Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 54
Capítulo Cinquenta e Quatro


Notas iniciais do capítulo

Gente, hora do romance! ♥



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Se não fosse absurdo demais, Natalie e Hunter poderiam afirmar que eram capazes de escutar a batida acelerada do coração do outro através do arco. Mas sabiam que aquilo era demais até mesmo para uma construção tão peculiar e fantástica como aquela.

Hunter continuou com os dois braços estendidos, apoiados em cada lado do canto da parede, à espera da resposta da garota de sardas. Mesmo sem olhar para trás, conseguia imaginá-la atônita, pensando no que falar. Imaginou-a abrindo a boca várias vezes seguidas, fazendo menção de balbuciar qualquer coisa, e continuou tenso, na expectativa do que poderia ser transmitido por ela através daquelas paredes tão cheia de segredos.

A sensação foi interrompida quando uma mão tocou o ombro de Hunter. Assustado, no mesmo instante ele puxou os óculos do bolso do moletom e os colocou no rosto. Abaixou a cabeça e olhou por cima do próprio ombro cuidadosamente, vendo um homem de meia-idade.

— Será que podemos? – ele pediu educadamente.

— Claro. Desculpe a demora! – Hunter deu um sorriso fraco com os lábios, assentindo com a cabeça. Afastou-se, indo em direção de Natalie, que também se locomovia. Colocou as mãos nos bolsos quando se aproximou dela. A garota mal o olhava nos olhos, pois estava visivelmente com vergonha. – Parece que fomos expulsos.

Shit happens. – ela comentou, risonha. – Pelo menos conseguimos ter uma boa experiência.

— Uma ótima experiência. – ele frisou enquanto começavam a andar. Ela sorriu enquanto o seguia.

 

**

 

Hunter e Natalie explorarem cada parte da estação (desde estudar as constelações do teto, até passear na The Grand Central Market). O castanho nunca havia tido a oportunidade de conhecer o lugar por inteiro, pois das duas únicas vezes em que havia estado lá, veio com os garotos para uma aparição pública – o que obviamente os impossibilitou de fazer qualquer outra coisa.

Quando alcançaram as portas laterais pelas quais haviam entrado mais cedo, já eram quase dez horas da noite. Era incrível como o tempo passava quando estavam juntos. Hunter odiou a sensação que teve ao pensar em ter de se separar dela.

— Para tudo! – ele ouviu Natalie o chamar quando ainda estavam na esquina, na frente das portas. Ela o puxou novamente pela manga do moletom. Realmente gostava quando ela fazia aquilo. Conteve o riso para olhá-la. Agora era um pouco mais difícil, pois já havia anoitecido e ele ainda usava os óculos escuros para não ser reconhecido, além do boné. – Tem uma última coisa que precisamos fazer antes de irmos. – os olhos dela transbordavam animação.

— O quê?

O castanho acompanhou o olhar dela por cima de seu próprio ombro. Quando se virou, viu um carrinho de comida consideravelmente grande bem atrás dele.

— Esse é um dos melhores cachorros-quentes que eu já comi em New York. E olha que eu não sou muito fã de cachorro-quente americano. Nada bate o do Brasil. – a garota comentou, passando por ele para alcançar o dono do carrinho.

Hunter a olhou risonho e um tanto surpreso. Quando Natalie se virou para dizer alguma coisa, reparou que o rapaz havia ficado em silêncio.

— Que foi? Não vai me dizer que é vegetariano, porque você pediu uma costela hoje à tarde. – Natalie levantou as sobrancelhas.

— Não viaja, garota! – ele riu, se aproximando.

— Então...?

— Estava só pensando qual foi a última vez que eu comi um cachorro-quente de um carrinho assim, na rua. – ele levantou os ombros, um pouco envergonhado com a confissão.

— Oh... E quando foi? – ela perguntou enquanto esperavam a vez deles na pequena fila.

— Bom... Foi bem antes da banda, na Inglaterra.

Natalie arregalou os olhos e deixou a boca ganhar o formato de “o”.

