Defenceless escrita por Lia Sky


Capítulo 27
Capítulo Vinte e Sete


Notas iniciais do capítulo

Sei que esse já deve ser o terceiro capítulo que começo pedindo desculpas pela demora da postagem. E vou prometer não ser mais essa escritora malvada ♥



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Natalie se virou, tentando se afastar o mínimo possível e sentindo o calor do corpo dele contra o seu. Deu de cara com os olhos verde-claros do rapaz, que a fitavam com um ar sedutor e cheio de desejo implícito. Ela respirou fundo, tentando manter a sanidade em seu cérebro e lembrou-se que era ela quem deveria estar no comando. “Vamos, Nats, lembre-se do item número 3 da lista: Se Hunter Saxton queria brincar, Natalie Kalkmann sabia como”.

— Se quer saber... – ela começou depois de engolir a própria saliva. Os olhos dele continuavam presos nos dela. – Acho que a única vantagem de você estar com o cabelo preso... – ela diminuiu o espaço entre eles, ficando na ponta dos pés para ficar com o rosto mais próximo do dele, surpreendendo-o. – É que seu pescoço fica livre pra isso. – Antes que Hunter pudesse sequer reagir, Natalie mordiscou-lhe o pescoço lentamente, fazendo o corpo dele estremecer. Logo em seguida, ela depositou um beijinho no mesmo local, o que o fez perder completamente a linha de raciocínio. Seus olhos se fecharam e ele chegou a perder o fôlego, sentindo o ar quente da boca dela contra a sua pele.

Natalie se afastou rapidamente, pegou o pote que havia deslizado pela bancada momentos antes e voltou a fazer o brigadeiro de costas para ele. Pressionou os lábios, contendo-se para não rir. Ao mesmo tempo havia ficado entorpecida pelo cheiro do perfume que sentiu ao lhe beijar o pescoço.

— Pode me passar a margarina? – a castanha pediu naturalmente enquanto já misturava alguns ingredientes no pote que Hunter sequer havia notado que ela havia colocado.

Saindo de seu devaneio, Hunter encarou as costas dela ainda bestificado com o que a garota havia acabado de fazer. Estava tão acostumado a provocá-la que não esperava tal reação. Ficou ainda mais surpreso com a naturalidade dela em agir como se não houvesse feito aquilo. Deu um sorriso sacana enquanto alcançava o tablete de margarina.

Fixou os olhos verde-claros na mistura de chocolate que ela fazia enquanto sua mente alçava voo. Não demorou nem meio segundo para concluir que Natalie já havia sacado o quanto ele gostava de jogos, e ela simplesmente aceitou entrar na brincadeira. Mas do jeito dela. Do jeito que nenhuma outra mulher havia jogado, e sim, mesmo não admitindo a si mesmo, sabia que no fundo ele já estava entregue. Pensou em correspondê-la. Pensou em empurrar os ingredientes todos para o chão e colocá-la sobre a bancada. Como ele queria fazer aquilo, só Deus sabia. E ele o teria feito. Teria feito se aquela garota simplesmente não estivesse começando a ser alguém com quem ele se importava. Se importava com ela e sobre o que ela sentia. Se importava com o que ela pensava sobre ele e tudo ao seu redor.

Aquele sentimento o consumia e até o assustava às vezes. Nunca havia feito uma cena de ciúmes como a que havia protagonizado naquela noite. Nunca havia sido tão insultado e ainda assim ficado calado. Nunca havia sentido tesão com um único beijo. Normalmente haveria de acontecer muito mais para satisfazê-lo. Prendeu a respiração. “Se só o beijo dessa esquentadinha me deixou assim, imagina o que é ir pra cama com ela.” Sentiu seu ventre estremecer só de imaginar.

Passou a língua pelos lábios. Sabia que não devia reagir. Conhecia Natalie o suficiente para saber que aquele não era o jeito de chegar até ela. Lembrou-se de uma frase que ela havia dito a ele na Lavo: “Dica: você vai ganhar mais pontos comigo se elogiar a falta do meu sotaque do que se soltar suas cantadas baratas.” Aquele era o caminho. Respirou fundo:

— Então quer dizer que você é fã da banda? – ele brincou enquanto a observava colocar a panela ao fogo, acendendo-o.

Natalie levantou as sobrancelhas para olhá-lo, dando um sorrisinho.

