Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 44
Capítulo Quarenta e Quatro




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Anna havia aproveitado que Natalie tinha saído e deu uma passada na Starbucks próxima da faculdade para comprar um café e alguns salgados para trazer para casa. No caminho de volta, comprou a conhecida revista de fofoca que Hunter já havia estampado duas vezes naquele mês. Era um dos únicos tabloides que dava para se confiar de que as notícias eram verdadeiras, e Anna amava ler sobre a vida das celebridades – coisa que Natalie condenava por estudar jornalismo, mas no fim sempre acabava entrando na onda da amiga.

Já estava jogada em sua cama comendo um pedaço de croissant de queijo enquanto bebericava seu café. Folheava a revista e se divertia com as matérias. Às vezes até ria sozinha e fazia uma anotação mental de que tinha que mostrar determinada notícia à Natalie quando ela chegasse.

Foi quando seus olhos castanho-escuros pareceram ter congelado em uma das páginas. Não conseguiu ler título, linha-fina... Muito menos o conteúdo. A única coisa que lhe chamava a atenção era a foto no canto superior da página.

Era uma imagem de péssima qualidade e um tanto quanto pequena, mas não precisava olhar duas vezes para reconhecer Luke Parish. E o motivo de ter congelado não havia sido ele em si, mas a pessoa ao lado dele. Uma mulher de cabelo curto, com um tom loiro quase branco. Os dois sorriam sem nenhum receio para a foto e aquilo fez a garganta de Anna se fechar. (FOTO)

Ela sempre soube que não era a única na vida de Luke. Não era inocente a ponto de imaginar que um rapaz famoso como ele fosse dar atenção exclusiva a ela. Tanto é que nunca se prendeu. Mas ver uma foto era mais forte do que imaginá-lo com outra pessoa. Lembrou-se das duas vezes em que Natalie flagrou cliques de Hunter com outras garotas e agora sabia exatamente como ela se sentia. A diferença é que em nenhuma das vezes Hunter parecia ter tido intenção de ser clicado. Já Luke não estava se escondendo. Muito pelo contrário.

Começou a pensar em todas as vezes em que estavam juntos e em como o moreno sempre parecia evitar lugares públicos. Pressionou a mandíbula. Achava que ele o fazia pelo simples fato de querer preservá-la, mas a ideia de que talvez ele só não quisesse ser visto como Hunter lhe cruzou a cabeça.

A morena parou para pensar que jamais havia parado para pesquisar sobre ele na internet. Talvez ele namorasse desde sempre e ela simplesmente não havia se dado conta daquilo. Sentiu-se uma idiota. Cogitou em pegar o celular para pesquisar quem era aquela garota e há quanto tempo estavam se relacionando. Mas seu orgulho estava tão ferido que se negou. Não queria ver mais nada que tivesse relação com aquilo. Respirou fundo e simplesmente amassou a revista toda. Não tinha nenhum motivo para se irritar. Luke nunca havia lhe jurado exclusividade, mesmo...

Aliás, Anna nunca havia visto o relacionamento deles como algo exclusivo. Mas se ele podia sair com outras pessoas, agora estava claro que ela também podia. Não que ela não soubesse... “Só não havia pintado oportunidade para isso”, forçou seu inconsciente a pensar.

 

**

 

Natalie encostou-se na porta assim que a fechou. Quando finalmente chegou em casa, sentiu toda a adrenalina de sua fuga bem-sucedida se espalhar por todo o seu corpo. Levantou a própria mão e percebeu que tremia.

Riu baixo. Apesar de tudo, não conseguiu negar que havia se divertido com aquela nova aventura. Assim que sentiu que as pernas finalmente estavam mais firmes, se desencostou e adentrou melhor o apartamento. Colocou o livro sobre a mesa de vidro enquanto arrancava o boné da cabeça e ajeitava do cabelo. (GIF)

Deu um pulinho quando ouviu o barulho de algo ser arremessado, e parecia ter vindo do quarto de Anna. Jogou a bolsa no chão e caminhou rapidamente até lá.

Nem precisou bater, pois a porta já estava aberta. Quando entrou no quarto, viu uma revista amassada dentro da lixeira. Supôs que ela acabara de ser arremessada por Anna.

— Que que foi isso? – fixou seus olhos cor de mel na melhor amiga.

Anna a olhou séria, tentando não esboçar nenhuma reação, sentando-se em sua cama.