Get out of this city!— ela gritou, surpresa. Depois tampou a boca, um pouco sem graça com a própria reação. Olhou para os lados, rindo em seguida, junto com ele. – Você tá falando sério?

— Acha que eu ia contar algo escroto assim se não fosse verdade?

— É, você tem um ponto. – ela meneou a cabeça. – Que absurdo, gente. Mas não tem problema... – se aproximaram da bancada. – Vamos resolver isso JÁ.

 

**

 

A risada dos dois preencheu o carro no mesmo instante em que o adentraram.

— Qual o seu problema? – Hunter perguntou entre risos enquanto depositava os óculos no console e ligava o carro. Em seguida, jogou o boné no acento de trás.

— Eu quem pergunto! Você fez a maior lambança pra comer a porcaria de um cachorro-quente! Quase acabou com todos os guardanapos do moço! – Natalie ria tanto que mal conseguia se concentrar para afivelar o próprio cinto.

— Eu disse que fazia tempo que eu não comia cachorro-quente! – ele respondeu quase gritando, tirando o carro da vaga.

— E daí? Se as pessoas passam anos sem andar de bicicleta e ainda sabem andar... o que dirá comer um cachorro-quente! Francamente, Hunter, isso não é desculpa. – a risada deles se misturou novamente. Natalie tomou a liberdade de alcançar o iPod plugado no carro.

Hunter a olhou disfarçadamente e deixou um sorriso maroto lhe escapar. Era incrível como se sentiam cada vez mais à vontade na presença do outro. Em uma outra ocasião, ele provavelmente teria reclamado por ela se atrever a mexer no rádio. Mas o que ele poderia dizer depois da garota já ter até dirigido o seu carro? Era incrível como ele ficava desarmado ao lado de Natalie e como ela conseguia lhe arrancar qualquer coisa com tanta facilidade. Estava cada vez mais difícil dizer não para aquela sardenta.

— Hey... você tem alguma coisa pra fazer agora? – Hunter perguntou de sobressalto, até estranhando o quão alto sua voz havia saído.

— Ahn, n-não... – Natalie ficou surpresa com a pergunta dele. Tratou de disfarçar, fingindo que sua atenção estava mais voltada ao iPod em suas mãos. – Por quê?

— Ah... eu... sei lá. Já que você me mostrou seu lugar favorito, eu pensei que talvez... fosse legal te mostrar o meu lugar favorito também. – Natalie levantou os olhos cor de mel para prestar atenção no rapaz, que passava a mão pela boca e balançava os ombros enquanto falava. Parecia um pouco ansioso.

Ela sorriu, abobada. Apertou os olhos minimamente, ainda não acreditando que aquele dia estava realmente acontecendo.

— Claro... por que não? (GIF)

Hunter não conseguiu esconder o quanto havia ficado alegre com a resposta dela. Lançou-lhe um olhar rápido, sorrindo.

Cool.

Natalie riu timidamente e voltou sua atenção para o iPod. Quase deu um pulo ao encontrar uma música.

— Mentira. Que você. Tem. Essa música! – ela exclamou, rindo.

— Vai começar a me julgar? – ele torceu a cara, rindo fracamente.

— JAMAIS! – a garota selecionou a música no mesmo instante e aumentou o volume antes mesmo dela começar.

 

Call Me Maybe – Carly Era Jepsen

 

Hunter jogou sua cabeça para trás no mesmo instante, rindo descontroladamente.

— Eu AMO essa música! – Natalie exclamou, se ajeitando no banco do carro. – Aquele vídeo viral dos meninos de Harvard... Meu favorito EVER!

— Eu os moleques sempre dançamos essa música na van. – ele comentou divertidamente.

— Então vai dançar comigo AGORA. – Hunter não conseguia parar de rir. Natalie parecia uma criança animada por estar ouvindo a música favorita no carro.

Quando o refrão começou, a garota começou a balançar os braços no ar, fazendo a coreografia idêntica ao do vídeo que ela havia citado. (N/A: para quem não se lembra ou não sabe do que se trata, eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=eEWVwgDnuzE)

— Hunter, não me desaponte! – Natalie exclamou.

