Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 46
Capítulo Quarenta e Seis




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— Natalie, pelo o amor de santo Cristo, você não pode recusar esse trabalho! – Anna seguiu a amiga pelo corredor do apartamento.

— Não tem a menor possibilidade de eu aceitar viajar com o Hunter, Anna. Aquele cara é um idiota de marca maior. – Natalie arrancou as botas dos pés enquanto soltava a bolsa no chão de seu quarto. – Ele foi um imbecil comigo! – tirou o casaco e o jogou com força no chão, mostrando que ainda estava irritada. – Como se isso fosse novidade! – a castanha respondeu a si mesma com um tom irônico. – Se eu não consigo ficar nem mais de uma hora perto dele sem querer estrangulá-lo, o que dirá duas semanas.

— Amiga... Mas isso é uma porta pra sua carreira, será que você não vê?

— Eu estudo jornalismo, não fotografia. – Natalie deu um sorrisinho cínico para a amiga, deitando-se na cama.

— As áreas todas se conversam, e você sabe muito bem disso. – Anna se jogou na cama da melhor amiga, deitando-se de bruços. – Vou ter que concordar com o Hunter... Você não pode jogar essa oportunidade no lixo. Ainda mais se for por causa dele.

Não é por causa dele, saco! – “É sim”, seu subconsciente gritou novamente, e ela teve uma vontade súbita de socar a própria cabeça para calar seus pensamentos.

— Então é por que caralhos? – a morena lhe lançou um olhar sugestivo, franzindo a testa. Natalie odiava quando a amiga fazia aquela expressão, como se duvidasse dela.

— Se você não se lembra, eu tenho uma coisa chama FACULDADE, tenho trezentos trabalhos pra entregar toda semana... Eu não tenho tempo, entende? – Natalie gesticulava descontroladamente com as mãos para o alto enquanto estava deitada.

— Eu tenho certeza ABSOLUTA que seus grupos de trabalho entenderiam se você explicasse, Natalie. – Anna começou novamente, como se tivesse ignorado tudo o que Natalie havia dito. – Além do mais, você é uma das primeiras alunas da sala. Suas notas são ótimas, que eu sei bem. Você sequer falta nas aulas. Pode muito bem perder duas semaninhas tranquilas. Nem na semana de exames finais nós estaríamos.

— Grrr, me dá um tempo, Anna! Sério!

Natalie tampou o rosto com o outro travesseiro, frustrada. Aquele era só mais um dia que ela queria simplesmente esquecer.

 

**

 

Hans, eu já disse que está tudo bem entre a gente, mas por favor... Dá pra parar de insistir sobre esse lance de fotografia?

 

Já era a quinta mensagem que Natalie respondia a Hans só naquela manhã de quinta-feira, em meio à reunião de projetos. Seu celular vibrou novamente e ela rolou os olhos antes mesmo de desbloqueá-lo.

 

Hans

Você podia ao menos pensar com carinho na ideia!

 

Natalie respirou fundo enquanto seus polegares digitavam rapidamente a resposta:

 

Eu já pensei. Me desculpa, eu realmente não posso.

 

Bloqueou o iPhone assim que viu Bonnie irromper na sala de reuniões desesperada.

— A gente tá fodido. Apenas. – a garota parecia querer chorar.

— Que foi? – Joshua, que estava ao lado de Natalie, se apressou em perguntar à garota de maneira apreensiva. A castanha também a olhou.

— A equipe da Kiera Pack acabou de ligar pra cancelar com a gente.

Natalie se levantou abruptamente, fazendo com que a cadeira rangesse contra o chão.

O quê? Não. – negava-se a acreditar no que acabara de ouvir. Pensou ter entendido errado.

— Ela está com alguns problemas pessoais e...

— O que a gente vai fazer? – Joshua virou-se para encarar Natalie. Agora a expressão de ambos era de desespero, como a de Bonnie. – Nossa gravação é amanhã!

— Poderíamos falar com a sra. Reed e tentar trocar com algum grupo e remarcar nossa gravação para segunda-feira. – Natalie sugeriu. Estava séria, pensando na possibilidade. – Daí talvez conseguiríamos remarcar com a Kiera Pack. Ou pelo menos nos daria um final de semana para contatar um outro ícone musical. – estava tentando pensar logicamente.