— Não entendi a pergunta. – Anna fez o máximo para a sua voz não vacilar, e conseguiu atingir seu objetivo com êxito.

— Por que é que você jogou a revista fora? Geralmente você até marca as páginas para me mostrar as fofocas mais bafônicas... – Natalie franziu o cenho.

Anna pensou em mentir. Pensou em mudar de assunto. Mas sabia que Natalie não iria ser convencida facilmente. Além do mais, não existia segredo entre as duas. Porém, não ia deixar transparecer que aquilo a havia afetado tanto assim. “Nem me afetou”, ela mentiu para si mesma.

— Ah... – a morena deu de ombros. – Eu vi uma foto do Luke com uma outra menina... E... Sei lá, eu acho que eu não estava esperando ver assim, na minha cara, ele saindo com outras pessoas. – ela forçou uma tossida enquanto puxava a caixa de esmaltes para parecer mais preocupada com o ato do que com o assunto. – Mas tá tudo bem, não é algo que eu já não soubesse.

A garota de sardas observou Anna mexer na caixa e estreitou os olhos. A amiga havia sido muito sucinta, e ser sucinta não era algo que realmente combinava com ela. Aquilo a havia atingido, mas é claro que Anna não admitiria aquilo tão cedo.

— Você tá bem mesmo?

— Já me viu ficar mal por causa de macho, Natalie? – Anna lhe lançou um olhar inexpressivo, parando de mexer na caixa de esmaltes por alguns segundos.

— Não, mas achei que o Luke...

— Piorou! – forçou uma risada. – Eu e o Luke... É só pegação, sempre foi. Não é agora que vai ser diferente.

— Vocês vão continuar? – Natalie juntou as sobrancelhas.

— E que motivo eu teria para não continuar? – Anna riu. – Enfim... Vou fazer minhas unhas. – ela voltou a procurar alguma cor de esmalte.

A garota de sardas a observou por alguns instantes. Piscou várias vezes seguidas, tentando absorver a conversa que acabara de ter com ela. Até tinha pensado em compartilhar a aventura que havia acabado de passar com Hans, mas achou que aquele era um momento inapropriado. Conhecia Anna bem o suficiente para saber que ela não queria fazer as unhas... Mas sim ficar sozinha. Retirou-se do quarto da amiga.

 

**

 

Hans e Hunter estavam em uma disputa acirrada de Call of Duty quando Thomas e Luke invadiram o apartamento do loiro.

— Estou de próximo! – gritou Luke, já se jogando no tapete da sala e arrancando os sapatos. – Quem tá ganhando?

— Adivinha. – Hunter respondeu debochadamente sem nem tirar os olhos verdes da televisão.

— Legal, agora o Hunter tem público pra ele começar a cagar a humildade dele. – Hans bufou.

Thomas havia ido direto para a geladeira.

— Alguém quer cerveja?

Todos levantaram a mão, o que fez Tom suspirar irritado e puxar a costura da camiseta para fazer uma espécie de sacola. Colocou as garrafas de vidro ali e foi para onde os amigos estavam. Depositou os recipientes na mesinha de centro e jogou o corpo no sofá enquanto abria a própria bebida.

O silêncio se instalou na sala – com exceção dos barulhos de tiro advindo do jogo. Thomas estava impaciente pela sua vez, que parecia não chegar, já que a partida estava acirrada. Ele então decidiu puxar o celular para dar uma olhada nas redes sociais.

Acessou o Facebook, fez uma Storie dos amigos jogando insanamente para postar no Instagram... Depois acabou seguindo para o Twitter. Estava pensando em escrever alguma atualização quando seus olhos verde-mar capturaram uma foto.

— Menino Hans. – ele chamou sem nem tirar os olhos da tela do celular. Um sorrisinho sacana se formava em seus lábios. – Quer dizer que você recebeu uma visitinha feminina aqui e nem compartilha com os mates?

Hans engoliu em seco e acabou levando um tiro.

— HA! Quem é próximo que eu vou arregaçar?! – Hunter jogou o controle no sofá enquanto levantava os braços para o alto em sinal de vitória. – Pois é, Thomas... O encontrinho dele teve direito até a chocolate quente. – ele cantarolou, puxando o loiro pelos ombros, que naquela altura já estava considerando se jogar no décimo terceiro andar.

Luke e Thomas soltaram um “uuuuuh” de maneira irritante, fazendo Hans rolar os olhos enquanto pensava em uma saída para aquela situação.