— Na verdade eu não conheço muitas músicas. Eu só fui mesmo pra levar a Georgia. – quando ela percebeu o rosto dele ganhar uma expressão um tanto quanto decepcionada, soltou uma risada anasalada. – Tudo bem, vai... Eu até tenho uma música favorita.

— Ah, é? Qual? – Hunter deu um meio sorriso enquanto se aproximou do fogão onde ela misturava o conteúdo com uma colher de pau.

Little Things. – ela disse sem nem precisar pensar, como se a resposta estivesse na ponta da língua.

Hunter deu um pequeno sorriso sem olhá-la. Aquela também era a música que ele mais gostava.

— Sabe que quem a escreveu foi o Elijah Scott?

— Sei. E é justamente por isso. – ela finalmente olhou para o castanho. – Sou completamente apaixonada por ele. Tipo, MESMO. – Natalie até parou de movimentar a colher por alguns instantes. – Amo tudo o que ele compõe, amo a voz, amo ele todo.

Hunter arqueou as sobrancelhas, surpreso como a entonação da voz dela havia mudado. Deu uma risada fraca.

— Tudo bem, acho que já entendi. – Natalie sentiu suas bochechas ficarem vermelhas e ela procurou olhar para a panela. – Somos muito amigos.

— Eu sei. – Natalie tinha vontade de enfiar a cabeça dentro da panela. Estava se mostrando a fã stalker, mas simplesmente não conseguia conter as palavras na boca quando se tratava dos conhecimentos dela sobre o ídolo. Aproveitou que o brigadeiro já parecia estar pronto e desligou o fogão. Pegou a panela e se direcionou para a geladeira, abrindo o freezer para colocá-la ali com intuito de esfriar o chocolate de forma mais rápida. O castanho a viu se aproximar e a fitou curiosamente. Ela respirou fundo e parecia que fazia um esforço enorme para falar naquele instante. – Posso ver a tatuagem que ele fez em você?

Hunter deu um sorrisinho torto, olhando-a nos olhos.

— Então você sabe? – ela assentiu tentando não aparentar estar morrendo de vergonha. Ele continuou com o sorrisinho discreto nos lábios, os olhos ligeiramente estreitados, como se também sorrissem diante do pedido da garota.

Chegou mais perto enquanto ela o fitava. Esticou seu braço esquerdo na direção da castanha, com a palma da mão para baixo. Natalie lhe segurou o antebraço delicadamente enquanto seus olhos corriam pelas tatuagens. Quando encontrou o pequeno cadeado preto bem próximo da âncora que estava parcialmente coberta por causa do relógio, passou o polegar sobre ele, como se estivesse fascinada. (FOTO)

Hunter a observou encantado com a simplicidade do toque dela, acariciando-lhe a pele bem onde a tatuagem permanecia. Sentiu o lugar onde ela lhe tocava ficar quente. Ele soltou uma pequena risada nasal, tirando-a de seu torpor.

— Desculpe. – ela sorriu um pouco sem graça, finalmente soltando o antebraço dele.

Hunter abaixou o braço, colocando a mão no bolso.

— Sei que vai soar um pouco estúpido da minha parte... Mas é engraçado o seu fascínio ser pela tatuagem que o Elijah fez em mim, e não em mim... Eu digo...

Natalie riu fracamente.

— Eu entendi, não precisa se explicar. Todo mundo quer saber de você por você ser quem você é. – ele assentiu diante da conclusão dela. – Bom, você me pegou. O Elijah é realmente o meu ídolo. Tudo o que ele faz me encanta. O jeito como ele fecha os olhos pra cantar, ou o jeito como ele segura o violão... A maneira como ele parece sair do próprio corpo quando está performando... Sei que é ridículo.

— Mas não é. – o cantor lhe respondeu sinceramente. – Eu, na verdade, gostaria de ter uma fã assim, como você, que repara em cada detalhe, que parece sentir o que eu sinto quando estou lá, cantando para milhares de pessoas.

Natalie abaixou o rosto, ligeiramente envergonhada.

— Você com certeza tem, sabe disso.

Hunter meneou a cabeça.

— Posso até ter, mas a maioria delas se preocupa mais em gritar ou em competir pra ver quem sabe mais sobre mim. – Natalie não conseguiu conter o riso enquanto finalmente voltava a soltar os cabelos. Chacoalhou-os para ajeitá-los. – Sabe... Little Things também é a minha favorita.