O rapaz começou a fazer a coreografia apenas com uma mão, pois não podia largar o volante. Os dois riam de maneira cúmplice. Vez ou outra se encaravam, gargalhando enquanto o outro dançava, criando outras coreografias enquanto a esperada parte do refrão não chegava novamente.

Hey, I just met you! And this is crazy!— Natalie começou a cantar. Hunter não pensou duas vezes antes de se juntar a ela. Os dois cantaram juntos. – But here’s my number, so call me maybe! It’s hard to look right at you baaaaby!­— Natalie começou a gargalhar enquanto Hunter continuou sozinho. – But here’s my number, so call me maybe!

Hunter seguiu a placa que indicava a estrada I-495 enquanto os dois cantavam e dançavam animadamente entre risos.

 

**

 

Natalie olhou atenciosamente pela janela fechada do carro enquanto passavam por um portão de ferro. O lugar era mal iluminado e tudo o que ela conseguia enxergar era graças ao farol alto do carro. Sentiu um certo frio na barriga. Já havia estado lá, e teve certeza quando viu uma plaquinha logo na entrada do estacionamento ao ar livre com a escrita “Fort Totten Park”.

— Acho que você já deve conhecer esse lugar... – parecia que Hunter havia lido seus pensamentos.

— Na verdade, eu vim aqui duas vezes... mas nunca à noite. – a garota respondeu enquanto ambos desafivelavam os cintos.

— Então prepare-se pra uma das melhores vistas, sério. – ele deu um sorriso fraco que ela prontamente correspondeu. – Aqui é bem frio... eu tenho uma blusa de moletom extra no banco de trás... – falou com dificuldade, pois se esticou para puxar a blusa a qual ele se referia no assento de trás do carro.

Quando a cabeça de Natalie passou pela gola do moletom de capuz, sentiu o conhecido perfume amadeirado de Hunter. Ficou extasiada com o aroma enquanto puxava os longos cabelos para fora da blusa.

Hunter estava certo. Assim que desceram do carro, sentiram o vento forte lhes atravessar. Natalie agradeceu a ele mentalmente por ter uma blusa extra no carro. Do contrário estaria congelando, pois aquele local era bem mais frio, e tinha um motivo para isso.

Estavam no cais de pesca do Fort Totten Park, no Queens. Seguindo pelo estacionamento, havia uma pequena área gramada. Logo após, uma passagem entre o matagal que levava ao caminho de rochas que se estendia ao longe, no meio do rio que cortava a cidade. O lugar era bem frequentado no verão, onde os nova-iorquinos vinham para tomar sol, nadar e até pescar. Porém, no outono e no inverno, era pouco visitado, especialmente naquela hora da noite.

De onde estavam já pôde confirmar o que Hunter quis dizer com “uma das melhores vistas”. O caminho de rochas apontava para uma ponte que ela não saberia dizer o nome, mas que assim como a Brooklyn Bridge ou a Manhattan Bridge, possuía pontos de luz que a deixavam maravilhosamente visível de longe e a refletiam no rio. (FOTO 1/FOTO 2/FOTO 3/FOTO 4/FOTO 5)

(N.A.: Estas são fotos são do meu arquivo pessoal, e infelizmente não tenho fotos decentes da paisagem à noite.)

Natalie acompanhou os passos de Hunter sem realmente prestar atenção onde estavam indo. Estava tão abobalhada com a paisagem que não se dera nem ao trabalho, pois não queria perder um único detalhe daquele momento. Distraída, acabou levando um susto quando viu a mão de Hunter estendida em sua direção.

— Você não vem? - Natalie olhou para baixo e percebeu que Hunter já estava sobre os rochedos, enquanto ela continuava na grama. Sentiu o vento gelado bater em seu rosto e arrepiar a sua espinha dorsal. – Ou vai me dizer que está com medo...?

Natalie fez uma careta que arrancou risos de Hunter. Em seguida segurou a mão do rapaz enquanto ele a puxava em sua direção.

