem sabe? :x



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Natalie só acreditou que finalmente estava na frente de seu prédio quando o famoso ar gélido que prenunciava o fim do outono de New York City lhe atingiu o rosto. Era verdade que San Francisco era a cidade da ventania, mas nada se comparava às rajadas que avançavam livres por entre as ruas cheias de edifícios em New York. As construções formavam uma espécie de corredor que direcionava e concentrava a corrente de ar de maneira que o vento parecia ainda mais forte. Natalie já havia cansado de ver as latas de lixo irem aos ares nos dias mais “difíceis”.

Estava cansada. Aquela viagem de duas semanas havia sido mais cansativa do que esperava. Além dos outros dois shows que cobriu em San Francisco e Los Angeles, ela ainda os acompanhou em entrevistas, programas, tardes de autógrafo e tudo o que vinha surgindo na agenda da Elite Four. Até mesmo uma visita a um hospital acabou entrando no cronograma.

Mas havia valido cada noite mal dormida, cada enxaqueca resultado de gritos ensurdecedores de fãs descontroladas, cada refeição feita pela metade para não se atrasar para o compromisso seguinte. Natalie não havia só tido a melhor experiência profissional, como pessoal. E tudo isso havia acontecido por causa de dois nomes: Hans Norwell e Hunter Saxton. “Hunter…”. Seus lábios responderam prontamente ao nome que ecoou em seus pensamentos com um sorriso bobo enquanto o elevador subia.

Assim que ouviu o barulho que indicava que havia chegado em seu andar, desejou que o fim daquela viagem não significasse o fim do sonho que estava vivendo. Mas ao adentrar o apartamento lembrou-se das questões inacabadas que havia deixado para trás quando saiu de New York. E a principal delas se chamava Anna Castillo.

Que a melhor amiga lhe fazia falta ela já havia notado desde o primeiro dia de viagem. Mas teve ainda mais certeza quando sentiu o cheiro do perfume dela no ar enquanto adentrava a sala. O apartamento estava impecável, e ela sabia que aquilo era obra de Anna, que tinha um apreço pela organização que quase beirava a loucura.

Um novo aroma alcançou as suas narinas e ela já soube o que era antes mesmo de soltar suas malas no chão e ficar entre a mesa de jantar e o balcão que dividia os ambientes da sala e da cozinha: a torta de frango que não era de frango. A torta de jaca que Anna sabia ser a receita favorita de Natalie.

A forma jazia sobre o balcão, e fumaça ainda emanava do alimento, o que indicava que havia sido retirado do forno há pouco.

Desconfiou quando não percebeu um único movimento no apartamento. Nenhum som vinha do quarto de Anna ou do banheiro.

A indagação de Natalie foi logo respondida quando ela ouviu o destrancar da fechadura da porta e Anna surgir ali.

A morena, que estava com um saco de donuts e uma bandeja com dois copos de smoothie, estancou na entrada da porta logo após fechá-la com o pé, totalmente pega de surpresa. Algo dizia à Natalie que Anna não estava contando com a presença dela naquele momento.

 

Breathe Me - Sia

 

As duas ficaram se entreolhando por alguns segundos que mais pareceram uma eternidade. Era como se houvessem se esquecido de como se portar na presença da outra.

— Hey! - Anna tentou soar naturalmente, embora seu olhar expressasse totalmente o oposto da naturalidade.

Quando Anna depositou a bandeja com os dois smoothie e a grande sacola parda de donuts sobre a mesa de vidro de jantar e passou as mãos pela calça como se as limpasse, Natalie notou as olheiras e a feição um tanto quanto abatida da amiga.

— Hey. - Natalie apoiou-se no balcão desconfortavelmente.

— Fez uma boa viagem? - Anna lhe deu o seu melhor e mais sincero sorriso. Parecia um sorriso um pouco desajeitado, daqueles que uma pessoa dá quando não sorri já faz um tempo.

— Aham. - Natalie queria abraçá-la, mas conteve-se. - E você, tá bem?

— Hmm, sim. - antes de se aproximar, Anna pegou os copos de smoothie. Entregou um deles à amiga. - Na medida do possível, sim. - Natalie assentiu em resposta, sugando o canudo e sentindo a bebida gelada que descia com certa dificuldade pela sua garganta. - Meus parabéns.

— Desculpe? - a garota da pele de neve franziu a testa sem entender.

