Tempestades de um espinho que ansiava virar flor escrita por Shiori


Capítulo 20
Amável convivência abraçando ápices trançando êxtase e corrosão.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696736/chapter/20

 
As roupas estendidas pelo chão deixavam claro:
Estão piores do que antes, os sussurros que habitam em mim.
Na minha única companhia, repouso. Não os considero acompanhantes.
Entre as frestas da janela escura, a lua observa, quieta. Imparcial, como deve ser.

Que vontade há em acender uma luz em dias assim? Ignoro-a.
O delicado corpo nu, agora pleno em feridas. Não o quero ver (mais uma vez).
Em instantes, sinto a água flamejante consumindo voraz todos caminhos da carne,
atrevendo-se a desinfetar vigorosamente os restos mortais da minha estupidez.

O fumo úmido sobe.
A consciência arde.
A estrutura treme.
Contenho-me os urros...
...espasmo-me com a dor.

Preenche-me o manto pretume, fecho meus olhos em meio ao êxtase ardente.
Arqueio o queixo ao alto, permitindo que esta líquida embriaguez incendeie minha testa. (Aah, que bela sensação...)
Suspiro, uivando a colisão que antecede a união do clímax entre contrações físicas e mentais.
O febril instante é capaz de calar todos os assombros internos, e a sensação insana cabalmente me domina.
Neste átimo presente, não há pragas.
Não há nenhum selo maldito em execução.

Recreando-me com a pele sensível, toco-me.
Toco-me, mais forte. Mais profunda. Mais intensa.
A pele rúbea cintila, oscilando com o ato voluptuoso.
Em ricochete, a febre por mais e mais se acentua.
E, tão breve como um raio, vence-me por fim a dor.
Danificada pela fadiga carnal e espiritual, fraquejo, caio.

Em seu limite, a alma é resetada. Prontamente reiniciada, mas o sistema é lento...
Em meio à exaustão, junto as forças e arrasto-me o corpo pesado, inábil.
Sem lograr me levantar, com grande esforço ergue-se um braço.
A mão trêmula, precária, desliga o registro, cessando a água.


. . .

Segurando-me ao nada, tento me reerguer.
Logro o bonito ato de bater a testa contra o azulejo da parede.
Caio de novo, a mente em branco estala.
Desta vez, desisto. Chega.
...por favor, só por hoje.


Lágrimas rubras escorrem de meus olhos sangrentos.
O caos me domina, a solidão amplifica os ecos de cada ato débil.
Cada eco instável entrega mais força aos assombros, e me diminui.
Em meio ao pranto, não percebo a brisa aérea secando-me o corpo.
E após infindáveis momentos de caos...

...ouço a batida do coração que ainda luta.

. .

Ouço as batidas do coração que ainda luta.

. .

. .

Ouço as batidas do coração que ainda luta...

. .

. .

. .

. .

. .

Levanto-me.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempestades de um espinho que ansiava virar flor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.