— Era pra ser uma cantada? – ela levantou uma sobrancelha, debochando-o.

— Na verdade não. – ele deu uma risada fraca. – É sério. Tenho uma tatuagem com o nome dela, inclusive.

— Ah é? – a castanha o olhou com interesse. – Posso ver?

Hunter hesitou para responder. Demorou alguns segundos.

— Tem certeza? – ele abaixou a cabeça para olhá-la por baixo. Natalie franziu a testa em resposta, como se não entendesse o que ele quis dizer. – Não é muita gente que vê, porque não é um lugar de muito... Acesso, digamos.

— Acho que vou arriscar. – ela respondeu sem acreditar no que havia acabado de falar. E se fosse um blefe dele?

Hunter assentiu antes de abrir o botão da calça escura que vestia. Natalie engoliu em seco quando o viu apenas abaixando a lateral do cós da calça até o começo da coxa revelando a tatuagem com a escrita “Little Things”. (FOTO)

Natalie se inclinou um pouco para ver o traço mais de perto. Ficou ligeiramente surpresa, pois por um instante achou que ele só estava dizendo que a música era sua favorita para impressioná-la com a coincidência.

Hunter a olhou de forma curiosa, escondendo o lábio inferior. Estava interessado na reação dela. A castanha o fitou com um pequeno sorriso em resposta antes de seus olhos voltarem para a tatuagem. (GIF)

Inconscientemente levantou a mão, passando as pontas de seus dedos na escrita com um certo cuidado, como se ela acabasse de ter sido feita. Hunter sentiu seu corpo enrijecer com o toque dela ali, tão puramente inofensivo, mas ao mesmo tempo, provocante.

Quando ela se deu conta do que estava fazendo, recolheu a mão sentindo seu rosto queimar de tanta vergonha. Sentiu que não devia tê-lo feito, pois a tatuagem havia sido feita em um lugar um tanto quanto íntimo, fora de acesso para qualquer fã ou paparazzi. E lá estava ela, achando-se no direito de tocá-la.

Hunter percebeu no mesmo momento o quanto ela havia ficado sem graça com a situação. Era óbvio que ela não tinha premeditado a própria ação. Não se importava com o que havia acontecido. Aliás, tinha gostado de compartilhar aquilo com ela. Por isso decidiu quebrar a tensão que pairava na pequena cozinha.

— Sabia que não ia demorar muito pra você resistir à tentação de me pedir para abrir as calças. – ele falou sorrindo.

Natalie soltou uma risada fraca, escondendo o rosto com uma mão enquanto o empurrava de leve com a outra. Este cambaleou enquanto fechava a calça.

A castanha virou a cabeça na direção da geladeira e foi como se um lapso a atingisse no mesmo instante.

— Ah, o brigadeiro. – ela se afastou minimamente para abrir o freezer, puxando a panela dali. – Certo. – colocou-a sobre a bancada e correu para as gavetas. Tirou duas colheres dali e se aproximou do cantor, que a observava. Ofereceu um dos talheres a ele. – Toma aqui.

Natalie observou o rapaz encarar o chocolate dentro da panela por alguns instantes. No primeiro momento, achou que ele se recusaria a comer uma coisa tão “caseira” e simples. Sentiu-se envergonhada por ter cogitado que Hunter Saxton comeria brigadeiro de panela com ela. Porém acabou entendendo o que acontecia quando os olhos verde-claros a fitaram.

— Como é que come isso?

Natalie não conseguiu evitar que seu corpo se dobrasse, aos risos. Ao mesmo tempo, xingou-se internamente por tê-lo julgado daquela maneira.

— Como “como é que come isso?” É muito simples. – se sentou em uma das banquetas altas. Hunter fez o mesmo, a observando como uma criança assistindo à aula. – Você pega com a colher... – a garota pegou um pouco do chocolate levemente endurecido com a colher. – E manda a ver. – colocou-a na boca, saboreando o chocolate.

Hunter deu de ombros e repetiu o ato de Natalie, colocando a colher com o brigadeiro na boca. Sentiu o gosto do chocolate misturado com algo que ele nunca havia comido. Presumiu que era o tal do leite condensado que ela havia despejado anteriormente na panela. Aquele ingrediente fazia o chocolate se derreter de uma maneira diferente na língua e ele franziu o cenho anestesiado.

