Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 63
Capítulo Sessenta e Três


Notas iniciais do capítulo

Respirem fundo e contenham a vontade de querer a morte do Hunter para sempre! ♥



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Depois do show, os garotos votaram por jantar em um diner da região, mas Natalie logo dispensou o convite. Queria voltar para o hotel o quanto antes, pois estava ansiosa para começar a dar forma à proposta que exibiria à equipe da banda.

Aproveitou que não tinha ninguém no apartamento e decidiu usar a sala como ambiente de trabalho. Trouxe o notebook e se aconchegou no tapete felpudo, encostando-se no sofá e utilizando a mesinha de centro como apoio.

Após cerca de uma hora assustou-se quando ouviu alguém destrancar a porta de entrada. Fechou a tampa do notebook no mesmo instante enquanto viu o rapaz de cabelos loiros adentrar a sala. Nunca o havia visto tão sério antes. Olhou por cima do ombro dele à procura dos outros três, mas não havia mais ninguém.

— Ué! Voltou cedo... Cade os meninos?

Hans parou perto do sofá. Natalie notou que o irlandês não estava apenas sério, mas também irritado. Ele parecia estar respirando lenta e profundamente para voltar aos eixos. Seus olhos azuis pareciam gelo cortante.

— Estava cansado e resolvi voltar mais cedo. – os pés de Hans estavam inquietos e ele os mexia incomodamente como se quisesse sair dali.

Natalie o observou por alguns instantes.

— Hans. – ela o chamou com firmeza, fazendo-o encará-la. – O que você tem? – viu o loiro cruzar a sala e sentar-se no sofá, ficando na sua diagonal. – Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu.

 

** INÍCIO DO FLASHBACK **

 

Os integrantes da Elite Four estavam reunidos em um diner relativamente próximo do hotel no qual estavam hospedados. Havia tempos eles não desfrutavam de um ambiente como aquele e aproveitaram a oportunidade do pouco movimento no local.

Estavam conversando animadamente sobre as ideias que estavam tendo para a composição das letras para o novo álbum. Luke estava contando um pouco sobre a letra na qual estava trabalhando.

— Estou com ela quase pronta, mas parece que falta algo. Eu não queria mostrar à vocês até que estivesse finalizada para depois mudarmos alguns detalhes. – Luke comentou enquanto colocava algumas batatinhas na boca.

— Hm... – Hans fez menção de falar mas preferiu terminar de mastigar o pedaço de berinjela à parmegiana. – Sabe quem poderia te ajudar com isso? A Natalie! Ela tem tato pra poesia, crônicas... Talvez uma opinião de fora acabe valendo à pena.

Hunter soltou o ar de uma maneira um tanto quanto debochada.

— Boa! – Luke pareceu animado com a sugestão do irlandês. – Além disso, uma opinião feminina é sempre bem-vinda.

— Que bonitinho! O Irish é um namorado tão atencioso e dedicado, não acham? – Hunter não conseguiu conter a acidez de sua língua. – Pena que não dá pra dizer o mesmo dele como amigo.

— H, chega disso. – Thomas pediu sinceramente enquanto Luke e Hans o fitavam desconfortáveis.

— É impressionante como o Hans faz cagada e todo mundo faz uma vista grossa do caralho. Mas se eu faço algo errado todo mundo quer comer meu cu.

— Olha, cara... Chega, tá legal? – Hans estava tão cansado daquela situação que não demorou nem um pouco para que se irritasse, o que era bem incomum. – Todo mundo sempre releva as bostas que você fala, só que ultimamente isso tem se tornado cada vez mais insustentável. Por que você não experimenta dar uma voto de confiança às pessoas, só pra variar?

— Lembra o que aconteceu da última vez que eu dei?

— Não misture as coisas! A Natalie e a Stacey não têm nada a ver e você sabe muito bem disso.

— Suponho que você saiba ainda melhor, não é? – Hunter bateu com o copo de cerveja que estava tomando com força sobre a mesa. A ira tomava conta de seus olhos penetrantes enquanto ele encarava Hans do outro lado da mesa.

— Será que dá pra você me ouvir, caralho?! A Natalie e eu...

— Eu quero mais é que vocês dois se FODAM. – Hunter vociferou antes de se levantar e quase ir para cima de Hans, não fosse Luke, que o segurou com força pela camiseta. – Me larga, porra. Não vou bater nesse meio-quilo, não. – ele se desvencilhou de Luke, ajeitando a camiseta. – Cansei dessa merda.

Hunter jogou o dinheiro do seu pedido sobre a mesa, puxou a jaqueta que havia colocado ao seu lado no banco e foi em direção da saída, empurrando a porta de vidro com violência.