— Sabe que a sra. Reed não é daquelas que altera cronograma, Nats. – Bonnie rebateu. – Ela quer que tenhamos que lidar com as crises de um programa real.

— Pois é, mas fomos bem burros. Deveríamos ter deixado uma segunda opção já engatilhada pra caso algo como isso acontecesse. – a garota de sardas passou a mão pela testa tensamente. – Nossa única chance é a sra. Reed.

 

**

 

A castanha bateu a porta do apartamento com tudo enquanto jogava as pastas e a mochila no chão. Seus nervos estavam à flor da pele e ela sentia seu corpo todo tremer.

Havia passado o dia todo tentando resolver o problema do programa ao vivo. Perdeu quase toda a manhã tentando convencer a sra. Reed a mudar o cronograma para que o grupo dela pudesse gravar na segunda-feira, mas foi apenas tempo perdido.

Depois passou a tarde em contato com a equipe da Kiera Pack, tentando conseguir uma brecha para que ela comparecesse enquanto o resto do grupo tentava contato com outra celebridade. Nada também. O tempo estava se esgotando e ela tinha menos de 24 horas para conseguir resolver uma coisa que não havia sido feita em uma semana. Estava desesperada, quase chorando.

— Nossa. – Anna lhe observou com os olhos arregalados. – Que que aconteceu?

Natalie deu um pulinho ao ouvir a voz da amiga. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem notou que Anna estava ali, e não estava sozinha. Ela e Luke estavam debaixo das cobertas, aconchegados no sofá, assistindo a um filme.

Respirou fundo, tentando se recompor. Jogou os cabelos para trás e viu Luke a olhar assustado.

— Desculpa, gente... Não vi vocês... – os pés estavam inquietos e ela dava passos para frente e para trás, desnorteada. – Hoje não está sendo o meu melhor dia...

Anna se ajeitou no sofá para olhar melhor para a amiga. Ficou preocupada no mesmo instante, pois Natalie não parecia nada bem.

— Amiga, o que foi, por que você tá assim? Eu nunca te vi tão brava, desesperada...!

— Relaxa, sério... Não vou perturbar vocês com isso... É coisa da faculdade, nada sério. – a voz dela tremeu e ela acabou tentando rir. – Quer dizer, é muito sério. Mas deixa pra lá.

— Espera, se acalma, Nats... – Luke finalmente se pronunciou, pois começou a se preocupar com o estado da garota. – Senta aqui com a gente, que que tá acontecendo?

Natalie respirou fundo novamente, tentando se acalmar, mas não conseguia. Deu passos largos na direção do sofá que ficava de frente para o casal e sentou-se ali. Estava inquieta, estralando as juntas dos dedos.

— Eu tenho um programa ao vivo pra gravar amanhã, e a gente deveria ter um ícone musical pra entrevistar. – ela tentava falar pacientemente, mas algumas vezes atropelava a própria frase. – E nós tínhamos esse alguém. Era a porra da Kiera Pack. – ela espalmou as mãos sobre as coxas. – E estava tudo marcado quando a equipe dela liga HOJE cancelando. E eu passei o dia tentando resolver essa merda de todas as maneiras POSSÍVEIS. Tentei negociar com a professora para gravarmos na segunda-feira, tentei convencer a equipe da Kiera Pack, tentei arranjar outra pessoa...! – gesticulava descontroladamente. – Esse trabalho vale mais da metade da nota final... Se eu falhar, vou perder a minha bolsa.

Anna tampou a boca com as mãos e Luke sentiu os músculos de seu rosto tensionarem.

— Mêu, não é possível que não tenha outra solução.

— Eu sei, tô quebrando a minha cabeça e nada sai. – ela jogou seu corpo contra o encosto do sofá.

— E o Aaron? Não pode te ajudar? – Anna perguntou, começando a se desesperar também, enquanto Luke estava sério, como se maquinasse alguma coisa. Seus olhos escuros se estreitaram.

— Tentei falar com ele a tarde toda, acho que está no estágio. – a garota de sardas balançou a cabeça em negativa. – Eu tô fodida, miga. Adeus NYU. – Os olhos da castanha ficaram marejados no mesmo instante.

Quando Anna pensou em se levantar para alcançar a amiga e lhe abraçá-la, Natalie foi mais rápida e saiu da sala, indo em direção do quarto. Luke e Anna deram um pulinho quando escutaram-na bater a porta com força.