Hunter se atentou em começar a guiá-la pelas rochas escorregadias e a lhe servir de apoio ao mesmo tempo, sempre mantendo os olhos nos pés dela para se assegurar que ela pisasse nos lugares certos.

— Cuidado com os musgos. – ele a atentou antes de se aproximar da borda direita. – Certo. Aqui estamos.

Natalie encolheu-se, abraçando o próprio corpo para se proteger do vento forte e gelado. Podia jurar que a qualquer momento o vento a derrubaria, mas preferiu se concentrar nas luzes da ponte que engoliam seus olhos.

— Aquela é a Throgs Neck Bridge. – Hunter recomeçou apontando na direção da ponte respondendo à pergunta mental que ela havia feito momentos antes. – Sei que não é grande coisa, mas é um ótimo esconderijo quando se precisa pensar e não quer uma plateia de fãs atrás de você. – ele comentou dando uma risada fraca. Natalie o acompanhou.

— É lindo. E frio. – eles continuaram a rir.

— Desculpa por te trazer aqui com esse tempo. Não imaginei que estivesse tão frio assim. Se quiser podemos ir embora.

— Vai me dizer que está com medo? – Natalie o provocou divertidamente, usando a frase que ele havia acabado de usar, e aquilo o fez sorrir. (GIF)

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Natalie sentou-se na rocha, cruzando as pernas e se aconchegando sobre ela. Hunter a copiou, sentando ao seu lado.

— Então é aqui que o grandioso Hunter Saxton vem quando quer se esconder da legião de fãs dele... – Natalie brincou. Puxou as mangas da enorme blusa que Hunter havia lhe emprestado para esconder as mãos e esquentá-las.

Hunter não conseguiu evitar a gargalhada diante do comentário da castanha. Jogou os cabelos que insistiam em grudar em seu rosto por causa do vento.

— Antes fosse só delas. – os dois conversavam com a atenção voltada para as luzes da ponte. – Celebridades também precisam de um tempo do mundo às vezes.

— Você parece gostar bastante do mundo em que vive. Não entendo porque iria querer um tempo dele.

— Experimenta ser capa de uma revista de fofoca toda semana!

— Se você mantivesse suas calças fechadas por um tempinho, talvez o cenário mudasse um pouco. – Natalie comentou acidamente, arrancando um muxoxo de dor de Hunter.

— Ouch.

Sorry. – ela respondeu timidamente antes de os dois se entreolharem e caírem na risada. (GIF)

— Não, tudo bem... você tem um ponto. – Hunter riu mais fracamente ao sentir o celular vibrar no bolso.

Como estavam bem próximos, Natalie conseguiu ver o nome “Gracie” no identificador de chamada antes de Hunter atender.

— Hey. Que saudade de ouvir sua voz. Qual é a boa? – Natalie percebeu que o tom dele havia ficado... doce? Sentiu um incômodo na garganta e pigarreou, incomodada. – De novo esse cara na história? Qual é, G. Não, eu não aprovo coisíssima nenhuma. Não é ciúmes, você sabe muito bem q...! Caralho. – Hunter xingou quando a pessoa do outro lado desligou na sua cara. Ele respirou impacientemente antes de guardar o celular de volta no bolso da frente da calça. – Foi mal.

— Não por isso. – ela sorriu meio sem graça, continuando a encarar a ponte. Estava ligeiramente enciumada. - Só porque você saiu do “mundo”, não significa que tenham esquecido de você.

Hunter deu uma risada anasalada quando percebeu.

— Não... era a Gracie, minha irmã.

— Oh... – Natalie sentiu-se uma idiota. Passou as mangas da blusa pelos cabelos, disfarçando a vergonha. – Ela tá bem?

— Tá. Até demais. Tá saindo com um babaca. – Hunter respondeu com uma voz mais dura.

— Oi?

— É, um pivete.

— Acho que vou ter que concordar com a sua irmã.

— Como assim? – Hunter voltou a olhá-la um pouco inconformado.

— Você tá com ciúmes. – Natalie respondeu dando de ombros.

— Não é ciúmes! – ele rolou os olhos. – É só que eu sei muito bem o que esse tipo de cara quer. Eu sou homem.