 

** FIM DO FLASHBACK **

 

Natalie ficou em estado de choque enquanto tentava absorver o que Hans havia acabado de narrar. Era um misto de sentimentos que nem mesmo ela era capaz de decifrá-los. Não sabia se abraçava Hans, o consolava e pedia um milhão de desculpas por envolvê-lo naquela situação completamente absurda e desnecessária... Se socava Hunter até ele perder a consciência por ser um ogro que não escuta ninguém... Ou se socava a si mesma por se permitir passar por aquilo. O pai de Natalie costumava lhe dizer que as pessoas só sofrem por determinadas coisas porque se permitem sofrer. E no fundo ele tinha razão. Só não soube dizer em que momento ela se deixou sofrer por um cara tão intragável como Hunter Saxton.

Considerou a segunda opção de socar Hunter ao vê-lo adentrar o apartamento. Se levantou no mesmo instante, concentrada em barrar a passagem do rapaz.

— O que acha de você e eu batermos um papinho? – Natalie se posicionou com imponência na frente de um Hunter impaciente. Este deu alguns passos para trás, passando a língua pelos lábios. (GIF)

— Foi mal, mas não vai rolar. – ele respondeu em um tom calmo, mas que Natalie classificaria como cínico.

— Ah, mas vai rolar, sim. Já tô de saco cheio de você criando caso onde não tem. Isso já tá ridículo.

— Você tá de saco cheio? Ótimo, porque eu também tô. Então vamos fazer um favor, um ao outro? Eu não me meto mais na sua vida e você não se mete mais na minha. Estamos de acordo?

Natalie sequer conseguiu responder, pois sua atenção – e também a de Hans – se voltou à porta que se fechava. Uma moça de cabelos castanhos compridos e escuros e um corpo de dar inveja se aproximou de Hunter.

— Quem é essa? – a voz de Natalie ficou por um fio.

— Você agora é fiscal de foda? – seu tom era mais rude do que nunca. - Se eu bem entendi, nunca fomos exclusivos. A diferença é que eu não fui tão baixo a ponto de pegar uma amiga sua, não é?

Hunter mal conseguiu terminar a frase. Natalie acertou-lhe uma bofetada no rosto, e ele sentiu a ardência quase que instantaneamente. Hans e a moça ficaram imóveis, tamanho o espanto.

Hunter sentiu uma fúria lhe consumir. Seu rosto queimava no local em que a castanha havia lhe acertado. Ele ficou paralisado por alguns milésimos de segundos, o rosto ainda virado para o lado atingido. Pensou em xingá-la de tudo que era nome, mas quando voltou a encarar Natalie, todo o seu mundo caiu. Viu lágrimas escorrerem soberanamente pelo rosto alvo da garota de sardas. Se tinha uma coisa que ele havia descoberto naquele curto período de tempo em que se conheciam... Era que ele odiava ser a causa das lágrimas dela. Teve certeza daquele fato quando a viu chorar depois que ele a humilhou por ter se atrasado para o show há um mês atrás.

Queria abraçá-la, queria pedir desculpas, queria consolá-la. Fez menção de se aproximar, mas ela não lhe deu essa chance.

— Vai pro inferno. (GIF) – Natalie falou com a voz embargada antes sair dali. Andou o mais rápido que pôde na direção das escadas, tentando ao máximo segurar aquelas malditas lágrimas desobedientes.

Hans olhou Hunter de cima a baixo com desgosto.

— Escroto. – ele praticamente cuspiu a palavra antes de ir atrás de Natalie, subindo as escadas.

 

**

 

Natalie mal havia fechado a porta atrás de si e ela já foi aberta novamente por Hans. O loiro foi até a amiga e a tomou nos braços, amparando-a. A garota retribuiu o gesto, abraçando-o com toda a força que lhe restara depois de dissipar a sua raiva com o tapa na cara de Hunter. Ela estava focada em tentar controlar a respiração descompassada, a fim de cessar o choro.

— Por que ele é idiota assim? – A voz de Natalie estava abafada, pois esta escondia o rosto no tórax de Hans.

— Esse é mais um mistério dos sete mares... – Hans respondeu baixinho enquanto alisava o cabelo da castanha. – Escuta, não fica assim. Não vale as suas lágrimas.

— O pior é que eu sei disso... – Quando Natalie começou a se acalmar, soltou Hans lentamente. O garoto notou que o nariz dela havia ganhado uma coloração avermelhada devido ao choro. – Eu só não consigo entender como uma pessoa pode ser tão instável, tão inescrupuloso. Não acredito que ele... – a castanha interrompeu a si mesma quando teve de conter um soluço. – Aquela garota!