Os dois se entreolharam seriamente por alguns instantes. Luke estava ainda mais inquieto do que quando Natalie contou o que estava acontecendo. Como em um clique, ele começou a tirar a coberta de cima do corpo, procurando pelos sapatos no chão.

— Acho melhor a gente continuar o nosso filme outro dia... – ele começou, lamentando. – A Nats precisa de você agora.

Anna escondeu os lábios, transformando-os em uma linha fina, assentindo. Deu um pequeno sorriso e um olhar de agradecimento por ele ser compreensivo. Levantou-se para acompanhar o rapaz até a porta.

— Obrigada por entender. – ela disse baixinho enquanto o abraçava forte.

Luke acariciou as costas dela e a apertou contra o seu corpo.

— Se precisar, me liga. – ele respondeu no mesmo tom, beijando-lhe docemente.

— Tá bem... Vou ver se consigo dar alguma ideia pra Nats. Quando ela fica desesperada, o cérebro dela para de funcionar e ela não consegue enxergar nenhuma solução sozinha. É aí que eu entro. – Luke deu um sorrisinho de canto, assentindo.

— Se cuida.

— Você também.

Saiu pela porta e foi andando em direção do elevador. Quando ouviu a porta do apartamento de Anna se trancar, puxou o celular do bolso com tanta excitação que quase o derrubou no chão.

Deslizou seus dedos rapidamente pela tela, ligando para alguém. Colocou o iPhone contra o ouvido enquanto um sorriso enorme se formava em seus lábios. Ouviu a pessoa do outro lado atender:

Fala, Lukammy.

— H... Já sei como fazer com que a Nats aceite ser a nossa fotógrafa.

 

**

 

Passaram-se uns vinte minutos até que Natalie escutasse Anna bater em sua porta levemente. A castanha estava deitada de barriga para cima, encarando o teto. Sua cabeça estava a milhão e ela sequer conseguia pensar em uma solução para o programa. Tudo o que conseguia imaginar era uma cena absurda dela mesma perdendo a bolsa da faculdade.

— Entra. – respondeu e viu a porta abrir através da visão periférica.

Anna passou por ali com duas xícaras.

— Fiz aquele chá de frutas vermelhas que você adora. – a morena encolheu os ombros enquanto se sentava na cama, ao lado da amiga.

Natalie se sentou e deu um sorriso fraco em agradecimento. Anna era, sem dúvida, a melhor amiga que alguém poderia ter. Apesar de ser inconveniente e falar as coisas na lata, a morena tinha o coração gigante e uma personalidade bem maternal. Estava sempre por perto, querendo cuidar da amiga. Os amigos em comum também gostavam de dizer que elas eram o par perfeito, pois enquanto Natalie era totalmente emoção, Anna controlava a razão. Era Anna quem a acalmava e a fazia ver os problemas de um ponto de vista diferente.

— Obrigada. – a castanha respondeu, pegando a xícara com as duas mãos.

Anna percebeu no mesmo instante que a amiga havia chorado um pouco, pois o contorno dos lábios da castanha estavam ligeiramente avermelhados. Aquele era o sinal de que Natalie havia derramado apenas algumas lágrimas – se tivesse chorado de verdade, o nariz estaria explicitamente vermelho.

— Hey... – ela a chamou. – Você sabe que vai acabar dando um jeito, não sabe?

— Pra ser sincera, não. – Natalie tentou rir, mas não conseguiu. Tomou um gole do chá. – Tudo o que eu quero é que não chegue amanhã, Anna, sério.

A morena torceu a boca. Estava se sentindo frustrada por não poder ajudar a amiga.

— Por que você não tenta ligar pro Aaron de novo?

— Acho melhor não... Eu liguei umas trezentas vezes e ele não atendeu. Deve estar ocupado ou putíssimo. – Anna a olhou confusa. – Esqueceu do que aconteceu na última vez que saí com ele? Além disso, eu não posso ficar dependendo dele o tempo todo... Se eu me foder, foi porque mereci.

— Nats! – Anna a repreendeu.

— É verdade! Que tipo de jornalista sou eu, que não deixa uma segunda opção de stand by?

— Você é uma estudante de jornalismo. É completamente normal errar! É por isso que você está estudando.

— Tudo bem, mas que solução eu vou dar? Colocar você lá pra ser entrevistada?