— Acompanhei o blog dos meninos, as notícias. - as duas finalmente ficaram frente a frente. - Você fez um trabalho incrível! As fotos… E a notícia do álbum, o vídeo…! - Natalie sentia a sinceridade na voz da amiga. - Quem imaginaria que essa viagem ia te trazer tanta coisa boa.

— Se você não tivesse me apoiado, eu talvez nunca a tivesse aceitado.

— Teria sim. O Hunter ou o Hans iriam dar um jeito, tenho certeza.

Anna sorriu meio acanhada enquanto escondia a metade das mãos nos bolsos da calça jeans. Ela respirou fundo como se precisasse de todo o fôlego e coragem do mundo. Havia se consumido de culpa depois do ocorrido na 1OAK e pensou em várias maneiras de pedir desculpas à Natalie. Pensou em ligar para a amiga inúmeras vezes, mas todos os pedidos de desculpas ensaiados não pareciam bons o suficiente. E para piorar, o desentendimento com Luke a abateu ainda mais. Havia brigado com as duas pessoas mais importantes para ela em uma única noite. Era uma proeza até mesmo para Anna.

Antes que a sua coragem se esvaísse ou Natalie se cansasse de esperar pelas justificativas que nunca pareciam vir, Anna começou:

— Ok, já chega desse teatro. Eu pensei em fazer a sua torta favorita. Pensei em pegar a nossa bebida favorita e os nossos donuts favoritos do Dunkin’ Donuts numa tentativa frustrada de fazer parecer que estava tudo bem porque seria bem mais fácil. E você sabe, eu tenho a maior cara de pau do mundo, e é isso o que eu sempre faço: finjo que tá tudo bem. - Anna fez uma pausa para reunir mais fôlego. - Só que não tá tudo bem. Eu consegui magoar as duas pessoas com quem eu mais me importo e que talvez sejam as únicas que se importam comigo aqui em New York. Numa única noite eu destruí a minha chance de ter algo legal com um cara incrível por medo de assumir as minhas fraquezas. E essa minha fraqueza me fez atingir você da forma mais cretina e injusta que eu jamais imaginei que seria capaz. - Natalie percebeu que a voz de Anna começava a ficar embargada e também precisou se conter. - Me desculpa por dizer aquelas merdas, por diminuir o que você passou com o Izaac quando eu claramente sei tudo o que aconteceu. Eu estava lá e dividi todo aquele sofrimento contigo. E mesmo assim eu tive a coragem de falar aquela escrotice. - uma lágrima solitária escorreu furtivamente pela bochecha de Anna, e esta a limpou com rapidez.

— Você tava bêbada. - Natalie finalmente justificou. Os olhos cor de mel marejavam como espelhos d’água.

— Essa desculpa não cola. Não comigo. Eu fui uma bitch com você. E talvez eu não mereça perdão. Acho que foi por isso que eu fiz a torta, afinal de contas. - a conclusão que Anna fez para si mesma fez Natalie soltar um riso anasalado. - Eu tive muito tempo pra pensar em tudo o que eu fiz e falei. E isso precisa terminar. Cansei de ser escrava do medo de dizer o que eu sinto. Eu senti muito a sua falta, e nada do que eu disse é o que eu penso realmente. Você não é uma coitada. Muito pelo contrário: é uma das pessoas mais fortes que eu já conheci, senão a mais forte.

Cut it out, Anna. - Natalie deu um sorriso de canto fraco. - Você é a forte dessa relação.

— Eu? Eu sou feita de sarcasmo puro para esconder o que sinto. Você não. Você não esconde, nem mesmo depois de tudo o que passou. Você se dá uma chance, coisa que eu não faço.

— Fico feliz que você esteja se percebendo. Talvez esteja na sua hora de mudar. - Natalie lhe lançou um olhar sincero e encorajador. - Eu também pensei muito em tudo o que aconteceu. E eu acho que você teve razão nas coisas que disse.

— Natalie! - o tom de Anna era reprovador e um tanto quanto culpado.

— É sério. Alguém precisava me falar tudo aquilo, e ninguém melhor do que você pra esse trabalho. - Natalie olhou para cima como se estivesse procurando as palavras certas no teto do corredor. - Eu não posso ser a menina triste pra sempre, e eu agora vejo isso. Muitas foram as vezes em que quase liguei pra você quando as merdas todas aconteceram. - os olhos de Anna se arregalaram e ela sabia que mais tarde teria de explicar o que aconteceu na viagem. - Mas eu me lembrei das suas palavras. Elas foram duras, mas me fizeram mais forte, mais independente. Eu agora sei que posso lidar com os meus problemas e minhas dores sozinha. - Anna a olhava com certo orgulho. Os olhos estavam atentos, lacrimejando. - Talvez eu precise dos seus chás maravilhosos e do seu abraço de vez em quando. - as duas riram. - Mas eu sei que consigo aguentar o tranco. E é tudo graças a você. Então obrigada por ser a bitch mais necessária na minha vida. E ah, eu também senti muito a sua falta.