— Hm, tem razão. Isso não se chama ciúmes. Isso se chama hipocrisia. – ela comentou divertidamente e um tanto quanto irritada com os ideais que ele demonstrava ter. – Você pode comer todas as menininhas, mas ninguém pode encostar na sua irmãzinha. Típico.

— Não, não é isso.

— Ah, não? É o quê, então? – Natalie buscava o olhar dele, mas este não a correspondia. A feição descontraída sempre estampada no rosto de Hunter não estava mais ali. No lugar dela, uma expressão séria.

— Nada.

— Vamos, Hunter. Se não é isso o que claramente parece ser, então você deve ter uma resposta mais convincente, não é? Uma resposta bem machista, suponho.

 

Somewhere Only We Know – Lily Allen

 

— Não. – ele agora encarava as próprias botas. – É só zelo.

— Não parece.

— Você saberia se tivesse que cuidar de alguém desde sempre.

Natalie sentiu um certo aperto lhe atingir o coração no momento em que sentiu o peso das palavras de Hunter. Aliás, sentiu o clima ganhar um novo ar ao redor deles. (GIF)

— Como assim?

Quando se deu conta do que havia dito, Hunter saiu de seu torpor e apoiou os braços sobre os joelhos para agora passar a encarar as águas da baía de Little Neck.

— Esquece.

— Hunter. – Natalie o chamou calmamente enquanto depositava sua mão sobre o braço direito dele, como se o convidasse a olhá-la.

Natalie o olhava com firmeza e carinho. Queria conhecer um pouco do Hunter Saxton que ele tanto escondia. E queria que ele confiasse nela. Estava pronta para aquilo e simplesmente esperava que ele também estivesse.

A conexão entre os dois se tornava cada vez mais forte. Tão forte que ela não precisou dizer nada. Só a pronúncia do nome dele vindo de seus lábios era o suficiente para que ela transmitisse tudo aquilo. Hunter respirou profunda e lentamente.

— Nunca comentei isso com ninguém. Acho que nunca tive motivos também... – ele coçou a sobrancelha, ligeiramente desconfortável. Focou seu olhar na mão dela, que ainda estava lhe segurava o antebraço. – Durante muito tempo da minha vida eu tive que ser mais... adulto, digamos. Pelo menos em casa. Quando eu era mais novo, minha mãe acabou sofrendo de depressão. Daquelas barra pesada mesmo. E isso desestruturou muito a minha família naquela época. Eu tinha uns 10, 11 anos, e a Gracie uns 5, 6. Meu pai tinha que se ocupar com a minha mãe o tempo todo, cuidando dela, levando-a no médico... e querendo ou não, eu também era uma criança. Uma criança cuidando de outra. Eu não podia simplesmente desabar. Tinha que me mostrar forte e ser a base da Gracie. Me mostrar forte para o meu pai, mostrar que eu aguentava o que fosse por eles. E... enfim. Hoje a minha mãe está ótima, saudável e cuida muito bem da minha irmã. Eles são pais excelentes. Só que mesmo assim, eu ainda sinto que sou muito responsável por ela. Fiz uma poupança pra ela e deposito uma grana desde que a Elite Four surgiu, assim ela vai poder estudar o que quiser e blábláblá. – quando decidiu olhar para Natalie, percebeu que ela carregava uma expressão um tanto dolorida e emocionada. Arrependeu-se por ter contado tudo aquilo no mesmo instante. Odiava que sentissem pena dele. – Mas não é como se fosse a tragédia do ano. Eu não sou um coitado revoltado e incompreendido por isso. Não precisa ficar me olhando com essa cara de pena. – ele terminou de falar desviando o olhar do dela, visivelmente incomodado.

— Eu não estou com pena de você! – Natalie exclamou ainda um pouco entorpecida pela história que Hunter havia acabado de compartilhar com ela. – Pelo contrário, Hunter. – ela fez algo que nunca havia feito e que até o surpreendeu. Puxou-o pelo queixo para que ele voltasse a olhá-la. – Isso tudo é admirável. É nobre demais. Eu estou surpresa e até mesmo um pouco envergonhada.