— Não seria uma má ideia... Você sabe que eu dou uma arranhada no violão. – ela deu uma piscadela, conseguindo arrancar uma risada de Natalie. – Fica tranquila, sei que vai pensar em algo.

— Não é como se eu tivesse muito tempo pra isso.

— Relaxa um pouco. Você sabe que nunca consegue pensar em nada quando tá desesperada assim. É a neurose em pessoa. – Natalie fez careta ao ouvir a amiga. – Vem aqui. – Anna bateu a mão na própria coxa devagar, indicando para que a castanha deitasse a sua cabeça ali.

 

**

 

Natalie acordou subitamente, levantando a cabeça do colo de Anna ao ouvir a campainha tocar.

— Você tá esperando alguém? – perguntou a Anna enquanto coçava os olhos.

— Não, eu não. – a morena se levantou curiosa e saiu do quarto para atender a porta.

Natalie bocejou e penteou os cabelos com as mãos antes de seguir a amiga. Quando estava no corredor já conseguiu ver uma cabeleira loira na porta de entrada enquanto Anna segurava a maçaneta da porta.

— Hans? – ela adentrou a sala.

— Hey, N. – o rapaz coçou a própria nuca.

— Que que cê tá fazendo aqui? – ela o olhou confusa, indo se sentar no sofá.

— Nossa, Nats! – Anna lhe lançou um olhar reprovador. Depois voltou a olhar para Hans. – Entra Hans, por favor. É ASSIM QUE FAZ. – ela disse à amiga, fazendo o loiro rir enquanto seguia para o outro sofá.

— Certo, desculpe. – ela deu uma risada fraca. – Tô meio aérea.

— Relaxa. – Hans viu Natalie encarar o tapete preto e felpudo que ficava entre os dois sofás. Viu o cenho dela franzido. – Tá tudo bem?

— Hm, na verdade não... Estou com um problemão na faculdade... – ela comentou enquanto via Anna indo para o corredor. – Pra onde vai?

— Vou deixar vocês mais à vontade, oras. – a voz dela já estava distante, o que indicava que já estava entrando no próprio quarto. Natalie rolou os olhos quando a ouviu fechar a porta.

Viu Hans rir de novo.

— Enfim... – ela voltou a olhar o loiro, que havia entrelaçado os dedos enquanto a encarava. – Aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu.

Os dois ficaram se entreolhando por alguns segundos até que Natalie captou o mesmo semblante que Hans estava na noite em que havia proposto que ela fosse a fotógrafa substituta da Elite Four.

— Ah, não, Hans. – ela balançou a cabeça negativamente. – Eu espero, sinceramente, que você não tenha vindo até aqui pra falar sobre isso de novo.

— E se eu disser que sim? – o loiro subiu os ombros de uma forma que Natalie chegou a considerar fofo, mas não desfez o olhar reprovador.

— Vou ter que dizer que você perdeu o seu tempo...

Hans se ajeitou no sofá.

— Qual é, Natalie?!

— Não, é sério... Eu tô com um problema muito maior que esse no momento, Hans... Eu realmente não tô com cabeça pra isso, e... – sentiu seu celular vibrar no bolso da calça jeans que usava. – Merda. – viu o nome de Joshua aparecer no identificador e atendeu. – Oi. Oi, desculpa, eu acabei caindo no sono e... Eu sei, Joshua, foi mal! Eu tava muito estressada e... Sério isso? – Hans a viu bufar, perdendo a paciência. – Você vai realmente começar a ser grosso? Porque você sabe muito bem o quão grossa eu posso ser, não sabe? – o loiro a olhou um tanto quando preocupado quando notou os olhos dela marejarem. – Eu vou tentar pensar em algo. Ok. – Passou a mão pelos cabelos quando desligou, tentando manter o controle. – Viu só? Eu não tenho tempo.

— Mas o que é que...

Hans foi interrompido pelo barulho da campainha que ressoou, fazendo ele e Natalie se entreolharem. A castanha se levantou rapidamente e foi em direção da porta. Limpou as lágrimas que quase caíram.

Quando a abriu, jurou sentir seu coração parar de bater por milésimos de segundos. Deu de cara com um Hunter Saxton de braços cruzados parado no corredor. Ele deu um sorriso breve apenas com os lábios.

— Oi... (GIF)


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Notas finais do capítulo

Vocês estão pensando o que eu estou pensando? HEHEHE



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