As duas não esperaram nem mais um segundo para largarem os copos de smoothie sobre a bancada e correrem para um abraço apertado e carinhoso.

— Sua ridícula. - Anna a apertou enquanto sorria em meio ao abraço.

— Tosca. - Natalie rebateu, apertando-a de volta. - E vê se você chega a tempo na próxima vez que tentar fazer surpresa com donuts, smoothie e torta. Aliás… Bela combinação.

As duas gargalharam.

 

**

 

Natalie e Anna passaram a tarde compartilhando todos os acontecimentos da vida no período em que estiveram afastadas. Anna milagrosamente foi a primeira e contou sobre a discussão que tivera com Luke na noite da festa, e Natalie não conseguiu esconder a melancolia de imaginar a amiga aos prantos e sentada sozinha na sarjeta. Ela confidenciou à Anna como foram os dias ao lado de Luke. Como ele parecia abatido e um tanto quanto depressivo. Havia demorado um tempo até que ela visse o rapaz sorrir durante a mini tour. Anna prometeu a Natalie e a si mesma que procuraria Luke assim que possível.

Depois foi a vez de Natalie contar todas as artimanhas de Hunter, as provocações que ela só veio a entender depois de descobrir a foto dela e de Hans que estava rodando em todos os tabloides. Anna afirmou que também havia lido sobre aquilo e ficou inconformada. Cogitou ligar para Hunter e falar umas poucas e boas para ele quando Natalie lhe contou sobre o episódio da garota que ele levou para o apart hotel. Mas seu comportamento mudou quando a garota de sardas contou sobre a noite de amor. Anna ficou em polvorosa, chacoalhando-se como uma criança quando recebe a notícia de que vai para a Disney.

Natalie também confidenciou-lhe o capítulo a parte em que se lembrou de Izaac e que aquilo quase arruinou tudo. Anna ficou sentida por não poder ter estado com a amiga naquele momento, mas ficou feliz que ela soube contornar a situação e ficar bem com Hunter e conseguir o projeto do álbum.

— Então vocês estão juntos?

— Hmm… Sort of. - Natalie meneou a cabeça enquanto engolia um pedaço de torta.

— Como assim, “sort of”, Natalie? - Anna parou de comer, ligeiramente incomodada.

— Não falamos sobre isso, estamos vivendo o momento. Dançando conforme a música, deixando o rio seguir o seu fluxo…

— Ok, chega de expressões, eu já entendi.

Natalie riu, dando de ombros logo em seguida.

 

**

 

Natalie achou que ao voltar para New York City sua vida simplesmente voltaria ao que era antes. Faculdade, babysitting, projetos, trabalhos a serem feitos…

Ela estava certa, em partes. É claro que ainda era a blogger e fotógrafa da Elite Four, e isso significava que ela continuava com as suas produções de texto, fotos e vídeos para o website e ainda o projeto do álbum no qual estava trabalhando paralelamente. Todas aquelas responsabilidades já pareciam o suficiente para dizer que a sua vida já não era mais a mesma. Sem contar o “relacionamento” que estava tendo com Hunter Saxton. Sorria sozinha quando se pegava pensando naquele fato. As coisas estavam parecendo mais sérias a cada dia.

Quando não estava na faculdade ou com Anna, Hunter fazia parte da maioria dos seus planos, e eles se viam praticamente todos os dias, por conta dela fazer parte da equipe da banda dele. Mas a companhia agora se estendia além do cronograma profissional - quando Natalie não acabava sendo escorraçada da sala na sessão de composição das músicas.

Hunter passava várias noites da semana no apartamento de Natalie, já que o apartamento dele ficava mais longe da NYU e ela teria de acordar mais cedo para frequentar as aulas. Às vezes até Anna se juntava a eles para uma sessão de filmes ou apenas jogar conversa fora.

— Hoje não há desculpas, Freckles. É sexta-feira e você não tem aula amanhã. - Hunter a prendeu em seus braços, os rostos quase colados, impedindo-a de sair da sala do estúdio.

— Qual o problema em ir lá pra casa? - Natalie perguntou, divertida, tentando se soltar de Hunter.