— Envergonhada? – ele a olhou surpreso.

— Sim. – a castanha deu um sorriso meio tímido que desapareceu muito rapidamente enquanto sentia o vento brincar com os seus cabelos. – Eu sou sempre aquela que diz que não devemos preconceber e julgar as pessoas sem antes conhecê-las. E eu achava que te conhecia só pelo pouco que havia me mostrado no começo de tudo. E o que você costuma mostrar na maioria das vezes. – ela rolou os olhos para brincar e tentar tornar a conversa um pouco mais leve. Hunter deu um riso fraco. – Eu simplesmente tomei essa sua imagem como a única. E ninguém é uma coisa só. Você não é um babaca 24h por dia.

— Talvez 23h.

Os dois riram.

— Sim, talvez 23h. – ela repetiu um pouco risonha antes de voltar a falar mais sério. – E assim como eu ou qualquer outra pessoa, você tem uma história. E foi ela quem te trouxe até aqui. Você também pode ser um cara família que cuida da sua irmã.

Hunter soltou o ar quase como um assobio.

— É... acho que eu também nunca havia me visto dessa maneira. Talvez porque eu nunca tenha contado pra ninguém e sempre evitei ficar pensando nisso. Não gosto que pensem que sou fraco. É por isso que só me importo com a minha família. A única vez que deixei uma garota entrar no meio disso... – Hunter interrompeu a si mesmo quando percebeu que havia falado demais e se crucificou por aquilo. – Não deu muito certo.

Natalie ficou um pouco surpresa com a revelação de uma garota no meio da história. Ficou se contorcendo internamente para perguntar, mas havia percebido que o próprio Hunter havia se podado para não falar à respeito. Ela decididamente não se atreveria a tomar a iniciativa e perguntar sobre o assunto. Não mesmo. Limpou a garganta.

— Ah... mas foi é... legal você se sentir à vontade pra compartilharisso comigo.

— É. Foi meio que... legal poder compartilhar isso com você. – Hunter conseguia ver um brilho diferente nos olhos de Natalie. Poderia jurar que jamais a havia visto olhá-lo daquela forma, e aquilo o preencheu por completo. (GIF)

Quando ela mesma se dera conta de como o estava encarando, abaixou o rosto um pouco sem graça. Voltou a abraçar o próprio corpo.

 

Pillowtalk – Zayn Malik

 

— É... acho melhor a gente ir andando, né? Tá esfriando ainda mais.

— Sim... tem razão. – a voz dele saiu ainda mais rouca do que de costume.

Hunter se levantou e logo ofereceu sua mão à garota, que a aceitou de prontidão.

Estava realmente mais frio do que quando chegaram ao forte, e por isso eles se arriscaram a andar mais rápido sobre as pedras.

Apertaram os passos em direção do carro, que era o único no estacionamento pouco iluminado por alguns postes. Como as pernas de Hunter eram mais compridas do que as de Natalie, ele estava a muitos passos a frente dela.

— Isso aqui tá muito mal iluminado. Alguns postes estão queimados. É melhor a gente se apressar, pode ser perigoso ficar aqui assim. Tá muito escuro. – ele comentou com as mãos nos bolsos da blusa que vestia enquanto a olhava por cima dos ombros sem parar de caminhar.

Natalie deu uma gargalhada jogando a cabeça para trás, acompanhando-o.

— Ah, essa é boa! – ele parou para olhá-la, e esta passou por ele, já quase perto do carro. – Quer dizer que o machão Hunter Saxton não quer ficar comigo no escuro? O que foi? Tá com medo? – ela provocou com uma voz desafiadora e um tanto sexy.

Ao chegar na frente do carro e não ter obtido resposta alguma do rapaz, se assustou. Quando virou-se, foi surpreendida pelo corpo de Hunter, que a prensou contra o capô do carro, barrando-lhe a passagem.