— Qual é, não vai contar quem era a sortuda, Irish? – Luke deu um soquinho na batata da perna do amigo enquanto terminava o último gole de cerveja de sua garrafa.

— Não foi nada demais...

— AH, mas foi algo sim... Porque tem até foto da gatinha! – Thomas deu risada enquanto voltava a olhar o celular, analisando a imagem.

— O QUÊ? – Hans quase gritou, se levantando e fazendo os amigos o olharem surpresos.

— É... Aqui no Twitter diz que a garota saiu usando o boné que você usou mais cedo pra ir até a livravia. – Thomas mexeu as sobrancelhas, provocando-o e Hans avançou no amigo para tomar o celular e ver a imagem. – Mas não dá pra ver o rostinho dela. A Cinderela fugiu habilmente, acredita?

Hunter e Luke também se levantaram e apoiaram-se nos ombros do loiro, um de cada lado, para olhar o celular também. Respirou aliviado quando viu que Natalie havia conseguido abaixar o boné o suficiente, cobrindo o rosto por completo. Era impossível reconhecê-la na foto.

— E aí? Conta quem é! – Luke exclamou.

— Não é ninguém.

— Caralho, Leprechaun! Para de doce! – o moreno lhe deu um soquinho.

Quando Hans levantou os olhos azuis, viu que todos o encaravam na expectativa de ele se pronunciar de uma vez.

— Vocês são chatos pra caralho, hein?! Porra... Era a Serena. Ela passou a tarde comigo, foi isso. – ele se sentou. Hunter o copiou.

— Ahhhh, safadinho. – Tom gargalhou. – Isso aí já não está ficando sério demais, não?

— Não enche, Tom. – Hans bufou, mas na verdade não era de raiva, e sim de alívio enquanto se jogava para a ponta do sofá para dar vez a Luke no vídeo game.

Hunter apertou os olhos verdes em direção do loiro.

— Por que toda essa frescura pra falar que era ela, então?

— Quê? – Hans sentiu seu corpo travar. Não sabia mais o que responder. (GIF)

— Até parece que você não conhece o Hans, H... – Luke bocejou. – Sabe que ele odeia se expor. – o loiro o agradeceu mentalmente. – Agora será que podemos jogar ou não?

Hunter levantou as sobrancelhas para Hans rapidamente antes de ir se sentar perto de Luke. Estava na cara que algo naquela história não se encaixava, e o castanho sabia daquilo porque Hans era seu melhor amigo. E aquela era a expressão que ele ficava quando estava mentindo.

 

**

 

Era uma quarta-feira incomum de inverno, já que o dia estava consideravelmente quente. Quando Natalie chegou da aula, foi direto para a geladeira. Estava morrendo de fome. Viu a conhecida letra de Anna presa com um imã na porta, mas primeiro a abriu para pegar um pedaço já cortado do bolo de cenoura sem cobertura que a amiga havia lhe preparado na noite anterior.

Enquanto fechava a porta com o pé e segurava o pratinho com uma mão, puxou o papel com a outra. Se direcionou para a bancada, finalmente dando atenção ao bilhete:

 

Miga, já que só tenho a primeira aula de quarta-feira, resolvi fazer um babysitting no Queens. Volto só mais tarde. Meu bolo continua cheio de amor, então manda a ver.

Love you,

A.

 

Natalie segurou o riso, pois já tinha dado uma garfada do bolo no momento em que estava lendo o papel.

Pensou no que faria naquela tarde, já que Anna estaria fora o dia todo. Ficou frustrada, pois estava pensando em chamar a melhor amiga para uma sessão pipoca. Porém, grana era sempre bom, então nem cogitou reclamar do babysitting que Anna havia conseguido.

Enquanto tentava ter uma ideia sobre alguma coisa para fazer, deu mais uma garfada no bolo. Seus olhos estavam passeando pela cozinha, e finalmente fixaram-se no livro que havia pego emprestado de Hans sobre a bancada. O havia terminado de ler na última noite. Devorou as 326 páginas em apenas três dias, sem nem fazer esforço. Era sempre assim quando a história lhe agradava.

Sem nem pensar, pegou o celular que estava perto da pia e procurou pelo número de Hans, ligando para ele em seguida. Demorou apenas dois toques até que ouvisse a voz do loiro do outro lado da linha.

Hey, N!— a voz dele parecia animada.

— Tudo bem, Irish? – a castanha sorriu enquanto brincava com o último pedaço de bolo no prato.

— De boa, e você?