— Ok. – Hans falou com tanta firmeza que chegou a assustar Natalie. – É o seguinte, Natalie. O Hunter é um idiota e não há nada que a gente possa fazer sobre isso. Ou sobre a garota que ele trouxe com ele. – a garota de sardas escondeu os lábios, sentida. – Você tem duas opções: você pode juntar as suas coisas agora e voltar pra New York... E nunca mais ser obrigada a ver o Hunter na sua frente. Ou você pode encher a cara comigo, aguentar eu cantar a noite inteira e amanhã fazer o seu projeto, que a propósito tô louco pra ver. – Hans limpou a marca das lágrimas no rosto da castanha. – Não deixa o Hunter te destruir como ele destruiu as outras. Você é muito mais forte do que qualquer outra.

Natalie encarou o irlandês por alguns instantes. Ele tinha toda a razão. Nada poderia ser feito quanto a Hunter, mas muito poderia ser feito quanto a ela mesma. Aquela viagem podia ser por conta do trabalho com a Elite Four, mas era principalmente por causa dela mesma, Natalie Kalkmann. Era sobre crescimento profissional e pessoal. Era sobre vencer obstáculos e aprender a lidar com as dificuldades nos mais diferentes cenários. E não era Hunter Saxton ou qualquer outro idiota que iria pará-la. Se Izaac não a parou, nada mais o faria.

— Pega uma bebida e um violão, Irish.

 

**

 

A mente de Hunter era insana e um tanto quanto anti-sabotadora. Se algo dava errado e o deixava infeliz, ele simplesmente bloqueava aquele contratempo e se distraía com algo. Ou alguém.

E foi justamente o que ele fez para reprimir a frustração e o fracasso de ter acabado com toda e qualquer última chance que ele tinha com Natalie: se distrair com alguém.

Sabia pouco sobre Karen. Ou como ele costumava dizer, “o suficiente considerando a finalidade”, ou seja... O suficiente para a mulher estar em sua cama seminua.

Deixou Karen colocar-se sobre ele, enquanto ele beijava-lhe o colo dos seios protegidos pelo sutiã e suas mãos se ocupavam nas coxas dela. A mulher roçou o corpo no dele em resposta, arfando com desejo.

Hunter segurou-a firmemente para rolar na cama com maestria e ficar sobre ela, tomando-lhe os lábios em um beijo quente e um tanto quanto desesperado. Teceu um caminho de beijos e chupões até a barriga da moça, que arqueava o corpo.

Estava extasiado, sedento. Para Hunter não havia nada melhor do que esquecer dos problemas com uma boa noite de sexo.  Quem precisava de Natalie, afinal?

Sentiu Karen afundar os dedos em seus cabelos e viu-se na obrigação de voltar a beijá-la na barriga, criado um caminho até a boca. Fez o mesmo caminho passando pelo pescoço e sentiu o familiar cheiro do sabonete de baunilha que Natalie curiosamente também usava. Ignorou aquele mero detalhe. “Muitas pessoas usam sabonete de baunilha.” Focou-se em chegar aos lábios de... Natalie?!

Hunter caiu para trás na cama, quase tendo um mal súbito. Olhou atenciosamente para a mulher deitada ali para se certificar de que era Karen, e não Natalie.

— Tá tudo bem, docinho? – a morena também se sentou. Olhou Hunter com um semblante um tanto quanto preocupado.

Hunter a olhou mais uns segundos, ainda meio atordoado com a peça que a sua mente havia acabado de lhe pregar.

— Tá tudo ótimo. – ele respondeu colando os lábios nos dela e depois beijando-lhe o pescoço novamente. – E vai ficar ainda melhor, quer ver?

Hunter terminou de arrancar as últimas peças de roupa que a mulher estava usando enquanto suas mãos passeavam por todo o corpo dela com certa volúpia. Ele estava prestes a se encaixar entre as pernas de Karen quando ouviu o conhecido som da risada de Natalie no quarto ao lado, e ela se misturava com a voz de seu amigo irlandês. Depois deu-se conta de que o quarto ao lado não era o de Natalie. “Ela. Está. No. Quarto. De Hans... Com. O. Hans!” Foi tudo o que a sua mente foi capaz de raciocinar.

Enquanto acariciava Karen, sua mente criava flashes de Hans e Natalie juntos no quarto ao lado, na cama. E na sua imaginação, eles seguiam exatamente as mesmas ações que ele e Karen.

Saiu completamente do torpor e do clima que havia criado com a mulher. Toda a sua excitação havia evaporado. Se afastou de Karen bruscamente, levantando-se da cama.

