Lost Boy – Ruth B.

Natalie empurrou o portão de saída do Madison Square Garden com uma força tão descomunal que até ela duvidou que possuía. Sentiu o vento intenso e gelado vir de encontro com o seu rosto, jogando seus cabelos compridos contra seus ombros.

Respirou fundo algumas vezes, tentando se recompor do stress que havia acabado de passar.

“Nojento”, ela pensou enquanto os olhos incrivelmente verdes e mais claros que ela já havia visto assombravam a sua mente. Fechou os olhos e levantou o rosto, sentindo o ar gelado e desejando que ele corrompesse seus pensamentos.

Não conseguia acreditar na sequência dos acontecimentos em sua vida nas últimas três horas. Não acreditava nos olhares que havia trocado com Hunter Saxton durante o show. E acreditava ainda menos que o cara era um completo babaca que só se importava em ter mais uma fã na lista de transas dele. Soltou um muxoxo irritado e foi em direção ao estacionamento.

Puxou o celular do bolso e conferiu o horário. 10:57 p.m.

Desbloqueou a tela e acessou as mensagens, procurando pelo nome de Georgia. Os dedos mexeram rapidamente, digitando no vidro.

Vou buscar o carro no estacionamento. Me avisa quando estiver de saída.

**

Georgia ficou encarando a porta pela qual Natalie havia acabado de sair completamente confusa.

— O que foi isso? – ela perguntou mais para si mesma do que para os rapazes da banda.

— Bom, você ouviu o que ela disse... – começou Hunter, levantando os ombros casualmente. – Não estava se sentindo muito bem.

— E depois ela fala que era eu quem não deveria passar mal na frente de vocês... Sabia que ela era fã. – a garota começou, debochando.

Hunter deu um sorriso torto. Quando olhou os companheiros de banda, percebeu que todos lhe lançavam olhares sugestivos e sérios, como se o repreendesse. Ele jogou o cabelo para trás com as mãos e levantou as sobrancelhas em resposta.

— Então, Georgia... Não quer tirar as fotos? – Hans começou, chamando a atenção da garota com a mão no ombro dela, indicando para irem para o outro lado do camarim com Thomas.

Luke esperou que o trio se afastasse consideravelmente antes de voltar seu olhar para Hunter.

— Você foi um idiota com a garota.

— Bom, ela foi idiota comigo primeiro. – Hunter cruzou os braços.

— Mas é você quem tem uma reputação a zelar, H. Você é uma figura pública.

— Vai começar com essa putaria de reputação de novo, Luke? – o castanho soltou o ar levemente irritado. – Você sabe que eu cago pra essas coisas.

— Pois não deveria. Já imaginou se ela resolve soltar na imprensa o tratamento que recebeu de você? – Luke jogou o peso do próprio corpo sobre a perna esquerda, encarando o amigo. – Aliás, ela é da imprensa, não sei se você parou pra pensar nisso em algum momento enquanto estava sendo um escroto.

— E em quem você acha que vão acreditar? Sempre tratei minhas fãs muito bem. As pequenas... E as grandinhas. – ele riu do próprio comentário. Adorava provocar Luke com inconveniências. Luke torceu o rosto, inconformado, o que o fez rir. – Qual é, Luks... Relaxa, vai. – ele chacoalhou Luke pelo ombro fracamente. – É brincadeira, esquece isso. Juro que não faço mais.

— Aham...

Hans e Thomas voltaram com Georgia.

— Pessoal, será que podemos tirar uma foto todos juntos com a Georgia? Ela precisa ir. – Hans chamou.

— É, a Natalie me mandou uma mensagem... Já está à minha espera. – a garota completou.

— Mandou, é? – Hunter sorriu como se uma ideia começasse a brotar em sua mente. Se aproximou da fã junto de Luke. – Escuta, Georgia... Será que poderia me passar o número da... Natalie, né?

Georgia encarou o cantor por alguns segundos, hesitante. Depois passou seus olhos azuis por todos os outros integrantes.

— O-olha, eu não sei se é uma boa ideia. Acho que a Natalie é capaz de me matar. – ela mordeu o lábio inferior levemente envergonhada.

— Pode ser um segredo nosso. – Hunter apoiou as mãos nos joelhos para ficar na altura dos olhos de Georgia, sorrindo docemente. – Se ela te acusar, você nega até a morte, que tal?

Thomas conteve o riso enquanto Hans tampava o rosto, impaciente com a atitude do castanho. Luke desviou o olhar.

— Hm... – ela encarou os olhos verdes do ídolo.

**

— Desculpa a demora! – era Georgia quem adentrava o carro e se sentava no banco do passageiro. – Estava tirando fotos com eles.

— Sem problemas... – Natalie respondeu com a cabeça apoiada no encosto sem nem encarar a menina.

A loirinha afivelou o cinto e encarou Natalie por alguns segundos.

— Tá tudo bem? Você tá melhor?

— Melhor? – a castanha finalmente encarou Georgia com uma expressão confusa.

— Você tinha dito que não estava passando bem.

— Ah, é, é verdade. – ela respirou fundo enquanto ligava o carro para dar partida. – Estou sim. Só precisava de um pouco de ar puro, mesmo.

— Você não gostou do Hunter? – Georgia perguntou insegura.

Natalie suspirou pesadamente e demorou alguns segundos para responder. Era como se ela procurasse as palavras certas.

— Digamos que ele não é o cara mais legal do mundo pra mim... – ela deu um sorriso fraco enquanto continuava a dirigir. – Por que a pergunta?

— Nada! – a loirinha respondeu de maneira rápida e pronta, sem sequer olhar para Natalie. – É só que...

A garota parecia hesitar, e Natalie estranhou.

— “Só que” o quê? – tentou encorajá-la.

— Hm... Não, nada mesmo! – Georgia ligou o rádio do carro e configurou para a setlist que estava tocando horas antes do show. A conhecida voz de Hunter tomou conta do lugar.

— Ah, pelo amor de Deus, Georgia, não aguento mais esses caras. Vamos mudar um pouquinho pra variar? – Natalie mudou para a rádio do carro.

Georgia não contra argumentou. Muita coisa havia acontecido naquela noite e ela ainda não estava conseguindo processar todas as informações. Tentou fazer um resumo mental: conseguiu uma permissão para acompanhante de imprensa, entrou no camarim da Elite Four, conseguiu autógrafos e mais de dez fotos ao lado dos ídolos... E passou o número do celular de Natalie para Hunter Saxton. Seu coração acelerou só de pensar no que a moça faria se sonhasse com aquilo. Conhecia Natalie o suficiente para saber que ela odiava quando faziam algo pelas suas costas.

Observou a castanha pelo canto do olho e pensou no quanto ela era sortuda. Todas as fãs que lotaram o Madison Square Garden dariam até um rim para que Hunter Saxton pedisse o número delas. Todas, menos Natalie Kalkmann. Talvez fosse charme...

“Quer saber de uma coisa? No final das contas ela vai é me agradecer!”, conteve um sorriso.