— Também! – limpou a garganta. – Escuta... Você tá ocupado?

Não, acabei de voltar de uma entrevista em uma rádio com os moleques, tô tranquilo.

— Hm... Posso dar uma passada aí na sua casa pra devolver o livro?

Como assim, devolver? Você já leu?!­ — a voz de Hans parecia bem surpresa do outro lado, fazendo com o que o sotaque irlandês dele ficasse ainda mais em evidência.

— Já, ué! – Natalie riu. – Por que o espanto, querido?

Cacete, você é uma devoradora ou o quê?

— Tipo isso! – a risada dos dois se misturou. – Então, posso passar aí?

Pode sim, cola aí!

— Tá ok... Chego aí em quarenta!

 

**

 

— Você ao menos entendeu a história? Não é possível. – Hans segurou o riso e arqueou as sobrancelhas.

— Claro que entendi, tá de zoação com a minha cara? – Natalie o empurrou de leve, arrancando risadas do loiro.

— Tá bom, tá bom. O que achou do livro? – o irlandês olhou para a capa do livro, à espera da opinião da garota.

— Bom... Eu tava bem ansiosa pra ler porque nunca tinha lido nada do King. Tinha lido algumas críticas antes e vi o pessoal reclamando que a história era muito confusa. – ela comentou, concentrada. Hans finalmente levantou os olhos azuis para encará-la. – Não achei confuso, mas achei muito cruel. E eu ainda ouvi falar que as cenas de “Misery” tinham momentos tranquilos, se comparados a outras obras dele. Fiquei chocada! Não sei se gostaria de ler outras coisas dele. – Hans riu da cara assustada de Natalie. – É muito desesperador pro meu gosto.

— É... Ele puxa mais pro lado psicológico do que assustador. Muitas cenas são tensas e agonizantes, você tem razão. – brincou com o livro em suas mãos sem tirar os olhos da castanha ao seu lado. – Mas você tem que confessar que é bem escrito.

— Não, isso sem sombra de DÚVIDAS. – Natalie assentiu, dando um sorriso torto. – E “A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert”? Já começou? – ela arregalou os olhos em sinal de animação.

— Comecei. Comecei e já estou com todas as teorias que você imaginar. – a castanha riu dele. – Sério, cada hora eu acho que o assassino é um. Estou morrendo pra saber.

— Foi a mesma coisa comigo. – ela meneou a cabeça. – O final é surpreendente. Eu JAMAIS esperaria aquele final, meu Deus. – a castanha puxou os próprios cabelos levemente, fazendo Hans rir.

Os dois passaram cerca de uns trinta minutos falando sobre as leituras que haviam feito animadamente. Fazia tempo que Natalie não encontrava alguém para discutir os livros que estava lendo. Sentia que podia passar horas conversando com Hans e ainda teriam assunto. Era impressionante como se sentia bem ao lado do rapaz de olhos azuis. Hans acabou abrindo uma garrafa de vinho enquanto argumentavam novas leituras, um ao outro.

O loiro estava animado por tê-la ali. Os rapazes não eram muito de papos intelectuais e sempre que Hans tentava um assunto como aquele, acabava virando alvo de piadas. Hunter até conversava com ele às vezes sobre algum livro em específico, mas era quase uma raridade. Ter Natalie por perto era ter alguém para compreender uma parte que nenhum de seus amigos estava interessado.

Estavam jogados no tapete cinza e felpudo da sala quando ouviram a maçaneta da porta de entrada ser girada de forma bruta e desleixada.

Natalie sentiu sua espinha dorsal travar e ela teve que encostar-se no sofá, que estava logo atrás de si. Hans prendeu a respiração e continuou na mesma posição, de costas, com as pernas cruzadas e o corpo apoiado nos cotovelos enquanto segurava a taça com uma das mãos. Os dois se entreolharam depois de ouvir as risadas de Thomas, Luke e Hunter invadirem o ambiente.

Quando Hunter viu Natalie jogada confortavelmente no tapete de frente para Hans, seu sorriso se desfez e seu maxilar ficou em evidência no mesmo instante. Sentiu o sangue borbulhar dentro de seu corpo e precisou cerrar os dentes.

— Natalie? (GIF)


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Notas finais do capítulo

AIAI, é muita intriga pra pouco coração, nénão? E esse último GIF? Sou bem suspeita pra falar, eu sei... Mas é um dos meus favoritos, dá um TCHAN olhar pra ele, sei lá HAHAHAH O que acharam?



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