— Hm... – ele balbuciou enquanto saboreava o chocolate, tirando a colher da boca. – Bloody hell. Hm... – Natalie o observou ansiosa, esperando ele dizer o que achou. Mas em vez disso, ele pegou mais um punhado bem maior do brigadeiro da panela e abocanhou a colher. – Isso é fantástico. O mundo precisa conhecer esse negócio.

Natalie gargalhou enquanto ela mesma pegava mais um pouco para ela.

— Não sei como você não comeu quando foi ao Brasil, sinceramente.

— Eu também não sei. – ele parecia mais concentrado na panela do que na garota, enfiando a colher no chocolate novamente. – Eu nunca comi algo assim, sem brincadeira. É quase tão melhor do que sexo, sério.

Natalie rolou os olhos e estalou a língua no céu da boca, contendo o riso.

— É CLARO que você tem que falar de sexo em todo assunto, mesmo quando não tem absolutamente NADA a ver.

— Imagina usar brigadeiro NO SEXO. Mother of God. A combinação perfeita. – ele esticou o braço como se visse um letreiro em sua frente.

Os dois se entreolharam antes de cair na gargalhada e voltar a comer animadamente.

 

**

 

Hunter quase comeu a panela inteira de brigadeiro toda sozinho. Natalie havia dado umas oito ou nove colheradas e já havia desistido. Doce não era muito o seu forte.

— Nossa, vai te fazer mal comer desse jeito. – Natalie comentou enquanto ele finalmente largava a colher, satisfeito.

— Vai ficar regulando o negócio que eu nunca comi? – ele riu enquanto apoiava a mão sobre o joelho, flexionando o cotovelo para o lado. Quando seus olhos verdes a fitaram, prendeu o riso.

— Que é?

— Acho que você se sujou um pouco. – ele comentou divertidamente.

— Sou um desastre. – ela comentou meio sem graça enquanto passava a mão no rosto para se limpar. – Saiu?

— Hm... Não. – Hunter a observou atentamente tentando limpar a sujeira, sem sucesso. – Aqui. – como ele estava ao lado dela, não precisou se esticar muito. Natalie se assustou quando viu a mão do rapaz se aproximar de seus lábios. Sentiu o polegar dele pressionar sua pele delicadamente.

Os olhos cor de mel da garota o fitaram surpresos quando o viu trazer o próprio dedo que ele havia acabado de limpá-la de chocolate na própria boca, lambendo-o enquanto a encarava de volta com os olhos provocadoramente fixos nela. Sentiu sua garganta fechar. A última coisa que esperava era que Hunter fizesse aquilo. Sua boca ficou entreaberta para que o ar passasse, pois o seu nariz havia se esquecido de como respirar.

— Não podemos desperdiçar o brigadeiro. – Natalie havia sentido uma ponta de provocação e sedução no tom da voz rouca de Hunter. Chacoalhou a cabeça disfarçadamente, afastando os pensamentos que estavam a rodear a sua mente.

A garota abaixou o rosto, encarando a bancada. Sentiu um frio na barriga. Aqueles sentimentos que Hunter vinha provocando nela naquela noite... Estava difícil contê-los. O silêncio começou a ficar constrangedor, e tudo o que escutavam era o som da chuva forte e incessante do lado de fora.

Seu pensamento foi interrompido pelo pigarro que o castanho deu, fazendo-a olhá-lo.

— Você... Por um acaso tem um violão?

— Ah... – Natalie apoiou as duas mãos sobre os joelhos, tentando manter a postura para não parecer sem graça com o que ele havia acabado de fazer. Ela devia continuar a jogar. Estava claro que ele já havia percebido que ela também estava jogando. – A Anna toca violão... Por quê?

— Eu queria cantar uma música pra você. – ele respondeu de uma vez.

Os dois se encararam por alguns segundos enquanto um silêncio diferente tomava conta do ambiente. Dessa vez não se sentiram desconfortáveis ou confusos. Era como se conversassem simplesmente com os olhares, e que tudo o que precisava ser dito era transmitido através daquele simples ato. (GIF)

Ela respirou fundo, saindo do encanto que aqueles olhos verde-claros haviam lhe colocado. Levantou-se da banqueta.

— Ok. Só um minuto. – ela andou rapidamente, sumindo pelo corredor.


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