— Nada, exceto o fato de que fico mais lá do que na minha. Aliás, eu é quem deveria fazer essa pergunta. - ele fechou o cenho, fazendo a conhecida marca de expressão entre as suas sobrancelhas aparecer. - Você nunca vai lá, a não ser que mais pessoas estejam com a gente.

Natalie o olhou surpresa após aquela declaração. Nunca havia prestado atenção em tal fato. Sequer havia dormido na casa dele. Parecia sempre tão prático simplesmente ir para o apartamento dela e de Anna…!

— É verdade. - a garota de sardas concordou, apoiando a mão no queixo, pensativa.

Hunter deu um sorriso maroto, enchendo o pescoço dela de beijos.

— Então o que acha de mudarmos isso e “avançarmos” para a próxima fase? - ele falou com a boca colada no pescoço de Natalie, fazendo com que a sua voz saísse abafada e o ar provocasse cócegas nela.

— Próxima fase… - ela repetiu enquanto se contorcia de cócegas e afastava o rosto de Hunter. - Sempre tem imprensa rondando o seu prédio.

O rapaz a observou pegar o notebook para guardar na mochila.

— Podemos dar a volta e acessar o prédio pelo outro lado do estacionamento… Não acho que alguém vá nos ver. Mas se verem, também… Quem se importa?

Natalie o olhou surpresa por cima do ombro, já que estava de costas para ele. Viu-o dar um sorriso acanhado apenas com os lábios, deixando as covinhas da bochecha à mostra.

— Achei que quisesse deixar as coisas fluírem naturalmente… - ela jogou a mochila nas costas enquanto seguiam para fora da sala que ela sempre ficava quando queria trabalhar sozinha.

— E não é o que estamos fazendo? - ele usou um tom um tanto quanto mandão, como se o que estivesse falando fosse óbvio, fazendo Natalie rolar os olhos. Os dois adoravam se provocar em homenagem aos “velhos” tempos. - C’mon, Freckles. Prometo que faço pipoca e deixo você escolher uma série pra começarmos a assistir juntos. - ele a segurou pelos ombros, como se a guiasse na sua frente.

Natalie parou de andar no mesmo instante, fazendo-o tropeçar nela. Olhou-o com olhos estreitados.

— Hm, te interessou? - Hunter a olhou com satisfação, levantando as sobrancelhas.

— Talvez… - Natalie usou um tom casual, como se o que Hunter tivesse dito não tivesse tanta importância, o que o fez gargalhar. - Séries adolescentes estão inclusas? - viu-o fazer careta antes de assentir. - Fechado.

Hunter lhe deu um selinho antes de voltarem a caminhar. Já estavam quase saindo quando Paul, um dos produtores que comandavam a mesa de controle do estúdio apareceu.

— H. - ele o chamou, fazendo o casal parar para olhá-lo. - Pode só dar uma olhada em uma parada daquela faixa?

Natalie os encarou desconfiada quando percebeu que Paul estava se comunicando por códigos.

— Algo de errado? - Hunter pareceu preocupar-se.

— Não, cara, relaxa. Só acho que consegui resolver o que você não tava curtindo. Achei que quisesse ver como ficou.

Hunter olhou para Natalie com certa ansiedade.

— Você não quer descer e me esperar lá embaixo? - ele puxou a carteira do bolso de trás da calça e entregou uma nota de 50 dólares a Natalie. - Compra um café pra gente enquanto isso. Prometo que não vai demorar.

Natalie rolou os olhos enquanto se virava para sair dali.

— Só não vou reclamar porque tem café na história…


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Notas finais do capítulo

QUE RECONCILIAÇÃO MAIS MARAVILHOSAAAAA. Não sei vocês, mas eu não via a HORA desse momento chegar. Nanna não pode se separar mais desse jeito não, minha gente, não consigo. Mas acho que acabou sendo om, no final das contas. Serviu para que as duas pudessem olhar para dentro e se analisarem um pouquinho, né? Adorei como a Anna conseguiu se perceber e como a Natalie entendeu toda aquela situação como um crescimento. A vida é isso, né?

Agora uma pausa para esse pequeno momento "AWWWW" entre Natalie e Hunter, porque né. Precisamos celebrar cada cena entre eles, gente! Não imaginei que a química fosse rolar tão bem assim entre eles quando se acertassem! Mas vou te dizer que esse mistério todo sobre as faixas do álbum me deixa MALUCA, e vocês?

Olhaqui, vamo pro grupo? É sempre maior maneiro por lá, nunca pedi nada procês ♥

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