— O que foi? – a morena o olhou sem entender absolutamente nada. Assistiu Hunter alcançar a cueca boxer que estava no chão para vesti-la. – Fiz algo de errado? Toquei em algum lugar que não gosta?

— N-não, não tem nada a ver com você, Karly... É que...

— Karen. – ela o corrigiu, levemente ofendida.

— É só que meu empresário anda marcando muito em cima... – Hunter sequer olhava para ela. Estava preocupado em se vestir o mais rápido possível. – E se ele souber que eu trouxe alguém pro apartamento que estou dividindo com a banda... Vai ser foda.

— Mas você disse que não tinha problema. – Karen se pôs a colocar o seu vestido quando Hunter o jogou sobre ela na cama. Estava atônita.

— Pois é, mas na verdade tem... Eu... Eu te ligo, pode ser? – o castanho jogou os cabelos que lhe caíam nos olhos para trás. A morena assentiu sem entender nada. – Sabe onde fica a saída, né?

 

**

 

No way! Não acredito que é a Serena Gallo! – Natalie exclamou rindo e escondendo o rosto no travesseiro da cama do loiro.

— Ora, por quê? Acha que não sou capaz de ficar com garotas bonitas? – Hans acompanhou-a nas risadas.

— Claro que não, não fale bobagens! – Natalie deu mais um longo gole do whisky que Hans havia achado na sala de jantar. Jogou o travesseiro na perna dele. – Se eu pudesse mandar no meu coração, teria escolhido me apaixonar por você.

— Aww, isso foi fofo. – Hans gargalhou, jogando o corpo para trás. – Mas também é trágico. – Natalie o olhou confusa. – Porque você praticamente acabou de admitir que está apaixonada pelo Hunter. 

— É... Que merda. – ela constatou, rindo em seguida. Já estava levemente alterada. (GIF)

— Então quer dizer que você escolheria se apaixonar por mim? – Hans quis deixá-la sem graça.

— Irish, cala a boca e toca esse violão, vai. Assim você me impede de falar mais merda. – Natalie se levantou para pegar a garrafa, já que ela tinha terminado a dose de seu copo.

Hans riu e pegou o violão que ele já havia deixado separado. Ele tocou alguns acordes aleatórios, dedilhando as cordas.

— Certo. O que você quer que eu toque?

— O que você quiser tocar, oras.

— Não, não é assim que funciona. Você tem que escolher.

— Toca qualquer coisa, cacete. – Os dois se entreolharam e começaram a rir enquanto ela tomava um pequeno gole do gargalo. – Toca algo irlandês aí, vai. Em homenagem aos meus velhos e curtos tempos em Dublin.

Hans tocou uma música animada que Natalie não fazia a menor ideia de qual era, mas tinha certeza que pelo ritmo, era tipicamente gaélica. Começou a dançar com a garrafa na mão como se estivesse em uma balada, e aquilo fez Hans cair na risada. (GIF)

— Qual o problema? – ela fingiu estar ofendida.

— Nenhum! – ele tentou se proteger quando Natalie lhe deu alguns tapas.

— Vou te acertar essa garrafa, Leprechaun.

— Isso não é justo. Eu sou o seu atual motivo de felicidade. – Hans argumentou, colocando o violão de lado enquanto segurava o riso.

— Errado. O atual motivo da minha felicidade neste momento é esta garrafa. – Natalie deu um beijinho na garrafa de vidro.

— Ok. Fair enough. — Hans deu de ombros, dando-se por vencido.

Natalie sorriu vitoriosa, piscando para o amigo em seguida. Era bom ocultar os sentimentos de vez em quando com um pouco de álcool no sangue. Ficou grata por não ser o tipo de pessoa que fica sentimental e depressiva quando bebe.

Estava feliz de ter Hans ao seu lado naquele momento. Nunca imaginou que o loiro é quem lhe daria o ombro para chorar - ou que um dia Hunter se tornaria o motivo de suas lágrimas. Procurou ignorar aquele “pequeno” detalhe quando ouviu a porta do quarto de Hans se abrir.

Ao virar-se, viu Hunter Saxton entrar sem nem pedir licença. Exatamente da mesma maneira que havia feito com o seu coração.


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Notas finais do capítulo

AI AI AI. O que foi esse capítulo, meus amigos? Podem mandar a ver nos comentários porque esse merece toda a revolta de vocês!

Ainda bem que a Natalie tem um Hans, né, gentis? PORQUE CONTAR COM O HUNTER TÁ MEIO DIFÍCIL, não é meixmo? Só por Deus...

Ah, regrinha básica: vem pra família Defenceless ♥ https://www.facebook.com/groups/1789592861331239/