— É você quem deveria ter medo de ficar comigo no escuro. – ele falou quase como num sussurro. Ele estava tão próximo que Natalie conseguia sentir o hálito quente da boca dele tocar os seus lábios. A testa dele estava colada na dela, mas mesmo assim era impossível perder o contato visual daqueles olhos verdes. – Porque você não tem ideia do que eu tenho vontade de fazer contigo.

— É? Então por que você não mostra? – nem ela acreditava nas palavras que haviam acabado de sair da sua boca, também num sussurro.

Hunter deu um sorriso sacana antes de segurá-la pela nuca e tomar os lábios dela para si num beijo quente e envolvente. Natalie rapidamente correspondeu ao gesto, envolvendo seus braços em volta do pescoço do rapaz e afundando os dedos nos cabelos dele com voracidade.

Aquilo fez o corpo de Hunter ascender, e com um único movimento, ele a sentou sobre o capô de seu carro, sem parar de beijá-la.

Existia desejo, muito desejo, e até mesmo desespero naquele beijo, naquele toque. A única coisa que Natalie conseguia pensar era no quanto o queria. E seu corpo correspondia e agia muito antes de ela sequer enviar os devidos comandos. Ela se deu conta disso quando começou a envolver as coxas de Hunter com as suas. Aquilo o enlouqueceu de tal maneira que o fez levantar a perna dela na altura da sua cintura. Em resposta, ela puxou um pouco da blusa dele para cima, arranhando-lhe as costas.

O rapaz arfou antes de levar os lábios ao pescoço dela. Foi a vez de Natalie suspirar e gemer baixinho no ouvido de Hunter. Um puxava o corpo do outro para si com uma necessidade que nenhum dos dois conseguia explicar. Eles queriam e precisavam do outro. (GIF)

Quando voltaram a se beijar, as mãos de Hunter foram para as coxas dela, apertando-as devagar e as puxando ainda mais para si. Aquilo fez com que Natalie conseguisse sentir o volume dele de encontro com o seu corpo, e ela sorriu satisfeita.

Estavam tão absortos e envolvidos com o momento que mal se deram conta de que mais um carro estacionava próximo dali. Deram um pulo quando um farol alto acendeu na direção deles. Mal conseguiam abrir os olhos para enxergar o que acontecia, mas o barulho rápido da sirene os situou.

— Boa noite. – um dos policiais desceu do carro enquanto Natalie saía de cima do capô do carro de Hunter completamente sem jeito.

— Hm, boa noite. – Hunter começou com a voz rouca enquanto recobrava os sentidos. Era como se não falasse há muito tempo. Ele passou a mão na boca ligeiramente inchada. Natalie esfregou o rosto repetidas vezes. Só queria que um buraco abrisse ali e ela simplesmente sumisse da visão de todos. Sentia seu rosto queimar, tamanha era a vergonha.

— Sei que estavam ocupados, mas acho que não perceberam na placa de entrada que o forte encontra-se fechado neste horário.

— Oh... queira nos perdoar, senhor. Realmente perdemos a noção da hora.

— Deu pra perceber. – comentou o outro policial, que nem se dera ao trabalho de descer da viatura.

O primeiro policial deu uma risada abafada antes de voltar-se para o casal novamente.

— Vamos fazer o seguinte: deem o fora daqui logo e vamos fingir que vocês não invadiram o local, tudo bem?

— Perfeito, senhor. Vai ser como se nunca estivéssemos estado aqui. – Hunter agradeceu, juntando uma mão na outra e caminhando na direção da porta do carro o mais rápido possível. Natalie o acompanhou e afundou o corpo no banco do passageiro. – Obrigado e desculpe pela inconveniência.

Os policiais fizeram um aceno antes de Hunter dar partida no carro. Quando já estavam embicando o veículo para sair do estacionamento, se entreolharam. Estavam com a boca inchada e o peito subia e descia rapidamente devido à respiração ofegante. Não demorou muito para que os dois começassem a rir descontroladamente.


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Notas finais do capítulo

Minha nossa senhora, senhor pai celestial! Esse capítulo foi LITERALMENTE de tirar o fôlego...!
Não havia momento nem lugar mais perfeito pra esse beijo rolar, né, gentis? *-*



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